Brasileiro teme uma guerra mundial
Brasileiro teme uma guerra mundial
Pesquisa Sensus mostra que o país acompanha com apreensão cenário de conflito que ataques do dia 11 causaram
BRASÍLIA - Os atentados terroristas que os Estados Unidos sofreram no último dia 11 vêm causando muita apreensão entre os brasileiros. A população teme, principalmente, a eclosão de uma nova guerra mundial a partir da destruição das torres gêmeas do World Trade Center, em Nova York, e de uma parte do Pentágono, em Washington. É o que se conclui da pesquisa CNT/Sensus sobre a percepção do brasileiro aos ataques.
De acordo com a pesquisa, que entrevistou dois mil brasileiros maiores de 16 anos em 24 estados do Brasil, a maioria do país (73,2% dos entrevistados) tem acompanhado regularmente o desenrolar dos eventos relacionados aos ataques. Exatos 10% tiveram conhecimento dos fatos, mas não estão a par dos últimos acontecimentos, enquanto 9,5% apenas ouviu falar dos atentados. Uma pequena parcela de 4,3% nunca havia ouvido falar das destruições em Nova York e Washington e do risco de guerra.
Entre os que acompanham a crise no Oriente Médio e nos Estados Unidos desde 11 de setembro o principal temor é o da explosão, nos próximos dias, de uma Terceira Guerra Mundial: 79% da população acredita que pode, sim, haver um conflito em breve.
Quanto às causas dos atentados, os brasileiros se encontram divididos. Para 23,6% dos entrevistados, a razão dos ataques aos Estados Unidos são causadas por conflitos econômicos. A mesma percentagem pensa que as causas são raciais, enquanto 19,8% dos entrevistados acreditam que os atentados tem motivos religiosos. Além desses, 14,6% imaginam que as razões sejam de origem social.
Os ataques foram considerados, de qualquer maneira, apavorantes. Principalmente para a economia brasileira, segundo medição da pesquisa. Mais da metade dos entrevistados (54,3%) acredita que os atentados trarão reflexos negativos para a economia do país. Porém, 24,7% enxergam resultados positivos para a economia do Brasil a partir dos ataques. Ataques esses que devem continuar, a se julgar os 40% de participantes da amostragem que consideram ''pouco possível'' os Estados Unidos eliminarem o terrorismo no mundo. Outros 22,8% acreditam que essa eliminação é ''possível, mas não muito''.
Roseana assume 2° lugar em pesquisa
Governadora tem 14,4% e supera Serra, que caiu para 4,2% na sondagem CNT-Sensus. Lula é o primeiro, com 31,3%
BRASÍLIA - A governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL), assumiu, com 14,4% das intenções de voto apuradas em setembro, o segundo lugar na pesquisa do instituto Sensus para a sucessão do presidente Fernando Henrique Cardoso, divulgada ontem pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT). A ascensão de Roseana, que subiu 3,2 pontos em relação à penúltima sondagem, contrasta com a queda do ministro da Saúde, José Serra (PSDB). Considerado até então o nome mais forte na aliança governista para o Palácio do Planalto, Serra despencou de 8,4% para 4,2% e está tecnicamente empatado, no sexto lugar, com Enéas Carneiro (Prona), que tem 4,3%.
O presidenciável do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, que liderava em agosto com 27,9% das preferências, ampliou a dianteira sobre os demais prováveis candidatos, saltando para 31,3%. O crescimento de Lula situa-se, entretanto, na margem de erro da pesquisa - três pontos percentuais. Embora a ascensão de Roseana também fique na margem de erro, a governadora do Maranhão assumiu pela primeira vez a segunda colocação, superando Ciro Gomes, do PPS, com 12%, e o governador de Minas Gerais, Itamar Franco, com 10,6%. O governador do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho (PSB) ficou em quinto lugar, com 9%.
