Candidatos dedicam domingo ao corpo-a-corpo
Candidatos dedicam domingo ao corpo-a-corpo
Quinze dias antes do segundo turno, Rigotto e Tarso aproveitaram o dia de sol para circular entre simpatizantes e eleitores
A manhã de ontem foi reservada pelo candidato ao governo do Estado Germano Rigotto (PMDB) à participação na principal missa da Festa de Nossa Senhora Aparecida e dos Motoristas, em São Marcos, na região da Serra.
Rigotto concedeu entrevistas, distribuiu abraços e almoçou com fiéis. O peemedebista destacou que o mais importante nesta fase da campanha é mostrar a base de seu projeto de governo.
– Não vamos olhar para trás nem comparar administrações – assegurou.
Rigotto frisou que pretende manter projetos do atual governo, como o Primeiro Emprego e o Família Cidadã.
– São dois bons projetos que pretendo aprimorar – avisou, ressaltando que também vai criar condições para que a terceira idade seja beneficiada com postos de trabalho, inclusive com carteira assinada.
Sobre os números divulgados pelas pesquisas, o candidato prefere não falar:
– Não representam a realidade.
Rigotto salientou que as coligações definirão o candidato vitorioso no segundo turno da eleição para o Piratini.
– Aqui em São Marcos, tenho apoio do PDT, do PPB, e do PMDB, além do PSDB, que está se estruturando. No Estado, conto com 90% dos prefeitos do PDT. O PL e o PFL também vão oficializar apoio – diz.
Para o candidato do PMDB, a construção da vitória passa por esse caminho:
– Se ganharmos, com um leque maior de opções, podemos escolher os melhores nomes para compor o governo. Não sou personalista. Por trás de mim existe o coletivo.
Na tarde de sábado, a comitiva do candidato havia agitado a 76ª Expofeira de Pelotas. Ele foi recebido às 16h45min no município pelo ministro da Agricultura, Pratini de Moraes (PPB). Depois de um longo abraço, Pratini puxou o coro de vivas.
– Rigotto governador – bradava.
Sem fazer promessas, Rigotto propôs fomentar as potencialidades do Estado, partindo das microrregiões. Salientou a importância da orizicultura e da industrialização de frutas, setores vitais para a região.
Para o candidato do PT a governador, Tarso Genro, a manhã de ontem foi marcada por fatos impossíveis de serem previstos em qualquer roteiro de campanha.
Depois de sair da missa de sétimo dia em memória do amigo e coordenador de campanha José Eduardo Utzig – atingido por um enfarte na terça-feira –, Tarso preparava-se para falar no minicomício de encerramento de uma caminhada pelo Brique da Redenção, quando o ato político foi interrompido por um atropelamento no corredor de ônibus da Avenida João Pessoa, atrás do local em que havia estacionado o caminhão-palanque.
Com um ferimento na cabeça, a vítima, um morador de rua sem identidade e visivelmente embriagado, recebeu os primeiros socorros do deputado federal reeleito e médico Henrique Fontana (PT). O trânsito engarrafou. Depois do acidente, a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) passou a monitorar o fluxo de pedestres e de veículos no local.
– Vamos cotejar projetos, o que votei quando eu era candidato, qual foi a minha postura em relação aos movimentos econômicos, a minha origem e a minha conduta como administrador – afirmou Tarso no discurso.
A coalizão de apoio à candidatura de Germano Rigotto (PMDB) foi classificada pelo candidato petista como “santa aliança”. Tarso atribuiu à experiência administrativa do PT no Estado um “caráter irradiador de mudança” que inspira a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência:
– A santa aliança se formou contra nós porque somos o Estado mais avançado do país. Ela é a síntese do antipetismo rebaixado de quem não tem propostas.
A palavra “virada” foi usada em dois momentos. No primeiro, o candidato utilizou-a para garantir aos presentes que as grandes mudanças de tendência do eleitorado costumam ocorrer dois dias antes das eleições, animando os militantes a crer na possibilidade de vitória. Depois, para anunciar o “comício da virada”, com a presença de Lula, na sexta-feira.
Ibope aponta preferência maior por Lula no Estado
Petista tem 49% das intenções de voto entre eleitores gaúchos, com uma vantagem de sete pontos sobre José Serra (PSDB)
Uma vantagem de sete pontos percentuais separa o candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, do adversário, José Serra (PSDB), na primeira pesquisa feita pelo Ibope entre eleitores gaúchos sobre intenção de voto no segundo turno.
Lula tem 49%, e Serra, 42%, segundo o instituto. Votos brancos e nulos somam 3%, e indecisos, 7%.
Na pesquisa espontânea, na qual não é mostrado ao entrevistado um cartão com os nomes dos candidatos, a vantagem de Lula sobe para nove pontos percentuais. Ele tem 46% contra 37% do tucano.
