CIA tinha licença para matar no Brasil



CIA tinha licença para matar no Brasil Cientista-política conta que, em troca de recursos para treinamento, EUA tinham liberdade para agir em terras brasileiras BRASÍLIA - O engenheiro químico americano Robert Hayes não foi o único agente da CIA (serviço secreto dos Estados Unidos) a desembarcar no Brasil para participar de ações de espionagem e repressão contra militantes de esquerda durante o regime militar (1964-1985), conforme divulgado ontem pelo Jornal do Brasil. Especialista nas relações entre a CIA e os governos latino-americanos, a cientista política americana Marta Huggins confirma que outros agentes do serviço de espionagem vieram ao Brasil com a mesma missão confiada a Hayes. De acordo com suas pesquisas, nas décadas de 60 e 70 a CIA doou recursos para o treinamento de 100 mil policiais brasileiros. Em troca, a CIA tinha liberdade para agir no Brasil. A cientista descobriu que, em palestra secreta a senadores americanos, um diretor da CIA informou que a polícia brasileira participava de torturas. O governo brasileiro, argumentou o diretor, justificou o uso da tortura para evitar o risco de os comunistas tomarem o poder. As pesquisas de Martha apontam que as ligações da CIA com o Brasil foram intermediadas por um organismo denominado Office of Public Safety (OPS), que oferecia técnicas de uso de armamentos até ajuda na formação de esquadrões da morte. Oficialmente, a CIA atuou no Brasil no intuito de ''democratizar os sistemas penais dos países beneficiários''. Por trás da fachada democrática, sustenta a brasilianista, os agentes participavam até de assassinatos. Fachada- ''Esse tipo de colaboração foi muito mais comum do que se imagina. Por baixo da fachada de treinamento de policiais, a CIA sempre conseguiu se infiltrar no Brasil'', afirmou a professora, que está em São Paulo ministrando um curso para estudantes universitários americanos. Martha é professora titular de sociologia do Union College, em Schenectady, estado de Nova Iorque. Martha investigou a atuação da CIA no Brasil após ter acesso aos documentos secretos do governo americano que foram liberados pelo presidente Bill Clinton. Suas conclusões foram reunidas no livro Polícia e política: Relações Estados Unidos/América Latina, recém-lançado pela Cortez Editora. De acordo com Martha, as autoridades americanas sempre souberam que os agentes da CIA praticavam atividades ilegais no Brasil. A população americana, entretanto, ignorou o assunto. Os documentos reunidos pela professora comprovaram que a CIA esteve por trás da montagem do Serviço Nacional de Informações (SNI) até mesmo em questões como formação de pessoal qualificado e organogramas. A OPS, escreveu Martha em seu livro, elogiou uma série de atitudes repressivas promovidas pelo governo brasileiro como a instituição da pena de morte e a deposição do vice-presidente Pedro Aleixo, em 1969. Jungmann fortalece PMDB governista Ministro se filia ao partido e já cotado como nome capaz de contrapor candidatura de Itamar nas prévias de janeiro BRASÍLIA - O ministro do Desenvolvimento Agrário, Raul Jungmann, filiou-se ao PMDB e a cúpula governista do partido cogita até lançá-lo candidato à Presidência da República nas prévias internas do partido, em 20 de janeiro. Ele seria uma alternativa à candidatura do governado de Minas, Itamar Franco, que ontem ainda estava indeciso se iria ou não para o PDT. O prazo para a troca de partidos com vistas às eleições do ano que vem termina hoje, à meia-noite. O líder do PMDB na Câmara, Geddel Vieira Lima (BA) comemorou a entrada de Jungmann no partido. ''Ele pode ser candidato a tudo, inclusive à presidência'', disse. A filiação de Jungmann fortalece o grupo do PMDB ligado ao Palácio do Planalto. Mas sua entrada foi discreta: ele enviou a ficha de ingresso por meio de um procurador. Ao entrar para o PMDB de Pernambuco, Jungmann pelo menos está numa das alas do partido menos atingidas por denúncias de