Aliança - No quadro atual, a pefelista Roseana aparece como melhor opção da aliança governista para a sucessão do presidente Fernando Henrique. Quando a pesquisa não inclui o nome de Serra, a governadora do Maranhão sobe de 14,4% para 16,1%. É pouco, considerando-se a margem de erro, mas não deixa de ser mais um indicador de migração de votos de Serra para Roseana. Ciro Gomes é o outro presidenciável que oscila quando Serra é descartado: vai de 12% para 13,3%.
Roseana não é fator preponderante da queda de Serra. Quando ela não aparece na lista de possíveis candidatos, Serra não absorve seus votos. O ministro fica nos 5,6%, ainda em empate técnico com Enéas (4,9%).
Em setembro, Lula, além de apresentar crescimento na preferência do eleitorado, viu seu índice de rejeição diminuir: já foi de 44% há dois meses, mas hoje é de 23%.
Sem variação - Itamar Franco perdeu um ponto percentual em relação ao mês passado. Apesar de ter ensaiado, em agosto, uma aliança com o ex-governador Leonel Brizola, do PDT, a aproximação não sensibilizou o eleitorado. Na opção em que o nome de Itamar deixou de ser associado ao de Brizola, a situação do governador de Minas não apresentou grande variação.
A pesquisa foi realizada de 14 a 20 de setembro, com 2 mil pessoas em 24 estados. A sondagem CNT-Sensus pretende medir a tendência do eleitorado, mas há uma variável não considerada nas entrevistas que pode mudar todo o cenário da sucessão presidencial: a formação de alianças.
Chapa - O diretor do Sensus, Ricardo Guedes, reconheceu que essa movimentação dos candidatos é um fator fortíssimo dentro da pesquisa. Segundo Guedes, quando dois candidatos se unem, somam não só os seus eleitores, mas também seus índices de rejeição.
Ou seja, o entrevistado que se declara eleitor de Roseana pode alterar sua preferência, na hipótese de a governadora do Maranhão juntar-se a Serra, em uma chapa governista. ''Na nossa experiência de pesquisas, em 85% dos casos essas junções de candidatos não os ajudam em nada. Só em 5% dos casos há um aumento proporcional das intenções de voto em torno de uma chapa'', afirmou Guedes.
Jader recebeu R$ 400 mil de Borges
Quebra do sigilo bancário de empresário envolvido em fraudes na Sudam leva procuradores a descobrir o depósito
BRASÍLIA - A quebra de sigilo bancário dos empresários envolvidos em fraudes na extinta Superintendência para o Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) levantou novas suspeitas sobre o senador Jader Barbalho (PMDB-PA). Os procuradores da República que investigam o caso afirmam que o ex-presidente do Senado recebeu um depósito de R$ 400 mil de uma das empresas de José Osmar Borges. Apontado como o maior fraudador da Sudam, Borges é acusado de desviar R$ 133 milhões.
Os extratos bancários dele, de suas seis empresas e da família foram organizados pelo Ministério Público em um CD-Rom. O disco foi enviado para Brasília, onde vai passar por uma auditoria especial, feita por dois técnicos do Banco Central, requisitados pela Procuradoria-Geral da República. ''A análise inicial da movimentação é muito comprometedora para Jader'', diz um dos procuradores envolvidos na investigação.
Centralização - Sob a condição de não serem identificados, três procuradores confirmaram ontem ao Jornal do Brasil o depósito de Borges para Jader. O caso está sendo tratado em sigilo pelo Ministério Público para não prejudicar as apurações. A investigação, iniciada nos estados do Pará, Tocantins, Mato Grosso, Maranhão e Amazonas, vai ser centralizada em Brasília. A análise dos extratos e cheques será coordenada pela 5ª Câmara de Defesa do Patrimônio Público. É a mesma câmara que produziu a nota técnica acusando Jader de ser o maior beneficiário do desvio de R$ 5,7 milhões do Banpará, o banco estadual paraense.
