Docentes da Unesp usam tecnologia em novos recursos pedagógicos
Especialistas produzem softwares, jogos eletrônicos, CD-ROMs e outros instrumentos que colocam o ensino em sintonia com os dias de hoje
O crescente uso do computador nos diversos níveis de ensino está levando muitos docentes da UNESP a produzir softwares, jogos, CDs, DVDs e sites na Internet como apoio a suas atividades. Os recursos multimídia agregam sons, textos, imagens e animações gráficas, com informações nos mais diversos formatos, para estimular o entendimento e o raciocínio dos alunos. As novidades tecnológicas podem simular fenômenos naturais e experiências científicas e promover a interação entre professores e estudantes, adequando a prática pedagógica a uma geração familiarizada à informática.
“Essas novas ferramentas de ensino exploram a capacidade intelectual dos alunos e ajudam na prática pedagógica dos docentes”, diz Klaus Schlünzen Junior, assessor da Pró-Reitoria de Graduação da UNESP (Prograd) e consultor do Programa de Formação de Educadores do Ministério da Educação (MEC). (Leia quadro.)
Desde 2001, Schlünzen coordena o Núcleo de Educação Corporativa (NEC), na Faculdade de Ciências Tecnológicas, câmpus de Presidente Prudente (FCT). No NEC, já foram produzidos mais de 20 softwares educacionais para as disciplinas de Matemática e Física, entre outras. Com investimento superior a R$ 200 mil, os projetos envolveram 25 alunos de graduação e pós-graduação. Os programas podem ser acessados por professores de todo o País, para download gratuito, na homepage da Rived/MEC (Rede Internacional Virtual de Educação, do Ministério da Educação).
Oficinas do Prograd ajudam professores a assimilarem as novidades
Softwares e jogos
Duas criações do NEC destinadas ao ensino fundamental foram premiadas nas últimas edições do Concurso de Objetos de Aprendizagem, promovido pelo MEC. Uma delas é o software Por que as coisas e as pessoas têm peso? Por meio dele, o usuário pode aprender conceitos como atração gravitacional, ao participar de uma viagem virtual à Lua e planetas do sistema solar. Já em Um dia de trabalho na fazenda, as crianças recebem as primeiras noções dos números e seus significados. “Conforme o aluno conhece e interage com os personagens, pratica operações de soma e subtração inseridas no contexto do sítio”, conta Elisa Tomoe Moriya Schlünzen, docente da FCT e integrante do NEC.
Outra equipe, que já produziu 10 softwares para a Rived, reúne docentes e alunos da Faculdade de Ciências (FC), câmpus de Bauru. Entre essas produções, há simuladores de fenômenos químicos e jogos que abordam o funcionamento de átomos e moléculas. “Para construir objetos de ensino que estimulam o raciocínio e a compreensão de temas mais complexos, reunimos alunos dos cursos de Química, Desenho Industrial e especialistas em Informática”, diz Agnaldo Robinson de Souza, professor que coordena o projeto, ao lado do docente Wilson Massashiro Yonezawa.
Um dos softwares, o Feliz aniversário, dirigido ao estudo de Ciências no ensino fundamental, é baseado em um calendário onde o aluno pesquisa fatos científicos relevantes que aconteceram no dia em que nasceu. Antes de finalizado, o produto foi testado com sucesso por crianças do Centro de Convivência Infantil do câmpus de Bauru. Para a disciplina de Química no ensino médio, o grupo criou dois jogos eletrônicos em que o desafio é ultrapassar etapas, a partir do conhecimento de nomenclaturas das reações químicas e dos principais instrumentos de um laboratório.
No Instituto de Geociências e Ciências Exatas (IGCE), câmpus de Rio Claro, docentes de Matemática criaram o Grupo de Pesquisa em Informática e Outras Mídias (Gepimen). A equipe produz sites, softwares e jogos desenvolvidos com vídeos, imagens animadas, músicas, danças, pinturas e hipertextos (textos com indexações e links). “Por meio de novas tecnologias, buscamos outras formas para ensinar a Matemática”, afirma Marcelo Borba, coordenador do grupo. Com colegas da Universidade Western Ontário (Canadá), ele integra uma equipe que produziu um site sobre questões de Geometria com recursos de animação.
Uma das iniciativas do Gepimen é a adaptação do jogo RPG ao ensino dos números inteiros para alunos do ensino fundamental e de cálculos diferenciais para universitários. Para conseguir ultrapassar etapas, os jogadores interpretam personagens e têm que resolver questões de diferentes níveis de dificuldade. Orientador da pesquisa, o professor Marcus Maltempi se diz impressionado com os resultados da sua aplicação em sala de aula. “Algumas linhas de raciocínio utilizadas no RPG não são encontradas nem em livros”, aponta. “Não é um jogo do tipo perde-ganha, mas um procedimento de ensino que facilita a compreensão de conceitos por meio da vivência dos personagens”, aponta Mauricio Rosa, autor do estudo.
Simulação de fenômenos
Os recursos multimídia também ajudam a representar conceitos e fenômenos impossíveis de reproduzir em laboratório. Para simular graficamente o comportamento dos geradores durante a transmissão elétrica, Nilton Vieira Junior criou um software de controle tridimensional com animação virtual. “Essa ferramenta mostra gráficos de oscilação do funcionamento do gerador, permitindo a simulação de situações que não apenas ensinam, mas ampliam o entendimento dos alunos sobre o tema”, aponta Laurence Duarte Colvara, docente da Faculdade de Engenharia (FE), câmpus de Ilha Solteira, e orientador da pesquisa.
