Campanha retoma polarização de seu início









Campanha retoma polarização de seu início
Pesquisas mais recentes colocam Lula e Serra com os mesmos números de junho

Na sua reta final, a campanha presidencial entra numa nova fase, mas com velhos números. A polarização entre os candidatos Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e José Serra (PSDB) aponta para a antecipação do segundo turno e substitui a briga entre Serra e Ciro Gomes (PPS) pelo segundo lugar. Esse quadro, porém, acaba repetindo, inclusive com os mesmos números, a situação do início de junho. Naquela ocasião, o Datafolha apresentava Lula com 40% e Serra com 21%, exatamente os mesmo índices divulgados pelo instituto na segunda-feira.

Depois daquela pesquisa, Ciro, que estava em quarto, ultrapassou Garotinho e Serra e chegou a ameaçar Lula. Agora, porém, a menos de 30 dias da eleição, Lula e Serra parecem convencidos de que o quadro não vai se alterar mais. "A tendência é haver uma certa acomodação, porque esse era o quadro esperado por Lula e Serra", avalia a socióloga Fátima Pacheco Jordão, especialista em pesquisas eleitorais. "Lula tentará vencer no primeiro turno e Serra fará tudo para impedir isso, mas os dois se prepararam desde o início para essa disputa no segundo turno."

A avaliação é a mesma nas duas campanhas. Ontem, em Cuiabá, Serra disse que a estratégia continuará igual: "Estamos numa estratégia correta e vamos continuar na mesma linha adotada até agora." No comando da campanha de Lula, o único receio é de que Serra continue crescendo. "Se ele for para o segundo turno crescendo, ficaremos em situação ruim", admite um dirigente do PT.

"Mas se Lula for para o segundo turno com 20% de vantagem sobre o segundo colocado, qualquer adversário terá dificuldades para reverter."

Na avaliação de Fátima, a nova situação, na verdade é uma velha aspiração dos dois candidatos.

"Lula não havia se preparado para enfrentar Ciro e essa seria uma disputa de vale-tudo", analisa a especialista. "O Serra não surpreende o Lula, que sabe por onde será atacado, pela questão da competência e experiência, e está preparado para isso."

Tarefa - Do outro lado, diz a socióloga, é muito melhor para Serra se concentrar em impedir a vitória de Lula no primeiro turno. "Essa é sua única tarefa agora e ele já mostrou no programa de hoje (ontem) que começará a atacar Lula." Segundo Fátima, Serra volta a contar com um dado animador do Datafolha, que o beneficiava em junho. "Entre os eleitores que podem mudar de voto, a maior parcela (34%) diz que mudaria para Serra", observa.

Assim, Fátima prevê que a briga entre os dois ficará mais acirrada na reta final, mas isso não significa uma guerra como poderia acontecer com Ciro.

"Eles ficarão duros, mas não selvagens", avalia.

Para a socióloga, nem no segundo turno a disputa deve descambar. "Será mais difícil, mais cheia de surpresas, mas não um vale-tudo, afinal existem algumas afinidades." Ela diz que Lula e Serra sabem que poderão precisar um do outro lá na frente. "Finalmente vão se confrontar um PT que pensava que era socialista, mas é social-democrata e um tucano que pensava ser neoliberal, mas também é social-democrata."

"Perdido" - Quanto às chances de Ciro ou Garotinho atrapalharem esse desfecho, Fátima acha pouco provável. Ela lembra que a rejeição de Ciro saltou de 25% para 34% e seus programas não apresentam nenhum sinal de reação.

"Ciro está perdido porque não conseguiu definir rumo, sua proposta de governo e em seus programas tem se limitado a ficar na defensiva", analisa.

"Nessa fase, o eleitor demanda uma definição e Ciro não soube responder a que veio."

Já Garotinho, embora seja o único candidato a crescer em todos os segmentos, sofre pela limitação de sua infra-estrutura. "Sem alianças e sem governadores de peso, ele não vai muito longe", constata.