Os cruzamentos entre intenções de voto para governador e presidente e voto declarado no primeiro turno também são favoráveis a Lula. Do total de entrevistados que pretendem votar em Germano Rigotto (PMDB), aliado de Serra, no segundo turno da eleição para governador, 29% declaram preferência pelo candidato presidencial do PT. Já entre os eleitores que declaram votar em Tarso, do mesmo partido de Lula, 10% optam por Serra na eleição para presidente.
Entre os entrevistados, Serra obtém a maior parte dos votos dados aos dois principais candidatos de oposição a governador derrotados no primeiro turno. Ele atinge 68% das preferências entre os que declararam ter votado em Antônio Britto (PPS), e 61% entre os que disseram ter preferido Celso Bernardi (PPB).
A pesquisa foi realizada entre os dias 8 e 10. Foram entrevistados 2 mil eleitores em cem municípios gaúchos. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais.
Datafolha e Vox dão vantagem ao candidato do PT
Com 58%, o candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), é o primeiro colocado em pesquisa Datafolha divulgada no sábado. José Serra (PSDB) tem 32%. O instituto ouviu 3.979 eleitores em 241 municípios no dia 11. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos. Lula lidera também a pesquisa Vox Populi divulgada ontem pelo jornal Correio Braziliense, com 60%. Serra tem 30%. Foram ouvidos 2.502 eleitores em 155 municípios nos dias 10 e 11. A margem de erro é de dois pontos para mais ou para menos.
Lula e Serra retomam embate no horário eleitoral
Programa do PT terá depoimentos de personalidades, e tucanos pretendem questionar propostas do adversário
Começa hoje a propaganda eleitoral gratuita no rádio e na TV dos candidatos à Presidência que disputam o segundo turno.
Até o próximo dia 25 de outubro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e José Serra (PSDB) terão 20 minutos diários no rádio e outros 20 minutos na TV, inclusive aos domingos, para apresentar suas propostas.
De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o candidato petista irá abrir a programação devido ao maior número de votos obtidos no primeiro turno. Os 10 minutos restantes ficarão para o candidato tucano. A Lei Eleitoral determina que os candidatos se alternem diariamente na abertura da propaganda para que nenhum seja favorecido.
Lula e Serra terão ainda o direito de veicular diariamente, por até 7 minutos e 30 segundos, inserções de até um minuto durante a programação normal das emissoras de rádio e TV. A propaganda eleitoral foi liberada para os dois candidatos desde quinta-feira, mas graças a acordo firmado entre os advogados dos dois partidos, o início da corrida presidencial do segundo turno na mídia ficou previsto para hoje.
Lula e Serra passaram o domingo na capital paulista, gravando o s programas do horário eleitoral gratuito.
Uma das idéias do marqueteiro do PT, Duda Mendonça, é exibir o crescimento do partido, que conta com uma bancada de 14 senadores (a terceira do Senado) e 91 deputados federais (a primeira da Câmara). Serão mostrados também depoimentos de todos aqueles que estão apoiando o petista no segundo turno, como Ciro Gomes, que disputou a Presidência da República no primeiro turno pela Frente Trabalhista, e a senadora eleita pelo Maranhão Roseana Sarney (PFL), que gravou sua aparição no hospital onde estava internada.
O comando de campanha do tucano aposta que o segundo turno é uma outra eleição. Por isso, os programas de TV também irão refletir esse clima e terão estilo diferente dos exibidos no primeiro turno. O marqueteiro Nelson Biondi já anunciou que os programas terão trilha sonora, cenário, formato e apresentadores diferentes dos realizados no primeiro turno.
Apesar do clima de suspense em torno da estratégia que será adotada, o marqueteiro Nizan Guanaes já deu uma pequena pista:
– Vamos cobrar posições claras do PT, principalmente com relação às propostas econômicas – afirmou.
PT promove encontro com aliados
Intenção do partido foi mostrar que candidato formou base capaz de garantir governabilidade
De olho no reinício do horário eleitoral no rádio e na TV, programado para hoje, o comando da campanha petista reuniu no sábado no Hotel Gran Meliá, em São Paulo, os principais líderes dos partidos que decidiram apoiar a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva na segunda fase da disputa – PL, PDT, PPS, PMN e PC do B.
Sob o comando do marqueteiro Duda Mendonça, foram gravadas para o horário eleitoral gratuito imagens reunindo candidatos, parlamentares e líderes de partidos. A intenção é mostrar que o candidato do PT formou uma base capaz de garantir a governabilidade caso seja eleito. De acordo com o presidente do partido, deputado José Dirceu (SP), Lula tem o apoio da maioria dos governadores do país, e não é verdade que o PMDB apóia o tucano José Serra.
– A maior parte da base do PMDB apóia Lula, e há setores do PSDB que estão neutros – afirmou Dirceu.
