Crise financeira emperra Avança Brasil









Crise financeira emperra Avança Brasil
De 387 programas prioritários, apenas 24 ainda são objeto de acompanhamento especial pelo governo

Xodó de Fernando Henrique Cardoso, o programa Avança Brasil caminha a passos cada vez mais morosos. A crise financeira avançou mais do que as intenções de Brasília, atropelando-as.

Frustrou-se uma das pretensões de FHC: atravessar o último ano de sua gestão cortando fitas em solenidades de inauguração. A penúria alcança canteiros de obras espalhados por todo o país.

O Avança Brasil -que continha as principais metas para o segundo mandato- englobava 387 programas. Seriam tocados com prioridade. Representavam, segundo a propaganda oficial, "o início da trajetória rumo ao desenvolvimento".

No ano passado, a escassez de verbas levou o governo rever prospecções e cenários. Selecionaram-se, entre os programas prioritários, aqueles que seriam mais prioritários. Foram eleitos 64 dos 387 iniciais.
Agora, com o caixa ainda à míngua, o governo viu-se forçado a selecionar o prioritário do prioritário do prioritário. Hoje, encontram-se sob o regime de acompanhamento especial escassas 24 das 387 iniciativas.

Seletividade
José Paulo Silveira, funcionário do Ministério do Planejamento que centraliza a gestão do Avança Brasil, diz: "Dados os recursos disponíveis, se você não adota o critério da seletividade, tende a dispersá-los. Aí nem conclui nada, nem contribui para as obras de maior impacto social ou econômico."

A idéia não é abandonar os demais projetos, explica Silveira, mas priorizar a injeção de dinheiro nos 24 eleitos. "Como engenheiro, lamento quando uma obra diminui de ritmo. Mas é motivo de satisfação ver o governo trabalhando, pela primeira vez, num plano que não é descontinuado. Ora acelera, ora diminui o ritmo, sempre respeitando o equilíbrio fiscal."

A estratégia do governo levou inquietude à direção das empreiteiras. Pela lei, os pagamentos de obras públicas devem obedecer à ordem cronológica das medições. Receia-se que a prioridade a certos projetos leve a Esplanada dos Ministérios a furar a fila.

O empreiteiros começaram a se mexer. Em carta ao ministro dos Transportes, o peemedebista João Henrique de Almeida, a Aneor (Associação Nacional das Empresas de Obras Rodoviárias) abandonou a sutileza.
Diz um trecho do texto: "(...) renovamos a profunda preocupação das nossas [empresas] associadas ante a concreta alteração da ordem cronológica dos pagamentos, com ofensa indiscutível aos princípios constitucionais da isonomia e da legalidade que devem pautar a atividade da administração pública".

A carta é assinada por José Alberto Pereira Ribeiro, presidente da Aneor. Data de 22 de agosto. É a segunda correspondência enviada ao ministro João Henrique em menos de um mês. A entidade ameaça ir à Justiça, se necessário.

Vinculações orçamentárias
O que deixou o empresariado de cabelo em pé foi uma mensagem interna da Secretaria do Tesouro Nacional, órgão que pende da pasta da Fazenda.

O texto, de 24 de junho, cria "novas vinculações" orçamentárias. O objetivo seria o de exercer "maior controle dos pagamentos de programas estratégicos". Menciona-se uma lista de um a 24, justamente as iniciativas prioritárias do Avança Brasil.

Ainda que bem intencionada, dizem os empreiteiros, a mensagem do Tesouro concederia poder discricionário aos órgãos que, na ponta da linha, realizam os pagamentos. Um perigo, sobretudo em ano eleitoral.

Ouvido, o ministro dos Transportes afirma que as obras sob responsabilidade de sua pasta estão divididas em listas divulgadas na Internet. "Aqui e ali corre o boato de que estão mexendo na lista", diz João Henrique. "Mas não se fez nenhum pagamento fora da ordem cronológica. Isso para mim é sagrado".

Resta uma dúvida no ar. Se o que se deseja não é beneficiar os 24 projetos do Brasil em Ação, qual o sentido da mensagem do Tesouro Nacional? Questionada, por telefone e por escrito, a repartição do Ministério da Fazenda preferiu o silêncio.

Dinheiro escasso
O passivo do Ministério dos Transportes é de R$ 700 milhões. Há faturas de 2001 que ainda não foram pagas. Desde julho, o governo vem aplicando R$ 200 milhões mensais para tentar desbastar o débito. É como se enxugasse gelo. À medida que faturas velhas vão sendo liquidadas, novas contas cruzam os guichês do ministério. "É complicado", resigna-se João Henrique.

Dinheiro, de fato, é coisa cada vez mais escassa em Brasília. O orçamento de 2002 prevê gastos de R$ 26,8 bilhões nos 64 projetos do Avança Brasil que vinham sendo considerados prioritários antes da elaboração da lista que os reduziu a 24. Até julho, emitiram-se empenhos correspondentes a 55,7% desse total. Mas só 37,4% foram efetivamente pagos.

