Depoimento de Cláudio Mauch não agrada parte dos integrantes da CPI



As respostas apresentadas pelo ex-diretor do Banco Central, Cláudio Ness Mauch, às questões levantadas pelos integrantes da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito do Banestado não agradaram a parte dos deputados e senadores que participaram da reunião desta segunda-feira (18). O senador Flávio Arns (PT-PR) disse ter ficado estupefato todas as vezes em que o depoente alegou não se lembrar dos episódios indagados pelos parlamentares.

O depoimento da ex-diretora do Banco Central, Tereza Grossi, que seria realizado após a participação de Cláudo Mauch, foi suspenso a pedido do senador Heráclito Fortes (PFL-PI) em virtude do falecimento do pai do relator, deputado José Mentor (PT-SP). A reunião da CPI foi remarcada para esta terça-feira (19), às 11h. A deputada Irini Lopes (PT-ES) foi indicada pelo presidente Antero Paes de Barros (PSDB-MS) para substituir o relator durante a oitiva.

No início do seu depoimento, Cláudio Mauch registrou que ingressou na diretoria do Banco Central em 1993, quando assumiu a Diretoria de Normas e Organização do Sistema Financeiro. Dois anos depois, passou a acumular este cargo com o de diretor de Fiscalização. Permaneceu um ano na dupla função até ser efetivado na Diretoria de Fiscalização, onde permaneceu até o início de 1999.

Durante sua gestão, informou Cláudio Mauch, o Brasil pela primeira vez fiscalizou agências de bancos nacionais no exterior. Tal fato, segundo o ex-diretor, se deu em 1995, quando auditores do Banco Central foram destacados para visitar filiais de instituições bancárias brasileiras em Nova York. Ele disse que tal operação foi repetida em 1996.

Especificamente sobre a remessa ilegal de recursos via contas CC-5 a partir de agências bancárias sediadas em Foz do Iguaçu (PR), Cláudio Mauch informou que a responsabilidade sobre a fiscalização desse tipo de procedimento não cabia à diretoria comandada por ele, mas à responsável pela área internacional do Banco Central. Essa informação foi repetida diversas vezes durante seu pronunciamento, causando insatisfação em alguns parlamentares.

Flávio Arns chegou a apresentar questão de ordem ao presidente Antero Paes de Barros, indagando qual a penalidade prevista para o depoente que não se atém, não demonstra interesse em responder aos questionamentos e não satisfaz, com suas intervenções, ao que foi perguntado. Antero respondeu que o depoente assinou termo de compromisso garantindo que falaria tudo o que soubesse, mas que seria impossível fazer qualquer juízo de valor se ele estava falando a verdade quando argumentava que não lembrava, não sabia ou não era assunto de sua diretoria.

- O depoimento de Cláudio Mauch não refletiu, de acordo com a minha ótica e a minha percepção, a verdade dos fatos. Não sei por qual razão, se em função própria ou se para acobertar fatos de outras diretorias. Ele não foi verdadeiro no que foi colocado para a CPI - afirmou Flávio Arns.

Na mesma linha, a senadora Ideli Salvatti (PT-SC) confessou ter ficado admirada com o fato de o depoente ter-se lembrado com facilidade da autorização concedida a cinco bancos de Foz do Iguaçu para receber depósitos em contas CC-5 até o limite de R$ 100 mil. Ela destacou que esta informação tinha permanecido -esquecida- durante anos e somente foi registrada no depoimento prestado pelo ex-presidente do Banco Central, Gustavo Franco, na CPI. Ideli acrescentou que a própria comissão levantou dúvidas sobre a autenticidade do documento.

Outro que não ficou satisfeito com o depoimento de Cláudio Mauch foi o deputado José Carlos Martinez (PTB-PR). Ele comentou que os convidados ou convocados para prestar explicações em CPIs geralmente passam uma semana estudando profundamente os assuntos referentes ao depoimento, e que alegar que não lembra é zombar da competência dos parlamentares.



18/08/2003

Agência Senado


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