‘Comissão da Verdade mostra que o Brasil pode ser republicano’, diz Cristovam Buarque
A instalação da Comissão Nacional da Verdade mostra que o Brasil pode se tornar de fato um país republicano, afirmou nesta quinta-feira (17) em Plenário o senador Cristovam Buarque (PDT-DF). Para o ele, “valeu a pena ter vivido para estar presente na posse dos integrantes da Comissão da Verdade”, que vai apurar os crimes cometidos contra os direitos humanos no período de 1946 a 1988. No entanto, a seu ver, “falta muito” para o Brasil.
- Ontem, a gente viu que este Brasil pode ser republicano, mas falta muito. Para isso, vai ser necessário levar em consideração a tortura permanente que pesa sobre 14 milhões de brasileiros adultos que não sabem ler. Não saber ler é ser torturado. Precisamos também acabar com a tortura de pessoas doentes que não conseguem ser atendidas – declarou, relacionando os direitos humanos às condições sociais de milhões de brasileiros.
“Revanchismo”
Cristovam observou que outros países criaram sua Comissão da Verdade tão logo superaram regime de domínio militar, como Argentina, Uruguai e Grécia, mas que o tempo levado para o Brasil criar a sua comissão não diminuiu a importância do evento, que contou com a participação de quatro ex-presidentes da República.
O senador disse que o Brasil deve ter orgulho tanto da decisão da presidente Dilma Rousseff de ter criado a comissão, quanto da qualidade daqueles que escolheu para compô-la. Ele salientou que a comissão terá a tarefa histórica de “trazer a realidade que estava escondida” e que não há nenhum integrante “revanchista”, que queira promover perseguições ou encobrir fatos. Segundo ele, todos merecem “o pleno respeito” de quem quer tirar tudo o que cobre uma parte da história do Brasil, e não sair perseguindo quem cometeu atos injustos e indignos.
O senador disse ainda que o discurso da presidente Dilma no evento foi “marcante e ficará para a história do Brasil, entrará nos livros de antologia de discursos políticos”.
- Quem esteve presente dificilmente vai esquecer que ali esteve – afirmou.
“Amnésia”
Em relação à comissão, Cristovam disse que “uma coisa é anistia, e outra coisa é amnésia”, e que “o país tem direito de dar anistia até mesmo aos piores crimes, mas não tem direito de ter amnésia em relação a sua própria historia”.
- O Brasil precisa ainda contar algumas historias que não estão plenamente contadas, embora não estejam escondidas – afirmou.
Como exemplo, Cristovam disse que os três séculos de escravidão no Brasil não estão contados, até por uma decisão do jurista e político Rui Barbosa (1849-1923), que decidiu queimar a maior parte dos documentos a ela relacionados por achar que os negociantes de escravos iriam querer receber indenização e fazer voltar a Lei Áurea.
“Corrupção”
Embora tenha destacado a iniciativa do Executivo em criar a Comissão da Verdade, Cristovam disse que ainda falta muito para o Brasil ser republicano, e que é preciso criar uma Comissão da Verdade para a corrupção, que representa uma maldade e a falta de ética. Ele, porém, sublinhou a importância histórica da instalação da comissão.
- Reconheçamos que Dilma viveu um grande momento de seu período, pelo republicanismo de juntar ali todos os [ex] presidentes, pela sensibilidade de reconhecer em cada um o papel que teve, e sem fazer nenhuma demagogia, porque o que ela reconheceu de cada um daqueles eles fizeram – concluiu.
17/05/2012
Agência Senado
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