Dilemas da Pan-Amazônia são destaque no primeiro dia do Fórum Social Mundial
No primeiro dia de debates do Fórum Social Mundial , em Belém (PA), o foco das discussões está na região amazônica, sede do evento. Nesta quarta-feira (28), batizada de Dia da Pan-Amazônia, as populações indígenas e quilombolas que habitam a floresta pretendem mostrar aos participantes - em apresentações artísticas, mesas redondas e grupos de trabalho - um pouco de sua realidade, de sua cultura e de seu modo de lidar com os recursos naturais que abastecem o mundo e aos quais elas, em especial, estão intimamente ligadas.
A programação, dividida em diversos eixos, inclui discussões sobre os efeitos das mudanças climáticas sobre a floresta, os impactos ambientais das grandes mineradoras e petroleiras e críticas aos agrocombustíveis. Também estão programados debates sobre trabalho escravo na região e integração regional, entre outros temas. Os eventos acontecem em tendas distribuídas nos campi das Universidades Federal do Pará (UFPA) e Federal Rural do Pará (Ufra).
O cacique Marcos Aporinã, vice-coordenador da Coordenação das Organizações de Índios da Amazônia Brasileira (Coiab), disse esperar que a troca de experiências entre a população da floresta e os diversos movimentos sociais do mundo que participam do fórum resulte numa postura mais responsável do planeta em relação ao meio ambiente.
- Os movimentos sociais não só têm que falar que tem que proteger, eles têm que fazer também. Muitas vezes, eles só falam 'Vamos proteger, vamos salvar'. Têm que fazer que nem a gente: ficar lá, plantando matinho, preservando. Onde tem um pedacinho de mato degrado, tem que reflorestar - disse.
Juliano Arapium concordou.
- Todo mundo fala de aquecimento global, mas ninguém faz nada. Estamos aqui justamente para dizer isso. Nós mantemos a reserva indígena em pé. Quando eu digo que nós fazemos é porque a nossa terra está lá - disse.
O representante do povo Arapium também chamou a atenção para os efeitos do desenvolvimento predatório sobre o homem da Floresta Amazônica.
- O desmatamento está avançando nas comunidades. A todo instante, os chamados projetos de desenvolvimento estão invadindo as nossas terras, propondo grandes produções de soja. Toda essa produção afeta diretamente a nossa vida. Os nossos pais saem da comunidade em busca de trabalho e acabam sendo escravizados na cidade. As hidrelétricas, como estão sendo planejadas, se forem feitas, vão mudar o curso dos rios, diminuir a quantidade de peixes que nós consumimos. Nós estamos lutando para garantir a nossa vida. Nós precisamos da natureza para sobreviver - disse.
Raíssa Abreu / Agência Senado
28/01/2009
Agência Senado
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