Emissões veiculares são as principais fontes de formação de ozônio



Uso de combustíveis mais limpos reduziria em 43% as substâncias responsáveis pelo nível de ozônio

Pesquisa do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da Universidade de São Paulo (USP), realizada com amostras de emissões veiculares colhidas em túneis da cidade de São Paulo, confirmou que as substâncias dessas emissões são as maiores responsáveis pelo excesso de ozônio registrado na região metropolitana de São Paulo. Os estudos mostraram também que a gasolina utilizada no Brasil é ainda mais nociva nesse aspecto do que as mais limpas (como a usada no Estado da Califórnia, nos Estados Unidos) e o etanol.

A pesquisa revelou que uma alta taxa de ozônio nas camadas baixas da atmosfera (troposfera) causa ou agrava doenças respiratórias e alérgicas – como rinite, otite, amidalite, sinusite, bronquite e pneumonia. O nível considerado seguro pela Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) é de 160 microgramas do gás por metro cúbico de ar, por uma hora de amostragem. Na cidade de São Paulo, medições feitas em 2004 chegaram a indicar mais de 200 microgramas por metro cúbico de ar, considerado nível de atenção pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Para avaliar qual o grau de responsabilidade dos gases emitidos pelos veículos na formação do ozônio, a química Leila Droprinchinski Martins realizou, em parceria com pesquisadores do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e do Instituto de Química (IQ) da USP, coletas de ar nos túneis Jânio Quadros e Maria Maluf, em diferentes períodos do ano de 2004. “Os túneis foram escolhidos por serem locais fechados, onde era maior a probabilidade de que os gases encontrados viessem das emissões veiculares. E diferentes estações no ano foram pesquisadas porque a reação de formação do ozônio é intensificada pela maior presença da radiação solar”, explica a pesquisadora. 

Modelo matemático – As amostras foram levadas ao laboratório, onde passaram por cromatografia (técnica de separação de misturas), para que os gases presentes fossem identificados. Foram encontrados quase 40 compostos diferentes. Em um modelo matemático sistematizado em programa de computador, a pesquisadora inseriu as informações coletadas, dados de análise de combustíveis feitos em estudos anteriores, informações da literatura sobre emissão evaporativa (gases emitidos pela evaporação natural dos combustíveis, sem necessidade de combustão), informações da Cetesb e dados meteorológicos do período em que foram colhidas as amostras.

Os resultados encontrados para a formação de ozônio na troposfera ficaram bem próximos aos mostrados pela medição de ozônio feita pela Cetesb naqueles dias, revelando que o modelo matemático escolhido era válido para realizar esse tipo de estimativa.

Validado o modelo, a pesquisadora passou a utilizá-lo para testar como quantidades diferentes de cada uma das substâncias encontradas nos túneis influenciavam na formação do gás tóxico. Foram identificadas, dentre as estudadas, as classes e as espécies principais de compostos orgânicos voláteis (COV) — que em temperatura ambiente se apresentam na forma gasosa — com maior potencial para formar ozônio, que foram os aromáticos, as olefinas, o etenol e o formaldeído, todos eles emitidos pela queima de combustível, confirmando que as emissões veiculares são responsáveis por cerca de 90% da formação do ozônio troposférico.  

Gasolina limpa - Além de diagnosticar os gases mais propícios à formação de ozônio, a química Leila Droprinchinski Martins usou, em etapa posterior, o modelo matemático para testar diferentes cenários. Considerou, por exemplo, que em vez da gasolina utilizada no Brasil, toda a frota de veículos leves (não movidos a diesel) de São Paulo adotasse a gasolina refinada na Califórnia, Estados Unidos – denominada de “gasolina limpa” por conter menor quantidade de compostos aromáticos e olefinas. Comparado ao uso da gasolina comum, a sua utilização resultaria numa diminuição de aproximadamente 43% da formação de ozônio, quase a mesma redução obtida caso toda frota de veículos leves fosse abastecida somente com etanol.

Entretanto, a cientista ressalva que “mesmo a gasolina limpa emite uma série de outros poluentes, como o monóxido de carbono, sendo, no geral, mais poluente do que o etanol. Nosso estudo considerou apenas a influência de combustíveis de diferentes composições na formação do ozônio”. 

Luiza Caires

Da Agência USP de Notícias



07/31/2008


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