O deputado citou como exemplos do apoio peemedebista os Estados de Goiás, Minas, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Paraíba, Tocantins, Pará e grande parte do partido no Ceará e Rio Grande do Norte. De acordo com Dirceu, se o PT vencer terá condições de formar uma ampla base de sustentação parlamentar.
Do PPS, além do candidato derrotado à Presidência, Ciro Gomes, participaram do encontro os governadores eleitos de Mato Grosso e do Amazonas, respectivamente Blairo Maggi e Eduardo Braga – que pediram uma reunião com Lula para decidir se o apoiarão ou não – e o líder do partido na Câmara, João Herrmann (SP).
Engajado desde a semana passada na campanha de Lula, Ciro não descartou a possibilidade de integrar o futuro ministério petista caso Lula vença a eleição. Perguntado sobre o assunto, respondeu:
– Primeiro é preciso que o Lula seja eleito.
Os caciques petistas já afirmaram que oferecerão cargos caso Lula vença, mas ainda escondem os nomes.
O deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), a deputada Luiza Erundina (PSB-SP) e o senador Saturnino Braga (PSB-RJ) também estiveram no encontro, em São Paulo.
Tucano busca votos entre religiosos
Em busca dos votos que no primeiro turno foram para Anthony Garotinho (PSB), o candidato tucano José Serra viveu um dia de fé no sábado.
Pela manhã, ele celebrou o dia da Padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida, ao participar de uma missa na Basílica de Aparecida, no interior de São Paulo. À noite, foi ao templo da Assembléia de Deus, em Belém, bairro na capital paulista, onde discursou para cerca de mil pessoas durante culto evangélico em comemoração do aniversário de 68 anos do pastor José Wellington Bezerra da Costa.
Serra e o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, disputam o apoio da Assembléia de Deus. Isso porque, na terça-feira, o conselho político da igreja irá se reunir para definir em quem apoiar nesta eleição. As negociações são intensas: Serra se reuniu com o pastor José Wellington na terça-feira, enquanto o deputado federal Walter Pinheiro (PT-BA) encontrou-se com o filho do pastor na quinta-feira.
Pela manhã, ao lado do governador de São Paulo e candidato à reeleição Geraldo Alckmin (PSDB), Serra orou e comungou durante missa celebrada pelo arcebispo de Aparecida, cardeal Aloisio Lorscheider. Fora da basílica, Serra foi cercado por eleitores que desejavam cumprimentá-lo. Ao mesmo tempo, um grupo de simpatizantes de Lula gritava o nome do candidato petista. Chegou até a ocorrer uma pequena disputa entre os dois grupos, cada um tentando gritar mais alto que o outro o nome de seu escolhido.
Hoje, na Churrascaria Ponteio, em São Paulo, Serra receberá o apoio de cem prefeitos de todo os Estados.Dentro da estratégia de buscar apoio das bases, a campanha tucana está organizando atos com prefeitos em diferentes Estados. Em Alagoas, dezenas de prefeitos estarão reunidos para discutir a estratégia de mobilização, mas sem a presença de Serra. Amanhã, a reunião com prefeitos será em Fortaleza (CE).
Sucessor de FH terá R$ 83 bi em caixa
Mesmo com a permanência da crise financeira e de um quadro econômico igual ao das últimas cinco semanas, o sucessor do presidente Fernando Henrique Cardoso receberá um caixa com pelo menos R$ 83 bilhões. A afirmação foi feita ontem pelo secretário do Tesouro Nacional, Eduardo Guardia, que avaliou como sendo uma ótima situação.
Segundo ele, haverá dinheiro suficiente para pagar a folha, próxima de R$ 6 bilhões, a conta mensal da Previdência, de R$ 7 bilhões, e os R$ 4 bilhões de custeio da máquina.
Mais importante do que isso, disse, o caixa estará forte o suficiente para afastar, pelo menos no primeiro trimestre de 2003, o risco de um calote da dívida pública. Dos R$ 83 bilhões, R$ 26 bilhões são o “colchão de liquidez” montado pelo governo para honrar os títulos da dívida pública que vencem no primeiro trimestre:
– Os R$ 83 bilhões são o que conseguiremos fazer se forem mantidas, até o final do ano, as mesmas condições de mercado nas últimas cinco semanas.
Guardia explicou que o Tesouro procurará, nas próximas semanas, captar o maior volume possível de recursos com a emissão de títulos da dívida pública. A captação tem sido, em média, de R$ 2,1 bilhões nas últimas cinco semanas. Se for mantido esse ritmo nas 13 semanas que faltam para encerrar o ano, será a conta certa para deixar em caixa o valor para pagar a dívida do início de 2003.
A aceitação dos papéis pelo mercado, porém, depende das expectativas dos analistas sobre o que acontecerá na economia brasileira a partir de janeiro. Ele lembrou que a turbulência no mercado é, em boa parte, motivada pelo quadro internacional adverso, em que as perspectivas de baixo crescimento na economia são agravadas com o risco de um conflito no Oriente Médio.
