Elias Gomes critica apoio de Lyra ao PT








Elias Gomes critica apoio de Lyra ao PT
Decisão de Lyra em abandonar a candidatura de Ciro Gomes abre nova crise no PPS

A decisão do ex-deputado federal Fernando Lyra (PPS) de trocar a coordenação da campanha do presidenciável Ciro Gomes (PPS) pelo apoio à candidatura do petista Luiz Inácio Lula da Silva gerou novo conflito no PPS. O presidente regional do partido, Elias Gomes, considerou inoportuna e equivocada a saída de Lyra, justamente no momento em que o partido tenta rearrumar a legenda e evitar novas baixas importantes. "Não costumo sair do embate nas horas de dificuldade. Eu resisto", reclamou Gomes.

Lyra não deixou sem resposta às críticas feitas pela direção do PPS. Num tom irônico, o ex-deputado disse compreender a posição do correligionário. "Como presidente do PPS, que ainda tem Ciro Gomes como candidato a presidência da República, entendo sua postura. Entendo a sua inveja por não poder tomar a posição que eu tomei", afirmou. Na visão do ex-parlamentar, sua atitude em anunciar o apoio a Lula traduz um sentimento de oposicionista do povo brasileiro.

Para Lyra, sua postura é oportuna porque ela deve ser dada agora, no primeiro turno para evitar o acúmulo de centro-direita no segundo turno da eleição. "É uma posição política amadurecida e na minha maneira de ver é sintonizada com a oposição brasileira", afirmou. Ele ressaltou, ainda, que todos aqueles que lutaram contra a ditadura e que têm compromisso político com o rompimento do atual sistema e com as mudanças reais do quadro social do País devem seguir o mesmo caminho trilhado por ele.

Gomes rebateu os argumentos defendidos por Lyra, alegando que sua passagem para o lado dos petistas já era esperada. Prova disso, seria o apoio que o ex-deputado vem dando ao seu irmão, João Lyra, que já havia trocado o PPS pelo PT. "Não considero um fato novo. Essa manifestação é algo que já tinha se dado. Mesmo com sua saída, o PPS não fica com a posição de hostilizar quem deixa o partido. Acreditamos que eleição não se decide com personalidades", comentou.

Para tentar evitar novas baixas, a executiva estadual do PPS reuniu-se no último sábado com o presidente nacional dalegenda, senador Roberto Freire. No encontro, eles decidiram cair em campo para manter a aliança com os partidos que compõem a Frente Trabalhista. Para tentar convencer o PDT e o PTB que uma aliança com o PPS pode ser vantajosa, os pós-comunistas vão apresentar os números eleitorais da campanha passada obtidos pelo partido com o voto de legenda.


Amigo de Serra enfrenta novo processo
Procurador diz que denúncias contra ex-diretor do BB são conhecidas pelo MP desde o carnaval de 2001

RIO - O procurador federal Luiz Francisco de Souza afirmou ontem que o Ministério Público deverá abrir um novo processo contra o ex-diretor do Banco do Brasil, Ricardo Sérgio. Ele disse que o MP não se surpreendeu com a denúncia da revista Veja de que o ex-diretor do Banco do Brasil, Ricardo Sérgio teria tentado cobrar comissão do empresário Benjamin Steinbruch no leilão da Companhia Vale do Rio Doce. Segundo ele, Ricardo já responde a outros processos e os dados da reportagem só complementam as informações que o MP já tinha desde o carnaval do ano passado, quando o então senador Antônio Carlos Magalhães denunciou que o ex-diretor teria recebido propina na privatização da Telebrás.

"O quadro já estava posto desde o carnaval do ano passado e vai se consolidando a cada dia, com indícios de crescimento patrimonial em total descompasso com a renda de uma pessoa, ligação com empresas nas Ilhas Virgens e negócios imobiliários. O órgão não tem estrutura e tentamos a duras penas encaminhar as investigações. Talvezdentro de 30 ou 40 dias já tenhamos um processo contra ele" afirmou.

