Deu zebra no Ceará



 





Deu zebra no Ceará
Tucanos, petistas e aliados de Garotinho se unem para criticar o que chamaram de exploração eleitoral do jogo da seleção pelo candidato da Frente Trabalhista

Estava tudo programado para ser um “jogomício”, como diziam ontem os cearenses. Mas o presente do presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira, para o candidato da Frente Trabalhista, Ciro Gomes, acabou com uma amarga derrota. O cartola, irritado com o governo desde a CPI do Futebol, se esqueceu de avisar ao Paraguai, que venceu a seleção pentacampeã por 1 a 0 e obrigou Ciro a deixar o Estádio do Castelão tentando escapar da fama de pé-frio.

— Os paraguaios queriam ganhar da seleção pentacampeã e os rapazes do Brasil estavam em festa. Não tenho do que me queixar, não. Valeu a pena... — disse Ciro.

Antes do jogo e da derrota, em clima de festa, o candidato se encontrou com os jogadores Kaká e Cafu e com o técnico Luiz Felipe Scolari, na presença do tucano Tasso Jereissati, ex-governador do estado, e Ricardo Teixeira. O candidato até ganhou uma camisa autografada por todos os jogadores da seleção. A camisa de Kaká, entregue pelo próprio atacante, tem o número 23, o mesmo do PPS, partido de Ciro. Os jogadores posaram para fotos e concordaram em participar de gravações para o programa eleitoral gratuito de Ciro, mas o apoio ficou aquém do esperado pela coordenação da campanha, já que nem mesmo a declaração de voto de Scolari aconteceu.

— Não voto em partido, voto em nomes, em pessoas que têm algo a oferecer dentro do que a gente acha correto. Mas não vou abrir o meu voto — disse Scolari após o jogo.

O lateral-esquerdo Roberto Carlos fez restrições ao apoio:

— Não entendo nada de política e não quero me envolver. Um jogador de futebol nunca deve se envolver em eventos com fins políticos.

Adversários acusam Ciro pela derrota
Adversários na eleição, tucanos, petistas e partidários do PSB se uniram ontem para acusar Ciro de ser pé-frio e responsabilizá-lo pela derrota do time brasileiro.

— O Ciro é um tremendo pé-frio. Se a presença dele no jogo fez o time brasileiro, que é pentacampeão, perder para o Paraguai imagine o que pode acontecer com ele presidente do Brasil? — provocou o senador José Eduardo Dutra (PT-SE).

Para Dutra, além de ter de carregar o peso da derrota dos pentacampeões, Ciro também está em desvantagem pelo fato de receber a homenagem da CBF.

— Depois da CPI do Senado que investigou irregularidades na CBF, qualquer homenagem depõe contra o candidato. É claro que não foi do Kaká a decisão de fazer isso, mas dos cartolas do futebol.

O líder do PSDB na Câmara, Jutahy Júnior (BA), disse acreditar que a homenagem da CBF a Ciro tenha como pano de fundo a Medida Provisória 39, que moraliza o futebol. Jutahy disse que Ciro foi o único candidato a se manifestar contra ela.

— É muito comum quando os jogadores se sentem usados o resultado não ser bom — disse.

O coordenador da campanha de Anthony Garotinho, Alexandre Cardoso, disse que é falta de ética o uso eleitoreiro da imagem da seleção.

— Não é ético, nem responsável usar a imagem da seleção em troca de votos. O jogador sabe que está sendo usado, e deu no deu.

Na véspera do jogo, durante um jantar na casa do governador Beni Veras (PSDB), Teixeira deixou claro que veste a camisa de Ciro Gomes para a Presidência. Teixeira contou que Ciro foi o único candidato a enviar telegramas para a seleção em momentos difíceis e lembrou que é amigo de infância de Tasso.

Ciro e Tasso fizeram sua tão esperada primeira aparição conjunta em público nesta campanha. Liberado desde ontem, quando enviou carta ao comando do PSDB dizendo que não se sente mais comprometido com a candidatura de José Serra, Tasso se disse à vontade no encontro de Ciro com a seleção.

Na saída, Tasso explicou que, por isso, mandou uma carta para o PSDB: liberar Serra a fazer campanha com quem quiser no Ceará. Ele, Tasso, declarou estar fora da campanha presidencial.