O sucessor de FH herdará ainda contratos de refinanciamento da dívida de 24 Estados e mais de 180 municípios que hoje somam um crédito de R$ 224 bilhões que a União tem a receber.
– Não faltarão pressões para abrandar as regras desses contratos, que consomem até 13% das receitas líquidas de governadores e prefeitos – disse.
Um homem por trás da carranca
Segundo mais votado para a Assembléia, Raul Pont considera PT vitorioso independentemente da possível eleição de Lula
Grande aposta do PT para puxar votos para a legenda e abrir mais trincheiras para o partido na Assembléia Legislativa, o ex-prefeito Raul Pont comemora a preferência de 69.453 eleitores como se fossem os 410 mil que o levaram à prefeitura da Capital, em 1 996, no primeiro turno.
– Minha meta era me eleger. Não me sentia obrigado a fazer votação maior em razão de desempenhos anteriores. São processos eleitorais diferentes – diz.
Mas Pont reconhece que a concorrência interna – só da sua corrente, a Democracia Socialista, e de grupos próximos foram 10 candidatos ao Legislativo – e a crença dos militantes de que sua experiência política já lhe havia garantido uma vaga na Assembléia impediram resultado superior. Eleitores fiéis acabaram lhe confessando terem dado chance a outros nomes do PT, acreditando que o ex-prefeito estava naturalmente eleito.
– E eu acho muito duro pedir voto para a gente mesmo. Sou contra o voto nominal. Tanto é que os meus panfletos traziam um balanço do governo estadual. Eu dizia às pessoas que votassem no Lula (Luiz Inácio Lula da Silva) e no Tarso (Genro). Para raríssimos, eu pedi que votassem em mim – confessa.
Sentado ao lado do gato da família, o preguiçoso Oto, que, sem qualquer pudor, tomou o lugar predileto de Pont no sofá da sala, o ex-prefeito adianta que seu segundo mandato no parlamento gaúcho será pelo fortalecimento da democracia participativa no Estado, seja quem for o eleito para o Palácio Piratini.
Mas entre as lutas no Legislativo e o ritmo desconcertante do Executivo, que experimentou como vice-prefeito de Tarso, de 1993 a 1996, e como prefeito, de 1997 a 2000, Pont confessa que a predileção é por governar. Com uma possível vitória nacional e um segundo mandato local do PT, a trajetória de Pont o credencia para um posto administrativo em algum dos governos petistas.
Torturado nas salas secretas da Operação Bandeirantes e preso político por um ano e meio, entre 1971 e 1972, na Ilha do Presídio, em Porto Alegre, um dos fundadores do PT assiste entre ansioso e realizado à possibilidade de o partido chegar ao Palácio do Planalto.
– Fui protagonista de todas essas transformações que o Brasil vem sofrendo e que agora nos permitem realizar esse sonho. Acho que já conseguimos muito. Com ou sem vitória no Estado e no país, eu me sinto, e acho que todo partido deveria se sentir, um vencedor – pondera Pont, recordando que, há 30 anos, ele ainda era um entre as centenas de jovens presos simplesmente por militar pelos ideais do Partido Operário Comunista (POC).
Mas não são as memórias do cárcere que abalam o semblante supostamente sisudo. A imagem de homem carrancudo desmorona quando recorda alguns momentos à frente da prefeitura, como o episódio em que se desmanchou em prantos na visita à casa de uma moradora no loteamento Monte Cristo, em 1999. Quando as palavras faltam, os olhos do ex-prefeito brilham, recheados de lágrimas:
– Não sou antipático. Só não tenho esse perfil de chegar abraçando e beijando todo mundo. Mas sou muito emotivo. Essas pequenas grandes conquistas das pessoas mais humildes mexem comigo.
Artigos
Depois da eleição, antes da eleição
Paulo Brossard
Os resultados da eleição de 6 de outubro trouxeram à luz alguns dados particularmente interessantes. A renovação na Câmara, por exemplo, foi maior do que a normal; tradicionalmente, ela envolve um terço da Casa; foi de quase metade; observe-se, de passagem, que o Congresso deu ao chefe do governo tudo o que ele quis, tudo; lembrou os tempos da Arena; não sei se só esse fato terá motivado a acentuada renovação, mas embora não se possa penetrar no íntimo dos votantes, é de supor-se que o fato tenha sua participação nesse resultado. Outro dado ilustrativo do real mecanismo do sistema está na diferença de votos entre candidato à Presidência, mais de 40%, enquanto os deputados eleitos pelo mesmo partido foram 91 em 513; essa discrepância é tanto mais expressiva quando a eleição se realizou no mesmo dia. As linhas não combinam, e os poderes políticos podem tomar caminhos diferentes e até antagônicos, quando o bom andamento do sistema estaria em que ambos os poderes saídos das urnas fossem reciprocamente e funcionalmente harmônicos.