Ele argumentou que o governo manteve Ricardo Sérgio no BB mesmo após a tentativa de cobrança de comissão e que escondeu o fato quando tinha obrigação de revelá-lo. "A informação foi guardada pelo presidente e por dois ministros como algo que devia ser escondido mas a obrigação de qualquer cidadão que sabe de um crime é dar ciência dele à polícia ou ao Ministério Público", disse. Sobre o leilão da Vale, o procurador afirmou que as jazidas da companhia foram subavaliadas e que a empresa poderia ter sido vendida por um preço muito maior."São denúncias gravíssimas que tratam da maior mineradora do mundo, do sistema Telebrás e dos fundos de pensão. São R$ 3 bilhões só da Vale do Rio Doce e R$ 22 bilhões da Telebrás", destacou.

Já o líder do governo na Câmara, deputado Arnaldo Madeira (PSDB-SP), disse ontem que a denúncia contra o ex-diretor do Brasil Ricardo Sérgio está "no nível da fofoca". Segundo ele, "transformar fofoca em fato políticorelevante é bem ao estilo da oposição". Para o deputado, se há algo a investigar, a Justiça deve se encarregar do caso. Ele criticou ainda o procurador Luiz Francisco de Souza,que afirmou que o preço da Vale foi subavaliado pelo governo. "Ele é conhecido por sua leviandade e não tem conhecimentos técnicos para contestar o que foi feito", sustentou.


TCE processa 15 prefeituras do Estado
Punição é motivada pelo não envio de Relatórios de Gestão Fiscal ao tribunal, podendo gerar multas

O Tribunal de Contas do Estado está processando 15 prefeituras pernambucanas porque deixaram de encaminhar os Relatórios de Gestão Fiscal do último quadrimestre de 2001, como obriga a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Os prefeitos terão o prazo de trinta dias para apresentar suas defesas e podem ser punidos com multas, como prevê a Lei de Crimes Fiscais (lei nº 1028). A lei estabelece o desconto de até 30% no valor do salário dos atuais prefeitos que descumpriram a LRF.

A inadimplência das prefeituras com as exigências do artigo nº 57 da LRF atinge mais de 50% dos municípios pernambucanos. De acordo com o diretor de Controle Externo do TCE, Luiz Eduardo Antunes, apenas 47% das prefeituras enviaram os Relatórios de Gestão Fiscal no prazo exigido pela lei. Antunes atribui o atraso ao "descaso" dos prefeitos. Segundo ele, o ano passado - primeiro ano de vigência da LRF - o tribunal foi flexível com os prazos, adotando uma postura mais pedagógica. Foram enviados técnicos doTCE para dar cursos sobre a LFR aos gestores municipais.

Antunes disse que inicialmente o tribunal está abrindo 15 processos contra prefeitos inadimplentes com a LRF. Mas já existem na agulha mais 75 processos a serem instaurados contra prefeitos pernambucanos pelo mesmo motivo. Em sua opinião é injustificável que após dois anos de vigência da lei, as prefeituras ainda tenham dificuldades em apresentar as informações sobre suas receitas e despesas, para a avaliação do tribunal.

REAÇÃO - A Associação Municipalista de Pernambuco (Amupe) está convocando todos os prefeitos associados para alertá-los sobre a necessidade de cumprimento da LRF. Sérgio Miranda, presidente da Amupe, disse que os municípios têm dificuldades em elaborar os relatórios porque não possuem pessoal técnico qualificado. "A maioria dos municípios não implantou sistemas de controle interno", disse. Miranda culpa os contadores públicos contratados pelas prefeituras pelo atraso na emissão dos documentos ao TCE.


Governo promete controle nos gastos
BRASÍLIA - A área econômica do Governo promete ser rigorosa com os gastos públicos no segundo semestre, mesmo sendo um ano de eleições. "Vamos cortar o que for necessário para cumprir as metas fiscais", afirmou o secretário do Tesouro Nacional, Eduardo Guardia. E os cortes virão acompanhados de aumento de impostos, como já avisou o ministro da Fazenda, Pedro Malan. Isso porque os técnicos acreditam que só cumprindo as metas, como vem fazendo desde 1999, o Governo conseguirá afastar a desconfiança do mercado.

