Ceticismo marca PMDB do RS



Ceticismo marca PMDB do RS Futuro do partido é considerado incerto após a escolha do novo comando Neste domingo, quando o PMDB realiza a sua convenção nacional, o ceticismo sobre o futuro do partido toma conta da maioria das lideranças gaúchas. O apoio oficial à candidatura do deputado federal Michel Temer não é o suficiente para fazê-los crer que o PMDB mudará o rumo e alcançará a tão sonhada unidade, perdida em 1985, com a morte de Tancredo Neves. 'Não estou otimista, mas acho que devemos nos manter ativos até esgotarmos todas as possibilidades', sentenciou o deputado estadual Cézar Busatto. O mesmo sentimento é partilhado pelo deputado Berfran Rosado, que teme a hipótese de uma frustração em relação ao novo comando. 'Não sei o que poderá acontecer, embora queiramos acreditar numa expectativa de mudança positiva', disse. O líder da bancada na Assembléia, deputado Paulo Odone, um dos membros da lista que compõe a chapa de Temer, afirmou que se manterá crítico. Declarou que não se calará caso, durante a convenção, o partido não decida sobre a saída do governo federal. 'Nossa condição para manter o apoio será o cumprimento da moção que defende candidatura própria à Presidência da República, realização de prévia e saída da base governista', advertiu. Busatto lamenta que o PMDB não tenha construído uma terceira via entre as correntes existentes. O deputado conta com a manifestação de alguns grupos de apoio ao senador Maguito Vilela, que se dizem simpatizantes à proposta gaúcha: 'Pode ser uma luz no fundo do túnel, diante do impasse histórico'. Para ele, se o partido permanecer dividido, o desastre se consolidará. O não-cumprimento das promessas assumidas por Temer, afirmou Busatto, será considerado como traição e certamente fará com que muitos repensem a vida partidária, não descartando a possibilidade de deserções. Alguns podem sair do partido O deputado estadual Mário Bernd pertence ao grupo do PMDB gaúcho que examina a possibilidade de deixar o partido. 'Meu prazo final é o mesmo do calendário eleitoral, 5 de outubro', disse, ao comentar que nos últimos meses o que mais tem feito é se reunir com apoiadores para analisar o assunto. Com o impasse, Bernd declarou que não pode permanecer num partido que insiste em se manter na base do governo de Fernando Henrique Cardoso, que arrocha salários do funcionalismo e não tem compromissos sociais. 'Sou oposição ao governo de Olívio Dutra que promove o mesmo arrocho aos servidores', comparou. Segundo Bernd, a convenção deste domingo é previsível e, de acordo com ele, lamentavelmente Temer não cumprirá o que vem prometendo. Disse que não pode compactuar com um PMDB que se negou a assinar a CPI da corrupção e não senta com o governo para discutir projetos para o país, mas apenas pede favores. 'Hoje o PMDB tem uma relação de subserviência e cumplicidade escusa e isso não serve a mim nem à base', ponderou. O deputado relembra que o partido teve várias bandeiras vitoriosas que agora estão sendo renegadas pelo comando nacional, que se preocupa apenas em ser governo e em tirar vantagens. Acredita que só a ousadia de começar a perceber o que o povo está querendo fará o PMDB tomar o rumo certo, assumindo a sua condição de grande partido político que contribuiu para a democracia. Divisão se repete na história A divisão interna do PMDB não é recente, mas histórica. A morte de Tancredo Neves, no dia 21 de abril de 1985, impedindo sua posse na Presidência da República, desnorteou o partido, que era símbolo da redemocratização nacional. O governo de José Sarney, então vice-presidente de Tancredo, descaracterizou a luta partidária. Em 1989, o partido sentiu a primeira derrota na eleição presidencial, quando disputou com o então deputado federal Ulysses Guimarães. A vitória foi de Fernando Collor de Mello e de Itamar Franco, ex-peemedebistas que se filiaram