Outro dado está na comparação entre a votação do candidato à Presidência e o candidato a governador pelo mesmo partido. Uma diferença de 10 pontos entre o candidato do PT ao governo da República e o candidato do mesmo partido ao governo do Estado do Rio Grande do Sul. Também aqui as explicações serão várias. O candidato à Presidência concorre pela quarta vez, com clara disponibilidade de tempo e sem os encargos de governo, sempre onerosos, enquanto aqui no Rio Grande do Sul a diferença desfavorável ao candidato ao governo é expressiva. Este é um dado que se não pode desprezar.
Pode ser que me engane, mas, a meu juízo, o candidato do situacionismo gaúcho, como o partido, o partido como o candidato, estão pagando o tributo de um governo questionável sob muitos aspectos e que abusou em insistir em pontos que a sociedade não aceitava.
Tudo isso mostra que a atividade política, inspirada na truculência, cede lugar ao convívio civilizado
Longe de pretender inventariar por inteiro os erros e abusos registrados, parece-me que, em primeiro lugar, pela magnitude e visibilidade de seus resultados, se impõe mencionar o descalabro na segurança pública; foi demais; a insegurança tomou conta do Estado; nas cidades e nos campos; e os serviços próprios simplesmente não são vistos; parece que entraram em férias coletivas; solicitados, um diz que não dispõe de condução, outro que não tem combustíveis, um terceiro diz que não tem ordem de agir, ou melhor, que tem ordem de não agir; o certo é o serviço deixar de existir; de outro lado, as invasões de domicílios urbanos e rurais, especialmente rurais, são programadas e anunciadas pela imprensa e nada, absolutamente nada, é feito no sentido de proteger o cidadão que trabalha, produz e paga impostos no torrão por ele adquirido e trabalhado; o cidadão que produz e paga tributos para não ter a contrapartida dos mais indispensáveis serviços, como o da segurança; como se fosse regular, o mais ostensivo e agressivo ataque ao direito das pessoas em suas próprias casas, passou a ser habitual sob as vistas complacentes e coniventes da administração. Ainda mais. A suspensão das invasões no campo, durante o período eleitoral, foi publicamente anunciada e observada. Para não prejudicar a eleição, o braço armado do partido oficial recolheu-se à sombra, anunciando, porém, que retornaria à prática do ilícito passadas as eleições. Era natural que a sociedade tomasse em conta esse procedimento. Engana-se quem imagina que o eleitorado seja tolo.
O caso do Clube da Cidadania também abriu um flanco na administração estadual, envolvendo aspectos de várias naturezas; o governador do Estado teve a má idéia de pretender encerrar o caso aludindo “às instâncias partidárias”; no entanto, estas foram às urtigas com o desligamento partidário do cavalheiro que capitaneava a esdrúxula entidade, que em verdade, veio a saber-se, não houve desligamento, mas licença... São coisas que não podiam repercutir bem, mesmo havendo acentuado grau de fanatismo partidário. O resultado está aí.
Um permanente e estéril azedume no convívio com entidades significativas na economia do Rio Grande do Sul, como a da agricultura, serviu apenas para quebrar a linha histórica de todas as administrações, dado o relevo da agricultura na vida do Rio Grande.
Já as finanças públicas foram duramente maltratadas. Já não falo nas quatro tentativas de elevar o ICMS, a despeito da solene e pública promessa de que não o faria em seu governo, mas na gestão fazendária.
O sectarismo introduzido na administração envolvendo a Brigada Militar, por exemplo, que levou o Estado a recolher sucessivas derrotas na Justiça, e a recalcitrância do governo em render-se às decisões judiciais, como vem ocorrendo, não podem deixar de causar mal-estar na sociedade. Seria de ima ginar que esse fenômeno tivesse deixado de existir depois dos horrores que ele gerou no mundo comunista, nazista e fascista na centúria passada. Pois o sectarismo aqui vicejante lembra os tempos em que o stalinismo tiranizava o Leste Europeu, reduzindo nações a sujeição miserável e cruel. Então, como agora, o famoso ditador era chamado de “guia genial dos povos” e como tal endeusado.
Na minha apreciação, esta é uma das causas que explica o fenômeno no tocante a dois candidatos da mesma origem partidária, na mesma comarca eleitoral, um disputando o governo da nação, o outro o governo do Estado, enquanto um alcançou 45% do eleitorado do Rio Grande na eleição de 6 de outubro, outro estacionou nos 34%.
É preciso não esquecer ainda a agressividade ignara do candidato do oficialismo gaúcho ao apodar de “mentiroso e covarde” seu contendor no pleito, tendo agora de vê-lo ascender à maioria absoluta das preferências do eleitorado.
Tudo isto mostra que a atividade política, inspirada na truculência, cede lugar ao convívio civilizado entre pessoas diferentes, mas respeitáveis.