José Osmar Borges foi preso em abril por conta da acusação de envolvimento com as fraudes na Sudam. Hoje está respondendo ao processo em liberdade. Ele é uma permanente fonte de constrangimentos para Jader Barbalho. Logo que as denúncias sobre desvios na Sudam apareceram, o senador jurou que mal conhecia o empresário. Teve de mudar a versão quando surgiram documentos mostrando que havia negócios entre eles.
A mulher de Jader, Márcia Centeno, foi sócia de Borges em uma fazenda no Pará entre 1996 e 1998. Depois, a propriedade foi transferida para o próprio senador, por um valor bem abaixo do mercado. Caiu de R$ 1,3 milhão para R$ 600 mil.
Ligações - A descoberta do depósito reforça as suspeitas das ligações do ex-presidente do Senado com os fraudadores da Superintendência para o Desenvolvimento da Amazônia. Antes da análise dos extratos bancários, os procuradores já haviam identificado cerca de 300 ligações telefônicas entre Jader e Borges, de 1997 até o início deste ano. Se a sociedade na Agropecuária Campo Maior foi desfeita em 1998, somente as fraudes justificariam a continuidade dos telefonemas entre eles.
Ex-funcionário do Banco de Crédito Nacional, Borges teve uma carreira empresarial ascendente na década passada, diretamente relacionada com projetos aprovados na extinta Sudam. Uma prova de suas ligações com o esquema de corrupção no órgão foi um cheque dele de quase R$ 40 mil depositado a favor de José Arthur Guedes Tourinho, apadrinhado político de Jader que foi exonerado da direção da Sudam a bem do serviço público. O sucessor dele, Maurício Vasconcelos, aprovou a alocação de novos recursos para um dos projetos de Borges, desempatando uma votação no Conselho Deliberativo da autarquia.
Congresso aprova Fust e vaia Tebet
BRASÍLIA - Sob vaias de parlamentares da oposição ao presidente do Senado, Ramez Tebet (PMDB-MS), o Congresso aprovou ontem, em votação simbólica, a inclusão do Fundo de Universalização das Telecomunicações (Fust) no Plano Plurianual do Orçamento (PPA). Com dotação de R$ 3,5 bilhões prevista para os próximos cinco anos, o Fust tem como meta a instalação de computadores em 13 mil escolas do país. O fundo é formado por contribuições sobre o faturamento bruto das empresas de telefonia.
"Ladrão, ladrão", gritaram em coro os oposicionistas, em atitude de hostilidade a Tebet. Eleito na semana passada, após a renúncia do senador Jader Barbalho (PMDB-PA) à presidência do Senado, Tebet presidia pela primeira vez, no plenário da Câmara dos Deputados, uma sessão conjunta das duas Casas do Congresso. O projeto que incluiu o Fust no Orçamento é de autoria do Ministério da Educação. O texto deverá ser sancionado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso nos próximos dias.
Microsoft - No mês passado, o governo tentou aprovar o projeto do Fust, mas esbarrou em forte resistência da oposição e desistiu de colocar a matéria em votação no plenário. O texto original previa que os programas dos computadores destinados às escolas seriam comprados exclusivamente da Microsoft. A redação aprovada ontem dá liberdade de escolha dos programas.
A fúria da oposição contra Tebet, acusado de manobrar regimentalmente a favor dos partidos governistas, deveu-se ao recurso que o PT deu entrada na Justiça Federal, contra os termos do edital de licitação para a aquisição dos computadores. Os petistas alegaram falta de dotação orçamentária para implantação do Fust e obtiveram a suspensão do processo de concorrência para a compra dos computadores. Com a inclusão do Fust no Orçamento, caiu por terra a argumentação usada pelo PT para tentar barrar o projeto do Ministério da Educação.
As empresas operadoras de telefonia serão responsáveis pela compra e instalação dos computadores nas escolas. O governo espera que o Fust, cujo objetivo é a informatização da rede de ensino público do país, seja um dos programas de maior impacto, nesta fase final do segundo mandato do presidente Fernando Henrique.