Para facilitar o controle gerencial, os 64 projetos foram subdivididos em 237 ações administrativas. Dessas, 31 estavam totalmente paralisadas em julho. As razões são variadas. A falta de pagamento é uma delas. Há também problemas de natureza ambiental e indícios de irregularidades detectados pelo TCU (Tribunal de Contas da União).

Na última terça-feira, encerrou-se um ciclo de reuniões com assessores dos candidatos à Presidência no Ministério do Planejamento. Eles foram apresentados à filosofia que permeia o Avança Brasil. Se quiser, o próximo presidente pode virar do avesso a lista de prioridades elaborada sob FHC. "Pode, mas não creio que faça isso", opina José Paulo Silveira. "A receptividade das quatro assessorias dos candidatos à metodologia foi muito boa".


Candidato do PPS cita Jesus para atacar Serra
Ciro Gomes, candidato do PPS à Presidência, referiu-se ontem a Jesus Cristo para reafirmar que é "perseguido pelo candidato oficial", que tenta lhe colar a "falsa imagem de destemperado".

"Se esse tipo de comportamento fosse olhado em Jesus Cristo quando ele expulsou os vendilhões do templo [referindo-se à expulsão dos mercadores do Templo de Jerusalém, que vendiam produtos e trocavam dinheiro no local], essa gente [aliados de Serra] teria coragem provavelmente de chamá-lo de destemperado e pavio curto. Quando você manipula, quando você agride, qualquer pessoa que é indignada com a miséria e com a corrupção tem de ficar revoltada. É justo e humano ficar indignado."

A comparação foi feita ontem em visita à Expointer, exposição agropecuária em Esteio (RS), ao lado de Patrícia Pillar, Leonel Brizola e Antônio Britto, candidato do PPS ao governo gaúcho. Ciro frisou que não queria ser comparado a Cristo, pois "não tem o direito nem de lamber o chão onde ele pisou há 2000 anos".
Serra e a suposta manipulação feita por seus aliados foram praticamente o único tema de Ciro. No mesmo dia em que uma pesquisa Datafolha apontou que ele foi alcançado pelo tucano, reclamou dos institutos de pesquisa: "Pesquisa no Brasil tem baixíssimo nível de confiança devido a problemas metodológicos e problemas de natureza ética. É inequívoco que no Brasil hoje boa parte dos institutos põe-se a serviço das máquinas dos comitês oficiais, quando não da preparação de fraude".

Embora diga que esteja satisfeito com a campanha, Ciro já começa a modificar sua estratégia. Mais calmo, priorizou os ataques ao governo FHC, listando escândalos que devem ser levados ao ar.

Ontem, os advogados de Ciro recorreram ao TSE pedindo a restituição do tempo usado por Serra no seu programa de sábado.


Persiste empate entre Ciro e Serra em levantamento
Candidato do PPS segue com 22%, contra 21% do tucano; Lula lidera com 35%

O último rastreamento feito pelo Datafolha entre os eleitores que dispõem de telefone fixo revela a manutenção do empate técnico entre os presidenciáveis Ciro Gomes (PPS) e José Serra (PSDB). A média móvel das duas últimas pesquisas aponta Ciro com 22%, contra 21% do candidato tucano.

Como a margem de erro deste tipo de levantamento é de três pontos percentuais, para mais ou para menos, os dois permanecem tecnicamente empatados em segundo lugar. O presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, oscilou um ponto para cima e lidera agora com 35%, enquanto Anthony Garotinho (PSB) oscilou um ponto para baixo e soma 10%.

Na pesquisa espontânea (na qual o pesquisador não cita o nome dos candidatos), Lula oscilou dois pontos para cima, e aparece agora com 29% das menções. Ciro manteve os 17% do levantamento anterior, enquanto Serra oscilou dois pontos para baixo, de 13% para 11%. Já Garotinho oscilou um ponto, de 7% para 6%.

Como o rastreamento é feito só com moradores que têm telefone fixo em casa (são cerca de 54% do eleitorado brasileiro), ele não representa a opinião de todos os eleitores. Na pesquisa tradicional, que abrange todo o eleitorado, Lula tem 37%, Ciro, 20%, Serra, 19%, e Garotinho, 10% -segundo o levantamento feito pelo Datafolha na última sexta-feira.

A audiência do horário eleitoral no sábado oscilou dois pontos, de 25% para 27%, dentro da margem de erro para esta pergunta (quatro pontos). O programa de Lula foi visto por 22%, o de Serra por 19%, o de Ciro por 18% e o de Garotinho por 16%. Dos entrevistados, 28% avaliam que Lula está se saindo melhor na televisão, contra 21% de Serra e 13% de Ciro.


Polarização Ciro-Serra deve dominar encontro
Principais candidatos à Presidência se enfrentam hoje em evento transmitido ao vivo pela Rede Record

A polarização entre os candidatos à Presidência da República Ciro Gomes (PPS) e José Serra (PSDB) deve dar o tom do debate realizado hoje a partir das 21h20 pela Rede Record.

Na pesquisa do instituto Datafolha divulgada ontem, Ciro tem 20% das intenções de voto, contra 19% de Serra, em situação de empate técnico.

Com mediação, do jornalista Boris Casoy, o debate contará também com o líder nas pesquisas, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com 37% das intenções de voto pelo Datafolha, e com Anthony Garotinho (PSB), que obteve 10%.