corrupção. O principal nome do partido naquele estado é o governador Jarbas Vasconcelos, considerado um representante da ala ''ética'' da legenda e cotado para vice-presidente em caso de uma aliança com o PSDB. Jungmann deixou o PPS (Partido Popular Socialista), que surgiu com a extinção do PCB, o antigo Partido Comunista do Brasil. Um dos motivos de sua saída deve-se ao fato de o partido ter abrigado uma candidatura de Ciro Gomes, de oposição a FH. Até há duas semanas, as apostas eram que Jungmann iria para o PSDB. Jungmann estava cotado para a Secretaria de Comunicação, no lugar de Andrea Matarazzo, mas foi vetado pelo ministro da Saúde, José Serra. Com a filiação, Jungmann se credencia também para disputar o governo de Pernambuco. Fraudador de Goiás saca R$ 8 milhões GOIÂNIA - Um fraudador recebeu do estado de Goiás, nos últimos 14 anos, um total de R$ 8 milhões, em valores atualizados, relativos a pensões de pessoas inexistentes. Para retirar o dinheiro, ele utilizou procurações e despachos judiciais falsos. O crime foi descoberto durante o recadastramento dos aposentados e pensionistas realizado pelo Instituto de Previdência e Assistência dos Servidores do Estado de Goiás (Ipasgo). O presidente do Ipasgo, Jeovalter Correia Santos, disse que ''não pode divulgar o nome do fraudador'' por medida de segurança. O caso está sob investigação da Delegacia Estadual de Crimes Contra a Fazenda Pública e do Ministério Público. ''O fraudador apareceu na sede do Ipasgo, tentando subornar uma funcionária'', afirmou Santos. O recadastramento descobriu que, até o mês passado, o Ipasgo pagou benefícios de R$ 6 mil em nome de 17 pessoas mortas. O instituto conseguiu recuperar R$ 206 mil que estavam depositados em uma conta corrente no Banco do Estado de Goiás, em nome de um servidor falecido. Um total de 1.069 contracheques para pagamento do mês da folha de inativos e pensionistas do mês de setembro foi bloqueado. A maioria desses pagamentos era destinada a mortos e pessoas inexistentes. O Ipasgo está fazendo a cobrança judicial de R$ 100 mil de pagamento indevido de pensão mas o total de fraudes é desconhecida porque 3,4 mil servidores, que recebem R$ 1 milhão por mês de aposentadorias, recusaram o recadastramento. Para impedir a proliferação de segurados fantasmas, o Ipasgo decidiu que os 2,7% dos 37 mil inativos e pensionistas que recebem seus benefícios nos guichês deverão apresentar cartão do banco e identidade. Greve no INSS afeta 585 mil BRASÍLIA - Boletim divulgado pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) informou que 585 mil contribuintes ficaram impedidos de requerer benefícios devido à greve dos servidores do órgão, que hoje completa 62 dias. Segundo o governo, a paralisação resultou no fechamento de 1.135 agências, por falta de pessoal. Dos 39 mil funcionários do INSS, 20 mil trabalham diretamente na concessão de benefícios, área mais atingida pela paralisação. A falta de atendimento inviabilizou 351 mil perícias médicas, gerando uma despesa adicional de R$ 7,3 milhões. O ministro da Previdência Social, Roberto Brant, anunciou em nota a criação de um de plano de carreira, aumento salarial linear de 6,78%, a partir de 2002, e adiamento, até fevereiro, do corte de 47,11% referente a uma gratificação que parte dos servidores tem direito. Na nota, Brant exige que os servidores retornem ''imediatamente ao trabalho''. ''A nota quis, na verdade, jogar a opinião pública contra os trabalhadores'', reagiu Vladimir Nepomuceno, secretário de Organização da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Seguridade Social. O comando da greve avaliou que o único avanço foi a promessa do plano de carreira. O Sindicato dos Previdenciários alega que o aumento proposto por Brant, na verdade, já está garantido. Segundo Nepomuceno, os 6,78% correspondem à soma dos 3,5% previsto para os servidores federais com o o reajuste a que os previdenciários têm direito. MST ameaça invasão em Buritis BRASÍLIA - Técnicos