Demostenes analisa origens do golpe militar de 1964



A instabilidade política que marcou o Brasil após a II Guerra Mundial foi analisada nesta quarta-feira (31) pelo senador Demostenes Torres (PFL-GO), com especial destaque para os eventos que levaram ao regime militar a partir de 1964.

- Jânio Quadros, que pretendia um autogolpe para voltar nos braços do povo, levou o Brasil à véspera do abismo em um ato insano. Os militares, que não confiavam no vice-presidente, João Goulart, um herdeiro sem talento do getulismo, tentaram a ruptura, mas estavam divididos e acabou triunfando a Campanha da Legalidade - assinalou.

Para Demostenes, após a crise dos mísseis em Cuba e a construção do Muro de Berlim, João Goulart não teve sensibilidade política para entender que o mundo passou a ter dois lados e para evitar a própria queda. Ele lembrou que à insegurança política juntou-se a anarquia econômica, combinando inflação com uma taxa de crescimento "que era muito parecida com a quase recessão da era Lula".

- Hoje se sabe que o ex-presidente [João Goulart] não possuía as propriedades citadas na bula ideológica da esquerda. Ele não era o avesso, mas um tipo autoritário sem tutano. Aliás, Jango expressava uma demagogia destituída de carisma - comentou, mencionando que as tão faladas reformas de base de então não passaram de "uma intenção de oratória bravateira, uma providência de palanque, irresponsável a ponto de galvanizar a antipatia de amplos segmentos da sociedade, da direita à esquerda".

A ruptura de 1964, em que os militares tomaram o poder sob o pretexto de sanar o país da "rapinagem" e da "subversão comunista", não pode ser considerada um mal absoluto, segundo Demostenes. Embora tenha criticado os "21 anos de mal-estar", a tortura, a falta de liberdade e as cassações, ele registrou que o regime militar imprimiu um crescimento econômico que fez o Brasil passsar, até o final do governo Ernesto Geisel, da 40ª para a 8ª potência econômica.

- Direitos políticos cassados, suspensão das eleições diretas, censura, prisões arbitrárias, tortura e morte para justificar o combate a um mal: a corrupção, que não foi extirpado e até se aprofundou; e a uma fantasia: o comunismo, que não passou de uma ameaça de festim - resumiu.

Demostenes também cobrou a devolução dos corpos dos guerrilheitos assassinados pelo regime militar e lamentou que o PT no governo não tenha se comprometido como deveria com esta causa levantada pelos parentes dos mortos.

Mesmo admitindo ser impossível redesenhar a história, o senador avaliou que hoje "se pode medir o quanto foi oneroso ao Brasil alimentar a ilusão de que a esquerda era por atavismo culta, competente, solidária, dona da razão, justa e honesta". Por isso Demostenes disse ter se arrependido de não ter votado em Luiz Inácio Lula da Silva já em 1989.

- Se ele tivesse sido eleito, o Brasil já teria passado por todas as inomináveis bobagens infelizmente em vigor e teria hoje um relacionamento mais maduro e responsável com a esperança - concluiu.



31/03/2004

Agência Senado


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