Centro do HC-SP orienta sobre casos de intoxicação
Em geral, acidentes acontecem nas residências, envolvendo crianças, ou nos locais de trabalho, mas nem todos são notificados
Armários sem trancas usados para guardar medicamentos, desodorantes e removedores de esmalte. Compartimentos de fácil acesso, embaixo de pias, onde ficam desinfetantes e outros produtos de limpeza. O armazenamento incorreto de produtos químicos nas residências e a falta de cuidado contribuem para que o ambiente doméstico seja responsável por cerca de 90% dos casos de intoxicações de pessoas. O porcentual tem por base relatos de centros internacionais de atendimento toxicológico, informa Anthony Wong, diretor do Centro de Assistência Toxicológica (Ceatox), do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
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As vítimas mais freqüentes são as crianças. Trata-se de intoxicações leves, embora se verifique também ingestão de soda cáustica e produtos mais agressivos. As ocorrências envolvendo adultos estão relacionadas, muitas vezes, ao consumo de medicamentos – normalmente realizado em casa. Uma pessoa, por exemplo, pode tomar até 10 ou mais comprimidos, três a quatro vezes ao dia, para diferentes finalidades. A diversidade pode levar a erros, como na seqüência de ingestão, representando riscos à saúde.
Esse paciente, que já toma vários medicamentos, também pode precisar retornar ao médico, em razão de novos problemas de saúde. Como utiliza muitos medicamentos, é possível que não o informe devidamente sobre o que está tomando. Por outro lado, o médico, às vezes por falta de tempo, não pergunta isso ao doente. Essa negligência pode comprometer o organismo. De acordo com Wong, o médico muitas vezes desconhece a interação de fármacos. “O problema é de formação e informação”, revela.
Recentemente, problemas de interação de medicamentos ocasionaram a morte do ator australiano Heath Ledger, astro do filme Brokeback Mountain. Esse tipo de acidente não requer, necessariamente, a ingestão de grandes quantidades de remédios. O Ceatox, por exemplo, é pioneiro no País no atendimento a pessoas que passam mal com remédios tomados na dose certa, o chamado efeito adverso em medicamentos.
Subnotificação
Dos casos de intoxicação atendidos pelo Ceatox, 60% são provocados por medicamentos, 20% por substâncias químicas utilizadas em casas, 10% por substâncias químicas empregadas na indústria (ocorrências ocupacionais) e 7% por plantas (existentes em residências ou fora delas). Há ainda casos relacionados a animais peçonhentos (cobras, aranhas, escorpiões), mas são encaminhados ao Instituto Butantan. Em centros do interior, representam até 25% dos atendimentos.
Dentre as substâncias utilizadas em casa, a água sanitária é uma das mais freqüentes causas. Com cor similar à água, confunde as crianças. E, por conter alta concentração de soda cáustica, pode ocasionar queimaduras de segundo ou terceiro grau na boca e no esôfago.
Parte das intoxicações é provocada por produtos de limpeza clandestinos, desde alvejantes e removedores até perfumes. Fabricados sem autorização de órgãos competentes e às vezes vendidos de porta em porta, utilizam em sua composição substâncias contaminadas ou não aprovadas.
Mensalmente, o Ceatox atende de 1,8 mil a 2 mil casos, quantidade aquém da real. Centros internacionais indicam que esse número deve corresponder a 2% da população. Numa região como a Grande São Paulo, com aproximadamente 20 milhões de habitantes, o total chegaria a 400 mil pessoas por ano, em torno de 35 mil por mês.
Nos Estados Unidos, por exemplo, a quantidade de atendimentos está mais próxima da real esperada: 5 milhões de casos por ano, para uma população aproximada de 300 milhões de habitantes. A explicação para as ocorrências abaixo de 2% no Brasil, segundo Wong, é que pais – e até mesmo médicos – podem não perceber que alguns casos se enquadram em intoxicações, o que leva a uma subnotificação.
À prova de crianças
Em termos de acidentes com crianças, a prevenção é a principal medida a ser adotada. Países europeus que tornaram obrigatória a utilização de roscas ou embalagens à prova de crianças diminuíram em 90% os casos de intoxicações. Quanto mais perigosa a substância, mais importante é a existência desses dispositivos. Na Europa e nos EUA, a tampa dos desentupidores de pia – à base de soda cáustica – exige duas etapas de abertura. Com isso, a incidência de queimaduras de esôfago e pele por esse produto caiu para um nível insignificante. Outra recomendação é guardar essas substâncias em locais de difícil acesso – armários trancados, numa altura superior a um metro e meio.
Fatores de intoxicação
A toxicologia é normalmente associada à ingestão de vários comprimidos de um remédio, exposição a uma substância química em casa ou no trabalho ou a envenenamento. Mas é mais ampla que isso. Engloba poluição ambiental e interação de medicamentos – entre si (independentemente da quantidade) e com o ambiente de trabalho do usuário.
Paulo Henrique Andrade
Da Agência Imprensa Oficial
(I.P.)
02/26/2008
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