Dossiê Crime Organizado é destaque na Revista Estudos Avançados do IEA
Publicação mescla estudos científicos e reportagens para compor quadro abrangente de tema atual
A revista Estudos Avançados termina o ano com análise profunda sobre um dos problemas mais graves e complexos do Brasil na atualidade. O dossiê Crime organizado é o destaque da 61ª edição da publicação do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da Universidade de São Paulo (USP).
O lançamento da revista será no próximo dia 12, na sede do IEA. De acordo com Marco Antônio Coelho, editor-executivo da publicação, o dossiê mescla estudos científicos e reportagens para compor quadro abrangente dos aspectos ligados ao tema. “Buscamos especialistas de diversas áreas e combinamos essa contribuição com entrevistas”, ressaltou Coelho.
O editor conta que o sociólogo Sérgio Adorno, um dos coordenadores do Núcleo de Estudos da Violência (NEV), e o antropólogo Luiz Eduardo Soares, que foi secretário nacional de Segurança Pública, apoiaram diretamente a produção do dossiê. “Eles nos deram várias das indicações sobre especialistas e temáticas a serem abordadas. A partir daí, fomos procurar outros nomes que tratam do tema na prática, como a direção da Polícia Federal, agentes da Pastoral Carcerária, delegados, promotores, advogados e juízes”, afirmou.
Um dos destaques da edição é a reportagem De Batedor de Carteira a Assaltante de Bancos”, produzida a partir de depoimento de Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, conhecido líder da organização criminosa PCC. “Tive acesso ao depoimento concedido por Marcola no Presídio de Presidente Bernardes, a partir de uma pesquisa feita na documentação da Comissão Parlamentar de Inquérito do tráfico de armas”, explicou Coelho, autor do texto.
Políticas de segurança – Outros artigos tratam de reflexões sociológicas sobre a criminalidade organizada nas prisões, as ações do PCC, o trabalho de inteligência da polícia, a política nacional de Segurança Pública e a representação da violência nos documentários nacionais. Um dos textos aborda o Acordo de Palermo, documento internacional de combate ao crime organizado, ao qual o Brasil aderiu formalmente. “O tratado determina o que é crime organizado. Há muita discussão sobre isso, uma vez que a legislação penal brasileira não faz essa definição. Ele não pode ser confundido, por exemplo, com terrorismo, que tem motivação política – e não a obtenção de lucro – como característica fundamental”, disse.
Outra discussão de destaque é o preparo da polícia. “A má remuneração, que leva o policial a fazer serviços paralelos, a precariedade dos sistemas de inteligência, a falta de preparo e de equipamentos foram apontados como fatores que dificultam o combate ao crime organizado”, afirmou Coelho.
Uma das contribuições diagnostica a ineficiência das políticas públicas na área. “Quando há uma massa de pequenos traficantes, para os quais o tráfico é uma alternativa ao desemprego, como se pode sustentar a repressão? Colocar todos na cadeia e pressionar ainda mais a lotação dessas escolas de crimes que são as penitenciárias não parece uma boa solução”, destacou o editor.
Fábio de Castro
Da Agência Fapesp
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Mais informações, no site www.iea.usp.br