Desigualdade na América Latina é tema de livro lançado no Brasil



Os pesquisadores Antonio David Cattani (brasileiro), Laura Mota Diaz (mexicana) e Nestor Cohen (argentino) lançam, neste mês de outubro, o livro “A construção da Justiça Social na América Latina”, publicado pela Tomo Editorial. A obra contém 333 páginas e reúne estudos e análises sobre as desigualdades na América Latina (AL), identificando problemas e avaliando programas e as políticas públicas destinadas à construção de sociedades mais justas.

O lançamento oficial foi dividido em quatro momentos distintos. O primeiro ocorre no XXIX Congresso da Associação Latino-Americana de Sociologia (Alas), que teve início no último domingo (29), e segue até o dia 4 de outubro, na cidade de Santiago, no Chile. O evento brasileiro será realizado no final de outubro, ainda sem data definitiva, em Porto Alegre (RS). Outros dois ocorrerão no México e na Argentina.

De acordo com Cattani, que é pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), existe um esforço internacional que visa analisar as causas históricas da pobreza e, sobretudo, do processo da sua reprodução continuada na região. “Sob vários aspectos, a pobreza é igual em todo o mundo, mas é necessário compreender mecanismos específicos, muitas vezes, estritamente locais da sua permanência”, explica Cattani. “O livro questiona as relações de dominação, os acertos e as insuficiências das políticas públicas e, também, o surgimento de novos problemas como é o caso do envelhecimento populacional”.

A publicação pretende reiterar a tese de que a América Latina é o continente que oferece mais condições de desigualdade no planeta. “A riqueza existe e sempre existiu na AL, sendo, entretanto, extremamente mal distribuída. De um lado dezenas ou centenas de milhões de pobres, de outro classes abastadas em número diminuto, que concentram a posse da propriedade e do capital” ressalta Cattani. “Estudos de várias agências internacionais comprovam esta situação, que parece não ser modificada mesmo após a adoção de políticas de combate à pobreza”.

Segundo a publicação, a América Latina passa por mudanças significativas originadas nas políticas progressistas, adotadas nos últimos anos. Apesar disso, as desigualdades sociais continuam iminentes e a estrutura de distribuição da renda pouco alterada, o que exige maior aprofundamento das análises e a continuada busca por soluções.

Uma das afirmações mais marcantes do livro destaca que a desigualdade, a pobreza e a exclusão são marcas constitutivas dos processos sociais na América Latina. “No continente mais desigual do planeta, esses são temas incontornáveis em qualquer estudo sociológico e, desde os primeiros congressos da Alas, eles foram objeto de elaboradas análises empíricas e aprofundadas discussões teóricas. Da mesma forma que os privilégios das classes abastadas são cumulativos, no pólo pobreza as desvantagens se adicionam tragicamente, entre elas a descriminação  racial de gênero se soma à pobreza material, à falta de educação e aos problemas de saúde”, lembra Cattani.

Pesquisa

Os trabalhos publicados no livro foram selecionados pelo Grupo de Trabalho (GT) Desigualdade, Vulnerabilidade e Exclusão Social, durante o XXVIII Congresso da Associação Latino Americana de Sociologia (Alas), realizado no Recife (PE), em 2011. Ele reúne contribuições de pesquisadores de sete países, Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, México e Uruguai. O resultado foi à seleção entre as melhores apresentações desta edição. No total, 14 trabalhos refletem olhares críticos, além de proposições originais não necessariamente limitadas à realidade do seu próprio país, mas que dialogam com problemáticas comuns para vários países.

“Os regimes conservadores e ditatoriais, e as políticas neoliberais adotadas nas décadas de 1980 e 1990, foram responsáveis pela ampliação da brecha social e pelo crescimento do número de indivíduos e comunidades vulneráveis”, diz Cattani. “A cada congresso da ALAS, o número de envolvidos com a temática da desigualdade e dos gravíssimos problemas sociais a ela associados aumentava significativamente”, conta.

“De forma alguma, os diagnósticos finais da publicação são pessimistas. O realismo das análises se faz necessário para que haja clareza sobre as origens dos problemas, apontando a busca de soluções que dependem apenas de vontade política”, finaliza.

Basicamente dirigida a sociólogos, a obra é também direcionada aos profissionais envolvidos com o tema justiça social, como os gestores de políticas públicas, assistentes sociais, economistas, entre outros.

América Latina

No período de dez anos, a América Latina mudou significativamente. A redemocratização, a eleição de governos progressistas e as novas dinâmicas econômicas permitiram reduzir a pobreza extrema, ampliar a democracia participativa e redefinir o foco das políticas públicas, voltando-as para a maioria da população e não para os segmentos historicamente privilegiados. A desigualdade estrutural continua assolando o continente e pouco se avançou no que concerne à redistribuição de renda mais equitativa.

Ao mesmo tempo, novos problemas se acrescentam ao complexo quadro social, como é o caso, entre outros, do peso do envelhecimento da população, das formas de acesso à justiça ou da eficiência e eficácia das políticas públicas depois do desmantelamento do aparelho de Estado pelas minorias neoliberais. Mas, apesar disso, o pensamento social crítico latino-americano apresenta indispensáveis contribuições para a correta identificação dos problemas e para a busca de soluções.

O título desta obra faz menção ao trabalho coletivo de milhares de ativistas latino-americanos que lutaram e continuam lutando incansavelmente pela construção de um continente mais justo. O GT foi e continua sendo um espaço de discussão privilegiado para todos aqueles preocupados com a justiça e emancipação sociais. O lançamento desta obra no XXIX Congresso (Santiago do Chile, outubro de 2013) busca sinalizar os avanços registrados até agora e se constitui numa base de reflexão sobre o desafiador futuro.

Fonte:
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico



02/10/2013 18:00


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