O acordo com o FMI prevê superávit de R$ 34,1 bilhões nas contas públicas até setembro. No primeiro trimestre, as contas fecharam apenas R$ 150 milhões acima da meta de R$ 11,4 bilhões do período, sem a folga obtida nos meses anteriores. Esse resultado apertado contribuiu para uma onda de nervosismo que, somada à atitude conservadora do Comitê de Política Monetária (Copom) de manter a taxa básica de juros (Selic) em 18,5% ao ano e ao crescimento nas pesquisas do pré-candidato do PT, Luís Inácio Lula da Silva, levou bancos e empresas de avaliação de risco a rebaixarem a classificação da dívida brasileira.

A certeza de Guardia de que as metas serão cumpridas é compartilhada pelo chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes. "Não é um cenário fácil, mas a programação de dispêndios nos permite dizer que vamos cumprir a meta", disse.

O principal problema que o Governo enfrenta para cumprir as metas de política fiscal é o rombo aberto na arrecadação pelo atraso do Congresso em votar a emenda constitucional que prorroga a Contribuição Provisória sobre a Movimentação Financeira (CPMF). A conta já está em R$ 2,940 bilhões e crescerá R$ 420 milhões a cada semana de atraso. Estimativas pessimistas do Congresso falam numa frustração de receitas de R$ 6 bilhões, mas o ministro Malan afirma que esse é um "flagrante exagero". Um esboço sobre como esse rombo será tapado ficará pronto até o final deste mês.

A Lei de Responsabilidade Fiscal determina que o Tesouro Nacional preste contas a cada quadrimestre sobre o comportamento da arrecadação e dos gastos públicos. Deve também apresentar estimativa sobre o comportamento das contas fiscais no restante do ano. "Vamos reprogramar as despesas para o ano e mostrar quais medidas serão necessárias para o cumprimento das metas", disse Guardia. "Pode ser que, até lá, ainda tenhamos indefinições com relação à CPMF".


"Bush espalha a guerra"
Entrevista Luiz Alberto Moniz Bandeira

Hugo Chávez ainda não está seguro no poder. A sua derrubada é parte importante de uma estratégia militar americana, que considera o domínio completo do bloco andino. Sua ajuda à Colômbia envolve uma estratégia de guerra, que tem, entre outros objetivos, o controle das nascentes do rio Amazonas. Aliás, os EUA cobiçam a Amazônia desde o século 19, quando ambicionavam uma ocupação semelhante a que fez do Texas. Essas conclusões são do cientista político Luiz Alberto Moniz Bandeira, 67, professor titular de Política Exterior do Brasil (aposentado) da Universidade de Brasília. Com mais de vinte obras publicadas, entre elas, bestsellers como O Feudo: De Martí a Fidel e O Governo João Goulart, ele é um dos mais importantes analistas de política internacional da atualidade. Recebeu a Cruz do Mérito (Primeira Classe), da República Federal da Alemanha e é comendador da Ordem do Rio Branco (Brasil, Itamaraty). Atualmente, radicado na Alemanha, ele concedeu esta entrevista exclusiva, onde analisa as crises de diversos países da América Latina, a situação do Brasil, o avanço da Direita na Europa, além dos conflitos no Oriente Médio.

Diario de pernambuco - O senhor considera que a situação na Venezuela está resolvida ou vislumbra nova tentativa de desestabilizar Chávez?