A tensão entre o candidato do PPS e o do PSDB, que têm intensificado a troca de acusações nos últimos dias, já esteve presente na definição das regras.

A Folha apurou que a assessoria de Serra entrou em contato com a Record na última sexta-feira, pedindo que fosse alterada a disposição dos debatedores no auditório da emissora, segundo a qual ele ficará bem ao lado de Ciro.

Definido por sorteio há algumas semanas, o posicionamento dos candidatos foi mantido inalterado pela emissora.

A intenção do debate, segundo Casoy, é fazer os candidatos confrontarem suas propostas e posições políticas. "Temo, no entanto, que os ataques entre Ciro e Serra acabem dominando o encontro, o que sinceramente não seria do meu agrado. Esse debate tem um potencial explosivo", diz ele.

O debate terá cinco blocos. No primeiro, além de uma pergunta única formulada por Casoy, haverá perguntas entre candidatos, que escolherão quem responderá.

Nesse bloco e no terceiro, obrigatoriamente as perguntas deverão ser sobre programa de governo. No segundo e quarto blocos, as perguntas entre candidatos terão temática livre e no último bloco haverá nova questão formulada pelo mediador, além das considerações finais.

Se houver afirmação ofensiva, poderá ser concedido direito de resposta, a critério do mediador.
Dentro do estúdio, será permitida apenas a presença de três assessores por candidato e de jornalistas credenciados. Ao lado do estúdio haverá um auditório com capacidade para cerca de 300 pessoas, em que deverão ficar as principais autoridades convidadas pelos partidos políticos.

O debate deve durar duas horas e meia. Os candidatos José Maria de Almeida (PSTU) e Rui Costa Pimenta (PCO) não participarão.


Maluf e a velhinha do Tirol
Dona Taurina viveu quase toda a vida no Tirol, um bairrozinho pacato de Natal. Era um azougue. Não por acaso dr. Francisco Ribeiro, seu marido, repetia sempre a mesma frase: "Eu falo tão pouco, e toda vez que falo me arrependo". Morto o marido e o filho mais velho, Grimaldi, foi com ela morar a prima Alice, viúva casta e crente, que só andava de preto. Apesar disso, ao sair de casa, nunca escapou das maledicências de dona Taurina: "Pecados lhe dê o bom Deus, Alice, que padres não lhe faltarão depois".

Acabou vindo morar no Recife com seu outro filho, Sileno Ribeiro. Sileno foi, para todos os que o conheceram, uma pessoa muito especial. Advogado de nomeada, teve participação ativa na vida nacional como secretário-geral do Ministério da Justiça (ao lado de Petrônio) e confidente de muita gente importante. Com vasta cultura humanista. E sem papas na língua, como a mãezinha.

A velha sentou fama. De seu veneno provou, por exemplo, o sociólogo Gilberto Freire. Quando, esperando no terraço por Sileno, foi-lhe servido um pote com salgadinhos. Encheu a mão. Só para ouvir, na hora, o comentário de dona Taurina: "Ô meu filho, em sua casa não tinha comida, não?"

Julho de 1984. Paulo Maluf perseguia votos para se eleger presidente da República. Eleição indireta, todos lembram. Mas o governador Roberto Magalhães, que estava se acertando com Tancredo, fugia dele como o diabo da cruz. Pedindo a Sileno, seu secretário da Casa Civil, que fizesse a fineza de receber o candidato. "Estou gripado", quis correr Sileno: "Preocupe não, que ele vai na sua casa", arrematou Roberto.

A casa de Sileno fica na beira do Capibaribe. Certo é que, naquele dia, para lá foram Maluf, Marchezan, a tropa toda. Cafezinho quente e conversa fria. Sileno pediu que a mulher, Cristina, marcasse a mãe de perto. Formiga sabe a roça que come. E tudo corria bem, ao menos até Cristina ir buscar água para um dos convidados. Maluf encostou. E, usando sua reconhecida verve, acabou encantando dona Taurina. Ela então se levantou, encheu a boca, e declarou aos presentes que iria a Brasília. Para votar nele.

Maluf não perdeu tempo: "Olha, Sileno, vou dizer aos jornalistas que sua mãe vai votar em mim". Resposta curta (e grossa) de Sileno: "E eu, governador, vou dizer que o único voto conseguido pelo senhor, em Pernambuco, foi o de uma velha sem juízo".


Serra afirma ter marcado gol e critica Ciro Presidenciável tucano diz que não está atacando adversário do PPS, mas apenas "mostrando coisas que são ditas"

José Serra (PSDB) afirmou ontem ter marcado "um gol" ao comentar o resultado da pesquisa Datafolha em que ele e Ciro Gomes (PPS) aparecem empatados tecnicamente, respectivamente com 19% e 20% das intenções de voto à Presidência da República.

No clima de quem está na frente no placar ele subiu seis pontos percentuais e Ciro perdeu sete em relação à última pesquisa-, Serra falou em fazer mais gols para "ganhar a partida até o final" e aproveitou para recomendar que eleitores escolham um presidente com "equilíbrio emocional".