Fogaça diz não ao cargo de ministro
BRASÍLIA - O senador José Fogaça (PMDB-RS) recusou ontem o convite para substituir Ramez Tebet como ministro da Integração Nacional. Ele foi convidado ontem, durante encontro no palácio do Planalto, pelo presidente Fernando Henrique Cardoso a partir de articulação feita pelo ministro dos Transportes, Eliseu Padilha, junto ao comando político do governo. O presidente ainda chegou a pedir que Fogaça aguardasse 24 horas para pensar, mas o senador foi taxativo na recusa.
O ministro Padilha conversou ontem com o presidente Fernando Henrique e convenceu-o a chamar Fogaça para uma conversa ao final da tarde de ontem. Antes viabilizou o apoio do PMDB através de consulta ao senador Renan Calheiros, líder do PMDB no Senado. Depois conversou com o ministro Aloysio Nunes que também tem simpatia por Fogaça. O que mais pesou para o convite é o fato de Fogaça estar pensando em não se candidatar nas próximas eleições. Fogaça é o segundo peemedebista a recusar o cargo. Antes, havia sido convidado o senador mineiro José de Alencar, também do PMDB.
Artigos
Infância perdida
Vilson Antonio Romero
Vivemos dias de fúria e violência quase fratricida - e até por parte de pais contra crianças, como está nas primeira páginas dos jornais. Para além dessas atitudes insanas, o Fundo das Nações Unidas para a Infância e a Adolescência (Unicef) revela fato extremamente preocupante, uma realidade cruel e mais estarrecedora do que a das 50 mil mortes no trânsito ocorridas anualmente no Brasil ou até do que os recentes ataques terroristas: crianças ainda morrem de fome e por falta de saneamento básico.
Segundo o relatório ''Situação Mundial da Infância'', mais de 600 milhões de pobres inocentes padecem na miséria em todo o mundo, vivendo abaixo da chamada ''linha da pobreza''. Apesar de, nos últimos 10 anos, 3 milhões de crianças não terem morrido graças aos programas de imunização e à erradicação de pragas como a poliomielite e o tétano neonatal em muitos países, outras 10 milhões ainda morrem anualmente por falta de prevenção de doenças.
Outro flagelo é a prostituição infantil, que, agora, estudos da Universidade da Pensilvânia comprovam não ser exclusividade dos países do Terceiro Mundo. O levantamento revelou que mais de 350 mil menores de 18 anos - uma em cada 100 crianças e adolescentes americanas - são vítimas da prostituição, pornografia ou outra forma de comércio sexual. Qual é o quadro nas nações periféricas, em que a miséria e a subnutrição proliferam?
Quando vemos nos centros das metrópoles jovens à espreita de senhoras e idosos incautos para lhes tomarem de assalto o bolso ou a bolsa; quando fechamos a janela do carro na esquina, com medo do assalto, ao vermos o moleque acercar-se; quando as marquises e até buracos de esgoto subterrâneos são habitados por esses ''meninos de rua'' ou menores infratores que cheiram cola e crack e se armam para conseguir o que comer ou para sustentar a droga, sentimos que aí também está a grande raiz da violência.
Nessas pequenas almas enjeitadas pela sociedade está o fulcro de todos os dias de fúria que vivemos ou viveremos com mais intensidade.
Colunistas
COISAS DA POLÍTICA – DORA KRAMER
Quanto pior, muito pior
Quando presidente da Câmara, o deputado Luiz Eduardo Magalhães às vezes contemplava lá da tribuna o plenário e constatava desolado: ''Não há o menor risco de melhorar.'' É a exata sensação que se tem quando observamos estupefatos os movimentos do PMDB, cujo comportamento está deixando o campo da ação partidária para configurar-se uma piada de mau gosto.