Luiz Alberto Moniz Bandeira - A crise na Venezuela não está superada. Ela se aguça desde 1989, quando, apenas alguns dias após a ascensão de Carlos Andrés Pérez, da Acción Democrática, à presidência, o povo saiu às ruas para expressar repúdio ao pacote econômico - um duro plano de ajuste, nos moldes exigidos pelo FMI e que ele pretendia aplicar. A violenta série de distúrbios e saques, culminou com quase 300 mortos e o ambiente de descontentamento recresceu de tal modo que levou o então tenente-coronel Hugo Chávez, comandando cerca de 300 efetivos, a tentar um golpe de Estado, em 3 de fevereiro de 1992. O golpe fracassou, mas Chávez tornou-se tão popular que se elegeu legal e legitimamente presidente da Venezuela, em 1998, à frente do Movimiento V República (MVR), com a promessa de promover "una revolución pacífica y democrática". A Venezuela, desde que Chávez assumiu o poder, em fevereiro de 1999, com seu nacionalismo de esquerda, configuraram um problema para os EUA, não apenas por que ele se aproximou de Fidel Castro e se reuniu com os chefes de governo do Iraque, Saddam Hussein, e da Líbia, Muammar Kadafi, mas também porque a Venezuela, dentro do Bloco Andino, passou a constituir o contraponto do Brasil, na defesa do Mercosul e na resistência à implantação da ALCA e à intervenção multilateral na Colômbia. A CIA e outros serviços de inteligência dos EUA, obviamente, encorajaram e favoreceram o golpe de estado contra Chávez, orquestrando as operações encobertas (covert actions), tal como fizeram no Brasil, em 1962/64, e no Chile, em 1971/73. Algo nesse mesmo estilo foi que ocorreu na Venezuela. Tomado o poder, o setores conservadores e radicais, representados pelo o contra-almirante Carlos Molina Tamayo e o multimilionário Isaac Peréz Recau, induziram Pedro Carmona a firmar um decreto, com que ele se reservou a faculdade de destituir governadores e prefeitos eleitos, derrogou a Constituição aprovada em referendum, em dezembro de 2000, e dissolveu a Assembléia Nacional. Esta iniciativa assustou o chefe das Forças Armadas, Efraín Vásquez, que havia apoiado a manifestação popular e ordenara a detenção de Chávez, e ele retirou o apoio dos quartéis. E, enquanto as camadas mais pobres da população, favoráveis a Chávez, ocupavam as ruas de Caracas, saqueando as lojas, e a agitação se espraiava pelas cidades de Guarenas, Los Teques, Coro e Maracay, a brigada de paraquedistas, comandada pelo general Raúl Baudel, assim como outros regimentos se sublevaram contra a presidência de facto de Pedro Carmona.

DP - A ingerência dos Estados Unidos na Colômbia vai ficando cada vez mais forte. O que se pode esperar para breve para aquele país e as conseqüências para o resto do continente?
Moniz Bandeira - O interesse dos EUA na Colômbia não é apenas o de combater os cartéis de cocaína e o tráfico de drogas, mas também o de controlar e possuir bases nas nascentes do rio Amazonas, que se encontram na Venezuela, Colômbia, Peru e Bolívia. O Plano Colômbia, concebido segundo uma lógica militar, equaciona o conflito exclusivamente em sua dimensão armada, destinando mais de US$ 1,2 bilhão - cerca 80% dos US$ 1,3 bilhão prometidos pelos EUA - à compra de material bélico, inclusive aviões, 30 helicópteros tipo Black Hawk e 33 tipo Huey, pelo Exército colombiano, e apenas US$ 238 milhões à promoção dos Direitos Humanos e ao reforço da democracia e do sistema judicial. Em realidade, o Plano Colômbia encobre uma estratégia de guerra, da qual a rede de bases, instaladas em Manta (Equador), em Beatrix (Aruba) e Hato (Curaçao), constituía um dos componentes essenciais, e tudo indicava que os EUA repetiriam a experiência de Kosovo, dado que uma intervenção por terra custaria muitas perdas de vida. Moveriam, portanto, a guerra através de intenso bombardeio das regiões dominadas pelas FARC e o ELN, complementado com a aspersão de agentes biológicos sobre os cultivos de coca. A falta de apoio do Brasil, Venezuela e Panamá arrefeceu o propósito de uma intervenção multilateral na Colômbia, como os EUA pretendiam. Mas, desde os atentados de 11 de setembro, qualquer insurgência a administração George W. Bush passou a identificar como terrorismo, pretexto para a guerra que ele pretende levar a todas as partes do mundo. O Departamento de Estado incluiu as FARC, o Exército de Libertação Nacional e os grupos paramilitares na lista das organizações terroristas mais perigosas do mundo. Dentro desse contexto, a derrubada de Chávez revestia-se de fundamental importância estratégica, na medida em que permitiria aos EUA controlar todo o Bloco Andino e distender se u virtual domínio, desde o Caribe e o Panamá, passando pela Guiana, até a Colômbia, Equador e Peru, já transformados seu em estados-clientes, espécie de protetorados ou colônias informais. A Colômbia converteu-se no terceiro maior beneficiário da assistência militar dos EUA, abaixo de Israel e do Egito. O Equador, com a economia dolarizada e o aeroporto de Manta elevado à condição de importante base militar, tornou-se o centro de suas operações, como Honduras, durante as guerras na América Central nos anos 80. Somente faltava o controle sobre a Venezuela, engolfada em profunda crise econômica, social e política, desde o início dos anos 90.