Colunistas
ANA AMÉLIA LEMOS
Caixas vazios
Os candidatos a governador que venceram as eleições no primeiro turno já estão examinando as contas dos antecessores, que, em janeiro, deixam os postos. No caso dos que foram reeleitos, a situação é menos traumática, mas não chega a ser um mar de rosas o que aguardam no segundo mandato. Em Mato Grosso, onde o empresário Blairo Maggi (PPS) protagonizou a façanha de chegar ao governo no primeiro turno, numa campanha de apenas 90 dias, as contas começaram a ser examinadas na semana passada. Um dos fenômenos desta eleição, o novo governador derrotou o candidato de Dante de Oliveira (PSDB), que não conseguiu se eleger senador, e agora se espanta com as finanças que herdará.
Líder de um grupo empresarial que planta na região 105 mil hectares de soja, o governador eleito de Mato Grosso sabe muito bem fazer contas e ficou escandalizado quando examinou a situação do caixa do seu Estado. Na entrevista que concedeu à Rádio Gaúcha, na sexta-feira, Blairo Maggi disse que a receita é comprometida com uma robusta folha de pagamento e o volume de precatórios a pagar é tão grande que será preciso fazer uma enorme ginástica contábil para honrar todos esses compromissos. Há, também, a limitação imposta pela Lei de Responsabilidade Fiscal, que enquadra os administradores públicos nos três níveis.
Como o eleitor votou em favor das mudanças, serão muito grandes as expectativas em relação aos novos governadores e, especialmente, ao presidente da República. A responsabilidade de todos é enorme para não frustrar esperanças não só com referência ao comportamento ético dos que chegam, mas sobretudo com reformas que, a maioria acredita, irão melhorar a situação atual. É um exercício de quem imagina que os governantes não tenham limitações para atender todas as demandas represadas em vários setores. Funcionários públicos que esperam aumento, trabalhadores que sonham com um mínimo maior, empresários que querem juros e carga tributária menor. As aspirações são gigantescas e a capacidade do caixa é nenhuma.
JOSÉ BARRIONUEVO
Campanha curta no segundo turno
Com apenas mais 11 programas pela frente, as propagandas no rádio e na TV são fundamentais no curto confronto do segundo turno. Mais importantes somente os debates jornalísticos, que não passam de dois ou três. Com larga vantagem sobre Tarso Genro, Germano Rigotto vem sendo criticado pelos analistas por ser exageradamente light, perfeito para um primeiro turno em que se beneficiou do desgaste de Antônio Britto, mas deixando a desejar num segundo turno em que se busca alguém em condições de comandar um Estado em crise. O índice obtido pelo candidato do PMDB deve-se mais à rejeição ao PT do que à opção efetiva por uma nova alternativa de poder.
Água benta, paz e amor
A campanha do segundo turno no RS foge a todos os paradigmas. Rigotto exagera no apelo à emoção que teve sucesso no primeiro turno, como terceira via. Evita o confronto direto, a exemplo do que ocorre com Lula. Tarso representa na TV papel estranho a sua história política. Agnóstico, aparece fazendo rezas, beatificado. Revela-se pai carinhoso que é dado a fazer churrasco no fim de semana.
Maioria da ala radical é do RS
Um levantamento feito entre os 91 deputados do PT eleitos para a futura Câmara mostra que o Rio Grande do Sul é o principal berçário da ala radical do PT. Na bancada gaúcha de oito deputados, a maioria representa setores mais à esquerda do partido, tendo à frente Luciana Genro, do Movimento Esquerda Socialista, filha do ex-prefeito Tarso Genro.
Luciana é destaque na imprensa nacional quando parte para o terceiro mandato. Segunda colocada no PT, só perde para outra mulher na bancada, Maria do Rosário. Fez 99 mil votos.
Luciana pretende acompanhar de perto a postura de Lula, se eleito presidente da República, para que “não se submeta aos acordos com o FMI e aumente o salário mínimo”.
Deve cair a diferença
As próximas pesquisas vão mostrar uma queda natural de Rigotto, que apareceu com índices inflados nas primeiras avaliações pela performance no primeiro turno. Na última pesquisa do Ibope, está com 22 pontos de vantagem sobre Tarso. Apenas repete o que aconteceu com o petista logo após a vitória na prévia, quando aparecia em condições de vencer a eleição no primeiro turno.
A exemplo dos confrontos anteriores, esta é mais uma eleição que será disputada até o último voto, como é tradição no Estado.
Overbooking eleitoral
Com a presença do senador José Fogaça (PPS), do candidato a governador Tarso Genro (PT) e do deputado Pompeo de Mattos (PDT), o vôo 2309 da Varig, São Paulo-Porto Alegre, sábado à tarde, respirava política. Devido ao cancelamento do vôo anterior, o avião estava lotado e houve problemas de overbooking (mais passageiros do que lugares disponíveis). Um dos atingidos foi o candidato petista: junto com o assessor de imprensa, João Ferrer, Tarso teve de esperar cerca de 10 minutos por um lugar. Regressando de uma reunião do PT nacional, aproveitou o transtorno para fazer campanha. Conversou com comissárias e, ao ouvir reclamações sobre a crise na aviação, disse a uma delas:
– Com o Lula presidente, a situação desse setor vai melhorar.
