Câmara Setorial e Abic harmonizam programa de qualidade do café



Medidas visam a aumentar o valor agregado do produto e a valorizar o trabalho no campo

Ao final de um jantar em família ou de um almoço de negócios, sempre se faz a tradicional pergunta: “Quer um cafezinho?” Presente em nossa cultura, o café é referência da agricultura nacional, e tem reconhecimento internacional. O fato é comprovado: o Brasil é o maior produtor mundial do café em grão (cru), alcançando a cifra de 30% do mercado mundial. De toda xícara de café que se bebe no mundo, um terço é de origem brasileira. No caso do Estado de São Paulo, a ligação entre o desenvolvimento do Estado e o produto é comprovada: os barões do café financiaram a construção do Theatro Municipal de São Paulo, por exemplo.

Isso foi no passado. Hoje, além da quantidade, é preciso cuidar da qualidade para continuar dando as cartas no mercado mundial. Para ampliar a abrangência dos programas de qualidade do produto que promove, a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo e a diretoria da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) assinaram, em novembro, protocolo de intenções que amplia a abrangência do seu trabalho e criaram o selo de qualidade Produto de São Paulo e o Programa de Qualidade do Café (PQC).

Nathan Heszkowicz, presidente da Câmara Setorial do Café e diretor-executivo da Abic, explica que o objetivo é reunir as empresas participantes num único programa que harmonize os dois. “Quem ganha é o consumidor, que vai ter mais café de qualidade”. O executivo explicou que o foco da entidade é o mercado interno.

Além das regras harmonizadas e da criação de um concurso que coloca no mercado os melhores cafés produzidos em São Paulo, o governo do Estado criou uma linha de crédito, pelo Fundo de Expansão do Agronegócio Paulista (Feap), para a compra de equipamentos que auxiliem na produção de cafés com melhor qualidade. 

Curva crescente

Dados da Abic indicam que o consumo interno aumenta desde a década de 90, passando de 8,2 milhões para 16,9 milhões de sacas do produto. Otimista, a entidade espera que esse número evolua ainda mais até o final do ano e atinja 17,4 milhões de sacas. Em números, o Brasil é o segundo maior consumidor do produto, o que não surpreende, pois pesquisas mostram que 91% dos brasileiros acima de 15 anos tomam café. Os maiores consumidores são os norte-americanos. É a segunda bebida de maior penetração – só perde, como não podia deixar de ser, para a água. São Paulo é o terceiro maior produtor de café do País, ficando atrás de Minas Gerais (50%) e do Espírito Santo (25%), mas concentra 40% da torrefação brasileira.

O grão plantado no Estado é, na maioria, do tipo arábica, com sabor e aroma. São Paulo é o segundo produtor de arábica e o terceiro de conillon (variedade brasileira do robusta). A presença do conillon costuma variar entre 50% e 70% na composição do pacote de café em pó.  

Pioneirismo

Nathan explicou que o consumo da bebida cresceu no Brasil por causa da melhora da qualidade do café oferecido ao consumidor, expansão das cafeterias e consumo por faixas mais jovens da sociedade. “O mito de que a indústria vende café de qualidade inferior ao brasileiro é coisa do passado. Atualmente, temos vários tipos à disposição do consumidor interno, incluindo o gourmet”. Informou que a introdução de normas técnicas com a SAA-37, de 2001, ajudou a aperfeiçoar o padrão do café consumido no País. Foi uma medida pioneira, que tem como finalidade melhorar o padrão do café moído e torrado, não somente a qualidade do grão verde (cru). A medida, explicou o executivo, serviu como base para classificar os produtos negociados na Bolsa Eletrônica de Compras, que exige qualidade mínima de 4,5 pontos para a aquisição por órgãos públicos do Estado. A qualidade do produto varia de uma escala de zero a 10. Acertificação de Qualidade Mínima Aceitável atesta tanto o sabor do nosso café do dia-a-dia (tradicional) como os mais sofisticados, chamados superiores e gourmets. Assim, qualquer estabelecimento que serve cafés com qualidade mínima recomendável pode obter a certificação do PQC da Abic. 