"O jogo começou na semana passada e nós marcamos um gol. Agora tem que ganhar até o final do segundo tempo. Temos que marcar mais gols e ganhar a partida até o final", afirmou, após repetir a declaração de que seu desempenho anterior em pesquisas ocorreu em uma fase de "treino".

Depois, o tucano voltou a usar termos do esporte e mencionou a seleção brasileira, dessa vez para falar da estratégia que sua campanha eleitoral adotará após a melhora nas pesquisas e de sua promessa de gerar 8 milhões de empregos no país em quatro anos.

"Olha, a estratégia é a da seleção brasileira. Vamos firmes, coerentes, com as mesmas posições e, acima de tudo, explicando como o Brasil vai gerar 8 milhões de empregos", declarou o tucano.

Para Serra, a proposta de governo e a explicação, no hor ário eleitoral, de como os empregos podem vir a ser gerados influenciam os eleitores e rendem votos, não os ataques para enfraquecer Ciro.

"Primeiro, não têm sido feitos ataques [a Ciro]. Nós estamos mostrando coisas que são ditas. Segundo: o que vale é o aspecto positivo. Ou seja: de nós mostrarmos como é possível o Brasil gerar 8 milhões de empregos a mais em quatro anos."

Serra, que concedeu a entrevista em São Paulo à tarde, criticou Ciro logo após afirmar que "ainda falta muito tempo" para a disputa à Presidência ser decidida. "Então, tem que se olhar cada um [candidato] para ver o que cada um fez de sua vida, o que disse, o que está dizendo, qual é o equilíbrio emocional, qual é o preparo. Para presidente da República, precisa ter tudo isso junto", disse.

À noite, em um comício que reuniu cerca de 5.000 pessoas em Sorocaba (interior de SP), Serra voltou a repetir que acredita ter marcado um gol devido ao seu desempenho na pesquisa.

"Para nós, mulher não apenas merece respeito, como está na hora de elas compartilharem o poder", disse Serra em discurso, fazendo uma referência indireta à declaração de Ciro sobre o papel de Patrícia Pillar na campanha.


Garotinho diz que será 2º colocado até dia 20
Garotinho, que considera positiva a última pesquisa Datafolha

O candidato do PSB à Presidência, Anthony Garotinho, disse ontem ser "positivo" o resultado da pesquisa Datafolha, que o consolida na quarta posição da disputa eleitoral, com 10%. O candidato afirmou que está mais próximo do segundo colocado, Ciro Gomes (PPS).

"Do ponto-de-vista estatístico, a pesquisa foi positiva, porque a diferença entre o segundo colocado e eu caiu de 15 pontos para 10", afirmou Garotinho, que ontem passou a tarde gravando para o horário eleitoral gratuito.

Ciro caiu de 27% para 20%. Garotinho se manteve dentro da margem de erro, oscilando de 12% para 10%. O tucano José Serra subiu de 13% para 19%, encostando em Ciro.

Garotinho disse apostar que até o próximo dia 20 será o segundo colocado. Ele credita a confiança em seu crescimento aos votos dos indecisos que, na pesquisa espontânea, chegam a 41%.

"Serra tomou mais voto do Ciro, mas houve eleitores do Ciro e do Lula que vieram para mim, assim como também houve outros [eleitores] que saíram de mim e foram para outros [candidatos] ou ficaram indecisos. Isso prova que o voto não está cristalizado. Tudo pode acontecer", afirmou.

Sobre o debate de hoje, na Rede Record, o candidato do PSB demonstrou que pretende partir para o ataque.
"Eu não vou para um debate água com açúcar. Vamos continuar fazendo a exposição das nossas idéias, mas mostraremos as contradições dos nossos adversários", disse.


FHC comemora "recuperada" de tucano
O presidente Fernando Henrique Cardoso comemorou como se fosse também sua e dos tucanos em geral a recuperação da candidatura José Serra (PSDB) à Presidência, num telefonema internacional de seu assessor especial Fábio Feldmann (PSDB-SP).

Falando do Brasil no sábado, antes de embarcar para Johannesburgo, onde chegou ontem, FHC disse a Feldmann, que já havia chegado à cidade: "Você já soube do Datafolha?". Feldmann disse que sim. E FHC, no plural: "Nós demos uma boa recuperada".

Os dois estão na África do Sul para a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+10) e, com o diálogo, comemoravam o resultado da última pesquisa do Datafolha, registrando o empate técnico no segundo lugar entre Serra (19%) e Ciro Gomes, do PPS (20%).

No vôo para Johannesburgo, FHC e os presidentes da Câmara, Aécio Neves (PSDB), e do Senado, Ramez Tebet (PMDB), conversaram sobre a reviravolta na eleição, mas decidiram ser cautelosos nas manifestações à imprensa.

Ontem FHC não fez nenhum comentário com os jornalistas. Perdeu, assim, uma boa chance de declarar pública e enfaticamente uma eventual satisfação com as novas chances de Serra.

"Bola rolando"
Para Aécio Neves, que lidera a disputa pelo governo de Minas, a perspectiva mais favorável a Serra "vai gerar mais engajamento, é natural". Quis dizer, com isso, que os candidatos e as bases do PSDB e do PMDB nos Estados vão querer trabalhar pelo candidato.

