Brasil defende liderança alternada do FMI entre países emergentes e desenvolvidos



O ministro da Fazenda, Guido Mantega, recebeu, nesta segunda-feira (30), a ministra de Finanças da França e candidata oficial ao cargo de diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde. Em entrevista coletiva à imprensa, Mantega disse que não há um candidato específico dos países emergentes e manteve a defesa da “meritocracia” para escolha do novo líder do fundo.

Mantega defendeu maior participação dos funcionários das nações em desenvolvimento no corpo burocrático do FMI. “Deve haver uma representação maior dos países emergentes, para ajudar a encontrar soluções e trabalhar com o espírito mais universal do que regional”, frisou. Para ele, em médio e longo prazo, é desejável uma alternância de candidatos de países emergentes e desenvolvidos na liderança da instituição.  

Mantega afirmou que se preocupa pelo futuro da instituição e frisou que o importante para o Brasil é a continuidade das reformas adotadas nos últimos três anos. “O que o Brasil deseja é que essa filosofia do Fundo Monetário Internacional seja mantida pelo novo diretor-gerente e que o plano de reformas estabelecido seja cumprido”, declarou.

As reformas citadas pelo ministro referem-se à maior representatividade dos países emergentes, que ficou mais evidente a partir de 2008 e o crescimento da participação brasileira no fundo, passando de 1,4% para 2,3% até 2012. A última etapa, ainda em discussão segundo ele, é a revisão das cotas de participação dos países, processo que deverá ser finalizado em 2014.

Christine Lagarde disse estar inscrita na corrente de reforma do FMI iniciada por Dominique Strauss-Kahn, em 2008, e afirmou que sua candidatura está ligada à universalidade. “Minha candidatura é aberta e ser francesa não é nenhum benefício. Estou ligada à universalidade. O FMI não pertence a um país, mas a uma totalidade de países”, afirmou, rebatendo possíveis críticas quanto à diretoria continuar nas mãos de um europeu.


Candidata promete manter fórmulas do FMI

Em sua passagem pelo Brasil, Lagarde se comprometeu a manter o processo de revisão das fórmulas utilizada pelo fundo, o que permitiria o aumento da participação  países emergentes nas decisões da instituição. Além disso, quer aumentar o papel de vigilância do FMI e ao mesmo tempo não impor um conjunto de pensamentos, mas promover a abertura das questões a serem debatidas. 

A francesa disse ainda que, além de manter as reformas em curso, prestará mais atenção ao que está acontecendo do norte da África. “Trata-se de um grande emergente, que precisa ser mais bem representado”. 

Lagarde escolheu o Brasil como primeiro lugar para visita em uma série de países emergentes para realizar sua campanha porque, na sua opinião, suas propostas contam muito no cenário internacional. Após o Brasil, a ministra francesa visitará China, Índia e Oriente Médio.


Qualquer nacionalidade

O ministro da Fazenda reafirmou que não defende uma nacionalidade pré-definida para a direção do FMI. “Essa regra de que o FMI deve dirigido por um europeu e o Banco Mundial, por um americano, está ultrapassada”, disse. 

A posição do ministro diverge de vários países latino-americanos, que pediram que o comando do fundo deixe de ser ocupado por um europeu.  Mantega disse ter pedido aos demais países do Brics - grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul - que a escolha do próximo diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI) seja baseada no mérito, não na nacionalidade.

Para ele, o FMI deve “seguir os passos” do G20 e deixar aberto para que a direção do FMI seja preenchida por qualquer nacionalidade. “O mais importante é a competência, a experiência e o compromisso com as reformas e o andamento atual que o fundo tem”, afirmou.

O discurso de Mantega se aproxima de países como África do Sul e Austrália, que há cerca de uma semana também manifestaram preferência da escolha pelo mérito, independentemente do país de origem do candidato.

A ministra francesa enfatizou que, na direção do FMI, considera importante o respeito à diversidade de gênero e origem. “Neste contexto, acredito que todos os países devem ser convenientemente representados”, reforçou.


Strauss-Kahn

O ministro da Fazenda defendeu a gestão do ex-diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Khan, que renunciou ao cargo após ser acusado de crimes sexuais.  

Na opinião de Mantega, ele desempenhou uma gestão não ortodoxa, com recomendação de políticas anticíclicas durante a crise internacional, o que, segundo o ministro, não era comum à instituição. 

“Desenvolvemos linhas de crédito mais flexíveis sem os condicionantes e demos a possibilidade que os países emergentes tivessem maior participação no fundo”, lembrou.


Escolha

O limite para apresentação de candidaturas à direção do FMI é 10 de junho e a escolha deve se terminar no próximo dia 30.

Ainda esta semana, o presidente do Banco Central do México, Augustín Carstens - também candidato oficial ao posto mais alto do fundo - se encontrará com o ministro Mantega, em Brasília, e apresentará suas propostas de campanha.


Fonte:
Ministério da Fazenda
Agência Brasil



30/05/2011 19:15


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