Ainda na FE, um outro software auxilia alunos de graduação a compreender e a vivenciar conceitos associados aos circuitos eletrônicos. “Anteriormente, devido ao grande número de possibilidades de reações no sistema elétrico, alguns tópicos desse tema eram apresentados de forma estática, o que limitava a aprendizagem do aluno”, observa Carlos Canesin, docente e autor da proposta. “Agora, esses assuntos podem ser apresentados de uma forma dinâmica, pelo computador.”
Para ajudar professores do ensino médio a abordar conceitos de massa e energia relacionados à Teoria da Relatividade, um software que une textos, filmes e animações foi criado pelo físico Daniel Iria Machado, em seu doutorado no Programa de Pós-Graduação de Física da Faculdade de Ciências (FC), em Bauru. O material foi testado por alunos do 3o ano do ensino médio de uma escola pública da cidade. “Pela diversidade de elementos de mídia, o software conseguiu prender a atenção da classe e facilitar a visualização e a interpretação dos fenômenos”, garante Machado, que foi orientado pelo professor Roberto Nardi, da FC.
Ensino com Internet
As páginas de alguns docentes na Internet também são usadas como fonte de informação e promovem maior interação com os estudantes. Um exemplo é o website do docente Antonio José Nardy, do IGCE, que abriga cerca de 200 fotos de amostras de minérios e lâminas de rochas. Criado para servir como suporte aos alunos de graduação e pós-graduação, o site já recebeu 12 mil acessos, do País e do Exterior, em dois anos. O docente escreve textos, insere artigos que acha importantes e recebe questões dos internautas. “Muitas das perguntas eu passo para os meus alunos responderem, o que estimula a investigação científica e o interesse deles pelo tema”, acrescenta.
No site bilíngüe de Carlos Flechtmann, professor da FE, o internauta pode acessar mais de 400 fotos e dados de diversas espécies de insetos. Desde 2005, 20% dos acessos são do Exterior. “É um espaço que serve de base de consulta a alunos do ensino fundamental, médio e de graduação, além de divulgação das nossas atividades de extensão, como aulas em escolas públicas e visitação ao nosso museu entomológico”, destaca o docente.
Ex-reitor da UNESP e hoje professor voluntário do IGCE, Paulo Milton Barbosa Landim também criou sua página pessoal na Internet. Como material de apoio e fonte de pesquisa a seus alunos de pós-graduaçã o e aos participantes dos cursos que ministra pelo País, ele tornou disponíveis 20 textos didáticos sobre a análise quantitativa de dados geológicos e exercícios. “Antes de assistir a meus cursos, os alunos, inclusive de outros países, podem baixar os arquivos power point das minhas aulas”, conta.
Dois sites criados pela docente Carmem Juliani, da Faculdade de Medicina (FM), de Botucatu, são dedicados à atualização de enfermeiros e estudantes de graduação. Eles abordam o gerenciamento de escalas de pessoal nas enfermarias e técnicas de aplicação de injeções. “Ensinamos a aplicação de diferentes tipos de vacinas, o descarte do material e a organização para a compra em grandes quantidades”, acrescenta a enfermeira.
Usos do CD-ROM
Carmen, que oferece cursos a distância, também produziu um CD-ROM. “Todos esses recursos são canais de comunicação que permitem maior interação com os estudantes e profissionais, mas devem ser sempre aperfeiçoados”, argumenta a docente. De fácil distribuição e alta capacidade de armazenamento de arquivos de texto, som e vídeo, o CD-ROM é um dos instrumentos mais utilizados em práticas pedagógicas e divulgação científica.
Esse recurso foi o veículo escolhido pelos docentes Danísio Munari e Isabel Cristina Boleli, do curso de licenciatura em Ciências Biológicas do Instituto de Biociências e Ciências Exatas (Ibilce), de São José do Rio Preto, para o ensino da reprodução humana. O material foi distribuído a professores do ensino médio de escolas públicas de Jaboticabal. “A partir de um levantamento, concluímos que esse seria o melhor instrumento para contribuir com a compreensão do tema nas escolas”, diz Munari.
Para reforçar o ensino de tópicos da Zoologia entre alunos da 5a série do ensino fundamental, Virginia Sanches Uieda, docente do Instituto de Biociências (IB), de Botucatu, também lançou mão do CD-ROM. Com cerca de 300 fotografias de 15 grupos de animais, a mídia traz informações sobre a classificação das espécies e a reprodução de vertebrados, além de ser acompanhada de uma apostila com exercícios de avaliação. “A idéia é aplicar o material em atividades práticas nas escolas da cidade”, destaca Virginia.
Autor da primeira revista científica eletrônica em disquete no Brasil, o professor da FM Benedito Barraviera atualmente coordena a produção de coletâneas em CD-ROM e DVD sobre doenças sexualmente transmissíveis e animais peçonhentos. Com a colaboração de especialistas, ele elaborou ainda um software no site do Centro de Estudos de Venenos e Animais Peçonhentos (Cevap) que permite apresentação de palestras ou aulas a partir de qualquer parte do mundo, com o uso de uma webcam e apoio de arquivos em Power Point e Word, além de vídeos.
Em uma época caracterizada pela explosão do conhecimento, os novos recursos de ensino são vistos por Barraviera como uma forma de acelerar a aprendizagem. Na sua opinião, a tecnologia não só contribui para a atual explosão da produção científica, como pode também ajudar a transmiti-la. “Estamos criando ferramentas que permitem aos docentes abordar um número maior de assuntos em aula”, observa.
Veja ainda: Tecnologia não diminui importância do professor
Julio Zanella
Do jornal da Unesp
(I.P.)
09/08/2007
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