Delegacia de Desaparecidos esclarece mais de 80% das queixas registradas



Somente no ano passado foram resolvidos 18.169 casos dos 21.893 notificados em todo o Estado de são Paulo

O corre-corre nas dependências da Delegacia de Pessoas Desaparecidas do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) revela o trabalho minucioso que investigadores, escrivães e delegado têm ao receber um registro de queixa de desaparecimento. Tanta dedicação pode ser vista em números: nos primeiros 15 dias deste ano, a polícia de São Paulo solucionou 522 casos de desaparecimento no Estado. Só em 2007, foram esclarecidos 18.169 casos, 83% dos 21.893 notificados em todo o Estado.

“Devemos estar sempre atentos aos mínimos detalhes durante as investigações, porque, muitas vezes, uma pessoa registrada como desaparecida está internada em albergues ou hospitais e não tem condições de revelar o próprio nome”, explica o delegado Francisco Magano, responsável pela delegacia.

É o que aconteceu com Ricardo (*), portador de síndrome de Down. O rapaz, de 18 anos, saiu de Sorocaba, pegou carona e veio para São Paulo. Enquanto dormia numa praça, foi abordado por policias militares que o encaminharam para o Hospital do Mandaqui. Na instituição, só conseguia lembrar uma parte do nome. O pai desesperado o havia procurado no Instituto Médico Legal (IML) da cidade e soube por um funcionário que deveria também contatar a Delegacia de Pessoas Desaparecidas. “Quando ligou aqui para perguntar sobre o rapaz, cruzamos os dados que tínhamos no computador e conseguimos localizá-lo no Hospital do Mandaqui. No mesmo dia, pai e filho retornaram para casa”, explica a investigadora Ana Rita Nogueira.

Histórias como essas repetem-se todos os dias na DHPP. Magano informa que há determinadas particularidades entre as queixas dos desaparecidos formuladas pelos parentes. “É comum o marido que quer dar uma ‘escapada’ esquecer de dar alguma desculpa para a esposa. Desinformada, a mulher registra o desaparecimento do esposo na delegacia”. Maria Aparecida das Neves sabe bem o que é isso. “No dia 29 de janeiro, meu marido Daniel foi para o litoral fazer uns ‘bicos’ e sumiu durante cinco dias. Desesperada, dirigi-me até uma delegacia e comuniquei o seu desaparecimento e o do automóvel. “Agora, que voltou, está brigando comigo, porque eu registrei a queixa aqui na delegacia e no Detran”, desabafa a jovem de 24 anos.

No caso de menores, o motivo mais comum são os maus-tratos. Já os casos de pessoas da terceira idade variam de maus-tratos a lapsos de memória.

Magano informa que existem casos não considerados desaparecimentos, e sim uma fuga. A pessoa sai de casa por vontade própria, por vários motivos, e não mantém contato com os parentes. “Tivemos o caso de um jovem homossexual. A mãe não o aceitava e ele resolveu ir embora, sem se comunicar com a família. Encontramos o rapaz e pedimos que falasse com a mãe, informando que estava tudo bem”, relata.

Estratégias

Quando uma pessoa desaparece, a família deve registrar boletim de ocorrência (BO) em qualquer distrito policial, na delegacia eletrônica ou diretamente na de desaparecidos. Todos os BOs de desaparecimento, notificados em distritos comuns, são encaminhados à delegacia especializada. No próprio boletim de ocorrência vem impressa observação contendo o telefone e o e-mail da Delegacia de Desaparecidos. Depois de registrar o boletim numa delegacia comum, Magano informa que é muito importante que as famílias levem uma foto do desaparecido. Dessa maneira, os policiais podem colocar a imagem e o nome no site da Polícia Civil.

