COMISSÃO DO EL NIÑO INICIA OS TRABALHOS



Audiência com a participação de sete representantes do Executivo marcou o início, na noite dehoje (dia 26), dos trabalhos da Comissão Parlamentar Externa do Senado criada com o objetivo de estudara adoção de medidas preventivas para proteger as populações e as economias das regiões sujeitas aos efeitos do fenômeno atmosférico El Niño.

- A intenção é levantar o problema e cobrar dos governos federal, estaduais e municipais as medidas que forem necessárias - disse o senador Roberto Requião (PMDB-PR), presidente da comissão, instituida por iniciativa do senador Esperidião Amin (PPB-SC), e que tem como relator o senador Waldeck Ornelas (PFL-BA). Também participaram da reunião, a senadora Benedita da Silva (PT-RJ) e os senadores Levy Dias (PPB-MS) e Osmar Dias (PSDB-PR).

Para Esperidião Amin, pela primeira vez o Senado Federal está atuando num caso "antes que os problemas ocorram". O senador disse que "o fenômeno está identificado, mas suas conseqüências têm dosagens distintas". Na sua opinião, o debate com representantes do governo federal "ratifica o roteiro traçado pela comissão".

Ao questionar os expositores, Osmar Dias afirmou que alguma medida precisa ser adotada para melhor orientar o agricultor e reduzir os riscos causados pelo fenômeno El Niño. Levy Dias, por sua vez, elogiou o "avanço" que o Brasil obteve em termos de tecnologia para o setor meteorológico.

A comissão realizará duas reuniões na próxima semana. Na terça-feira (dia 2), deverá ouvir representantes da região Sul e do Ibama, e,na quarta-feira (dia 3), os do Nordeste.

O FENÔMENO

Carlos Afonso Nobre, chefe do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos, do Ministério da Ciência e Tecnologia, eMary Kayano, pesquisadora do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), foram os primeiros a falar. O fenômeno El Niño, segundo afirmaram, tem a ver com a mudança atmosférica no Pacífico, na costa peruana, e sua evolução mais intensa do século ocorreu em 1983, quando teria atingido 3 graus acima da média.

O representante do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) do Ministério daAgricultura, Expedito Rebelo, por sua vez, informou que o fenômeno vem do ano 500 antes de Cristo, e que sua primeira "complicação" oficial foi descrita em livro publicado em 1525.

Segundo Rebelo, a ação mais forte do El Niño ocorreu em 1982 e 1983, quando houve uma grande enchente em Santa Catarina, tendo provocado prejuízo de US$ 13 bilhões no mundo. Isso aconteceu numa época em que o Nordeste sofreu a maior seca de todos os tempos.

O El Niño é decorrente de anomalias climáticas, observou Expedito Rebelo, informando que previsão feita na primeira semana deste mês "indica uma evolução bastante intensa do fenômeno". Acrescentou que, segundo trabalho realizado mais recentemente pelo INMET, no dia 14 de agosto, a previsão é de chuma acima do normal no Sul do Brasil e nenhuma no Nordeste.

Já o coordenador-geral da Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Jerônimo Heleno Coelho, informou que há muito o ministério vem se preocupando com o fenômeno. "Estamos atrentos ao problema e aos trabalhos da comissão do Senado para que possamos nos posicionar quanto às medidas a serem adotadas", disse.

Também foram ouvidos Luiz Gylvan Meira Filho, presidente da Agência Espacial Brasileira; Nilton Loureiro Rodrigues, do Ministério do Planejamento; e o ministro Fernando Catão, secretário especial de políticas regionais do Ministério do Planejamento e chefe da Defesa Civil do governo federal, com quem a comissão encerrou a série de exposições conforme sugestão do senador Roberto Requião.



26/08/1997

Agência Senado


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