DP - Como o senhor analisa a situação da Argentina? Há a possibilidade de intervenção militar? Economicamente, o Brasil pode ser a Argentina de amanhã?
Moniz Bandeira - A Argentina debate-se em uma crise estrutural, desde pelo menos o início dos anos 50, porque não superou sua condição de país predominantemente agrícola, exportador, sobretudo de trigo e carne, da qual a Grã-Bretanha decadente deixou de ser seu principal mercado, e não conseguiu modificar sua inserção internacional, dado que sua economia e a dos Eua não são complementares. Não creio em intervenção militar, na crise da Argentina, dado que suas Forças Armadas estão enfraquecidas e desacreditadas. Com respeito ao Brasil, não creio que ele possa ser a Argentina de amanhã, dado que suaeconomia, apesar da vulnerabilidade externa, é muito mais sólida e o governo de FHC vem realizando rigorosa política fiscal. O Brasil é um global trader, as manufaturas desde há muito suplantaram as commodities na sua pauta de exportações. Decerto o Brasil deve aumentar suas exportações, para obter superávits na balança, avançando em mercados como a China e a Índia. A ALCA é uma ilusão.

DP - Qual o futuro do o Mercosul?
Moniz Bandeira - Não obstante as dificuldades, o Mercosul deve sobreviver, inclusive porque não há outra saída para a Argentina senão associar-se e integrar-se com o Brasil, que é o seu mercado natural e já absorve cerca de 30% de suas exportações, a fim de melhorar sua posição internacional.

DP - Periodicamente, a Amazônia é tema de circulares pela Internet. Quais os verdadeiros interesses dos EUA ali e que postura assumem os países que a têm no seu território?
Moniz Bandeira - Já em meados do século XIX os EUA cobiçavam a Amazônia. Em 1848, o americano Jositua Dodge procurou Filipe José P. Leal, ministro do Brasil em Washington, para propor a emigração de 20.000 pessoas, que se localizariam no Pará. Em 1852, James Gadsden, político influente em Washington, pretendeu fixar seus escravos às margens do Amazonas e, em 1853, outro cidadão, chamado Collins, apareceu com o plano de naturalizar-se brasileiro e levar 500 pessoas para aquela região. À mesma época, o tenente Andrew Fontaine Maury fundou uma companhia Amazon Mail Steam Ship Co., para colonizar a Amazônia, e várias expedições se organizaram com o apoio velado ou aberto do governo americano. E a partir de 1849 deflagrou nos EUA a campanha para abrir o rio à navegação bem como "republicanizar e anglo-saxonizar" a região, constituindo a República Amazônica. Sérgio Teixeira de Macedo, ministro plenipotenciário do Brasil nos EUA, advertiu então Paulino José Soares de Sousa, ministro dos Negócios Estrangeiros, que "a franqueza de navegação (do Amazonas) iria abrir a porta à formação de estabelecimentos americanos, a uma grande imigração deles e, por conseguinte, à manobra com que se verificou a usurpação do Texas". Macedo não acreditava que houvesse "um só país civilizado onde a idéia de provocações e de guerras seja tão popular como nos EUA". Ele temia a possibilidade de que os EUA se estendessem à Venezuela, Nova Granada (Colômbia), Equador e se tomassem limítrofes do Brasil. A partir daí seria difícil contê-los e não perder a Amazônia. Também outro diplomata brasileiro, Duarte da Ponte Ribeiro dizia que, se os americanos colonizassem aquele território, dizia Duarte da Ponte Ribeiro, "ele se tornaria ipso facto mais um Estado da União". Se o Brasil cedesse, temendo as ameaças, feitas em termos de ultimatum, grupos de americanos emigrariam para as margens do Amazonas e fomentariam o separatismo, tal como no Texas e na Califórnia. O Governo dos EUA, para defendê-los, invocaria o direito de primi occupantis. Caso o Brasil, porém, insistisse no fechamento, restar-lhe-ia a alternativa de reclamar pelas armas o que apresentava como jus naturalis. A proposta para transplantar os escravos negros americanos para a Amazônia foi renovada por volta de 1862, durante o governo de Abraham Lincoln. Entre os fins do século XIX e o começo do XX, os interesses norte-americanos voltaram-se outra vez para a Amazônia, gerando o caso do Bolivian Syndicate, ao qual o barão do Rio Branco reagiu, incorporando o Acre. Na década de 1920, foi estabelecida a Fordlândia na Amazónia. E, depois do golpe de 1964, houve o projeto do Hudson Institute.