Mostrando-se contrariado com os ataques dos tucanos a Ciro, Tasso rechaçou a hipótese de fingir que aquele encontro era uma coincidência.

— Coincidência, não. Por isso, mandei uma carta para o comando do meu partido. Para deixar claro minha amizade com Ciro e que estou ficando fora da campanha para a Presidência. Não vou ficar evitando encontros com ninguém, especialmente com pessoas de quem sou amigo — disse Tasso.

Ciro e sua mulher, Patrícia Pillar, chegaram ao camarote B do estádio — quase todo reservado para o candidato, Tasso e seus correligionários — por volta das 15h30m. Patrícia Gomes, ex-mulher de Ciro e candidata do PPS ao Senado, chegou quase 30 minutos depois, sentando-se quatro fileiras à frente, ao lado da cadeira destinada ao tucano. Quando Tasso chegou, Ciro levantou-se, puxando aplausos para o tucano. Tasso retribui-lhe com um aceno. Na vizinha tribuna de honra, Ricardo Teixeira, os empresários Fernando Sarney, irmão da ex-governadora Roseana Sarney, e Flávio Rocha, herdeiro do grupo Riachuelo, que recentemente organizou um jantar para Ciro em São Paulo.

De suas cadeiras, Ciro e Patrícia Pillar engrossaram fileiras de olas e torceram por uma virada no jogo depois que o Paraguai fez 1 a 0. No intervalo, deram autógrafos em camisetas — réplicas das usadas pela seleção, com o número 23 e a inscrição "Eu já sabia..." — distribuídas pelo candidato na chegada.

Antes da derrota, Ciro aproveitou o encontro para comparar a seleção ao Brasil.

— Liderados pelo Felipão, esses meninos são um exemplo de que um trabalho obstinado, disciplinado e planejado, feito com humildade, mas com muita confiança na força do povo brasileiro, pode fazer o mundo inteiro render-se em aplausos e admiração. Esse é o Brasil!


Serra enfrenta gafes
ALEXÂNIA (GO). A cem quilômetros de Brasília, a pequena cidade de Alexânia em Goiás foi palco de uma sucessão de gafes durante o comício do tucano José Serra, na noite de terça-feira. O momento de maior constrangimento foi quando a candidata a vice-presidente, Rita Camata, em seu discurso, trocou o nome do governador Marconi Perillo por Marconi Perigo. Depois de passar a tarde em Goiânia caminhando ao lado de Perillo, candidato à reeleição, Rita fez um discurso empolgado em Alexânia. Acabou tropeçando nas palavras e a emenda saiu pior do que o soneto:

— Perigo para os corruptos, para os que não querem que o país cresça... — tentou, em vão, consertar rapidamente o lapso.

Na sua vez de usar microfone, Perillo, como de praxe, começou saudando os políticos presentes. Na hora em que anunciou a presença do coordenador político da campanha, Pimenta da Veiga, outra gafe. Pimenta, que acompanhava Serra na viagem, deixou o candidato em Alexânia e seguiu de volta a Brasília, sem assistir ao comício. Assessores do evento ainda tentaram em vão procurar o coordenador, mas ele já estava longe.

Um dos momentos mais difíceis para Serra foi quando o pastor Eliel Rosa resolveu fazer uma oração.

Contrito, pediu que todos colocassem as mãos no coração e orassem juntos. Serra, que pelo jeito não compartilha da mesma fé, se recusou a acompanhar os demais e parecia rezar para que aquilo acabasse logo.

Logo depois de Serra pegar o microfone, a cidade teve um breve blecaute. Em meio a um breu total, o tucano teve que interromper sua fala. Mas, minutos depois, retomou seu discurso, prometendo a duplicação das estradas que ligam Brasília ao Rio de Janeiro (incluindo a BR-060). Mais alguns minutos e novo blecaute. O próprio Serra brincou:

— Acho que tem alguém da oposição desligando o fusível...

Na saída, Marconi Peril lo disse que continuava empenhado na campanha de Serra:

— Serra não envergonha os apoiadores dele. Não tenho desgaste algum em apoiá-lo.


