Dilma Rousseff: 'vivemos o início de uma nova era'
Dilma Rousseff, que na campanha presidencial mostrou-se cansada e chegou a andar com um pé protegido por bota ortopédica, inaugurou seu primeiro dia como presidente do Brasil exibindo serenidade, segurança e a consciência dos deveres que a aguardam nos próximos quatro anos. A primeira mulher a ocupar o Palácio do Planalto anunciou em plenário o "início de uma nova era".
Será um novo tempo principalmente para a mulher que, 45 anos atrás, ainda estudante, militava na luta armada durante o regime militar instalado no Brasil em 1964. E hoje, aos 63 anos, disputando a primeira eleição de sua vida, chega ao comando dos destinos do país. Um país que, como ela mesma acentuou, está num processo de afirmação diante do mundo, com seu povo "fazendo a travessia para a outra margem da história".
No início da tarde deste sábado (1º), o deslocamento de Dilma Rousseff da residência oficial da granja do Torto até o Palácio do Congresso começou sob uma chuva que foi se intensificando até tornar impossível seu desfile em carro aberto pela Esplanada dos Ministérios. Quando chegou à Catedral de Brasília, a presidente decidiu que seria mais sensato fazer o percurso em carro fechado.
Com sua filha, Paula Rousseff Araújo, ela ocupou então o Rolls Royce presidencial, atrás do qual vinha o Cadillac ocupado pelo vice-presidente Michel Temer e sua mulher, Marcela Temer. Enquanto os eleitos faziam o percurso em carro fechado, o cerimonial que cuidava da solenidade no Congresso providenciou rapidamente as mudanças por conta da chuva. As formações de fuzileiros navais e Dragões da Independência que ladeavam o tapete vermelho onde passariam os eleitos, na rampa do Congresso, foram então transferidas para o Salão Verde e a recepção aos eleitos transferida para a Chapelaria.
Ali, vestindo um tailleur pérola, Dilma Rousseff e seu vice, Michel Temer, foram recebidos pelos presidentes do Senado, José Sarney, e da Câmara, Marco Maia, sendo encaminhados ao plenário da Câmara, a fim de serem empossados. Ali, às 15h, Dilma e Temer prestaram individualmente o seguinte compromisso:
"Prometo manter, defender e cumprir a Constituição, observar as leis, promover o bem geral do povo brasileiro, sustentar a união, a integridade e a independência do Brasil".
Feito esse compromisso e lidos os termos de posse, assinados por todos os integrantes da Mesa do Congresso, Sarney declarou Dilma Rousseff e Michel Temer empossados na presidência e na vice-presidência da República. Em seguida, com os presentes cantando, a Banda dos Fuzileiros Navais executou o Hino Nacional. De pé, Dilma fez seu primeiro pronunciamento na condição de presidente do Brasil.
Nesse discurso de 40 minutos, ela apontou como prioridade atacar os principais obstáculos que emperram o desenvolvimento do país - citando as dificuldades enfrentadas na educação, saúde, segurança pública, infraestrutura, entre outras - e prometeu centrar seu governo na erradicação da pobreza e na criação de oportunidades de trabalho para todos.
Foi um discurso em que, em dois momentos, ela não conteve as lágrimas. Primeiro, quando disse que estendia a mão aos partidos de oposição e àqueles que não a apoiaram nas eleições. "A partir de hoje sou a presidenta de todos os brasileiros", disse, mal contendo as lágrimas. Depois, quando lembrou sua trajetória de luta contra o regime militar, ao mencionar antigos companheiros que com ela militaram na guerrilha. "Muitos que tombaram pelo caminho não podem compartilhar comigo esse momento. Rendo-lhes a minha homenagem", disse a presidente.
Em seguida, com um discurso em que afirmou testemunhar uma página até hoje não escrita na história do Brasil, consistente no coroamento da luta da mulher brasileira, que chega ao mais alto posto do país por meio de Dilma Rousseff, Sarney deu por encerrada a sessão.
Dali, junto com Temer, Sarney e Marco Maia, Dilma seguiu para o gabinete da Presidência do Senado, a fim de aguardar que os chefes de Estado e de missões estrangeiras que assistiram à sua posse fossem transportados para o Palácio do Planalto. Como já não chovia em Brasília, a presidente e seu vice, acompanhados pelos presidentes da Câmara e do Senado, desceram pelo tapete vermelho colocado na rampa do Congresso. Ao pé da rampa, Dilma passou a tropa em revista, ao som da "Marcha da Guarda em Revista", executada pela Banda do Batalhão da Guarda Presidencial. Nesse momento, quatro canhões situados no gramado em frente ao Parlamento dispararam 21 tiros.
Caminhando bem à vontade, ela foi até onde estava colocada a bandeira do Brasil e a beijou. Depois de trocarem palavras de despedidas com Sarney e Marco Maia, os eleitos seguiram, desta vez em carro aberto, para o Palácio do Planalto. Lá, no parlatório situado de frente para a Praça dos Três Poderes, Dilma recebeu do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a faixa presidencial e fez um discurso para a multidão que a aguardava.
Logo em seguida, Dilma foi cumprimentada pelos chefes de Estado e representantes de governos estrangeiros presentes à cerimônia. Depois dos cumprimentos, ela desceu a rampa ao lado do ex-presidente Lula e da ex-primeira dama Marisa Letícia, que se despediram do Planalto.
01/01/2011
Agência Senado
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