do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) foram mandados ontem, às pressas, a Buritis, em Minas Gerais, para negociar com 300 sem-terra que ameaçavam invadir a fazenda Córrego da Ponte, da família do presidente Fernando Henrique Cardoso. Os agricultores exigem o assentamento imediato de 120 famílias. Os líderes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) alegam que as áreas desapropriadas pelo Incra são suficientes. ''Eles calcularam errado e esse pessoal ficou sem nada'', disse Cledson Mendes, um dos coordenadores nacionais do MST. Outra exigência apresentada pelos sem-terra refere-se ao desbloqueio do chamado teto de complementação, uma linha de financiamento disponibilizada pelo governo aos assentados. Segundo o MST, o governo elevou o teto de complementação de R$ 9,5 mil para R$ 12 mil, mas diversas famílias ainda não retiraram o benefício no valor atual. ''Queremos que quem não sacou ainda tenha direito a retirar os R$ 12 mil e não o valor que era liberado antigamente'', disse Mendes. O presidente do Incra, Sebastião Azevedo, disse que as principais reivindicações dos sem-terra serão atendidas até 30 de novembro. As reivindicações dos sem-terra de Buritis, acrescentou, serão negociadas durante a semana. ''O ministro Raul Jungmann (Desenvolvimento Agrário) nos deu um cronograma e vamos cumpri-lo'', afirmou Azevedo. FH lança programa para o São Francisco BRASÍLIA - Na quinta-feira, o presidente Fernando Henrique Cardoso estará no Parque Nacional da Serra da Canastra, em Minas Gerais, para assinar convênios do programa de revitalização do Rio São Francisco. O governo vai investir R$ 84 milhões para recuperar a mata ciliar, dragar áreas assoreadas e desenvolver programas de saneamento básico para os 505 municípios da bacia hidrográfica. A primeira fase do projeto prevê a liberação de cerca de R$ 20 milhões, administrados pelos ministérios da Integração Nacional e do Meio Ambiente. A maior parte - R$ 18 milhões - será destinada ao Ibama. O São Francisco sofre a pior estiagem dos últimos 70 anos. A situação é agravada por agressões ambientais, que tornaram coisa rara a pesca e a navegação ao longo dos 2,7 mil quilômetros do rio. O lixo e o esgoto produzidos por uma população estimada em 14 milhões de pessoas, distribuídas em cinco estados - Minas, Bahia, Pernambuco, Sergipe e Alagoas -, são responsáveis pela agonia do rio. O ciclo de absorção natural já não consegue mais acompanhar o volume de esgoto lançado diariamente nas águas do São Francisco. Três anos - Essa é a primeira vez, desde o início do governo Fernando Henrique (1995), que a União destina grande volume de recursos ao São Francisco. É pouco, entretanto, para uma bacia hidrográfica que tem 634 mil quilômetros quadrados, quase 8% do território brasileiro. Recuperá-la totalmente levaria, no mínimo, três anos. Um dos projetos prioritários é a preservação da nascente, na Serra da Canastra, e da foz do São Francisco, em Alagoas, informou o diretor de Proteção Ambiental do Ibama, Humberto Cavalcanti. O projeto mais audacioso, entretanto, é a recuperação de terras que estão dentro de áreas de conservação ambiental e não pertencem à União. Só na região da Serra da Canastra, aproximadamente 10 mil hectares pertencem a fazendeiros locais. ''São terras imprescindíveis para a revitalização que o governo está propondo'', disse o diretor do Ibama. Artigos Anúncio do caos Newton Carlos Na campanha eleitoral alguém perguntou a Bush o que ele faria com o Talibã, se eleito. O candidato republicano, forte nas pesquisas, desconversou e mais tarde confessou que pensava que o Talibã fosse um grupo de rock. Mas a milícia islâmica afegã já estava na boca dos modernos profetas do Apocalipse, como Robert Kaplan, cujas visões compõem o que ele chama de ''grandes desafios'' pós-Guerra Fria. Terrorismo, vulgarização das armas de destruição maciça, tráfico de drogas, degradação do meio ambiente, conflitos étnicos e religiosos e um vasto oceano