Bornhausen: ‘Serra virou laranja do Lula’
Candidato da Frente Trabalhista diz que ataque no primeiro dia de propaganda na TV é sinal de desespero do adversário e considera ter sido alvo de injúria

BRASÍLIA e FORTALEZA.O PFL entrou em campo ontem para rebater os ataques feitos a Ciro Gomes no programa de estréia do tucano José Serra. O presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), assumiu o papel de defensor do candidato da Frente Trabalhista. Dele partiu a mais dura crítica ao tucano:

— O horário eleitoral estreou de forma normal, à exceção do programa de Serra que, nanico de votos, virou laranja do Lula.

Em Fortaleza, Ciro atribuiu ao desespero os ataques de Serra. Os tucanos tentaram mostrar na televisão que Ciro é destemperado, usa linguagem inacessível e desrespeita eleitores. O programa de Serra exibiu uma entrevista concedida por Ciro a uma rádio em Salvador em que ele chamava um eleitor do PT de “burro”. A entrevista foi cedida à campanha de Serra pelo Movimento Negro da Bahia, que vem protestando contra Ciro.

— Quando o candidato que tem o apoio da oligarquia e da máquina sai para o ataque já no primeiro programa está revelando desespero. Ele está desesperado — afirmou Ciro.

Ciro entrou ontem no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com um pedido de direito de resposta no programa do tucano no rádio e na TV. Considerou, em sua ação, ter sido alvo de injúria. “A montagem de áudio distorceu a realidade com o nítido propósito de injuriar”, afirmam seus advogados.

Freire também defende Ciro
Mesmo tendo sido esquecido no programa eleitoral gratuito da Frente Trabalhista, o presidente nacional do PPS, senador Roberto Freire (PE), foi um dos primeiros aliados a sair ontem em defesa de Ciro Gomes. Em nota pública, Freire lamentou o fato de o tucano ter usado parte de seu programa eleitoral, na terça-feira à noite, para “agredir” Ciro.

“Lamentamos o episódio, principalmente vindo de alguém que representa um partido que, em nossa avaliação, se insere no campo democrático. Rompendo compromissos anteriores de realizar uma campanha de alto nível, deixando de lado proposições afirmativas e fugindo do debate construtivo, o programa do adversário é o resultado da sucumbência da política ao desespero”, diz a nota de Freire.

Líder nas pesquisas de intenção de voto, o PT de Luiz Inácio Lula da Silva acredita que a briga travada entre Ciro e Serra beneficiará o petista.

— Esses ataques são ótimos para o PT! Se Ciro e Serra continuarem brigando, a tendência é que os dois caiam nas pesquisas eleitorais— avaliou o senador José Eduardo Dutra (SE), vice-líder do PT.

Em outra frente na batalha contra Serra, a direção do PFL incumbiu o senador Geraldo Althoff (SC), representante do partido na campanha de Ciro, de atrair adesões ao candidato da Frente Trabalhista. Sua primeira missão foi no Piauí, onde Serra lançou sua campanha, com o apoio do governador Hugo Napoleão (PFL). Althoff não conseguiu a adesão de Napoleão e do deputado heráclito Fortes, candidato ao Senado, mas considerou satisfatória a tarefa. Segundo ele, o objetivo do PFL é unir o partido para o segundo turno.


Briga entre PT e Petrobras vai parar na Justiça
Petista reage à acusação de que defendeu interesses de estaleiro e diz que é contradição pedir empréstimo ao FMI e depois mandar dinheiro para construir plataformas no exterior

CUIABÁ. O candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, rebateu ontem as declarações do presidente da Petrobras, Francisco Gros, que o acusou de defender interesses do estaleiro Verolme em seu primeiro programa eleitoral na TV.

— Só ele (Gros) viu. Ninguém viu defesa dessa ou daquela empresa. Fizemos, sim, uma defesa da economia brasileira, do emprego no Brasil, da Petrobras. Porque preservo a Petrobras muito mais do que muita gente, como ele. Porque, se dependesse dele, já teria vendido a Petrobras.

Dando mostras de que já esperava críticas do governo ao programa em que condenou a construção de plataformas em Cingapura, Lula afirmou que fez uma denúncia contra uma situação, e não uma defesa de qualquer empresa. O objetivo, disse, era abrir o debate sobre o assunto, sobretudo num momento em que o Brasil pede recursos emprestados ao Fundo Monetário Internacional (FMI).