DP - Atualmente, as pesquisas sinalizam uma vitória de Lula à presidência do Brasil. Caso seja eleito, que condições de governabilidade terá enfrentando demandas sociais gigantescas e um cenário mundial turbulento?
Moniz Bandeira - Creio que Lula terá condições de governabilidade, apesar das demandas sociais enormes e da turbulência no cenário mundial. Ele é sensato, prudente, e decerto não se deixará pressionar pelos setores radicais do PT. Não vejo o menor problema, se Lula for eleito e mantiver a confiabilidade do Brasil para os investidores internacionais. Essa é a questão fundamental.

DP - O aumento de manifestações contra Israel sinaliza algum tipo de intolerância do tipo que resultou na Segunda Guerra?
Moniz Bandeira - Sim. Sinaliza. Em 1969, em uma nota à página 48 do livro de Isaac Deutscher - O Judeu não Judeu - por mim traduzido para a Editora Civilização Brasileira e publicado em 1970, escrevi que: "Com a criação do Estado de Israel, os judeus se nazificaram, chegando a usar contra os estados árabes métodos hitleristas de conquista do espaço vital e na imposição do sei Israel über alles". Ariel Sharon, com a sua política, vai absolver e santificar Hitler, fazendo os feitos do nazismo parecerem uma obra humanitária.

DP - Os leitores têm grande curiosidade sobre duas questões envolvendo o Oriente Médio: por que Israel desobedece impunemente aos pedidos de que saia dos territórios que ocupou? Por que os países árabes não se unem militarmente em apoio da palestina? A ONU está cada vez mais enfraquecida, especialmente nos episódiosrecentes da Palestina. Ela ainda tem poder ou o seu limite são os interesses dos EUA?
Moniz Bandeira - Israel desobedece porque conta com o respaldo dos EUA, cujas determinações não passam de lip service. A equipe de Bush - e ele próprio - é constituída por símiles de Jean-Marie Le Pen, ou seja, pela extrema direita do Partido Republicano. Os árabes não se unem militarmente aos palestinos devido a fatores diversos e complexos, a acordos que foram firmados ao longo desses anos e ao fato de que o Egito é o segundo maior cliente da ajuda militar dos EUA. Na atual situação, em que os EUA se tornaram praticamente a potência militarmente dominante, a ONU enfraqueceu-se. Seu poder realmente é limitados pelos interesses dos EUA, que retomaram o unilateralismo na política internacional.


Israel mostra plano de paz a George Bush
TEL AVIV - O primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon, viajou, ontem, aos Estados Unidos para levar ao presidente George W. Bush sua proposta de plano de paz, após uma maciça ofensiva israelense na Cisjordânia. O líder israelense de direita disse que, em seu quinto encontro com o presidente norte-americano, vai apresentar "um plano sério, possivelmente o mais sério".

Fontes políticas israelenses indicam que o plano reflete sua proposta anterior de um acordo interino de longo prazo, pelo qual os assentamentos israelenses em áreas palestinas seriam mantidos. A idéia desagrada a Autoridade Nacional Palestina e contraria as aspirações de criação de um Estado palestino.

Enquanto isso, novos ataques aconteceram ontem. Uma mulher palestina e dois de seus filhos foram mortos por soldados de um tanque israelense. Eles foram atingidos depois que uma mina explodiu com a passagem do tanque. Os soldados atiraram indiscriminadamente contra pessoas que se movimentavam em um matagal, matando a mulher e as duas crianças.

