Debatedores mostram descrença em mudanças profundas no Egito e na Líbia
Pouco mais de um ano após a queda do presidente egípcio Hosni Mubarak e sete meses depois da deposição do líder líbio Muammar Khadafi, o quadro político nos dois países permanece distante do cenário imaginado para a região após a eclosão da chamada Primavera Árabe, segundo alertaram os participantes de audiência pública sobre o tema, nesta segunda-feira (26), na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE).
Na abertura da reunião, presidida pelo senador Fernando Collor (PTB-AL), o professor Hussein Ali Kalout, do Centro Universitário Iesb, classificou a Primavera Árabe como o quinto momento histórico do processo político do Oriente Médio – após a era do califato, a etapa do domínio otomano, o período de domínio franco-britânico e a época da Guerra Fria. A seu ver, porém, o movimento político que se espalhou pela região não levará necessariamente à construção de estados democráticos ao estilo ocidental.
O professor Salem Nasser, da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, observou que, a cada revolução na região, segue-se uma contrarrevolução. Após a queda de Mubarak, recordou, assumiu uma junta militar que permanece no poder até hoje. Em sua opinião, mais do que democracia e direitos humanos, a disputa pelo poder na região seria a principal chave para a compreensão do atual Oriente Médio.
– O que é que deu a revolta? – questionou.
Fragmentação
A Irmandade Muçulmana, apontada como principal movimento político de hoje no Egito, poderá se desintegrar em vários movimentos islâmicos distintos, previu o professor Paulo Gabriel Hilu da Rocha Pinto, coordenador do Núcleo de Estudos do Oriente Médio da Universidade Federal Fluminense.
Depois da “enorme repressão” ao movimento nos anos 90, recordou, os militantes tentaram construir uma nova base social para suas ideias, saindo das classes médias para as classes populares e mudando o foco de atuação para ações como a criação de grupos de leitura nas mesquitas.
– A partir de então, há centenas de projetos competindo e uma pressão enorme dentro da Irmandade Muçulmana. Vai haver uma fragmentação nos movimentos islâmicos – afirmou Rocha Pinto.
O professor Mohamed Habib, da Universidade de Campinas, ressaltou que os principais candidatos às eleições presidenciais de maio, no Egito, foram ligados ao regime de Mubarak. Amr Moussa, o mais cotado para ser o próximo presidente, foi ministro das Relações Exteriores do presidente deposto de 1991 a 2001.
– Pouca coisa vai mudar. O Egito está optando por um processo político muito lento. Quem sabe algum dia acontecem mudanças? – questionou.
A Líbia, prosseguiu o professor, afundou em um “caos total” depois da queda de Khadafi. As milícias armadas, relatou, estão fora de controle, e tribos do leste do país, onde se encontram grandes jazidas de petróleo, buscam autonomia para suas regiões.
A necessidade de construção de uma nova unidade líbia foi ressaltada ao final da audiência por Collor. O presidente da comissão também demonstrou preocupação com o processo de elaboração da nova Constituição egípcia. Entre outras decisões importantes dos constituintes, recordou, estarão as de adotar ou não um Estado laico e a de definir o futuro papel das Forças Armadas.
26/03/2012
Agência Senado
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