— O que quisemos provar é que temos competência, engenharia, operários e estaleiros capazes de fazer a obra que estão mandando para fora. O Brasil está de um lado pedindo dinheiro emprestado ao FMI e de outro mandando dinheiro para construir plataforma no exterior — disse.

Segundo Lula, o fato de o Verolme ter sido usado como locação para o programa foi apenas uma questão operacional, que, disse, estaria sendo explorada equivocadamente por Gros.

— Eu poderia ter visitado o estaleiro Caneco, por exemplo. Só que um é no Rio e o outro em Angra dos Reis — afirmou o candidato.

Lula: assunto já foi discutido com Fernando Henrique
Dizendo-se pronto para discutir o assunto, Lula destacou que as críticas à encomenda feita pela Petrobras a Cingapura foi um dos itens do documento entregue por ele ao presidente Fernando Henrique Cardoso, no encontro de segunda-feira com os principais candidatos à Presidência da República.

Lula disse não ter dúvidas de que os operários brasileiros e as empresas nacionais estão plenamente aptos a desenvolver a obra.

— Não vou perder tempo brigando com ele (Gros), mas vamos colocar nossa equipe de profissionais para debater o assunto. E não adianta dizer que não mandou construir no exterior, porque o navio já zarpou há 14 dias, já está na metade do caminho até Cingapura — afirmou o petista.

Gros, por sua vez, pediu ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) direito de resposta no programa eleitoral do PT. Na ação, a Petrobras considera inverídicos e difamatórios os fatos apresentados pelo PT. Gros afirmou no pedido ao TSE que a estatal realizou uma concorrência internacional para a construção da plataforma P-50.

Vencedora é associada a estaleiro brasileiro
O critério comum para todos os participantes teria sido o do menor preço, “que foi oferecido pela empresa Jurong Shipyard Pte Ltd, associada, por seu turno, a uma empresa brasileira, o estaleiro Mauá-Jurong, de Niterói”.

O documento encaminhado à Justiça Eleitoral afirma ainda que Lula não mediu suas palavras ao ofender a reputação da estatal quando disse que ela “parece ignorar que é uma empresa brasileira” e que a empresa seria “subordinada ao presidente da República”. A defesa da Petrobras esclarece que o governo tem apenas o controle acionário, não o administrativo sobre a Petrobras. Gros quer, para se defender, o direito ao mesmo tempo que Lula usou no programa quando atacou a Petrobras.


FH: minirreforma pode sair por MPs
MONTEVIDÉU e BRASÍLIA. O presidente Fernando Henrique confirmou ontem que, se o projeto de minirreforma tributária que está no Congresso não for aprovado, está disposto a editar uma medida provisória para aprovar o fim da cumulatividade do PIS e da Cofins. Ele reiterou que a iniciativa é um passo importante para acabar com os impostos em cascata, mas que precisa de consenso.

— Se o Congresso não aprovar, consultarei as forças econômicas e políticas para saber da viabilidade ou de não de uma MP. Falo com cautela porque esse é um assunto que tem que ter consenso. Se sentir que existe sustentação para dar esse passo, darei — disse, pouco antes de deixar o Uruguai.

Fernando Henrique afirmou que todos os candidatos se mostraram favoráveis à reforma tributária em termos gerais, mas lembrou que não sabe se apóiam detalhes específicos dessa medida.

No encontro com os quatro principais candidatos à Presidência, segunda-feira, Fernando Henrique discutiu a necessidade de um esforço do Congresso para a aprovação de medidas adicionais ao acordo com o FMI, nesta fase de transição para o futuro governo.

O presidente da Câmara, Aécio Neves (PSDB-MG), prometeu discutir com os líderes dos partidos um acordo para começar a votar esses projetos a partir do dia 27. Mas os líderes garantem que não há clima para votar antes das eleições

O ministro do Planejamento, Guilherme Dias, vai se reunir hoje com coordenadores dos programas de governo dos quatro principais candidatos. Dias fará uma exposição das etapas que antecedem o envio do Plano Plurianual de Investimentos (PPA) de 2004-2007 ao Congresso.