Na Cisjordânia, forças israelenses fecharam os acessos à cidade de Tulkarem e atacaram o campo de refugiados adjacente. Fontes militares disseram que trata-se de uma operação "cirúrgica" contra militantes palestinos que estariam planejando outros ataques a Israel.

Ontem, segundo uma rádio de Israel, os palestinos e israelenses chegaram a um acordo para pôr fim ao cerco à Basílica da Natividade em Belém (local onde nasceu Jesus Cristo).


Colunistas

DIÁRIO POLÍTICO – César Rocha

Liberdade condicional
Ficou claro nos últimos dias que o processo de construção da democracia brasileira pode avançar, mas desde que dentro de certos limites. Nos limites impostos por agentes do mercado financeiro. O crescimento de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a queda do senador José Serra (PSDB) nas pesquisas eleitorais foram interpretados como uma ameaça pelos bancos Merrill Linch, Morgan Stanley, ABN Amro e Santander. Bastou isso para que as bolsas do País despencassem e que o dólar se valorizasse. Em mais alguns meses, caso o cenário eleitoral se mantenha estável, o Brasil poderá passar por momentos difíceis de instabilidade econômico-financeira. Simplesmente porque banqueiros estrangeiros não aceitam que a população escolha um projeto político diferente do que vem sendo posto em prática, há sete anos e meio, pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, com o apoio do PSDB, PFL, PMDB e PPB. É por isso que a democracia brasileira está limitada, impedida de avançar. E avanço aqui não significa declaração de voto em favor deLula. Porque se José Serra também defendesse projeto diferente do de FHC, sofreria as mesmas pressões. O processo democrático não pode avançar por causa de erros graves cometidos durante a implementação do Plano Real. Em essência, esses erros deixaram o Brasil extremamente dependente do capital privado para fechar suas contas. No Real, até 99, as taxas de juros e de câmbio estiveram fora do lugar. Os juros altos foram usados para atrair o capital que financiava, por exemplo, os déficits comercial e público do País. O câmbio, valorizado, para permitir a importação de produtos, ampliar a competição no mercado interno e, com isso, controlar preços e a inflação. Isso foi eficaz e engenhoso durante algum tempo. Tornou FHC popular e não foi abandonado no momento certo - recolocando os juros no controle do consumo (inflação) e o câmbio, no equilíbrio da balança. Resultado: a dramática dependência de capitais privados, nacionais e estrangeiros, para fechar as contas, cada vez mais deficitárias. E o fruto escandalosodessa dependência começa a se mostrar: talvez a população não possa escolher quem será seu próximo presidente da República. Simplesmente porque, se a escolha não for aquela que os agentes financeiros querem, o País poderá ser abalado por mais uma crise. Ou, no mínimo, Lula será forçado, caso queira vencer a eleição, a moderar ainda mais seu discurso - fazendo na prática um acordo com os chamados mercados e se aproximando do modelo de política econômica do ministro Malan.

Os políticos fizeram uma verdadeira romaria em busca de voto neste final de semana na Garanheta, Carnaval fora de época de Garanhuns. Foram vistos por lá Romário Dias, Carlos Wilson, Mendonça Filho, Ricardo Fiúza e Inocêncio Oliveira

Petrolina Mesmo antes de resolver passar da oposição para o palanque de Jarbas Vasconcelos (PMDB), o prefeito de Petrolina, Fernando Bezerra Coelho (PPS), já conseguiu com o Governo do Estado investimentos de quase R$ 3 milhões. Quantia superior à metade das receitas mensais do município. E espera ainda outros R$ 14 milhões para saneamento.

Correção Cometeu-se aqui um erro, na segunda-feira passada, sobre o empresário Antônio Ermírio de Moraes, que seria utilizado pelo PT, na campanha eleitoral, como exemplo de personalidade de sucesso, como Lula, sem curso superior. Ermírio, na verdade, é engenheiro metalúrgico formado, em 1949, na Colorado School of Mines, no Colorado, Estados Unidos - onde também fez seu doutorado.