Até agora, o apoio era tímido, mas Aécio acha que deve crescer e, como as duas siglas têm estrutura em todos os Estados, será um instrumento poderoso pró-Serra.

Aécio considera os índices de Serra "uma tendência" e evitou cantar vitória. Segundo ele, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem uma posição consolidada em primeiro e "a bola está rolando, não há definições". Por isso, "o candidato que passar sinceridade e confiança tem grandes chances".

Disse que a posição dos tucanos nunca foi fácil, mas isso não significa que Serra tenha sido desprezado quando estava em baixa: "Ninguém nunca jogou a toalha".

Ele declarou "apoio integral" ao tucano: "Meu candidato é um só, é para ele que faço campanha, é dele que falo nos meus comícios", disse Aécio, que é apoiado por líderes mineiros que têm outros candidatos ao Planalto. E se disse contra uma campanha em que os candidatos troquem "dossiês" e se xinguem de "ladrão": "Isso é uma prática velha, superada".

Aécio defendeu a posição do ex-governador Tasso Jereissati (CE), que apóia explicitamente Ciro: "Não sou juiz para julgar ninguém", disse, analisando que é melhor uma posição aberta, como agora, do que dúbia.

ACM na "periferia"
Aos 42 anos e uma das lideranças emergentes na política nacional, Aécio acha que "esta eleição vira o ciclo de uma geração", pois os velhos líderes estão entrando no ocaso: "Muitos até voltam, mas na periferia do poder. Não serão mais o centro irradiador".

Admitiu que se referia inclusive ao ex-senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), que deve ser novamente eleito: "É uma liderança mais regional, não é mais o mesmo que foi no passado".

E ampliou o leque: "É só fazer um passeio pela geografia do poder. Começa no Norte, passa pelo Nordeste, e é uma mudança de geração que não é só etária, é de prática política". No Norte, o ex-senador Jader Barbalho é candidato ao Senado.

Tebet, que disputa a reeleição ao Senado, telefonou para sua casa no Brasil, onde almoçavam cerca de 20 pessoas, e relatou como a pesquisa havia sido recebida: "Só se fala nisso. Está uma festa".


PT espera lucrar com "guerra" Ciro-Serra
Partido compara polarização a partida repleta de cartões vermelhos, o que desgastaria vencedor para o 2º turno

O PT compara a acirrada disputa pelo segundo lugar nas pesquisas a um jogo de futebol "cheio de cartões vermelhos", em que, espera, o beneficiário maior será Luiz Inácio Lula da Silva.

A imagem é utilizada pelo deputado federal Aloizio Mercadante (SP) para ilustrar a satisfação do partido com o recrudescimento na troca de acusações entre os presidenciáveis José Serra (PSDB) e Ciro Gomes (PPS).
"Estamos na final esperando quem será o nosso adversário, em um jogo que já se mostra violento e que fará o vencedor chegar cansado e machucado", afirmou o deputado, integrante do alto escalão do partido.

Petistas ontem não escondiam o contentamento com o resultado da pesquisa Datafolha, em que a liderança de Lula com 37% foi confirmada, contra 20% de Ciro e 19% de Serra.

Oficialmente, falar em vitória no primeiro turno continua proibido dentro da campanha petista, para evitar a possibilidade de "salto alto". "Não ser presunçoso" é a palavra de ordem.

"Há uma onda positiva em torno do Lula, que pôde ser verificada em manifestações populares espontâneas no Norte e Centro-Oeste [para onde o candidato foi na semana retrasada]", diz o secretário-geral do PT, Luiz Dulci.

Ele afirma ser possível o petista crescer mais, mas mantém a linha de que o partido não t rabalha com a possibilidade de vitória no primeiro turno.

O objetivo maior do partido passa a ser atingir os 40%, chegando no segundo turno com uma margem de 15 pontos percentuais à frente de seu adversário. Espera-se que eleitores insatisfeitos com a troca de farpas na disputa pelo segundo lugar optem por Lula.

"Isso nos daria um colchão de segurança, ao mesmo tempo em que a batalha entre Ciro e Serra criará entre seus partidos um abismo no segundo turno", declara Mercadante.

A expectativa do PT é que a subida de Serra será interrompida e que ele se estabilizará no máximo em 25%. Se subir mais, chegando perto da casa de 30% possibilidade que nenhum petista descarta totalmente-, passa a preocupar o partido.

"A fotografia do momento revela que o segundo turno com Serra é o mais provável. Mas não podemos ficar no camarote esperando quem vai nos enfrentar", declara o deputado federal Arlindo Chinaglia, da coordenação da campanha lulista.

Segundo ele, o partido tem de agir, não apenas reagir. "A última coisa a ser feita é esperar sentados que caiam no nosso colo votos de eleitores de Ciro e Serra insatisfeitos com a guerra entre os dois", declara Chinaglia.

Por "agir" entenda-se intensificar o trabalho de mobilização, em ações como uma campanha alternativa contra a Alca (Área de Livre Comércio das Américas), já que o partido se retirou do plebiscito promovido pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) nesta semana, por temer desgaste à candidatura de Lula.
Outro objetivo neste momento é evitar "cair em provocações", como avalia Dulci.