Segundo alguns dos coordenadores, será discutida a preocupação do governo e dos candidatos com a perda de arrecadação de R$ 10 bilhões no orçamento do ano que vem. Para minimizar a queda, os coordenadores são unânimes em apoiar a prorrogação da alíquota de 27,5% para o Imposto de Renda da Pessoa Física. Para garantir que o imposto será prorrogado, o governo deverá editar medida provisória nos próximos dias.

— Sou a favor do imposto progressivo. Quem ganha mais deve pagar mais — disse o deputado Walfrido Mares Guia (PTB-MG), que apóia Ciro Gomes.

— Infelizmente temos que ser a favor da prorrogação das alíquotas, porque não podemos nos dar ao luxo de perder receitas tributárias — disse Luiz Paulo Vellozo Lucas, do PSDB.

— A iniciativa é boa e faz parte da iniciativa do governo de fazer uma transição suave — disse Tito Ryff, do PSB.

— Vamos apenas receber informações sobre os projetos e estudos em andamento — afirmou Antonio Palocci, do PT.


FH cria hoje maior parque da América do Sul
BRASÍLIA. O presidente Fernando Henrique cria hoje o maior parque nacional da América do Sul, com 38,8 mil km2. O Parque Nacional da Serra do Tumucumaque, no Amapá, também será o maior parque nacional do mundo em área de floresta tropical.

O novo parque vai proteger mais de 1% da Floresta Amazônica, quase o tamanho do Estado do Rio. Até agora, o maior parque do Brasil era o do Jaú (AM), com 22,7 mil km2. A maior parte da área do Parque do Tumucumaque está localizado no Amapá, na fronteira do Brasil com a Guiana Francesa. Uma pequena área fica no Pará, na margem direita do Rio Jari. Com a criação da área de preservação ambiental, o Brasil terá 49 parques nacionais.

A área que será protegida foi considerada pelos técnicos de grande importância biológica, dentro do projeto de conservação da Amazônia brasileira. O local foi identificado num trabalho do Ibama, órgão do Ministério do Meio Ambiente, e da organização não-governamental WWF-Brasil. Agora, a ONG vai destinar US$ 1 milhão para a demarcação da área, a elaboração do plano de manejo, a implementação de infra-estrutura básica e a aquisição de equipamentos.

Essas despesas de implementação serão cobertas pela Fase I do Projeto Áreas Protegidas da Amazônia (Arpa), que vai destinar US$ 68 milhões para a criação e a implantação de áreas protegidas na Amazônia até 2005.

Como tem uma grande área de fronteira, a criação do parque passou pela aprovação do Conselho de Defesa Nacional. O local abriga as nascentes de todos os principais rios do Amapá, com destaque para o Oiapoque, o Jari e o Araguari. O Oiapoque faz a fronteira do Brasil com a Guiana Francesa. O Rio Jari constitui a divisa entre os estados do Pará e do Amapá. Além disso, chamam a atenção a Serra do Tumucumaque e morros residuais que lembram o Pão-de-Açúcar, além de espécies de animais que só podem ser encontradas na região.

Fernando Henrique participou ativamente das negociações para viabilizar o parque, porque havia resistências de prefeitos da região.

— Só numa penada, o governo estará criando uma Bélgica, protegida, na Floresta Amazônica. Estamos avançando na direção do nosso compromisso de termos, pelo menos, 10% do nosso território sobre área reservada — disse Fernando Henrique, na semana passada, ao participar da reunião preparatória da Cúpula Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável, a chamada Rio+10.

Forças Armadas construirão posto
Na cerimônia de hoje, Fernando Henrique assinará uma série de atos que permitirão a criação do Parque do Tumucumaque. Além do decreto criando o parque, será editada uma medida provisória permitindo que a madeira apreendida na área seja leiloada e outro ato prevendo que as Forças Armadas tenham livre circulação na área protegida. Como se trata de área de fronteira, os militares exigiram ter amplo acesso ao parque, construindo inclusive um posto na região.

— Houve uma certa resistência por parte dos militares devido ao fato de o parque estar na faixa da fronteira.

