Em exposição agropecuária no Rio Grande do Sul, CRA debate logística da produção do campo
O investimento em infraestrutura é fundamental e urgente para o aumento da qualidade da agropecuária no Brasil. A avaliação foi feita pelo presidente da Associação Brasileira de Transportadores Internacionais (ABTI), José Carlos Becker, durante a audiência da Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA) na tarde desta sexta-feira (8). O debate foi proposto pela senadora Ana Amélia (PP-RS) e ocorreu dentro da programação do último dia da Expodireto Cotrijal 2013 – feira internacional que ocorre na cidade de Não-Me-Toque (RS) desde a última segunda-feira (4).
O presidente da ABTI disse que os gargalos da infraestrutura impedem um escoamento mais eficiente da safra brasileira. José Carlos Becker disse que a classe política precisa ficar mais atenta, pois “muita coisa não sai do papel”.
O presidente da ABTI disse que a agropecuária das Regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul responde por quase 90% do total da produção brasileira, mas os maiores investimentos em infraestrutura têm ocorrido na Região Norte – que responde apenas com 2% da produção agropecuária do país. Becker pediu duplicação de estradas e agilidade nos serviços dos portos e acrescentou que a qualidade logística repercute em outras áreas.
- No primeiro momento, o produtor sofre. Depois, o consumidor vai pagar mais caro pelo produto – alertou.
Infraestrutura
Elisangela Pereira Lopes, assessora da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), afirmou que os problemas da logística têm tirado renda do produtor. Ela ressaltou que o agronegócio responde por 30% dos empregos formais do Brasil e tem garantido o superávit da balança comercial brasileira nos últimos anos.
Ela afirmou que o Brasil precisa investir mais na logística. Ela disse que o investimento do país é de 0,42% do Produto Interno Bruto (PIB) em infraestrutura, enquanto a China chega a investir 7%. Para a representante da CNA, um apagão logístico no Brasil é iminente. Ela reclamou da alta carga tributária, da insegurança jurídica e do elevado custo operacional da produção e do transporte – que chega a ser três ou quatro vezes maior que o custo nos Estados Unidos ou na Argentina. Elisangela lembrou que uma pesquisa mundial entre 142 países colocou o Brasil em 130º lugar em qualidade dos serviços dos portos
- A demanda tem aumentado e a infraestrutura não tem acompanhado esta evolução – lamentou Elisangela.
O presidente da Associação Brasileira de Logística (ABL), Rodrigo Otaviano Vilaça, disse que o governo não pode investir somente em transporte, pois as estradas são apenas uma parte da logística. Ele criticou a burocracia dos processos de investimento e sugeriu mais parcerias público-privadas (PPP) e mais integração entre os órgãos públicos que lidam com a logística.
- São mais de sete órgãos para cuidar do transporte no país – criticou.
Investimentos
O chefe do Serviço de Logística e Aviação Agrícola do Ministério da Agricultura e Pecuária, Ricardo Pires Thomé, admitiu as dificuldades de infraestrutura no país. Ele disse que o governo tem um plano de construção de armazéns, o que vai ampliar a capacidade de estoque do país nos próximos seis anos.
Segundo Thomé, o plano prevê parcerias com a iniciativa privada e vai dar ênfase na construção de armazéns comunitários no campo. Ele disse que há cerca de 20 anos o governo federal não investia em armazenagem.
- A armazenagem é um diferencial na cadeia produtiva e privilegia o elo mais importante, que é o produtor – ressaltou .
José Kléber Macambira, representante da Empresa de Planejamento e Logística (EPL), reconheceu que a logística é fundamental para o agronegócio. Ele ressaltou que o governo está atento às dificuldades do setor e já traçou um plano de investimentos que pode chegar a R$ 121 bilhões nos próximos 30 anos. Segundo Macambira, há a previsão de construir mais 7 mil quilômetros de rodovias e 10 mil quilômetros de ferrovias. Além disso, serão criadas mais duas unidades estatais para cuidar da logística e do setor ferroviário.
- A ideia de tudo isso é tornar o produto brasileiro mais competitivo. A logística mais integrada e eficiente é fundamental para o crescimento do agronegócio brasileiro – afirmou Macambira.
Participação popular
A senadora Ana Amélia, que presidiu a audiência, coordenou a fase de perguntas e respostas. Por meio do twitter e de mensagens no Alô Senado, cidadãos de várias partes do país puderam participar com perguntas e observações ao debate.
De Cacoal (RO), a produtora Lúcia Almeida enviou mensagem dizendo que o governo não dá a atenção devida ao produtor rural. Carlos Jean Pereira Gonzaga, de São Gonçalo (PI), perguntou o que o governo pode fazer para melhorar a logística do país. Ricardo Thomé, do Ministério da Acricultura, reconheceu que algumas regiões do país ainda são muito carentes de infraestrutura logística. Segundo Thomé, o governo terá de investir nos modais hidroviários para escoar a produção agrícola, que tem crescido no Nordeste.
Outros dois telespectadores reclamaram que os representantes do governo não responderam de forma prática aos questionamentos do debate e aos anseios do produtor rural. Ana Amélia disse que a opinião dos telespectadores refletia também a opinião da CRA e cobrou mais atenção do governo e da CNA com o agronegócio e, de forma específica, com a Expodireto.
- Não tivemos aqui o presidente da EPL, mas a empresa enviou 35 representantes para a Londres - lamentou a senadora.
Também participaram do debate o presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, deputado Luiz Carlos Heinze (PP-RS), o presidente da Expodireto Cotrijal 2013, Nei Mânica, além de deputados federais e estaduais e representantes de entidades ligadas ao setor agropecuário. A Cooperativa Agropecuária e Industrial (Cotrijal) foi fundada em 1957 e realiza a Feira Internacional Expodireto há 14 anos. A exposição, que conta com representantes de 74 países, ocupa uma área de 84 hectares, com stands que tratam de negócios da agropecuária.
08/03/2013
Agência Senado
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