de mudanças traumáticas por toda parte. Kaplan é autor de livro que mais parece uma jornada de terror e angústias na direção do terceiro milênio. Ele falou da ''anarquia que vem vindo'' em texto que correu mundo e tornou-se leitura obrigatória em Washington, por instruções da Casa Branca, onde foi tema de discussões. Kaplan relacionou 70 países, presente o Afeganistão, como de ''alto risco''. A CIA recebeu ordens de entender-se com especialistas em todos os tipos de segurança e levantar a situação ''real'' dos 70. O universo kaplaniano, de anarquia e destruição, converteu autoridades americanas de alto nível à crença, freqüente em sociedades esotéricas, de que a ficção científica ou política já se confunde com a realidade, e isso pode desnortear cabines de comando. Os perigos de ''acidentes'', erros de avaliação e de interpretação, um dos fantasmas da Guerra Fria, voltam a rondar cabeças coroadas. A ONU preparou planos de ação com vistas a possíveis reincidências de Somálias, Ruandas, Bósnias e Kosovos. Na anarquia em movimento, marcha da insensatez, lembrando a historiadora Bárbara Tuchman, nações se esfacelam pisoteadas por milhões de refugiados de desastres sociais e ecológicos. Caem as fronteiras convencionais. Surgem outras, as muralhas de doenças. Recursos naturais com riscos de extinção, como a água, produzem confrontos armados e as guerras se tornam contínuas, com bandos de sem-pátria enfrentando militarmente forças de segurança privadas, das elites. Só nos Estados Unidos, mais de 60 milhões já vivem em condomínios fechados. Doenças, anarquia e muita corrupção infectam a primeira década do século 21. Kaplan, diz-se, trabalhou com dados subtraídos da vida real e é considerado sério e meticuloso.. O autor de Ascensão e queda das grandes potências, Paul Kennedy, defende a ONU, à beira da falência, como ''única organização disponível capaz de enfrentar problemas globais de modo aceitável pelos seus 186 membros''. Critica os Estados Unidos por não pagarem suas contribuições em dia, deixando em atraso conta de 1 bilhão e meio de dólares. Depois dos atentados terroristas o Congresso americano tratou de providenciar pagamento parcial. Mas a ONU continuou na lata de lixo. Suas ''funções essenciais'' custam por ano o equivalente a quatro por cento do orçamento de Nova York. Seu corpo de funcionários é três vezes menor do que o da cadeia McDonalds. Os bombeiros de Tóquio têm orçamento com 1 bilhão de dólares a mais do que o da ONU. As operações de paz, quase 20 no momento, consomem menos do que a polícia e os presídios da cidade de Nova York. São números levantados pela própria ONU, para denunciar o seu miserê, embora muitos a vejam como único instrumento possível de contenção do universo kaplaniano. Nenhuma potência, por maior que seja, isoladamente ou em alianças com pretensões a substituir a comunidade internacional, tem como preservar as gerações futuras de flagelos anunciados. Alguns à porta ou já dentro de casa. John Le Carré garante que a espionagem e as intrigas internacionais não ficaram sem espaço com o fim da Guerra Fria. O simples fato de que o comunismo não funcionou ''não significa que o capitalismo funcionará'', declara. Em muitas partes do globo, ''o capitalismo como é praticado é força terrivelmente desagregadora, produzindo refugiados aos milhões, arruinando estilos de vida, meio ambiente e sistemas estáveis com a mesma energia negativa do comunismo''. Kaplan se fixa nos efeitos. Evita falar em causas. Colunistas COISAS DA POLÍTICA – DORA KRAMER Malan quer ter voz na eleição Sacramentada a negativa de meses, dizendo que não se filiaria a partido algum, muito menos seria candidato a cargo nenhum, Pedro Sampaio Malan, nem por isso, considera-se fora do jogo eleitoral para 2002. Ou seja, mesmo sem contrato - a ficha partidária - vai jogar no time do Planalto e brigar pela vitória do candidato de Fernando Henrique Cardoso. ''Enquanto for ministro da Fazenda, defenderei as posições do governo