E eles quiseram garantir na região uma infra-estrutura de defesa. Alguns militares achavam melhor ter projetos de colonização na área para reforçar a presença brasileira no local. A criação do parque foi uma luta — disse Fábio Feldman, representante do presidente na preparação da Rio+10.

Segundo o Ministério do Meio Ambiente, o Tumucumaque também será o maior parque nacional do mundo em área de floresta tropical. Até agora, o primeiro lugar era do Parque Nacional Salonga, da República Democrática do Congo, na África, com cerca de 36,5 mil km2. Além disso, ele tomará o lugar do Parque Nacional Kàlya, na Bolívia, que com 34,4 mil km2, era o maior da América do Sul.

Com a criação do parque, o total de Floresta Amazônica protegida sobe de 135,6 mil km2 para 174,5 mil km2.


Artigos

Tempestade anunciada no deserto
Luiz Garcia

Como George W. Bush e Condoleezza Rice não param de dizer que ele vai acontecer porque precisa acontecer, não é prudente duvidar que um ataque dos Estados Unidos ao Iraque é iminente. Não se conhece, claro, o objetivo exato da investida — enfraquecer Saddam Hussein, à maneira de Bush pai, ou depô-lo, como papai deixou de fazer? — mas não deve demorar muito.

É curioso que na nossa campanha eleitoral, na qual se pratica toda sorte de futurologia, ninguém fale nisso. Será que alguém acha que o Brasil nada tem a ver com isso? Ou se imagina que os americanos falam à toa?

Na semana passada, Condoleezza dizia com todas as letras que não havia alternativa: atacar era a única saída.

Esta semana, o porta-voz da Casa Branca, Ari Fleischer, sugeriu que a ação estava por pouco, ao dizer que o tempo não era aliado dos Estados Unidos.

Como seria de se esperar, o governo de Israel é a favor da guerra, quanto mais cedo melhor: adiar permitiria a Saddam acelerar seus programas armamentistas, disse outro dia um assessor do primeiro-ministro Ariel Sharon. Até o quase sempre moderado chanceler Shimon Peres afirmou preferir um ataque “o quanto antes”.

Talvez ajude a entender o belicismo de Jerusalém lembrar que na outra Guerra do Golfo apenas um cidadão israelense foi morto.

Como não seria de se esperar, nos EUA veteranos republicanos linha-dura, como Henry Kissinger, declaram a nova guerra contrária ao interesse nacional. Dentro do governo, ao que parece, o secretário de Estado Colin Powell faz discreta oposição. Na Europa, aliados como os alemães fazem alarmada oposição (o que causou, anteontem, a curta ocupação da embaixada do Iraque na Alemanha por um grupo anônimo de exilados iraquianos). Também há quem sugira uma guerra meia-bomba: os americanos destruiriam depósitos e fábricas de armas químicas e biológicas, deixando para depois a deposição de Saddam.

Para quem está de fora, mas gostaria de saber em que esse provável ataque afetará sua vida, é bom ter em mente a inquietante situação da economia americana. Bush herdou considerável superávit de Bill Clinton, e prontamente jogou a grana fora com um espetacular corte de impostos. O orçamento deste ano enfrenta um déficit considerável (a redução de impostos, a propósito, continua em vigor para os mais ricos, que menos injetam dinheiro de volta na economia). Segundo um analista, para compensar a desastrosa redução da receita fiscal, Bush precisaria vetar gastos de US$ 5 bilhões por dia durante um ano inteiro.

Há duas semanas, uma análise do “Economist” sobre a situação dos EUA começava com uma frase seca: “Os otimistas estavam errados”. A seguir, a revista inglesa enumera alguns fatores de fragilidade da economia americana — e lembra que o que acontecer nos EUA será determinante para mudanças em todo o mundo.

Não é difícil imaginar as possíveis conseqüências de um conflito armado — à maneira do anterior ou, na hipótese pior, mais longo — sobre uma economia fragilizada. Uma guerra comum, estendida por alguns anos, pode fortalecer a produção e injetar dinamismo nos agentes econômicos. Uma tempestade no deserto não tem tempo para isso.

Suas conseqüências serão todas perversas, a começar por uma inevitável disparada dos preços do petróleo. É também altamente provável que se aprofunde (com espalhados reflexos na economia internacional) o cisma entre Washington e alguns de seus aliados históricos, tanto na Europa como no Oriente Médio.