ao PRN para disputar aquele pleito. O PMDB sofreu novo choque com a morte de Ulysses, a 12 de outubro de 1992. Dez dias antes, Itamar assumiu a Presidência, em função do afastamento de Collor. Já não estava mais no PRN e posteriormente retornou ao PMDB. Em 1994, agravou-se a crise interna. A candidatura de Orestes Quércia à Presidência não obteve consenso e as lideranças do Rio Grande do Sul, em peso, passaram a apoiar Fernando Henrique Cardoso. A convenção nacional de 1998 foi derradeira para a divisão interna. Enquanto o ex-presidente do PMDB Paes de Andrade defendia prévia para deliberar sobre a candidatura própria, os gaúchos queriam novamente apoiar Fernando Henrique. À época, o secretário-geral do diretório regional, Bona Garcia, declarava que 'o PMDB rejeitava a aventura da candidatura própria, experiência que nos traz amargas lembranças'. Hoje, os gaúchos defendem o lançamento de candidato próprio. Rigotto espera pela reversão do quadro Sem convicção e desmotivado para participar da convenção nacional do PMDB deste domingo, o deputado federal Germano Rigotto afirmou que só lhe resta acreditar que a nova executiva do partido irá promover todas as mudanças necessárias. 'Não posso perder as esperanças de que será possível a reversão do quadro que somente se agravou nos últimos anos', salientou. Para Rigotto, o deputado federal Michel Temer deveria rever os próprios atos enquanto pertenceu ao grupo que vem comandando o PMDB há mais de três anos. Rigotto acredita que, se as mudanças prometidas não ocorrerem, haverá o comprometimento de toda a história do partido. 'Por enquanto, estou querendo ver para crer', desabafou o parlamentar. Schirmer aposta na solução de impasse O presidente regional do PMDB, deputado federal Cezar Schirmer, é o mais otimista em relação ao futuro do partido. Ele aposta que os impasses estão sendo resolvidos a seu tempo. A mudança no comando nacional, segundo ele, uma reinvindicação gaúcha, será consolidada neste domingo. 'Mais tarde, decidiremos sobre a saída do governo federal e trataremos de programas de governo e candidaturas', acrescentou. Conforme Schirmer, no Rio Grande do Sul os passos rumo ao entendimento estão se concretizando. No dia 30, o encontro estadual vai desencadear o processo de discussão do projeto para o RS e apenas depois disso é que o partido pretende falar em candidaturas. CPI espera votação sobre o adiamento A prorrogação da CPI da Segurança Pública por mais 60 dias deve ser votada nesta semana. Na sessão plenária da última quarta-feira, o presidente da Assembléia Legislativa, Sérgio Zambiasi, recebeu solicitação de uma sessão extraordinária para votar o assunto. O documento, contendo a assinatura de 29 parlamentares, foi entregue pelo relator da CPI, deputado Vieira da Cunha e pede a sessão para esta terça-feira. O prazo de 120 dias estabelecido pelo Regimento Interno da Assembléia Legislativa para funcionamento de CPIs expira dia 17 e só pode ser prorrogado mediante votação de requerimento em plenário. Artigos CIDADANIA E TRADICIONALISMO Jarbas Lima Há duas datas magnas do gaúcho: o Sete e o Vinte de Setembro (no Congresso Nacional, 1995, fiz lei que oficializou a data e realizou sonho), registros históricos de uma só nacionalidade. O patriotismo é, antes de geografia, história. No caso dos gaúchos, sentimento de pertinência a duas pátrias. Tradicionalismo é a arte de identificar os elementos culturais da tradição. É o conhecimento e o apego aos usos e costumes. A cidadania é a condição jurídica do indivíduo, no exercício de seus direitos e deveres. O tradicionalismo liga-se às raízes, ao passado e à projeção dos valores. Decorre da integração com o desenvolvimento e participação no processo histórico. Os direitos e deveres da cidadania defluem do amadurecimento adquirido nas lições da história. Não se pode falar em cidadania sem as noções correlatas de