Se alguém tinha alguma dúvida de que o adiamento da votação do relatório da subcomissão que indica ao Conselho de Ética do Senado a abertura de processo contra o senador Jader Barbalho era apenas manobra protelatória e não, como foi argumentado, uma necessidade regimental para obter parecer da Comissão de Constituição e Justiça, essa dúvida desapareceu na segunda-feira.
Por obra e graça do líder do PMDB no Senado - que, note-se, pretendia presidir a Casa -, foi assegurada uma vaga na referida comissão ao senador objeto da investigação em curso e a respeito da qual se manifestará hoje a CCJ. Ainda que tenha a honradez de não votar em causa própria, Jader Barbalho sentar-se-á naquele plenário para cumprir um ritual de constrangimento.
Desde que sentiu a inevitabilidade da derrota, em julho, quando se licenciou da presidência do Senado, Jader Barbalho avisou que contra ele já não se poderia fazer mais nada e, portanto, ''o constrangimento agora é da República'', disse na ocasião. Pelo visto acrescentou ao trecho do Eclesiastes, que leu durante a renúncia da semana passada, referindo-se aos vários tempos e a seus atos correspondentes, o tempo de constranger.
O então senador Luiz Estevão fez o mesmo quando, a despeito do desconforto que causava no colegiado, insistiu em assumir a relatoria do Plano Plurianual, por indicação de Jader, aliás. Que, na época, usou o mesmo argumento a que recorreu o atual líder da bancada para indicar agora Jader à CCJ: ''Ele me pediu, não tive como recusar.''
Veja o leitor de que material peculiar são feitas as colunas vertebrais dos líderes pemedebistas. Maleável o suficiente para vergarem-se às conveniências de seus parceiros e firme o bastante para se manterem eretas ante a opinião do país.
Ao confundir procedimento partidário com ação entre amigos, o PMDB está sentando praça na ante-sala da desmoralização coletiva. Ontem, perdeu Antônio Brito e sempre pode alegar razões regionais do Rio Grande do Sul. Mas, a seguir nesse diapasão, quem sabe amanhã não perderá o que lhe resta de matéria-prima para tentar a reconstrução.
A fim de evitar nefastas generalizações, cumpre apontar a perplexidade do presidente do partido, deputado Michel Temer, ante a essa última manobra. Na opinião dele tão inútil quanto contraproducente para o partido.
Seria injusto também não destacar os esforços do líder do partido na Câmara, Geddel Vieira Lima, para fazer do senador José Fogaça ministro da Integração Nacional no lugar de Ramez Tebet. Geddel não freqüenta a mesma enfermaria de Fogaça, mas não briga com os fatos. Sabe que há limites para agir pela lógica do compadrio e da instrumentalização dos mais confiáveis. Que a manutenção do poder requer recuos e concessões a quem pensa e atua diferente do grupo que assumiu o comando do PMDB em 1998.
Lá, afastou-se Paes de Andrade em nome da unidade de ação e pensamento na direção do partido. Mas a afoiteza tornou a emenda senão pior, pelo menos igual ao mau soneto. Repetem-se aqui as mesmas pequenas espertezas e afrontas à inteligência alheia que, ao longo do tempo, transformaram o PMDB num ajuntamento de desinteressados pautados por uns poucos que se juntaram para defender interesses cuja defesa não se faz de luz acesa em sala de visitas.
E como citou do Elesiastes Jader Barbalho, há tempo para tudo. Até para recuar. Sob pena de que se cumpra o vaticínio de Luiz Eduardo Magalhães e que não haja mesmo o menor risco de melhorar.
Solução final
Muito se cobra dos partidos e dos eleitores que façam eles mesmos uma triagem capaz de depurar a composição do Poder Legislativo. São instâncias cruciais, é verdade. Mas a atitude do Ministério Público Federal que pediu à Justiça a cassação dos direitos políticos dos ex-senadores Antonio Carlos Magalhães e José Roberto Arruda pelo crime de violação do painel eletrônico, nos remete a outro setor que não anda a cumprir o seu papel.