Note-se, para pôr um pouco mais de tinta preta no quadro, que não faz muita diferença o desfecho da guerra. Se Saddam for derrubado, não existe um grupo homogêneo de oposicionistas suficientemente forte para ocupar o poder. No pior cenário, imagina-se uma fragmentação do país, possivelmente tornando-o um fator de instabilidade em toda a região, por muito tempo. O que poderia ser mais potencialmente perigoso que a situação atual. Inclusive porque a vitória americana aumentaria consideravelmente as possibilidades de uma resposta terrorista.

Caso Saddam se mantenha no poder, Bush se desmoraliza — o que também pode fazer aumentar a audácia do terrorismo.

OK, é possível que nada aconteça. Que Bush desista de dar uma lição no iraquiano impudente e se lance a fazer a sua própria lição de casa. Mas a possibilidade da aventura bélica é certamente forte.

Seria reconfortante saber que no Palácio do Planalto e numa sala dos fundos dos quartéis-generais de todos os candidatos à Presidência alguém está queimando velas noite adentro, tentando analisar a situação e seus reflexos no Brasil. E também procurando meios — a serem apresentados ao eleitorado — de enfrentar prováveis problemas com o menor efeito negativo possível. Fazer isso antes que o tsunami bata em nossa praia pode representar a diferença entre um espirro e um infarto.

Ou ninguém está dando atenção ao que pode acontecer, daqui a dias, logo ali?


Colunistas

PANORAMA POLÍTICO – Tereza Cruvinel

O efeito bordoada
O ataque imediato do candidato José Serra a Ciro Gomes, já no primeiro dia do horário eleitoral, pegou o adversário e mesmo a campanha petista de surpresa. O roteiro será esse mesmo, um tempo maior para Serra apresentar suas propostas e credenciais, encerrado com golpes curtos e certeiros do locutor. Resta saber que efeito as bordoadas terão sobre os eleitores de Ciro e os indecisos.

Hoje mesmo o programa de Serra lançará novos petardos. Duda Mendonça, publicitário de Lula, costuma dizer que só batendo ninguém ganha a eleição. Mas que não bater também pode ser fatal. No caso presente, deixará Lula fora da pancadaria, a não ser que a situação venha a recomendar o contrário. Na cúpula da campanha de Ciro, acha-se que Serra está dando demonstrações de desespero e tende a ir aumentando a força dos ataques. Ele vai virar um homem-bomba, um terrorista suicida, diz um auxiliar do candidato da Frente Trabalhista, que tentará deter o tucano na Justiça Eleitoral. Como fizeram ontem pedindo um direito de resposta que, se concedido, tomará do horário de Serra o dobro do consumido em recordar as cobras e lagartos que Ciro já disse sobre os conservadores que agora o apóiam. Admitem que Ciro será ferido eleitoralmente, por mais teflon que tenha. Não sabem é quanto sangue poderá perder.

No comando da campanha de Lula, a radicalização de Serra é tida como o melhor dos mundos. Agora ouve-se por lá que será mais fácil ganhar de Ciro no segundo turno. Daí o desejo de que Serra o deixe cheio de hematomas, o suficiente para fazê-lo chegar mais fraco ao segundo turno, mas deixando-o chegar lá. Mas ficaram impressionados, tanto o comando político do PT como o grupo de marketing, com a qualidade e a agressividade do programa de Serra, que, segundo as pesquisas qualitativas da campanha de Lula, só perdeu para o do PT na avaliação de telespectadores. O de Ciro teria ficado em terceiro lugar, mas com índice de aprovação bem inferior. Mas isso é relativo, cada campanha tinha ontem sua própria avaliação.

Ferido com a decisão do ex-governador Tasso Jereissati de ficar fora da campanha de Serra, o que equivale a apoiar Ciro, o PSDB, que até defendia uma linha mais moderada na televisão, rendeu-se aos argumentos de que não há outro caminho senão o confronto aberto com Ciro. Como diz um alto tucano, Serra pode afundar, mas levando Ciro junto. Sinal da irritação tucana foi a nota dada ontem pelo presidente do partido, José Aníbal, em resposta à carta-desligamento de Tasso, que termina com uma carapuça: uma referência ao impeachment de Fernando Collor, “fato que, espero, não volte a se reproduzir na história do Brasil”.Do tucano José Aníbal sobre Jorge Bornhausen, presidente do PFL, que chamou Serra de nanico e laranja de Lula. “Ele entende disso, já foi nanico e laranja de tanta gente...”No país dos bacharéis...

