CLÁUDIO MAUCH: BC VENDEU DÓLARES MAIS BARATOS PARA "EVITAR RISCO"



O ex-diretor de Fiscalização do Banco Central Cláudio Mauch afirmou à CPI do sistema financeiro, em depoimento nesta terça-feira (dia 27), que o BC vendeu dólares a preços favorecidos aos bancos Marka e FonteCindam para proteger a política cambial de "bandas aumentadas". Para ele, naquele momento (14 de janeiro), com o mercado financeiro tenso por causa da grande venda de dólares das reservas do país, foi o caminho que "a diretoria" encontrou "para evitar um risco que não conhecia".- O que poderia acontecer se alguma instituição deixasse de honrar seus compromissos no mercado futuro? O risco de crise em todo o sistema era, a nosso ver, naquele momento, muito grande - sustentou Mauch.Na véspera da venda de dólares ao Marka e ao FonteCidam, dia 13 de janeiro, a diretoria do BC decidiu, acrescentou Cláudio Mauch, que não se deveria liquidar alguma instituição financeira, pelo risco que representava para todo o sistema. Lembrou que, como nas crises da Ásia e da Rússia, também havia muitos boatos de uma desvalorização cambial e, naquelas duas oportunidades, o Banco Central impôs sua política.A decisão da diretoria do banco foi respaldada pela área jurídica da instituição, e, por isso, "ficou decidido que o Banco Central iria brigar por sua política cambial", disse o ex-diretor. Apenas dois bancos recorreram ao BC por falta de liquidez - o Marka e o FonteCidam. Cláudio Mauch afirmou que a decisão do BC "foi institucional", ou seja, se aplicaria não apenas ao Marka e ao FonteCindam em casos de falta de liquidez.Ao comentar as notícias de que o Banco Central teve prejuízos elevados com o Marka e o FonteCidam, o ex-diretor ponderou que a instituição "não olha o lucro ou prejuízo de uma operação, porque ela é a autoridade monetária". Ele admitiu que os fiscais do BC tiveram "poucas horas" para examinar a situação do Banco Marka quando ele pediu socorro. Para a venda dos dólares ao Marka a R$ 1,27, quando a cotação pela banda cambial já estava mais elevada, a diretoria do BC decidiu que "se deveria tirar tudo da instituição, inclusive o patrimônio". Os bens do ex-dono do Marka, Salvatore Cacciola, não ficaram indisponíveis porque o BC não estava fazendo uma liquidação - caso em que os bens dos proprietários e diretores ficam bloqueados. O Banco Central, acrescentou Cláudio Mauch à CPI do sistema financeiro, fez a operação exatamente para evitar a liquidação e suas conseqüências para o mercado financeiro.

27/04/1999

Agência Senado


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