e cobrarei da oposição suas propostas para o caso de vir a ser governo'', afirma, dispondo-se a integrar o elenco de debatedores daquele que FH apoiar, ''seja quem for''. E mais: ''Se convidado'', participa da elaboração das propostas da política econômica que o candidato apresentará ao país. Ainda que o escolhido seja o ministro da Saúde, José Serra? ''Nós nos damos muito bem, estivemos até outro dia conversando longamente e, se for ele o candidato, com propostas que, na minha opinião, garantirão o prosseguimento dos avanços do Brasil, e caso me considere um debatedor útil, participarei da campanha, sim, por que não?'' E ainda que nada disso aconteça, que Serra não o queira, não se candidate ou o pretendente proponha políticas das quais Malan discorde, ''ainda assim continuarei falando e cobrando posições na condição de funcionário público com 35 anos de carreira. E, se como funcionário não puder falar, ou se não for mais ministro da Fazenda, manifesto-me como cidadão''. Mas tudo isso Pedro Malan diz no condicional, porque não sabe ainda quem será o candidato nem está participando das articulações para a escolha do nome, muito menos emite opiniões sobre preferências. Não seria incoerente a posição de cobrar definições do PT e não fazer o mesmo com o candidato governista, defendendo a tese de que ele se apresente junto com suas propostas o mais rápido possível? ''Não entro em questões de prazo, disso tratam os políticos. Mas não tenho dúvida de que, quando for lançado, ele terá um discurso com começo, meio, fim, e sem essas frases de efeito e de significado obscuro que se ouve a oposição dizer por aí.'' Com toda essa disposição de participar da campanha, lícito supor então que Pedro Malan esteja disponível também para integrar a equipe do sucessor. ''Se ganhar a oposição, já tive oportunidade de dizer que meu senso de humor não chega a tanto. Se o vencedor for do campo governista, com sinceridade, é a primeira vez que alguém me põe diante dessa hipótese. Portanto, nem pensei nela.'' Quanto à lengalenga de meses a respeito de sua candidatura, Pedro Malan não externa nenhuma mudança de sentimentos, agora que o drama acabou. ''Para mim, essa nunca foi uma questão tormentosa. Sempre soube qual seria o meu caminho e disse isso muito claramente. Agora, se as pessoas não acreditaram, é por causa desse ambiente politico de Brasília, onde ninguém está acostumado a raciocinar com certezas, preferindo interpretar suposições.'' Alumbramento Se o problema de Luiz Inácio Lula da Silva, nesse seu périplo internacional, for de deslumbramento com a Europa - mal bastante comum na esquerda - é até possível relevar certas atitudes. Mas se considera diplomática e politicamente adequado falar em acertos com o bispo Edir Macedo da Igreja Universal do Reino de Deus, tendo Roma como cenário, aí o caso é mais grave. Trata-se de completa falta de noção de tempo, espaço e, principalmente do papel de representação que cumpre, nesta viagem, como o candidato que está à frente nas pesquisas eleitorais. Mas essa questão de tratar de seus acordos evangélicos na vizinhança do Vaticano é simbólica e assume um caráter até lateral, ante a posição externada pelo candidato, em apoio ao protecionismo comercial francês, logo após encontro com o primeiro-ministro Lionel Jospin. Lula, que tanto defende a tese da preponderância dos interesses nacionais neste malvado mundo globalizado, saiu do encontro dizendo ''compreender'' a posição européia de impor barreiras alfandegárias a produtos agrícolas brasileiros. O candidato do PT, com todo o respeito e perdões antecipados pela vulgaridade da expressão, caiu na conversa de Jospin e ainda mostrou despreparo injustificável. Se é candidato à Presidência da República há 12 anos é estranho que só agora tenha prestado atenção em assunto tão importante, a ponto de precisar ir à França para só então ''compreender'' uma questão contra a qual o Estado brasileiro tem posição irredutivelmente firmada. Quando