Conceição Tavares recomenda vigilância contra inflação e controle de capitais para segurar dólar
A economista e professora Maria da Conceição Tavares manifestou-se descrente nesta terça-feira (9) em um acordo na reunião dos países do G-20, que começa nesta quinta-feira (11) em Seul, Coréia do Sul. No encontro, representantes das 19 maiores economias mais a União Européia tentarão evitar que o mundo caminhe para "uma guerra cambial". O governo norte-americano tem pressionado pela desvalorização do dólar, para ajudar na reativação da sua economia.
Durante debate no Senado, a economista concordou em que a valorização do real frente ao dólar pode levar "a uma situação bem difícil", lastimando que as indústrias instaladas no Brasil estejam perdendo mercado externo, o que afeta o emprego no país. Ela tachou de "ingênuas" as pessoas que acreditam em uma desvalorização do yuan pelos chineses "mais que um ou dois por cento".
- Se não houver acordo em Seul, temos que defender nossa moeda, doa a quem doer. Podemos fazer até controle de capitais externos. Terá uma chiadeira no começo, mas depois a situação se acomoda. É uma droga esse dinheiro que está entrando para a Bolsa de Valores e para compra de títulos do Tesouro Nacional - afirmou.
Maria da Conceição Tavares fez palestra na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) atendendo a requerimento dos senadores Eduardo Suplicy (PT-SP) e Aloizio Mercadante (PT-SP), uma forma de homenageá-la pelos 80 anos, completados em abril. Como a Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados pretendia também prestar a homenagem. senadores e deputados promoveram uma reunião conjunta. Os trabalhos foram presididos pelo senador Delcídio Amaral (PT-MS), vice-presidente da CAE, e pelo deputado Pepe Vargas (PT-RS), presidente da comissão da Câmara.
Coube a Delcídio destacar que Maria da Conceição Tavares, portuguesa de nascimento, "inspirou gerações inteiras de economistas brasileiros" por suas posições econômicas desde a década de 60 e como professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro e da Universidade de Campinas. Lembrou que ela ajudou a elaborar o Plano de Metas de Juscelino Kubitschek e foi deputada federal pelo PT. Durante a audiência, a professora recebeu a medalha Personalidade do Ano de 2010 do Conselho Federal de Economia.
"Sem pedir licença"
Em sua palestra, a economista recomendou ao governo que, para manter o crescimento econômico sem risco inflacionário, faça um "realinhamento cambial lento", e ao mesmo tempo baixe os juros, iniciando um controle dos capitais que "entram só para ganhar nos juros e na Bolsa". Observou que o controle de capitais pode ser feito "sem pedir licença" a ninguém, pois a legislação brasileira concede tal permissão.
Durante os debates, Suplicy disse que a professora estava "muito pessimista" sobre a possibilidade de um acordo cambial. A economista respondeu que "esse casamento sinistro entre os Estados Unidos e a China ainda dará muita dor de cabeça ao mundo". Ela alertou que os chineses "vão entrar em todo lugar, onde houver matérias primas ou alguém disposto a importar o que eles produzem". E advertiu que as empresas brasileiras, que aumentaram suas exportações para a América Latina desde o início da crise mundial, correm risco de perder "até mesmo o mercado da Argentina" para os chineses.
Inflação
Maria da Conceição Tavares apoiou uma possível recriação da CPMF por considerar que "ele pega quem tem dinheiro". Disse não ter gostado do primeiro ano do governo Lula, por causa do aperto fiscal, e admitiu que, "além dos mais pobres", "os ricos também ganharam bastante dinheiro" nos quase oito anos do governo petista. Opinou que só a "classe média antiga" não ganhou e, por isso, "anda meio irritada".
A palestra foi assistida por universitários e servidores públicos, que puderam fazer perguntas. A economista mostrou-se indignada ao ser interrogada se não seria interessante ao governo permitir que a inflação suba "alguns pontos", desde que mantido um crescimento econômico mais elevado. "Será que este país não aprende que são os pobres que mais perdem com a inflação?"
A professora também discordou de uma política de "aumentos elevados, no curto prazo" para o salário mínimo, preferindo a atual política de reajuste que acompanha a inflação mais o crescimento da economia de dois anos antes. No entanto, acredita que seria mais eficaz se os reajustes misturassem o crescimento passado com uma expectativa de crescimento, evitando o que poderá ocorrer em janeiro próximo. Como não houve crescimento econômico em 2009, a atual política impediria um aumento real do salário mínimo em 2011.
09/11/2010
Agência Senado
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