Celular pemitirá fazer diagnósticos a distância



Novo dispositivo mede níveis de glicose e proteínas pelo aparelho

Realizar exames de análise laboratorial auxiliados por telefones celulares equipados com câmeras fotográficas poderá, em breve, ser realidade. De acordo com o professor Emanuel Carrilho, do Instituto de Química de São Carlos (IQSC) da USP, que integra a equipe que busca essa solução tecnológica, o projeto se insere numa linha de pesquisa do professor George Whitesides, da Universidade Harvard (EUA), chamada Soluções Simples (Simple Solutions). “Nosso trabalho consiste em inovar métodos e processos para permitir que diagnósticos cheguem a lugares mais distantes, onde dificilmente seria possível com técnicas convencionais, normalmente executadas em laboratórios de análises clínicas equipados e por especialistas bem treinados”, explica Carrilho.

Na fase da pesquisa que acaba de ser concluída e publicada no dia 15 de maio, na revista quinzenal da American Chemical Society, a Analytical Chemistry, os cientistas conseguiram medir com precisão níveis de glicose e proteínas, o que numa situação real podem ser usados para diagnosticar doenças renais. “Por razões éticas, todo o trabalho foi desenvolvido com urina artificial, mas qualquer fluído biológico como saliva e lágrima, além de água, alimentos e bebidas podem ser analisados pelo novo dispositivo”, explica.

Químico analítico de formação, Carrilho ressalta que, entre as contribuições inovadoras do trabalho, destaca-se a incorporação do conceito de telemedicina com celulares para diagnósticos e análises clínicas. “Por mais complicado que possa parecer, a idéia é exatamente a de que todo o protocolo deverá ser implementado com um mínimo de treinamento envolvido pelo pessoal de campo”, enfatiza.

Plataforma analítica - Dentro da linha de Simple Solutions, o grupo de Harvard inova ao lançar um novo conceito de plataforma analítica, baseada em substratos de papel, explorando suas características de baixo custo, baixo peso (alta portabilidade), grande flexibilidade, versatilidade química, os quais foram manipulados por apresentar regiões hidrofóbicas (que repelem água) e hidrofílicas (que são molhadas com facilidade). De acordo com o pesquisador, esta nova plataforma analítica está sendo chamada de Dispositivos Microfluídicos em Papel (Paper Microfluidic Devices), inserida no contexto dos novos microchips analíticos, uma das tendências modernas em química analítica.

Na prática, como a escolha do aparelho celular é bastante flexível, hoje em dia, com a tecnologia disponível, a maioria deles funcionará sem maiores problemas. “Um requisito básico fundamental é que a câmera seja capaz de focalizar a imagem a curta distância”, afirma. “Como os resultados dependem da revelação de cor, é importante apenas que o papel destinado para a coleta do fluido a ser analisado seja branco e homogêneo”.

Na escala de laboratório, o sistema é todo artesanal. Mas, recentemente, uma equipe de estudantes, intitulada Diagnostics-For-All (DFA), vencedora de duas competições de planos de negócios em Boston, sendo uma da Harvard Business School e outra do Massachusetts Institute of Technology (MIT), mostrou-se interessada em viabilizar a produção do dispositivo em larga escala.

Segundo o pesquisador, a descoberta é muito útil em países como o Brasil, sobretudo em áreas mais distantes e carentes. “Sua aplicabilidade é tão grande que já temos projetos em andamento no País. Um deles, batizado The Human Project (THP), vem sendo liderado pelo Instituto de Pesquisas em Tecnologia de Informação”, conta. “O trabalho desenvolvido com os microdispositivos contribuirão para gerar, no domicílio, análises clínicas cujos resultados alimentarão uma base de dados eletrônica e portátil que, com o acompanhamento de um software inteligente para a interpretação e correlação desses dados, poderia levar a uma gestão de saúde pública mais eficiente. O THP vai ser iniciado ainda este ano em Sergipe, no município de Santa Luzia do Itanhi, uma das cidades de menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do País.”

O pesquisador explica que a linha de pesquisa em Harvard consiste em desenvolver diagnósticos para doenças críticas e que causam grande sofrimento humano nos países em desenvolvimento. E revela: “Quando voltar para São Carlos, no próximo ano, pretendemos  nos focalizar no desenvolvimento de diagnósticos simples, dessa natureza, voltados para detecção de doenças tropicais negligenciadas e outros exames clínicos que possam melhorar as políticas de saúde pública.”

Da Agência USP

(LM)



06/02/2008


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