O partido sabe que seus adversários tentarão fazer com que Lula abandone seu estilo evasivo de campanha, no qual ele tem evitado se comprometer com metas e críticas a adversários.


Oposição quer apuração sobre Zeca do PT
Ministério Público do Estado já preparou pedido de investigação

Os dois principais candidatos a governador de Mato Grosso do Sul da oposição pediram que se investigue "a fundo" as ligações entre o governador e candidato à reeleição, José Orcírio dos Santos, o Zeca do PT, e a quadrilha de policiais especializada em roubo e receptação de veículos que agia na fronteira com a Bolívia.
Reportagem publicada ontem pela Folha aponta que o Ministério Público de MS preparou um pedido de investigação que liga Zeca do PT e integrantes do núcleo do poder no Estado a uma quadrilha investigada entre 2000 e 2001 pela Polícia Civil e por uma comissão de promotores.

No relatório, além de Zeca do PT, aparecem o ex-secretário de Segurança Pública Franklin Masruha, o ex-procurador-geral do Estado Wilson Loubet, o advogado do PT-MS José Valeriano S. Fontoura e o desembargador Horácio Pithan, nomeado pelo governador petista em 2000.

No final de 2001, 29 pessoas da quadrilha foram condenadas em primeira instância, dentre elas, 17 policiais, a maioria PMs lotados no DOF (Departamento de Operações de Fronteira), unidade especial da polícia encarregada de atuar nos cerca de 1.500 km de fronteira com Paraguai e Bolívia.

Em segundo lugar nas pesquisas, atrás de Zeca do PT, a candidata Marisa Serrano (PSDB) espera que o suposto envolvimento "tenha um esclarecimento muito rápido e convincente".

A candidata também criticou a política de segurança pública de Zeca. Citando um documento do Ministério da Justiça, Marisa afirma que, em 1999, o Estado ocupava o 18º lugar no ranking de furtos de veículos. Em 2000, o Estado teria passado para o 11º lugar.

Para o vice-governador e candidato Moacir Kohl (PDT), que rompeu politicamente este ano com Zeca, "a denúncia é grave e tem de ser investigada".

Por meio de sua assessoria de imprensa, o secretário de Governo, Marcos Alex, classificou o relatório de "terrorismo eleitoral".

Depois de se reunir na tarde de ontem com assessores, o governador José Orcírio dos Santos, o Zeca do PT, disse a um site de notícias que a reportagem é uma "obra de ficção" e que irá processar os quatro promotores do Ministério Público Estadual que assinam o relatório, a Folha de S.Paulo e o autor da reportagem.

Zeca disse ainda que o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, e o presidente do partido, José Dirceu, ficaram "indignados" com o conteúdo da reportagem.


Campanha com as estrelas
"Não levo a sério que o apoio de um artista tenha tanta influência na escolha das pessoas." Assim Chico Buarque procurou relativizar o efeito prático do encontro em que ele e outros 400 músicos, atores e intelectuais endossaram a candidatura presidencial de Lula.

A experiência dá razão ao ceticismo de Chico, mas isso não impede que as campanhas disputem para ver quem arrebanha mais e melhores garotos-propaganda na indústria do entretenimento.

Se aconteceu em eleições anteriores, por que seria diferente quando um dos candidatos tem a mulher atriz como principal trunfo de comunicação?

Empatado com Ciro Gomes no segundo lugar, José Serra não dispõe de genérico que substitua Patrícia Pillar. Em compensação, seus programas de TV estão recheados de artistas. Eles se revezam em funções como apresentar a biografia do tucano, fazer escada para os ataques a Ciro e entoar o ex-jingle de cerveja convertido em hino pró-emprego, num estilo "Broadway vai à fábrica".

O evento de quinta no Rio indica que Lula não teria dificuldade em reunir elenco para algo semelhante, mas por ora seu negócio é exibir credenciais de petistas ilustres, na tentativa de minar a resistência de parte do público à ausência de diplomas do candidato.

As estrelas de sua propaganda são os canudos, de preferência obtidos em inglês -economista do PT não faz doutorado na Universidade Princeton; "Princeton University" soa melhor.

Ainda assim, Duda Mendonça gravou com esmero cenográfico o encontro dos 400. Entre um diploma e outro, certamente haverá lugar para essas imagens.

Até 1989 e o clipe "Lula Lá", artistas em campanha eram reserva de mercado do PT. Os poucos que aderiram a Collor levaram anos para apagar o carimbo da testa. Em 1994, a santíssima trindade da MPB se dividiu. Chico permaneceu com Lula. Caetano e Gil migraram para FHC.

Ao longo da década de 90, a participação dos artistas se disseminou pelo espectro partidário, passando a ser, com poucas exceções, remunerada e desprovida de identificação ideológica. Ivete Sangalo canta para Serra como canta para a Brahma.

Mudou também a política interna da Rede Globo, que hoje não quer mais ver seus contratados na novela e no palanque.