Já o senador José Fogaça foi efusivamente cumprimentado pelos passageiros dos assentos próximos. Tranqüilo, confortou um jovem que declarava tê-lo apoiado na eleição de 6 de outubro e lamentava a derrota. Revelou bom humor:
– A culpa não foi tua, é do candidato mesmo.
Neutralidade crítica
Contrariando as previsões que apontavam para um acoplamento ao PT de Tarso, o Partido Verde adotou uma posição de “neutralidade crítica”, segundo nota distribuída à imprensa.
Mistura das águas
Com a presença do governador Olívio Dutra, a Romaria das Águas 2002 se encerrou sábado, em Porto Alegre, na prainha do Gasômetro. A Procissão Fluvial de Nossa Senhora Aparecida, um ato ecumênico, e o ritual de mistura de águas coletadas nas nascentes dos rios que formam o estuário do Guaíba, marcaram o evento.
Confronto entre Olívio e Tarso
Em suas aparições públicas, Olívio Dutra mostra que está em plena forma, aliviado por não ser candidato. Se Tarso fracassar, será ministro. Se Tarso se eleger, será ministro.
Se Tarso não conseguir emplacar um segundo governo do PT, Olívio Dutra afirma-se como principal líder do PT no Estado. É fundador do partido, primeiro deputado, primeiro prefeito, primeiro governador e será o primeiro ministro.
Fritura – Se for derrotado por Rigotto, Tarso será fritado em fogo brando no PT. Afinal, o candidato natural era Olívio, detentor do cargo. Sua escol ha representou uma desaprovação à atual administração. Mas se Tarso ganhar o governo, consagra o PT e afirma-se como o grande vitorioso do partido depois de Lula. Além de consolidar o Rio Grande do Sul como um pólo mundial da esquerda. Com 55 anos, credencia-se para a Presidência da República em 2006.
Endiabrado – Integrado ao espírito de uma campanha com muita água benta e pouco desaforo, o vereador Antônio Hohlfeldt (PSDB), candidato a vice de Rigotto, pegou uma carona na procissão dos motoqueiros no dia de Nossa Senhora Aparecida. Egresso do PT, Hohlfeldt tem uma motivação especial no confronto com Tarso.
Duda Mendonça e seus exageros
O vinho Romanée-Conti, safra 1997, ofertado a Lula, não foi o primeiro excesso cometido pelo publicitário Duda Mendonça, que tem acumulado fortuna em cima de campanhas eleitorais. Semelhante extravagância o publicitário cometeu ao apresentar a campanha do primeiro turno, quando abocanhou a conta do PT: brindou Lula e seu staff com várias garrafas de champanha Cristal (R$ 700, cada).
Um Romanée-Conti custa na importadora US$ 2,5 mil, sendo parte do sonho de consumo de qualquer enófilo. Poucos tiveram o privilégio de provar. Em nenhum restaurante de Porto Alegre pode ser encontrado, por ser um top de linha, supra-sumo da Borgonha, onde se produz uma das garrafas mais espetaculares do mundo.
Beber um Romanée-Conti safra 1997 seria quase pedofilia, por ser muito novo, longe de seu potencial, segundo um sommelier.
Duda se acostumou a cometer excessos com Paulo Maluf, que guarda uma das adegas mais sofisticadas do Brasil, segundo um ex-deputado do PPB gaúcho (hoje do PTB), que freqüentava a casa do ex-governador de SP.
Mirante
• O deputado Kalil Sehbe (PDT) se rebela e não aceita apoiar o PT nem mesmo em nível nacional. Anunciou ontem que vai de Serra para presidente.
• Se aceitar todos os debates, Rigotto faz o jogo de Tarso. A virtude está no meio. Aí entra uma questão estratégica. De Lula, querendo apenas um, de Tarso, propondo sete, e de Rigotto, aceitando três.
• Lula vem ao Estado dia 18, sexta-feira, cumprindo um roteiro que passa por Caxias do Sul, Santa Maria e Porto Alegre. Retorna na semana seguinte, para o comício de encerramento. Dará atenção especial ao Estado pela importância da disputa que coloca à prova o governo petista.
• Diretório do PTB oficializa hoje apoio a Rigotto, posição já antecipada pela bancada.
ROSANE DE OLIVEIRA
Algo em comum
São incríveis as semelhanças entre a situação de Germano Rigotto e a de Luiz Inácio Lula da Silva: os dois foram poupados no primeiro turno, enquanto os adversários se digladiavam, e chegaram fortalecidos ao segundo turno. Nesta primeira semana também não sofreram desgaste, exceto por terem deixado a impressão de que fogem dos debates.