Quando a família chega à delegacia com a foto e as características do desaparecido é entrevistada pelo delegado e investigadores. Richard Pinheiro dos Santos, chefe dos investigadores, explica que o objetivo é colher informações que possam ajudar a esclarecer as causas do desaparecimento. “Depois fazemos uma busca no sistema da Polícia Civil, onde é possível saber se a pessoa teve passagens na polícia ou se está presa. Se nada for encontrado, os policiais checam os corpos sem identificação em todos os IMLs do Estado e hospitais. É um trabalho minucioso, que exige dedicação”, ressalta.

Outros procedimentos utilizados para rastrear uma pessoa é a quebra do sigilo telefônico do desaparecido, autorizado pela Justiça, e o bloqueio do RG. A polícia rastreia as últimas ligações para descobrir a localização da pessoa. “Um homem saiu de São Paulo e não avisou a esposa. Ele tinha uma namorada no Rio de Janeiro e resolveu dar uma escapada. Rastreamos o celular e descobrimos a localização exata do desaparecido”, diz Magano.

Quanto ao RG, quando o boletim do desaparecimento é registrado, esse documento é bloqueado automaticamente e ela pode ser localizada numa blitz da polícia ou quando for tirar a segunda via da identidade.

Parceria

Os profissionais da Delegacia de Desaparecidos contam com a ajuda de psicólogos. É o projeto Caminho de Volta, desenvolvido pela Secretaria Estadual de Segurança Pública em parceria com professores de psicologia da Universidade de São Paulo, que atende às famílias de desaparecidos. O Caminho de Volta une genética, biologia molecular e tecnologia para auxiliar famílias a encontrarem menores desaparecidos.

O programa foi implantado em 2004, na capital do Estado, e até agora colaborou para a localização de aproximadamente 600 menores.

O projeto dispõe de 650 famílias cadastradas que têm ou tiveram casos de crianças e adolescentes desaparecidos. Todas recebem apoio psicológico e social, desde o momento em que registraram o desaparecimento e, mesmo após encontrarem os menores, continuam tendo ajuda. O atendimento é importante para auxiliar os familiares a compreenderem as causas do desaparecimento, enfrentar a espera do retorno e evitar que os casos se repitam.

Mudança de perfil

José Carlos Tavares, investigador há mais de 25 anos na Delegacia de Desaparecidos, explica que o perfil das pessoas que somem mudou muito ao longo desses anos. “Quando entrei no departamento, a maioria dos jovens, entre 12 e 17 anos, eram rapazes que fugiam de casa para farrear e tinham medo, depois, de voltar e enfrentar os pais. Hoje, esse perfil mudou. Grande parte dos jovens que desaparecem é do sexo feminino. “No dia 7 de fevereiro registramos um boletim de desaparecimento de uma garota de 15 anos que fugiu de casa porque os pais eram contra o namoro”.

Magano explicou a importância da baixa nos registros da Polícia, quando o desaparecido retorna ou a família o reencontra. “Sem a baixa, os policiais continuam trabalhando para localizar a pessoa. A família deve comunicar imediatamente à polícia quando o seu parente é encontrado. Assim, poderemos auxiliar outros que precisam da nossa ajuda”, finaliza.

Mais de 70 anos de história

Criada em junho de 1935, sob o nome de Delegacia de Capturas e Comunicação de Pessoas Desaparecidas, hoje Delegacia de Desaparecidos e Identificação de Cadáveres, o departamento conta com 25 profissionais (20 investigadores, quatro escrivães e um delegado). O relato mais antigo registrado na Delegacia é o de Paulo Yoshikazu Matsuda, desaparecido em 18 de março de 1957. Existem algumas situações que até ficaram famosos, como a de Isadora Fraenkell, uma das primeiras vítimas de Francisco de Assis Pereira, o ‘Maníaco do Parque’.

(*) nome fictício

Serviço

Delegacia de Desaparecidos do DHPP
Avenida Brigadeiro Tobias, 527 – 3o andar
TelefoneS (11) 3311-3547 / 3544
E-mail [email protected]

Maria Lúcia Zanelli
Da Agência Imprensa Oficial

(M.S.)



02/14/2008


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