diz que os europeus ''estão corretos'' e que o Brasil precisa, primeiro, ''fazer a sua parte'' para conseguir vender seus produtos naqueles mercados, Lula mostra que não sabe, por exemplo, que o frango que come em Paris é inferior àquele produzido no Brasil, não porque não façamos a ''nossa parte''. Mas porque os parceiros com quem se mostra tão compreensivo não incluem a reciprocidade em suas relações comerciais com países dos quais esperam submissão. E, nesse quesito, Lula lhes deu a certeza de que, se eleito presidente, o governo brasileiro considerará natural que as necessidades brasileiras sejam mantidas a reboque dos interesses europeus. Editorial O Jogo da Guerra Iniciada a guerra contra o Afeganistão 24 dias depois do ataque às torres gêmeas e ao Pentágono, duas declarações se confrontaram nos vídeos de todo o mundo. De um lado, o presidente Bush afirmou que não pode haver paz num mundo de terrorismo e em conseqüência o governo talibã está pagando o preço por não entregar Bin Laden. Do outro, o próprio Bin Laden, elevado a símbolo máximo de um confronto desproporcional de forças, foi colocado na televisão para garantir que os EUA não se sentirão seguros enquanto o Afeganistão não se sentir seguro. Ele insinuou que usará contra os EUA a arma do medo, dando conseqüência portanto ao clima instaurado desde o ataque em solo americano. Delimitam-se assim claramente os lados desta guerra que se iniciou com fortíssimos ataques aéreos a Cabul (a capital) e a outras cidades onde presumivelmente se encontram membros da rede terrorista de Bin Laden. Se os EUA fracassarão no Afeganistão da mesma forma que os russos fracassaram nos anos 70 e os ingleses no século 19, só o tempo dirá. Os aliados contam com o enfraquecimento gradual do regime talibã que, apesar de controlar 95% do território afegão, não conta seguramente com o apoio político maciço da população. Para o presidente Bush, a deterioração do regime talibã é uma questão de tempo, como aconteceu na Iugoslávia de Milosevic. Comparados às modernas armas com que os EUA e seus aliados venceram no curso do último decênio o Iraque a Iugoslávia, o treinamento e a organização dos talibãs são tão pobres quanto o próprio Afeganistão. Em vez de esperar provável sublevação contra o governo impopular, os aliados optaram pelo bombardeio do tipo utilizado na Iugoslávia. O ponto fraco dos talibãs são eles mesmos. Perderam a credibilidade e alguns analistas ponderam que a população está perdendo a paciência. O terreno acidentado do Afeganistão é a maior vantagem militar dos talibãs. As montanhas áridas e as planícies poeirentas são há séculos o cemitério dos invasores (à exceção de Gengis Khan, na Idade Média). Esta desvantagem geográfica poderia ser ultrapassada pelas unidades de forças especiais capazes de fazer incursões rápidas. Seria uma tática oposta à que foi usada na Guerra do Golfo, contra o Iraque. Os americanos devem também mobilizar os refugiados afegãos e os opositores ao regime, tornando-os aliados. Desde já os americanos se alinham com as forças da Aliança do Norte, dirigida por Burhanudin Rabani, reconhecido pela ONU como dirigente do Afeganistão, mesmo que sua frágil coalizão controle apenas 5% do território. Desde que os talibãs tomaram o poder em Cabul e, principalmente, depois do atentado de 11 de setembro, mais de 4,5 milhões de afeganistãos abandonaram o país, dirigindo-se em sua maioria ao Paquistão, hoje o único país do mundo a reconhecer seu governo. A mensagem de Bin Laden, em resposta às primeiras ondas de ataque, é clara: ele se dispõe a repicar com terrorismo, usando a principal arma dos terroristas - o medo. Até agora seus apelos por uma guerra santa contra o Ocidente têm sido em vão, como foram inúteis semelhantes apelos de Saddam Hussein na Guerra do Golfo. Os talibãs, como Saddan Hussein, podem despertar no dia seguinte sozinhos contra o resto do mundo. Topo da página

10/08/2001


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