Isso, no entanto, não quer dizer que o candidato possa desistir da disputa como sonham alguns petistas. "Tendo garantido a vitória de sua mulher (Rosinha Matheus) no primeiro turno ao governo do Rio, o que ele ganharia com isso?', pergunta Fátima. "Sua estratégia agora é consolidar seus votos para manejar esse capital no segundo turno." (Colaborou Conrado Corsalette)


Lula tem seu maior estoque de votos

O estoque de votos de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nunca esteve tão alto e o de Ciro Gomes (PPS) tão baixo nesta eleição, indica pesquisa Datafolha divulgada segunda-feira. Nas simulações de segundo turno, Lula vence todos os rivais, com média de 54% do votos, seu melhor índice desde maio. Já Ciro perde de Lula com 34% e de Serra com 35%. É um desempenho pior do que o de junho, quando começou a subir nas pesquisas.

A analista de pesquisas eleitorais Fátima Pacheco Jordão diz que os índices para o segundo turno são expressivos porque indicam o teto de votos de cada um, já que nessas simulações o eleitor tem de decidir se realmente votaria naquele candidato.

Ciro teve aumento expressivo na taxa de rejeição, de 25% para 34%. Até a sondagem anterior, ele tinha a menor rejeição, embora desde agosto o índice estivesse crescendo. Agora, sua taxa é a maior.

Dos eleitores de Lula, 73% dizem que não mudam sua escolha e 26% que podem mudar. Entre os do tucano José Serra, 43% mudariam. O índice de Ciro é de 41% e o de Anthony Garotinho (PSB), 34%. O programa eleitoral de Lula é considerado ótimo ou bom por 66%. O de Serra tem 52% de avaliação positiva; o de Ciro, 39%; e o de Garotinho, 45%.


Serra desafia Lula a explicar promessa de emprego
Em Cuiabá, ele afirma que subiu nas pesquisas pois sempre diz como vai cumprir suas propostas

CUIABÁ - Apesar de insistir que sua campanha segue a mesma estratégia, o candidato tucano à Presidência, José Serra, aproveitou ontem uma pergunta sobre competência para administrar o País e alfinetou o adversário Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Após afirmar que propõe e mostra como criar 8 milhões de vagas, Serra desafiou: "Lula está propondo 10 milhões (de empregos).

Então, será interessante que ele também passe a mostrar como isso vai ser feito."

Serra ainda emendou: "O que eu quero debater com Lula e outros candidatos são as questões do Brasil e como vão fazer."

Em Cuiabá, onde fez campanha, Serra atribuiu sua subida nas últimas pesquisas, divulgadas anteontem pelo Ibope e pela Datafolha, à divulgação do seu programa de governo no horário eleitoral no rádio e na TV. "Nós tínhamos a expectativa de crescer por causa das nossas propostas, mas, acima de tudo, porque estamos mostrando como faremos."

O candidato voltou a dizer que vai tratar o Movimento dos Sem-Terra (MST) - que tem apoio dos petistas e de Lula - com muita firmeza, para não permitir a violação do direito à propriedade no campo. "Com relação a MST e invasões, também é importante que todos os candidatos se manifestem sobre todas as questões com profundidade e digam como vão resolver cada uma", declarou.

Isolado no segundo lugar, Serra diz que já está "preparado" para vencer a eleição. "As pesquisas agora vão mostrando tendências, mas elas não definem o resultado. O resultado quem define é a pesquisa da urna, a do dia 6 de outubro. Ela vai definir o resultado do primeiro turno", ressaltou.

Apesar das cobranças a Lula, ele assegurou: "Estamos numa estratégia correta e vamos adotar a mesma linha que estamos adotando. Não vamos mudar."

Trânsito - O candidato participou de caminhada no centro de Cuiabá, numa visita-relâmpago a Mato Grosso. A concentração causou muitos problemas no trânsito e deixou irritado o ex-governador Dante de Oliveira, candidato ao Senado.

Participaram da caminhada Dante, Serra, Antero Paes de Barros (PSDB), candidato ao governo, e Carlos Bezerra (PMDB), candidato ao Senado, decidiram parar em uma lanchonete.

A visita serviu para impulsionar a campanha de Antero de Barros. Nas entrevistas, Serra pediu votos para o colega tucano, elogiando: "Ele é o melhor para governar Mato Grosso." Na última pesquisa do Ibope realizada em agosto, Antero aparece com 41% das intenções de votos, contra 29% para Blairo Maggi (PPS). Barros e Maggi devem ir para o segundo turno.