A campanha de Lula chegou à conclusão, por meio de pesquisas telefônicas, que a apresentação de seu time de colaboradores foi o ponto alto do primeiro programa televisivo, que, também na avaliação petista, foi o preferido pelos telespectadores. Ao agradecer à equipe, anteontem, Lula apresentou João Sayad, Antonio Pallocci, Aloizio Mercadante, José Dirceu e outras estrelas da campanha dando-lhes o currículo acadêmico, com ênfase na formação universitária, quase todos com mestrado ou doutorado. A melhor vacina contra o preconceito que o autodidatismo de Lula desperta num pais que cultua o diploma como título de nobreza, dizem os petistas.

O recurso será usado sempre que Lula apresentar um programa setorial. Hoje será o de saúde, revelando um time de médicos e sanitaristas encabeçados pelo deputado Eduardo Jorge, secretário de Saúde da prefeitura de São Paulo. O autor do programa dos genéricos, que Serra sempre identifica mas acrescentando que foi ele que tirou a idéia do papel.

Também hoje deve ser reapresentada a cena em que Lula chora recordando a morte da primeira mulher. Uma aposta no voto das mulheres, mais reticentes do que os homens a votar no candidato petista.A Suíça na campanha

Ciro Gomes vai responder ao fogo de Serra, mas os tucanos têm munição estocada. O núcleo de produção dos programas vai mostrar que a Suíça tem presidente, sim, embora não exerça a chefia de governo. O país é administrado por um conselho de sete membros, eleitos pelo Congresso. Foi um presidente suíço, Walter Hauser, que em 1900 arbitrou o conflito do Contestado, entre Brasil e França, garantindo a posse das terras do hoje Amapá.

Tudo isso porque Ciro, dizendo tratar-se de país parlamentarista, que tem é primeiro-ministro (outro erro), chamou de burro um baiano que se referiu ao presidente da Suíça.

A Suíça entra sempre nas campanhas. Melhor que seja por ignorância, e não por contas secretas.LULA começa hoje pelo A cre seu tour amazônico. Ciro vai a Juazeiro e Sobral, no Ceará. Serra investe na agricultura paulista, em Orlândia, divulgando seu programa setorial de governo.


Editorial

CONTINUIDADE

Com todas as dificuldades da vida brasileira, projetos culturais interessantes não têm faltado. Um dos mais recentes, no Rio de Janeiro, é o que se propõe (por iniciativa da prefeitura) a dar à Orquestra Sinfônica Brasileira condições decentes de funcionamento. Está projetada a construção de um teatro na Barra, a cessão de uma sede provisória, e um apoio financeiro indispensável enquanto a iniciativa privada não tiver condições de comparecer efetivamente. Tudo isso é ótimo, justo e merecido, sendo a OSB a mais tradicional formação sinfônica do Rio de Janeiro. A pergunta que fica no ar é como fazer desses projetos algo de duradouro e consistente, e não apenas o sonho deste ou daquele governo.

Ao contrário do que acontece nos países desenvolvidos, as instituições culturais brasileiras ainda são muito jovens; e o Brasil não é exatamente um país acostumado a pensar a longo prazo. Também interfere muito nesse terreno a mentalidade que faz de cada projeto a marca registrada deste ou daquele governo.

Isso pode funcionar em termos de uma ponte, de um edifício, de um parque público. Mas há setores onde só uma visão mais longa pode funcionar efetivamente. Setores como a educação, a saúde.

A cultura não foge à regra. Seus resultados não aparecem de um dia para o outro; e a obra duradoura, aqui, é a que se beneficia da continuidade.

Uma instituição como o Teatro Municipal, por exemplo, não devia depender tanto da troca de governos. Na verdade, ele só pode funcionar bem se o critério for mais o do mérito que o da política. É um tipo de mentalidade que ainda precisamos adquirir.


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08/22/2002


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