Em debate sobre aposentadoria, velha guarda da música popular emociona senadores
Eles já escreveram a trilha sonora do país. Durante muitos anos, garantiram letra e música para as festas, os bailes e os grandes comícios. E agora, muitas vezes com mais de 80 anos, ainda precisam deixar o pé na estrada em busca do cachê para equilibrar as contas. Para contar a história da velha guarda da música popular brasileira, nove compositores de diversas partes do país participaram, nesta quarta-feira (9), de uma animada audiência pública da Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE).
Enquanto cantavam e relembravam antigos sucessos, puxando um coro com os senadores que participaram da reunião, eles apresentaram suas principais reivindicações. Os compositores querem um regime de aposentadoria especial, além da regulamentação da profissão e do seguro desemprego. Pedem maior respeito aos direitos autorais e a garantia de divulgação de seus nomes após a veiculação de suas canções.
Autor de mais de 100 canções já gravadas, Nelson Sargento - que entrou na sala da comissão cantarolando O Dono das Calçadas, de Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito - tirou do bolso um recibo para mostrar quanto recebeu em um mês deste ano em bilhetes autorais: R$ 329,19. "Menos que um salário mínimo", lembrou. A cantora, compositora e atriz Adelaide Chiozzo também mostrou seus números. Após mais de 30 anos de contribuição, recebe R$ 1.247 de aposentadoria e, aos 78 anos, ainda viaja com seu acordeon para completar o orçamento cantando antigos sucessos como Beijinho Doce, de Nhô Pai.
- Faço shows pelo Brasil inteiro ganhando um cachezinho. Mas o meu acordeon tem 14 quilos e, para mim, cada dia pesa mais - disse Adelaide.
A cantora Ademilde Fonseca, 10 anos mais velha, concordou. A sua aposentadoria, relatou, não dá nem para pagar os remédios. Por isso, continua cantando. A música brasileira, como ressaltou o compositor paulista Osvaldo da Cuíca em seguida, está entre as mais ricas do mundo. "Mas os músicos têm o pior tratamento", queixou-se.
Para o compositor carioca Agenor de Oliveira, a aposentadoria especial é uma das principais reivindicações do compositor, que muitas vezes trabalha como autônomo, ganha pouco e tem dificuldade de recolher contribuições à Previdência. O compositor, adicionou o pernambucano Paulo Debétio, não pode ser considerado um "pobre coitado", mas quer ser reconhecido.
A audiência contou com compositores de sambas que já animaram grandes manifestações políticas, como Wilson Moreira, que cantarolou sua Senhora Liberdade - em parceria com Nei Lopes - e Délcio Carvalho, que também recordou sua canção Sonho Meu, hino pela anistia que compôs com Yvonne Lara. Ou Noca da Portela, que cedeu a sua Virada - em parceria com Gilpert - para a campanha presidencial de Tancredo Neves. Se animou a volta da democracia, Noca agora quer garantir melhores condições de vida aos compositores.
- A luta do compositor é para que a justiça seja feita. Tenho 360 músicas gravadas e o povo canta a minha obra sem saber que eu sou o autor - registrou.
Clube
Se na manhã desta quarta-feira os nove representantes da velha guarda apresentaram suas reivindicações, na noite anterior eles capricharam nas interpretações. Cada um apresentou os seus maiores sucessos em um show promovido pela comissão - e apresentado pela jornalista e compositora Ângela Brandão - no Clube do Choro, principal casa de música instrumental de Brasília. A apresentação contou com a presença do presidente em exercício do Senado, senador Marconi Perillo (PSDB-GO). Os compositores e cantores emocionaram a plateia e se emocionaram, eles próprios, durante um raro encontro de músicos que se sentiam à vontade no palco, mesmo depois de tantos anos de carreira.
Marcos Magalhães / Agência Senado
09/12/2009
Agência Senado
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