Pesquisa divulgada no sábado pelo Instituto Ipec/Diário de Cuiabá mostra tendência de queda de Antero de Barros e amplia chances de Maggi vencer as eleições. De acordo com o levantamento, Maggi já é o preferido dos eleitores mato-grossenses, com 41.78% das intenções de voto, contra 25.78% de Antero.

A virada do candidato socialista mostra que Antero perdeu 7,74 pontos porcentuais nos últimos 15 dias, e que Blairo Maggi subiu 14,99 pontos no mesmo período. Na rodada anterior, concluída no dia 22 de agosto, Antero ainda era o líder, com 33.52%, e Blairo o segundo, com 26.79%.


FHC diz agora que não é tão fácil governar o Brasil
Presidente revê declaração feita no início do mandato, mas pondera que, em relação a outras partes do mundo, ‘situação não é tão difícil’

MANAUS – Ao se despedir da população do Amazonas, possivelmente em sua última viagem ao Estado antes de deixar o cargo, o presidente Fernando Henrique Cardoso reconheceu ontem que precisava rever uma frase do início de seu mandato. “Logo que iniciei o governo, disse que era fácil governar o Brasil. Talvez tivesse de refazer o que disse. Não é fácil governar um País tão grande. Mas posso lhes assegurar também que não é tão difícil assim, se compararmos com outras situações pelo mundo afora”, comentou, ao discursar na abertura da 1.ª Feira Internacional da Amazônia.

No discurso, Fernando Henrique fez um balanço de suas relações com os políticos e agradeceu a cooperação dos líderes da região. Segundo o presidente, eles o ajudaram a superar as dificuldades com compreensão e diálogo. “Existe neste país a disposição de cooperar e esta região é o exemplo mais generoso disso, embora, naturalmente, existam muitos conflitos.”

Para o presidente, o importante é não permitir que os conflitos se transformem em crise institucionais. “Nunca vi no calor das palavras as labaredas das armas de fogo e, quando o calor é só de palavras, há outras palavras que arrefecem esse calor.”

Zona Franca – Fernando Henrique afirmou que “em mais de um momento” enfrentou problemas que pareciam insuperáveis com governadores e com as bancadas da região, mas disse que tudo acabou resolvido porque o sentimento “de amor ao Brasil” era comum e estava acima de interesses pessoais. “Nunca me senti isolado”, emendou, reconhecendo que isso só foi possível porque tinha apoio de diferentes segmentos. E aproveitou para registrar a presença do governador do Acre, Jorge Viana, do PT, na solenidade.

Pouco antes, o governador do Estado, Amazonino Mendes (PFL), havia dito que o presidente foi o patrono do maior plano econômico aplicado a países em desenvolvimento. “O senhor nos fez diferente da Argentina”, afirmou Amazonino.

Diante de mais de 200 empresários da região, seis ministros e três governadores, Fernando Henrique criticou industriais do Sudeste, particularmente de São Paulo, que hostilizam empresas do Amazonas e avisou: “A Zona Franca de Manaus veio para ficar”. “Não podemos mais aceitar que existam restrições indevidas do Mercosul, que tratam a Zona Franca de Manaus como um terceiro país”, disse. “A Zona Franca faz parte hoje dos sistema produtivo brasileiro, não é uma excrescência nesse sistema”, acrescentou, referindo-se à taxação imposta em todos os países do Mercosul, exceto Argentina, a produtos fabricados na Zona Franca.

Sivam – O presidente aproveitou o discurso para, mais uma vez, defender a criação do Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam). De acordo com o presidente, o sistema será colocado à disposição dos países vizinhos para melhor combater o tráfico de drogas e o terrorismo.

Fernando Henrique ainda se desculpou por ter antecipado a volta de Manaus para Brasília e lembrou que seu médico não queria sequer que ele viajasse, porque tem tido gripe continuada.


Nizan vira tucano e elogia candidato do PT
O embate entre os presidenciáveis José Serra e Luiz Inácio Lula da Silva deverá se dar em um tom “razoável”, garantiu o publicitário tucano Nizan Guanais. “O Lula tem uma postura bacana, razoável. Quando ele estabelece esse tom para ele, também estabelece para nós. É nesse tom que vamos discutir”, afirmou. “Não é denegrir, fazer coisas negativas”, completou Nizan, que aproveitou uma palestra no comitê de campanha do PSDB para assinar sua filiação ao partido.