Olinda I Por onde passa, Arraes tem elogiado Luciana. Os dois assumiram um compromisso recente. O ex-governador precisava que o então secretário de Cultura de Olinda, Sérgio Rezende, deixasse o cargo para servir como opção à chapa majoritária do PSB. A prefeita concordou em recontratá-lo, caso não dispute nem mandato.

Olinda II O vereador olindense Pedro Mendes tem desagradado a cúpula de seu partido, o PSB de Miguel Arraes. Mendes se rebelou contra o apoio da prefeita Luciana Santos (PCdoB) à candidatura de deputado de Renildo Calheiros. O problema é que os socialistas estão muito bem com Luciana.

Amizade Curiosa a campanha que homenageia o senador Roberto Freire (PPS) por seus 40 anos de vida pública. Um grupo de jarbistas, integrado por Cadoca e Chico de Assis, rasga elogios ao amigo e adversário político. O problema é justificar isso a Marco Maciel (PFL), candidato ao Senado que irá ao confronto direto com Freire.


Editorial

INICIATIVA FRACASSADA

A decisão do secretário-geral da ONU, Kofi Annan, de cancelar a missão convocada para investigar a ofensiva israelense no campo de refugiados de Jenin, na Cisjordânia, causou revolta e tristeza na população palestina. Os meios mundiais sensíveis à violação dos direitos humanos também se mostraram indignados com o fracasso da iniciativa. O governo israelense havia admitido a investigação porque, afirmaram os seus porta-vozes, nada tinha a temer. A seguir, contudo, bloqueou-a com a imposição de seis condições que tornavam inócua a ação das Nações Unidas.

O levantamento das operações desenvolvidas em Jenin por tropas israelenses, entre os dias 3 e 11 de abril, foi autorizado pelo Conselho de Segurança da ONU com apoio dos Estados Unidos. Annan, contudo, não pôde demover as resistências do primeiro-ministro Ariel Sharon. A desativação do núcleo de inspetores junta-se ao elenco cada vez maior de medidas malogradas que minam a autoridade da ONU. A escalada atual do conflito no Oriente Médio desafia três resoluções seguidas do Conselho de Segurança que ordenaram a Israel a desocupação dos territórios palestinos invadidos a partir de setembro de 2000.

As denúncias de que o campo de refugiados funcionou como palco de verdadeiro massacre foram atestadas por emissários da ONU e de outros organismos internacionais. Peter Hansen, diretor da Agência das Nações Unidas para a ajuda aos refugiados palestinos (UNRWA), qualificou a área de verdadeiro inferno. "Até agora evitei usar o termo massacre, mas vi a realidade com os meus próprios olhos e não posso chamá-la de outra coisa", disse depois de visitar o local no dia 17 de abril.

Há observações confiáveis para que a ONU exerça o dever de insistir nas investigações, se for possível mobilizar força política capaz de neutralizar a oposição do governo israelense. E fazê-lo em tempo de evitar o perecimento das provas. Possibilidade remotíssima, contudo. Até porque a suspensão do confinamento imposto ao líder da Autoridade Palestina, Yasser Arafat, foi negociada em troca do vetodos Estados Unidos no Conselho de Segurança a qualquer punição ao governo de Sharon por obstruir a missão das Nações Unidas. É o que informam jornais israelenses.

A tese reinante entre analistas ligados à Sec retaria de Estado norte-americana é a de que a recusa de Israel à ação investigadora não está sujeita a medidas punitivas. Sustenta-se que o Conselho de Segurança não concedeu um mandato aos inspetores da ONU. Apenas apoiou a iniciativa de Annan. Em um momento assim é que se vê como as sutilezas jurídicas servem para suporte de relações dominantes no contexto internacional. Não vêm ao caso se expedientes do gênero tornam a cada dia mais frágil o poder operativo da ONU. E, como resultado, caem o esquecimento e o silêncio sobre Jenin.


Topo da página



05/06/2002


Artigos Relacionados


Arthur Virgílio critica Serys por encerrar sessão e pede demissão de Cláudia Lyra

Brizola leva apoio do PDT a Ciro Gomes

Gomes critica o desespero da oposição

Gomes critica o discurso do desmonte

Gomes critica o discurso do desmonte

Cid Gomes pede o apoio de Sarney a projetos na área de educação