pátria, nação, liberdade, civismo, ética e responsabilidade, pois 'povo que não tem virtude acaba por ser escravo', diz o Hino Rio-Grandense. Ser tradicionalista é ser cidadão e pertencer a dois universos culturais conexos. As virtudes do tradicionalismo alinham-se na mesma estirpe moral das virtudes da cidadania. Nosso convívio resulta das experiências singulares de uma sociedade que se constituiu no cenário de uma fronteira em guerra. Experiência diferente dos demais brasileiros. As lutas seculares na defesa territorial condicionaram a formação de uma comunidade regional, inquestionavelmente, diversa da sociedade nacional, ainda que consciente, orgulhosa e livremente a ela integrada. Consciência política e amor à liberdade é o binômio que acompanha o gaúcho, desde o momento em que chamou a si a responsabilidade de conquistar e preservar esta parte do torrão brasileiro, porção meridional de sua pátria, e, de certa forma, sua pátria meridional. História que explica a forma singular do patriotismo gaúcho, que, sem negar os conceitos de Rui Barbosa, reclama uma sensibilidade especial para confirmar do nosso jeito que: 'A pátria não é um sistema nem uma seita, nem um monopólio, nem uma forma de governo; é o céu, o solo, o povo, a tradição, a consciência, o lar, o berço dos filhos e o túmulo dos antepassados, a comunhão da lei, da língua e da liberdade'. Na lembrança carinhosa de Manoelito de Ornellas, é preciso reavivar esses sentimentos cívicos que nos autorizam a 'rezar no evangelho da altivez, da lealdade e da bravura moral', como sempre quis o Rio Grande do Sul e carece o Brasil. Colunistas Panorama Político/A. Burd TEMPO QUENTE NO PMDB 1) Para a convenção nacional deste domingo, a cúpula do PMDB escolheu um ginásio em Brasília com capacidade para apenas 1.500 pessoas, achando que local menor evita tumulto. Só o MR-8, um time barra-pesada, está trazendo 4 mil participantes. Tem tudo para acabar num quebra-quebra. 2) A colunista Dora Kramer, do Jornal do Brasil, revela neste sábado artigo de Maguito Vilela, candidato anti-FHC à presidência nacional do PMDB, publicado a 5 de março de 1998 no Diário da Manhã, de Goiânia. Título: 'Por que apóio Fernando Henrique'. Entre as razões, listou 'a conduta ética, a credibilidade, a coerência honesta. Fico com FHC por fidelidade à minha consciência'. E ainda escorraçou Itamar Franco, o grande aliado de hoje. PREVISÃO Como agirá o senador Sarney na convenção do PMDB? Jorge Moreno, de O Globo, prevê: 'Vai abraçar Temer não muito efusivamente que pareça apoio e Maguito não tão formalmente que pareça desprezo'. PAÍS NOVO Definida linha do programa de rádio e TV do PT em cadeia nacional, dia 20: crítico sem ser raivoso e com pitada diet. Lula como estrela e a idéia de um país novo. Roteiro mais para Jospin do que para Fidel. DE NOVO A posse de João Goulart na Presidência da República, a 9 de setembro de 1961, fez o prefeito de Porto Alegre, Loureiro da Silva, recomeçar tudo. Um dia antes da renúncia de Jânio Quadros, tinha acertado em Brasília o financiamento de 1 bilhão de cruzeiros para obras de abastecimento de água e saneamento. A assinatura solene seria feita a 28 de agosto por Jânio na capital gaúcha. De repente, foi tudo ladeira abaixo. ELEITO O ministro aposentado e professor Paulo Brossard foi eleito para o quadro de membros honorários da Academia de Letras Jurídicas da Bahia, levando em conta a sua contribuição à cultura jurídica do país. O diploma será entregue durante sessão solene em Salvador. DISCRETAMENTE Não é uma bandeira na parede do gabinete como ostenta o secretário da Agricultura, José Hermeto Hoffmann. O prefeito Tarso Genro mantém no armário envidraçado de sua sala de audiências uma bandeirinha do Movimento dos Sem Terra. CONDIÇÃO Alto tucanato acha Aécio Neves candidato ideal ao Planalto, desde que assuma com a desincompatibilização de FHC para disputar o