Centro de referência da Delegacia da Mulher faz 100 atendimentos em fevereiro
Foi o primeiro mês de funcionamento do serviço que atende vítimas de violência doméstica
“Fiquei oito anos com ele, no começo ele era uma boa pessoa, mas depois de um tempo ele foi ficando muito agressivo, queria que eu fizesse o que mandasse e não interessava a minha opinião como mulher”, afirmou Catarina*, que chegou na 1ª Delegacia de Defesa da Mulher (DDM), na região da Praça da Sé, acompanhada de seu marido, que acabava de agredi-la em uma rua próxima. Ela fez a denúncia de seu companheiro, que foi preso depois. Em seguida Catarina foi encaminhada ao Centro de Referência da Mulher, localizado nos fundos da 1ª DDM, conversou com a psicóloga, e voltou muito mais calma.
Centro de referência
Ela contou que ficou mais tranqüila ao saber que existe um local que dá uma assistência às mulheres que sofrem agressões. “Olha vale muito a pena você vir aqui e conversar com a psicóloga, você chega aqui toda amargurada e, quando sai, sai aliviada”, disse. O Centro de Referência, inaugurado no início de fevereiro na DDM e que conta com 15 profissionais, tem como objetivo oferecer para as vítimas de violência doméstica, atendimento médico, jurídico, psicológico e social, além de cursos para geração de renda.
Segundo Marcela Coimbra, coordenadora pelo projeto “Nós do Centro”, as mulheres são acolhidas, encaminhadas e acompanhadas até o fim do percurso, com o objetivo de que elas possam sair de uma forma estruturada. Em um primeiro momento, as mulheres trabalham em um processo de conhecimento interno, para depois entrarem no empreendedorismo.
“O grande diferencial é que aqui a gente trabalha com o companheiro, com namorado, marido, enfim, com o agressor. A gente faz essa mediação, e a gente pede que elas tragam seus companheiros. A nossa função aqui é de conciliação”, reforçou Marcela. No primeiro mês, cerca de 100 mulheres passaram pelo centro em busca do atendimento psicológico, médico e jurídico.
De acordo com a delegada titular da 1ª DDM, Celi Paulino Carlota, ter um centro que dê apoio às mulheres agredidas é fundamental. “A importância é total, já era o sonho de todas as delegadas daqui de São Paulo, ter um centro de referência junto com a delegacia. Antes a mulher vinha aqui e fazia uma ocorrência, aí a gente encaminhava para um outro centro que fica na Vila Mariana, por exemplo, e ela muitas vezes não ia, não era um serviço integrado”, explicou a delegada.
Para Inês Vachi, coordenadora do Centro de Referência da Mulher, a questão da violência doméstica aparece muito. “Aqui chegam muitas mulheres com filhos, com relações longas e com um histórico difícil de romper”, revelou. Esse é o caso de Francisca*, que foi casada por 12 anos, e a partir do 4º, começou a sofrer agressões. “Ele começou a beber, a me xingar, a me bater, eu chegava do trabalho cansada, pra cuidar das nossas duas filhas e ele já chegava me agredindo... e as crianças vendo tudo isso”, lembrou.
Francisca disse que, muitas vezes, ele a obrigava a sair de casa com as filhas. “Ele me expulsava de casa com as duas meninas a meia noite e eu ficava no meio da rua sem ter pra onde ir, porque minha família é toda do Rio Grande do Norte”. Ela conta que a gota d’água foi quando o marido bateu muito forte e ela caiu da escada.
“Foi aí que eu resolvi denunciá-lo aqui na DDM, e o centro de referência me encaminhou para um abrigo. As minhas filhas foram ficar com os meus pais e só estou esperando que a polícia encontre e prenda ele, pois sei que quando isso acontecer eu terei paz”. Ela ainda explicou que freqüenta o centro e quer voltar a trabalhar. “Aqui é muito bom, o atendimento é ótimo. Agora eu quero arranjar um trabalho, porque até isso eu perdi por causa dele”.
Capacitação profissional
A capacitação profissional das mulheres é uma das prioridades do Centro de Referência da Mulher. Segundo Inês Vachi, o atendimento jurídico e o serviço social fortalecem a mulher dentro de uma possibilidade como cidadã, para que ela não fique dependente de outros auxílios, e somente de seu trabalho. Vachi informou que estão inscritas no curso 200 mulheres.
O curso é realizado duas vezes por semana, com horários disponíveis pela manhã e pela tarde, totalizando 12 horas de curso. As palestras são sobre saúde, auto-estima da mulher, DST (Doenças Sexualmente Transmissíveis), Aids e geração de renda. “A gente faz uma rede, dependendo do potencial dessa mulher, nós encaminhamos para outros cursos profissionalizantes, como de corte e costura e salões de beleza”, afirmou.
“Os cursos fazem a parte de fortalecimento da auto-estima, para que ela tenha mais contanto com ela, com seus potenciais e a partir daí possa identificar possibilidades financeiras de sustentabilidade. Ela tem que olhar pra ela, para buscar seus projetos de vida, que em algum momento ficaram perdidos”, reforçou.
A delegada Celi Paulino Carlota, reforçou a importância do conjunto dessas ações. “Todas elas querem medidas que ajudem para a vida delas. Elas querem ser ouvidas, arranjar um trabalho, ou receber uma orientação de um advogado”.
Projeto Bem- me-quer
Esse projeto, realizado em conjunto com as delegacias e o Hospital Pérola Byngton, é voltado para as mulheres que sofreram abuso sexual. Ao procurarem uma delegacia para realizar o Boletim de Ocorrência, uma viatura descaracterizada as leva para o hospital. Lá, elas recebem um acompanhamento médico, realizam a perícia e recebem, gratuitamente, as medicações contra Aids e Doenças Sexualmente Transmissíveis e pílulas do dia seguinte.
“Uma ambulância vai buscá-la, com uma assistente social dentro do veículo para conversar com a mulher que é levada para o Hospital Pérola Byngton. Lá é feito o exame de corpo de delito, que vai coletar material para possível confronto de DNA, por isso é importante que a vítima não tome banho, para provar que houve abuso, pois normalmente nesses casos não tem testemunha”, explicou a delegada da 1ª DDM.
*Nome fictício
Maria Fernanda Teperdgian
Da Secretaria de Segurança Pública
(I.P.)
03/04/2008
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