“Sempre tive vontade, agora tive coragem.”

Como mostrou o programa eleitoral que foi ao ar ontem, o primeiro após a subida de Serra para o segundo lugar nas pesquisas, a campanha deverá insistir na discussão sobre quem estaria mais preparado para ser presidente: Serra ou Lula?.

Em uma breve entrevista após a palestra, Nizan afirmou ainda trabalhar com todos os cenários, inclusive com a hipótese de uma vitória de Lula no primeiro turno. “Seria arrogante deles pensar isso e estupidez (nossa) não prever nada. Considero todas as possibilidades.”

Quanto às razões de sua filiação, Nizan descartou que tenha aspirações políticas. “Vou largar o marketing político. Quero ser simplesmente filiado. Meu negócio é publicidade.”


Candidato espera lucrar com ataques de Serra a Lula
Frente Trabalhista quer estimular petista a se colocar como oposição ao governo tucano

Depois da nova queda nas pesquisas, o comando da campanha de Ciro Gomes (PPS) decidiu estimular o candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a se colocar como candidato de oposição ao governo e a José Serra (PSDB), e espera lucrar com os ataques do tucano ao petista. A nova ação foi deflagrada ontem pelo próprio candidato do PPS, em entrevista ao jornal O Globo, no Rio, e por líderes da Frente Trabalhista (PPS, PTB e PDT), que, ao mesmo tempo, manterão os ataques a Serra - no discurso e no horário eleitoral gratuito.

Ciro cobrou uma reação mais contundente de Lula em relação ao que considera ações governistas com finalidade política, como a denúncia feita pelo procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, contra o presidente do PT, deputado José Dirceu (SP). Os integrantes da Frente Trabalhista acreditam que, a partir das críticas que começou a receber de Serra, Lula terá de responder e poderão reconquistar os eleitores perdidos nas últimas semanas.

O deputado João Herrmann (PPS-SP) espera de Lula uma reação mais incisiva contra o crescimento de Serra. "O urso só dorme no inverno e a primavera está chegando, em 21 de setembro, e está na hora de acordar, ou ele (Lula) acha que nada o envolve nos ataques de Serra contra a oposição?", disse.

"Nessa oposição, um candidato tenta se defender precariamente, enquanto o outro finge que nada acontece", completou.

Avaliações - O senador Jorge Bornhausen (PFL-SC) continua defendendo a tese de que Serra atingiu o teto e Ciro tem mais chance de crescer. "O patamar máximo do Ciro é muito maior do que o de Serra, que já o atingiu, portanto, só depende da nossa competência."

O representante do PTB na coordenação da campanha de Ciro, o deputado Walfrido Mares Guia, reuniu-se novamente ontem, em São Paulo, com o comando político da Frente Trabalhista e tentou mostrar que não existe crise na campanha.

Apesar de o senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA) ter sugerido mudanças no programa de televisão de Ciro, a linha adotada no horário eleitoral não será alterada e vão manter o s ataques ao governo e a Serra.


Artigos

Lorota e nostalgia
José Nêumanne

É descarado o convite para o baile da saudade nos palanques do Brasil. Luiz Inácio Lula da Silva (PT), favorito nas pesquisas, sente falta do sucesso que fazia na ditadura militar e acende velas para Delfim Netto no altar dos heróis do povo. Ciro Gomes (PPS) nem precisa pedir emprestada uma lágrima saudosa a seu companheiro Antonio Carlos Magalhães, pois Leonel Brizola, o mais insuspeito de seus aliados de ter simpatia pela direita, já disse em alto e bom som que no comando da República Sarney e Fernando Henrique foram piores do que os generais. Anthony Garotinho (PSB), sem apoio de vivos, apela para dois mortos, Getúlio Vargas e Juscelino Kubitscheck. É verdade que José Serra (PSDB), que não pede licença nem desculpas, não dá bom dia nem agradece nada a ninguém, não parece saudoso nem do governo que o lançou, mas, de tão obstinado em denunciar as mentiras de Ciro para tomar seu lugar no segundo turno, se arrisca a perder de vista o posto que disputa, entregando-o de graça ao adversário petista ainda no primeiro.