Em 1988, Antônio Fagundes alternava as gravações de "Vale Tudo" com as do programa de Luiza Erundina. Em 2002, Raul Cortez, protagonista de "Esperança", tem de explicar à emissora como uma festa em sua casa foi parar na propaganda de Serra.

Dos velhos tempos, sobraram as reuniões em que a classe artística cobra dos candidatos "incentivo" à cultura. Em 1994, um grupo reivindicava que Lula incluísse em seu programa "reserva de tela" para filmes brasileiros no horário nobre da TV (se adotada, tal providência derrubaria um governo mais rapidamente do que os escândalos de Collor).

A dúvida de Chico Buarque já foi objeto de muita discussão entre marqueteiros. Hoje se sabe que o uso indiscriminado de artistas nem sempre resulta em comunicação eficiente.

Funciona melhor quando o artista cumpre uma função clara como foi o caso de Patrícia Pillar nas inserções da pré-campanha. E quando se escolhe a pessoa certa para estabelecer o que o candidato nem sempre consegue: conexão com o eleitor pobre e avesso à informação política.

Dentro desse raciocínio, Zezé di Camargo faz mais por Lula do que uma dúzia de globais juntos. E Gugu Liberato serve a Serra mais do que toda a trupe reunida na casa de Raul Cortez.


Artigos

Quem está entre Serra e Ciro
Vinicius Torres Freire

SÃO PAULO - O que hoje mais diferencia os eleitores de Ciro Gomes (PPS) e José Serra (PSDB), hoje empatados nas pesquisas? A opinião sobre o governo de Fernando Henrique Cardoso e o fato de o eleitor morar no Nordeste e no Sul do país.

As demais diferenças quase se esvaneceram com o horário eleitoral. Por ora não já não parece mais muito relevante para a escolha entre Ciro e Serra o fato de o eleitor estar nesta ou naquela categoria de renda, instrução, sexo, idade, situação no emprego etc. É verdade, por exemplo, que quem ganha mais de 10 salários mínimos ainda prefere Ciro a Serra por uma margem considerável (27% a 20% das intenções de voto). Mas tal grupo de pessoas representa cerca de 9% do eleitorado.

É com seu eleitorado nordestino que Ciro mantém ligeira vantagem sobre Serra nas pesquisas. A diferença entre os dois já foi muito maior na região. Há 15 dias, Ciro batia Serra por 32% a 10% dos votos nordestinos. Agora, vence por 27% a 16%.

Foi com a reconquista impressionantemente rápida do eleitorado mais satisfeito com Fernando Henrique Cardoso, dos mais pobres e do eleitor sulista que Serra encostou em Ciro. O tucano agora bate Ciro por 33% a 20% entre os que consideram o governo FHC ótimo ou bom. No Sul, Serra vence por 30% a 18%, uma situação praticamente inversa à do mês passado.

Ciro é algo mais simpático do que Serra para desempregados, para trabalhadores autônomos, quem têm segundo grau e nível médio de renda, mas tais diferenças não foram decisivas para definir a tabela das pesquisas. Entre a grande massa do eleitorado, os mais pobres e menos instruídos, Ciro e Serra dividem os votos.

Nada impede que os candidatos avancem mais nas áreas que já dominam ou que conquistem votos de grupos de eleitores em que disputa é parelha. Enfim, essa é uma eleição especialmente imprevisível e de ainda mais escasso corte ideológico. Mas parece que a atuação de FHC e o futuro dos históricos mal-entendidos entre Serra e o Nordeste podem vir a definir o segundo turno.


Colunistas

PAINEL

Aposta na dissidência
José Serra (PSDB), embalado pela subida nas pesquisas, tenta atrair o PMDB dissidente para a sua base de apoio. O tucano já mandou emissários procurarem Orestes Quércia, que, porém, manteve seu apoio a Lula. Os próximos alvos serão os peemedebistas do Paraná e da Paraíba.

Apertem os cintos
Duda Mendonça, Nelson Biondi e Einhart, respectivamente marqueteiros de Lula, Serra e Ciro, pegaram outro dia o mesmo avião para o Rio. Biondi e Einhart, cujos patrões se batem na TV, sentaram lado a lado. No Rio, o de Ciro ainda pagou o táxi para o de Serra.

Eterno retorno
Aliados do ex-senador ACM dizem que o pefelista baiano recebeu a seguinte promessa de Ciro: se for eleito presidente, trabalhará para fazer ACM novamente presidente do Congresso. Tasso Jereissati (PSDB-CE) iria para o ministério da Fazenda.

Bendita ira
Segundo as más línguas da Frente Trabalhista, depois de chamar um eleitor de burro, brigar com um estudante, discutir com empresários e ironizar o papel da mulher na campanha, Ciro só precisa chutar a santa para enterrar de uma vez a sua candidatura a presidente.

Cuidado amigo
Logo após as eleições, FHC indicará dois de seus ministros para embaixadas de prestígio: Sergio Amaral (Desenvolvimento) será o embaixador do Brasil na ONU. E Ronaldo Sardenberg (Ciência e Tecnologia) irá para a embaixada em Paris.