Senado e a nomeação de Marco Maciel para o Supremo Tribunal Federal. MAIS VOTADOS Parece cisma: pela segunda vez, o PT perderá o vereador mais votado da bancada na Câmara de Porto Alegre. A primeira foi em 1992, quando Antônio Hohlfeldt, que havia feito 7.046 votos, deixou o partido para se tornar tucano. Agora, José Fortunati, que bateu recorde com 39.989 votos e deverá se tornar trabalhista. RAZÕES Quando Antônio Hohlfeldt anunciou a saída do PT, José Fortunati, que era deputado federal, lamentou, em entrevista à Rádio Guaíba, a decisão do companheiro. Comentou, porém, que entendia todas as suas razões. Quer dizer, sempre soube. INEXPERIÊNCIA Padre Darci Volpato, comandante da Marcha dos Excluídos, lamentou que manifestantes tenham fugido ao seu controle, agredindo PMs. É o que dá a falta de experiência... APARTES Brizola e José Fortunati almoçaram sexta-feira em Copacabana. MR-8, ala do PMDB, nasceu na década de 60 como grupo guerrilheiro. É o braço quase armado de Quércia. Piora relação entre oposição e governistas na Câmara de P. Alegre. Ricardo Berzoini substitui Fortunati na chapa à presidência nacional do PT e chega a Porto Alegre 2a-feira. PMDB contratou 140 seguranças para a convenção de Brasília. Amigos do presidente FHC não escondem seu sonho: trazer governador Zeca do PT ao ninho tucano. Possível. Com a briga Itamar x FHC, Minas é o estado mais penalizado na distribuição de verbas da União. CPI do Proer é derradeira chance de a oposição abater ministro Malan. Deu no jornal: 'Banco Central convida mercado a reduzir pessimismo'. E quem convida, paga. Do bem-humorado Jésus Rocha, da Tribuna da Imprensa: 'O jogo político é democrático. Mas as jogadas...'. Editorial CRESCIMENTO DO MERCOSUL Mesmo obviedades precisam, às vezes, ser ditas para que não se percam no esquecimento, verdades que se encerrem. Pois um senhor belga, convidado especial do Fórum de Governadores do Mercosul, realizado no Palácio Piratini, ministro da Saúde em seu país, acaba de dizer coisa óbvia a respeito do chamado Tratado de Assunção. Mas coisa óbvia que precisava ser dita e meditada para que o bloco Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai chegue pelo menos perto do que esperavam seus criadores em termos de representatividade e capacidade de decisão. Qual a obviedade? Esta: se o Mercosul vier a evoluir política e economicamente, talvez possa chegar a ter força, neste hemisfério, capaz de promover, no futuro, a união dos países da América Latina. Em verdade, os membros do bloco, quando da fundação, sempre imaginaram que o tempo se encarregaria de trazer parceiros novos, a começar pelo Chile. Era favas contadas essa parceria, de maneira que o Mercosul traduzisse uma espécie de União Européia em nosso continente, passando a funcionar o termo 'Sul' não como representação geográfica dos países meridionais da América Latina, mas da América em relação ao mapa-múndi, teríamos enfim o símile da UE por estas plagas. O sonho inicial da ampliação da entente sul-americana se desvanece na medida em que o tempo passa e não há perspectivas de adesão de mais países. Bem ao contrário, sofre o Mercosul com a concorrência da Alca - sigla do pomposo nome da Associação do Livre Comércio das Américas, com o charme de incluir os ricos de todo o continente. Pois esse senhor Jos Chabert - esse é o nome do ministro belga - disse a verdade que todos vêem por aqui, mas não se animam a proclamar por entenderem que prejudicariam ainda mais os já debilitados sinais vitais do consórcio. É um terrível engano esse entendimento. Precisa haver o grito de alerta contra o perigo, implícito na óbvia declaração, para que tentativas sejam feitas de ampliar o grupo e lhe dar a capacidade de sobrevivência que a estagnação lhe está tirando. Terá que crescer para se tornar viável. Topo da página

09/09/2001


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