Essa onda de nostalgia pode estar sendo causada pela tensão natural num momento decisivo como este, com a chegada à reta final. Mas é inegável que ela não tem feito bem nenhum nem ao currículo dos quatro principais candidatos à Presidência nem aos nervos do cidadão brasileiro, que diante disso tudo começa a perceber que, seja qual for o eleito, ele ainda pode vir a sentir muita saudade do professor Fernando Henrique, apesar da carga tributária de 34% do PIB, dos problemas de infra-estrutura e da insegurança pública geral.

Enquanto Lula corteja as vivandeiras da ditadura, Serra e Ciro se insultam e Garotinho se comporta como o irresistível engraçadinho da classe, os problemas se acumulam na gaveta do presidente que vai assumir o poder, sem que este, qualquer que seja dos quatro, tenha manifestado um único conceito coerente sobre algo de fato relevante para a vida real do cidadão, que paga impostos e vai votar num deles daqui a um mês.

Em vez de dar atenção absoluta, como vêm fazendo, aos marqueteiros de suas campanhas, os quatro poderiam encomendar o livro O Brasil em Transformação, no qual o ex-ministro Maílson da Nóbrega conta em palavras comuns, raciocínios simples e números acachapantes a tragédia que a Constituição de 1988 armou para a contabilidade federal nestes tristes tópicos. O PT de Lula recusou-se a assinar a Constituição, mas hoje tem por ela devoção semelhante à de Osama bin Laden pelo Corão. Serra é um dos principais autores do texto catastrófico e parece não ter conseguido livrar-se dos velhos preconceitos ideológicos que o inspiraram à época, uma das maiores virtudes do atual presidente. E Ciro, bem, Ciro exibe um temperamento tão instável que parece mais disposto a rasgá-la do que a reformá-la - tarefa que a História tem mostrado ser inglória para quem a tenha tentado. Os quatro, aliás, vestem bem a carapuça que Maílson lhes apresenta no livro citado: "Os políticos imaginam que o limite do gasto público é dado pela vontade política dos governantes."

Por isso, todos eles endeusam Juscelino (o que não é vantagem muito grande, porque até Fernando Henrique o faz) sem perceber que, ao erigir a pirâmide chamada Brasília, ele terminou por inocular na Nação a praga que a infelicitou durante tanto tempo, a inflação. Por isso, Lula e Brizola admiram tanto os militares: eles endividaram a viúva para poder gastar sem limites e passar a conta para as gerações futuras (atenção, as gerações futuras deles somos nós aqui e agora), mesmo que para tanto tenham prendido, processado (Lula inclusive), torturado e até matado quem ousasse erguer-lhes o dedo para dizer que o rei estava nu, ou seja, o reino estava falido.

Fernando Henrique, cujo maior valor foi extirpar o mais injusto e cruel dos impostos, a inflação, rolou a dívida sem cortar significativamente o gasto público, alçando a carga de impostos de 28% para 34% do PIB. E os quatro não conseguem enxergar que não terão como aumentar mais essa carga a partir dos 36%, ponto em que a receberão, para o infinito, que é o mínimo que a corja que controla o Estado exige.

Como Maílson não foi ministro dos militares, mas de Sarney, talvez seja o caso de indicar aos quatro presidenciáveis outro autor menos estigmatizado.

Então, lá vai: o economista Raul Velloso, especialista em contas públicas, já ficou afônico de tanto dizer (e escrever) que "ou o governo faz um ajuste brutal, ainda que na marra, durante muito tempo, ou faz as reformas capazes de passarem a idéia de que, se qualquer governo quiser, ele pode gerar o superávit necessário para manter a dívida pública sob controle". O resto, meus amigos, meus inimigos, é lorota de campanha. E lorota de campanha - de Duda ou de Nizan, pouco importa - pode encher urna de votos, mas não enche barriga de eleitor.


Editorial

OS EFEITOS OMINOSOS DO 11 DE SETEMBRO

O efeito singular de mais amplo alcance do 11 de setembro foi a decisão do governo Bush de fazer da guerra ao terrorismo o princípio norteador das relações dos Estados Unidos com o mundo. É impossível saber aonde isso conduzirá o sistema internacional, mas o panorama é inquietante.