Fato consumado
FHC enviará a indicação dos novos embaixadores ao Congresso logo após as eleições para que os indicados sejam sabatinados até novembro e ocupem os postos antes da posse do novo presidente. Se o cronograma não der certo, e a oposição vencer, há o risco de os indicados de FHC acabarem vetados.

Efeito light
Estudo feito pelo comitê de Lula concluiu que o petista foi o presidenciável com o maior percentual de notícias "positivas" nos quatro principais jornais do país entre 27 de julho e 23 de agosto (55% de um total de 472 notícias). Serra teve 45,5% (de 409) e Ciro, 32% (de 613).

Lições negativas
Num período em que seu coordenador de campanha, José Martinez (PTB), teve de explicar ligações financeiras com PC Farias, Ciro obteve o maior índice de notícias "negativas", com 57% do total veiculado a seu respeito. Nesse quesito também Lula acabou privilegiado, com apenas 32%. Serra teve 40,5%.

A contragosto
Pressionada por candidatos a deputado federal do PT, a cúpula do partido reduziu a participação de José Dirceu no horário eleitoral. O presidente do PT foi o único petista paulista que disputa uma vaga na Câmara a aparecer no programa.

Dado convergente
Há mais um ponto em comum entre o PT e o clã Sarney: Antônio Carlos de Almeida Castro, advogado de Roseana, passou a defender o governador Jorge Viana no processo de cassação de sua candidatura no TSE.

Saída à francesa
Sérgio Zambiasi (PTB-RS), candidato ao Senado, pediu a Patrícia Pillar um depoimento a ser favor. A atriz -que gravou mensagens para Ciro e Freire (PE)- disse que o contrato com a TV Globo "não permite".

Terceirizado
O governo contratou a empresa paulista Monitor do Brasil Ltda. para elaborar o Plano Plurianual para os períodos 2003-2007 e 2004-2011. Pelo trabalho, a empresa receberá R$ 2,4 mi.

Confirmação virtual
A empresa Truster, que usa software que "detecta mentiras", estudou as falas dos presidenciáveis no horário eleitoral. Conclusão: todos tiveram "muitas probabilidades de mentira".

TIROTEIO

De Eliseu Gabriel, candidato da Frente Trabalhista ao Senado por SP, sobre o tucano José Aníbal, que disputa a mesma vaga:
- Quem acredita que o Ciro é destemperado precisa conhecer o José Aníbal.

CONTRAPONTO

Urgência eleitoral
Candidato a vice na chapa de José Genoino ao governo de SP, o sindicalista Luiz Marinho participava de um encontro com militantes na sede do diretório municipal do PT de Promissão (SP), há duas semanas, quando recebeu uma ligação no seu celular de uma rádio de Itápolis, que pedira uma entrevista.
Por causa do barulho na sala, Marinho trancou-se no banheiro para poder dar a entrevista ao telefone.
Sem saber de nada, o candidato a deputado estadual pelo partido, Hamilton Lacerda, teve de usar o banheiro. Bateu várias vezes na porta, mas ninguém respondeu. Os minutos se passavam e nada. Já impaciente, Lacerda passou a esmurrar a porta. Finalmente Marinho saiu, ainda colado ao telefone.
Lacerda se surpreendeu:
- Que é isso, Marinho? Fazendo campanha até no banheiro?


Editorial

PACOTE SEM REFORMA

No apagar das luzes de seu segundo mandato, num momento de esvaziamento do Congresso Nacional em que as atenções se voltam para as eleições, o governo Fernando Henrique Cardoso produz mudanças econômicas no varejo. O pacote tributário da semana passada segue esse roteiro.

O governo novamente recorreu ao instituto da medida provisória. Do conceito de reforma tributária restou apenas a hipótese, reafirmada pelo secretário da Receita Federal, de que não haverá aumento nem queda de receita. A neutralidade dos pacotes oficiais, no entanto, raramente se confirmou na prática.

Na MP anunciada, discutem-se ainda os efeitos desiguais das medidas sobre indústria, agricultura e serviços. O impacto inflacionário do pacote também inspira preocupações.

Na prática, várias das medidas fazem sentido e somente não foram votadas ordinariamente no Congresso Nacional pela absoluta impossibilidade de levar os políticos ao trabalho neste período eleitoral. É o caso do fim da cumulatividade na cobrança do PIS/Pasep, cuja alíquota sobe de 0,65% para 1,65%, mas que será cobrado apenas quando a empresa agregar valor ao produto.

O pacote altera ainda a metodologia de cobrança do IPI, propiciando mais folga de caixa às empresas, em especial às exportadoras.

O governo lançou ainda medidas de combate à elisão fiscal, sobretudo a algumas modalidades de maquiagem de balanços com o objetivo de recolher menos impostos, prática conhecida como engenharia fiscal ou tributária. Fusões e cisões de empresas vinham ocorrendo sobretudo com a finalidade de burlar o fisco.
Finalmente, o pacote se completa com medidas de estímulo a empresas com atuação no Mercosul.

Definir esse pacote como uma "minirreforma tributária" é certamente um exagero. Trata-se de um conjunto de remendos a um sistema que, no seu conjunto, continua uma colcha de retalhos. O desafio de fazer a reforma tributária é legado aos futuros presidente e Congresso do Brasil.


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09/02/2002


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