As primeiras pesquisas do Ibope e do Cepa-UFRGS sugerem que as dificuldades do ex-prefeito Tarso Genro não são menores do que as do senador José Serra, adversário de Lula. No levantamento do Ibope, Tarso está 22 pontos percentuais atrás de Rigotto. E a eleição será daqui a 15 dias.
Para piorar a situação de Tarso, o índice de votos cristalizados em Rigotto – aqueles que com certeza votariam nele – chega a 45%, contra 29%. Os que não votariam no candidato do PT de jeito nenhum somam 32%, enquanto a rejeição de Rigotto é de 13%. Mais um dado para assustar – ou estimular – os militantes petistas: a maioria absoluta dos eleitores está convencida de que Rigotto será o vencedor. É mais ou menos o que acontece com Lula: mesmo quem não vota nele, acha que ganhará a eleição.
Na semana em que Lula contabilizou adesões em setores tradicionalmente avessos ao PT, Tarso conseguiu somente os apoios previsíveis, como o do PSB, um velho parceiro da Frente Popular. Como também era previsível, os adversários de Tarso no primeiro turno se uniram todos em torno de Rigotto. Além disso, a campanha sofreu um abalo com a morte do seu coordenador, José Eduardo Utzig, fulminado por um enfarte no dia em que o partido se reuniu para avaliar os erros do primeiro turno.
A estratégia de colar em Rigotto a imagem de político ligado aos governos de Antônio Britto e do presidente Fernando Henrique Cardoso deverá ser posta em prática a partir desta segunda-feira, mas seus resultados são incertos. Primeiro, porque os índices de Serra no Estado indicam que FH não é tão impopular quanto o PT imaginava. Segundo, porque embora fosse do mesmo partido de Britto à época, Rigotto estava em Brasília, como deputado federal, e não participou do seu governo.
A “comparação de projetos”, que Tarso pretende fazer, é uma abstração para a maioria dos eleitores. Sua última esperança é a mudança no estilo da propaganda e a entrada, na campanha, dos que se omitiram no primeiro turno.
Editorial
UMA NOVA POLÍTICA INDUSTRIAL
A julgar-se pelos programas de ambos os candidatos à Presidência, duas velhas conhecidas dos brasileiros tornarão a freqüentar o primeiro plano das cogitações governamentais. Trata-se do restabelecimento de uma política industrial e sua natural decorrência, a reentronização da doutrina da substituição das importações. Voltarão contudo com roupagem mais adequada a estes tempos de globalização, talvez pelo singelo motivo de que não foram precisamente êxitos absolutos à época em que implantadas.
As diretrizes adotadas da década de 60 à de 80, período em que vigoraram planos nacionais de desenvolvimento e a busca de fabricar aqui mesmo o que antes adquiríamos lá fora, resultou, em alguns casos, na sagração de reservas de mercado que produziam bens menos avançados e mais caros do que poderíamos adquirir do Exterior. Os exemplos clássicos são os automóveis e os computadores.
A alta tecnologia é hoje a jóia da coroa do comércio global,
por seu potencial de crescimento
Não há basicamente, contudo, nada de errado no fato de uma nação pensar a longo prazo sua trajetória. Os estágios de maior expansão da atividade econômica no Brasil foram marcados por rígido planejamento, receita que entrou em quase inteiro desuso a partir dos anos 90. A contar de então passamos a reagir aos fatos, fossem eventuais espasmos de incremento do produto, fossem crises estruturais que cada vez com maior freqüência nos escolheram como alvo principal. O poder público federal abdicou da faculdade de projetar os rumos do país além de dois ou três exercícios fiscais, talvez porque olhar para mais longe estivesse fora dos figurinos dos organismos internacionais de fomento.
Há agora no entanto fortes possibilidades de que o futuro ocupante do Planalto retome uma política industrial já não alicerçada nos subsídios ou no protecionismo, mas na ênfase às exportações, à substituição competitiva de importações e à alta tecnologia. Este último segmento, que pouco disputamos na arena mundial, diversamente do que fizeram a Irlanda, os Tigres da Ásia e a China, é presentemente a jóia da coroa do comércio global, pois embute uma perspectiva de crescimento muito superior à da indústria tradicional. Seu valor agregado já assegura, somente na área de softwares, receitas cambiais de US$ 10 bilhões à Índia e a meta é alcançar US$ 25 bilhões até 2007.
Como o Brasil está chegando com atraso à guerra fiscal pela atração de investimentos de empresas transnacionais nesse campo promissor, provavelmente terá de empregar todo o empenho de sua equipe econômica e diplomática e conceder vantagens compatíveis aos empreendedores. Eis aí um passo que custará alto preço à nação, mas estará justificado se redundar efetivamente no reencontro com nossa vocação ao desenvolvimento.
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10/14/2002
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