Conflitos na Líbia são face mais dura da crise política do Norte da África e do Oriente Médio



A crise política na Líbia, país onde foi preso o jornalista brasileiro Andrei Netto, é a mais nova e sangrenta etapa de um inédito movimento que se espalha pelo Norte da África e Oriente Médio em favor de maior liberdade e democracia na região. A pequena Tunísia abriu o ciclo, com uma ampla revolta que levou à renúncia, em 14 de janeiro, do então presidente Zine Ben Ali, que se encontrava no poder desde 1987. Em seguida foi a vez do Egito, onde, no dia 11 de fevereiro, caiu o governo de Hosni Mubarak, que durou 30 anos. O foco do movimento deslocou-se então para a Líbia, onde o líder Muamar Kadafi, há quase 42 anos no poder, ainda resiste a entregar o cargo.

A queda em sequência de dois governos até então considerados estáveis e os reflexos do movimento em países como Bahrein, onde chegou a ser suspensa a realização de um grande prêmio de Fórmula 1, tem sido comparada por analistas internacionais à queda de peças de um dominó - uma imagem que já havia sido criada, nos anos 60, para definir o temor do governo dos Estados Unidos diante do sucesso de guerrilhas de esquerda na Ásia.

Os momentos históricos, contudo, são bem diferentes. Se naquela época a Guerra Fria levou os Estados Unidos a enviar seus soldados ao Vietnã, preocupados com a crescente influência de Moscou na região, agora não parece haver direção ideológica dominante ou potência mundial inspirando os manifestantes. E nenhuma força externa interveio até o momento nos conflitos.

Na Líbia, a crise teve início em 15 de fevereiro - quatro dias após a queda do egípcio Mubarak -, quando cerca de 200 pessoas protestaram em Benghazi contra a prisão de um ativista de direitos humanos. A repressão policial foi incapaz de conter o movimento, que se espalhou por todo o país. Diante das manifestações, Sayf Al-Kadafi, filho do ditador líbio, foi à televisão para advertir para os riscos de uma guerra civil e afirmar que a Líbia não seria "como o Egito ou a Tunísia". Seu pai, por sua vez, anunciou em seguida que não deixaria o país e que morreria como "mártir", se necessário.

A crise líbia se agravou depois que Kadafi ordenou o bombardeio de cidades tomadas por manifestantes contrários a seu governo. A tensão espalhou-se por todo o país, onde forças rebeldes e tropas ainda fiéis a Kadafi disputam a cada dia o controle de importantes cidades. Neste dia 10 de março, Kadafi sofreu uma dura derrota internacional, com o reconhecimento, pelo presidente da França, Nicolas Sarkozy, do movimento rebelde como governo legítimo da Líbia. Cenas de trocas de tiros entre tropas rebeldes e tropas leais a Kadafi continuam a ser divulgadas por todo o mundo pelas redes internacionais de televisão. E indicam um cenário ainda incerto para a Líbia.



10/03/2011

Agência Senado


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