Primeiro, porque se trata de um combate sem desfecho concebível no estrito plano militar. A invasão do Afeganistão derrubou um regime intimamente associado à organização responsável pela ação terrorista que assombrou o planeta há um ano. Essa organização, a Al-Qaeda de Osama bin Laden, não só perdeu as suas principais bases, como não conseguiu cometer nenhum outro atentado desde então - ao contrário do que se temia.

Mas o que se viu na Ásia Central foi apenas a primeira batalha, ainda em curso, por sinal, contra um inimigo que difere essencialmente de seus similares tradicionais, seja pela difusão geográfica, seja pelos recursos de que pode dispor, seja pelas motivações de seus crimes. Na era das facilidades globais, o fanatismo messiânico armado pode ser contido, embora não confinado, muito menos erradicado. É um elemento da realidade em face do qual a palavra "guerra", com tudo o que implica, designa uma resposta inadequada - e ameaçadora para o direito internacional.

Tampouco se pode ser otimista quando, além de colocar a luta antiterror acima de tudo, a superpotência americana adotou a estratégia supremacista de enfrentar o terrorismo e os seus presumíveis aliados quando, como e onde julgar necessário, a seu exclusivo critério, com base na premissa do "ou se está conosco ou se está contra nós". O 11 de setembro carreou para os Estados Unidos a solidariedade do mundo civilizado. "Somos todos americanos", foi, no dia seguinte, a manchete histórica do Le Monde, de Paris, crítico contumaz das políticas de Washington.

Amparados por uma combinação sui generis de autoridade moral e legitimidade política, nascidas dos escombros das torres gêmeas de Nova York, os EUA construíram, para a campanha afegã, uma coalizão internacional sem precedentes. Esse êxito diplomático deu ao presidente George W. Bush uma estatura até então inimaginável. Mas, em janeiro, o próprio Bush desperdiçaria esse patrimônio, com o seu discurso do "eixo do mal", que colocou na mesma categoria absurda o Irã, o Iraque e a Coréia do Norte, equiparando-os retoricamente às potências do Eixo da 2.ª Guerra Mundial, Alemanha, Itália e Japão.

Ficou claro que, na defesa do que considerar como sendo interesse dos Estados Unidos, o presidente agirá, se for o caso, à revelia dos aliados, da opinião pública estrangeira e, o que é sumamente grave, até mesmo do arcabouço de normas, valores e instituições em que se fundamenta a ordem internacional. Passou a aplicar-se explicitamente à guerra ao terror o unilateralismo que , antes do 11 de setembro, já ditava os rumos da política externa da administração republicana - por exemplo, tornando letra morta, para Washington, o Protocolo de Kyoto, sobre o meio ambiente.

Condoleezza Rice, a assessora de Segurança Nacional da Casa Branca - a quem o escritor mexicano Carlos Fuentes se refere como "a Lady Macbeth do gabinete Bush", por suas posições de linha-dura -, diz, freqüentemente, que "o poder conta". Parece um lugar-comum, mas é uma advertência: para o atual governo americano, a incontrastável força militar dos Estados Unidos deve ser o fator determinante das suas decisões - e não a "clareza moral" sempre invocada por Bush para respaldar a sua conduta diante do terrorismo, nem o conjunto de leis e organismos transnacionais da atualidade.

E esse é o argumento de realpolitik por trás da planejada intervenção militar no Iraque - de preferência, mas não necessariamente com o apoio da ONU. O ponto nevrálgico é que os Estados Unidos não querem apenas eliminar a capacidade iraquiana de produzir, empregar ou transferir a terroristas as suas propaladas armas de destruição em massa - um objetivo legitimado pela resolução do Conselho de Segurança que determinou a suspensão das hostilidades contra Bagdá, na Guerra do Golfo, de 1991. A meta é mudar o regime do Iraque, depondo o ditador Saddam Hussein.

Também por isso, mais de um analista insuspeito de antiamericanismo já observou que Bush conseguiu a proeza de unir o mundo contra Washington - algo impensável quando este mesmo mundo se deparou com o terror insano que se abatia sobre a América na cristalina manhã de 11 de setembro de 2001.


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09/11/2002


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