Muitos parlamentares que foram julgados politicamente pelo Congresso e dele afastados, preparam-se para voltar em 2002 por terem recorrido à renúncia antecipada. Isso não aconteceria caso a Justiça fizesse a sua parte depois que os processos são a ela encaminhados pelo Parlamento. Os partidos podem recusar filiações e legendas, é verdade. Mas para isso ou recorrem a critérios aleatórios ou se atêm à documentação de que estão judicialmente quites.
O eleitorado também deve fazer a sua parte nas urnas, desde que possa confiar que a Justiça cumpriu a sua tarefa nos tribunais. Não sendo assim, veremos no ano que vem que, muito do que se fez neste país em matéria de combate à impunidade terá sido trabalho perdido.
Editorial
Caso de Estelionato
Em sua tortuosa caminhada rumo ao processo de cassação do mandato, o senador Jader Barbalho foi premiado com o seu próprio voto graças à sua indicação para a Comissão de Constituição e Justiça do Senado, que julga hoje a reivindicação de mais espaço para manobras protelatórias. Espaço e tempo para defender-se, porém, foi o que não lhe faltou. Negativas enfáticas e empostadas não fazem prova.
Jader Barbalho é caso de estelionato por elementar definição dicionarizada: ''Ato de obter (...) vantagem patrimonial ilícita, em prejuízo alheio, (...) mediante artifício, ardil ou qualquer outro meio fraudulento.'' O espaço de que dispôs como presidente do Senado não foi capaz de melhorar sua posição comprometida no rastreamento das importâncias do Banpará que foram aportar na suas contas bancárias, conforme relatório da Receita Federal. Cada dia fica pior para ele.
Enquanto os ex-senadores Antônio Carlos Magalhães e José Roberto Arruda perderam o mandato por mentir no caso da violação do painel de votação secreta do Senado, Jader Barbalho aparece como beneficiário de farto dinheiro público por via inconfessável, que ele se limita a negar mas que está oficialmente documentada. A indicação para votar em causa própria foi gentileza suspeita do líder do PMDB, Renan Calheiros, e criou constrangimento dentro do PMDB que, em situações morais, tem couro de rinoceronte mas não se salvará. Renan defendeu-se com a mais esfarrapada das desculpas: ''Ele me pediu para ser indicado e não tive como negar.'' A provocação do líder não exime a responsabilidade do partido. As conseqüências virão a galope.
Há uma conivência corporativa que pretende manter o anonimato mas deixa impressão digital nos seus atos.
Que fez até agora o PMDB para apressar o desfecho do caso? Contemporiza, põe panos quentes mas de bico fechado. Cada dia que passa fica pior para a legenda que teve (e perdeu) veleidades éticas. Ou será que o PSDB acredita que a leniência no caso vá proporcionar votos ao candidato da aliança que, em tese, será dele, do PMDB e do PFL? Com a omissão oficial, o PSDB está jogando voto fora: o PMDB não vai repor as suas perdas porque também vai lhe faltar a confiança dos eleitores. Deputados e senadores estão no mesmo barco que afunda na confiança geral.
O presidente da República guarda inexplicável distância, como se estivesse livre da contaminação moral que se espalha com a demora de resolver a situação insustentável. Não é exagero diagnosticar na atual fase a metástese de conseqüências eleitorais. O argumento do PMDB, segundo o qual o dinheiro que jorrou na conta bancária do ex-governador do Pará é anterior ao mandato, é a consagração da imunidade para o peculato. As vozes cavernosas do coro pemedebista falam em linchamento para rebater tudo que foi levantado pela Receita e pelo Banco Central. Jader é parte ativa do problema, alma da crise, e não vítima. Sua designação para a CCJ é afrontosa à opinião nacional. Cada hora perdida aumenta o prejuízo moral dos partidos que não sentiram a necessidade de investir no sentimento moral da sociedade cuja expectativa é a próxima eleição.
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