PQC

O Programa de Qualidade do Café (PQC) foi criado pela Abic em 2004, para instituir três categorias de produtos a partir de níveis de qualidade e preço: tradicional, superior e gourmet, e assim agregar valor e ampliar o consumo a partir da melhoria contínua dos cafés.

O PQC apresenta inúmeras vantagens para a indústria, para o varejo e para o consumidor. “Para as indústrias, a vantagem está na possibilidade de lançar ou reposicionar suas marcas de acordo com o perfil dos consumidores. Para o varejo é um diferencial importante no que se refere ao quesito segurança alimentar. Para os usuários, as categorias têm papel educativo. Eles descobrem que os cafés não são todos iguais”, explicou Nathan. 

Cafés de terroir

As lideranças regionais de São Paulo querem promover a demarcação geográfica e obter o reconhecimento de suas áreas produtoras, como ocorre com as regiões vinícolas da França e em algumas regiões do Brasil, como a do cerrado mineiro e a da Serra da Mantiqueira. A região do cerrado mineiro foi a primeira no País a obter a Indicação de Procedência, concedida em 2005 pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi). O próximo objetivo das duas regiões é obter a Denominação de Origem (D.O.), outro tipo de indicação geográfica, que se aproxima mais do conceito de terroir (palavra francesa que deriva do latim popular territorium). O termo está associado à história da região, aos aspectos socioeconômicos e às pessoas que ali vivem e produzem coisas diferenciadas.

“O café da região Mogiana (Amparo, Itapira, São João da Boa Vista e Franca) é o mais conhecido no mundo pelos especialistas. A região é tradicional produtora de cafés de qualidade,” informa Nathan.

A demarcação geográfica leva em conta as características geográficas, altitude, latitude, condição climática, banco de dados de regime hídrico e caracterização do microclima de forma geral. Dessa maneira, o café produzido na região Sorocabana – centro-oeste paulista (Marília, Ourinhos e Piraju) apresenta peculiaridades diferenciadas (sabor, corpo, ponto de torra e moagem) daquele produzido na região Mogiana. 

Detalhes fazem a diferença

Aldir Alves Teixeira, engenheiro agrônomo que empresta seu nome ao prêmio Concurso Estadual de Qualidade do Café de São Paulo, esclarece que pequenos detalhes fazem a diferença na hora de produzir um bom café, como a secagem do produto no terreiro. “Somente a origem da região não qualifica um produto como de boa qualidade ou não, mas o trabalho realizado na manipulação do produto – colheita e armazenagem. O café cereja, se secar rapidamente, resultará num produto final será de excelente qualidade. Por isso, o cafeicultor deve ter muito cuidado na manipulação do produto”.

Saiba mais sobre os melhores cafés da safra 2007

A Associação dos Produtores de Cafés Especiais da Alta Mogiana congrega fazendas em 14 municípios e deu entrada no processo de demarcação da área. As altitudes elevadas e o inverno seco são características da região que cultiva principalmente as variedades catuí e mundo novo. Na xícara, o resultado é uma bebida encorpada, com aroma frutado e equilíbrio entre doçura e acidez.

Nathan explicou que os técnicos da Secretaria da Agricultura podem ajudar bastante no aspecto técnico que esse trabalho exige. “Enquanto o setor produtivo auxilia estabelecendo a caracterização sensorial dos cafés de cada região”.

A delimitação de regiões cafeeiras é tendência mundial e estratégia comerci al e mercadológica para diferenciar os vários tipos de grãos e bebidas. A iniciativa colabora para a valorização das especificidades e tradições de cada região, que podem ser percebidas pelo consumidor ao beber uma xícara de café. 

Maria Lúcia Zanelli

Da Agência Imprensa Oficial 

(I.P.)



12/13/2007


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