Emoção marca inauguração do Memorial da Resistência
Espaço da Estação Pinacoteca recebe novo nome e a exposição fotográfica Direito à Memória e à Verdade
A Secretaria de Estado da Cultura inaugurou na quinta-feira, 1º de maio, no Memorial da Resistência, da Estação Pinacoteca, a exposição fotográfica Direito à Memória e à Verdade – a Ditadura no Brasil: 1964-1985, concebida pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República. Estavam presentes o governador em exercício de São Paulo, Alberto Goldman; o secretário da Cultura, João Sayad; o secretário de Justiça e Defesa da Cidadania, Luiz Antonio Marrey; o ministro da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, Paulo de Tarso Vanucchi; o senador Eduardo Suplicy; o diretor da Pinacoteca do Estado, Marcelo Araújo, e o coordenador do Fórum de Ex-Presos e Ex-Perseguidos Políticos do Estado de São Paulo, Raphael Martinelli, além de ex-presos políticos e seus familiares.
Também foram descerradas as novas placas de identificação do espaço expositivo, oficializando a mudança de nome do local, de Memorial da Liberdade para Memorial da Resistência. Ali funcionavam as celas do antigo Departamento de Ordem Política e Social (Dops), por onde passaram muitos dos presos políticos durante o Estado Novo e a ditadura militar.
Numa solenidade marcada por muita emoção, os representantes dos governos paulista e federal destacaram a importância de manter preservada a memória daquele período para fatos semelhantes de desrespeito à pessoa humana não se repitam no futuro. O secretário da Cultura, João Sayad, anunciou que as cinco celas que restaram do antigo Dops serão restauradas para que recuperem as características originais. “Não restaram vestígios de momentos tão importantes da história do Brasil. As inscrições deixadas nas paredes pelos presos foram apagadas. Mas nós não queremos que essa história seja esquecida”, afirmou. As reformas que deverão ser executadas pretendem transformar o local em um museu vivo, segundo Sayad.
O governador em exercício, Alberto Goldman, destacou a história pessoal de cada pessoa presente à inauguração. “Se quiséssemos fazer um livro sobre a história daquele período da repressão, bastava ouvir cada uma das pessoas que está aqui. Todos têm um pai, uma mãe, familiares, alguém que sofreu ou que desapareceu”, afirmou. “Queremos a recuperação da memória do que está aqui, pois essa memória é importante para um povo que se orgulha de si mesmo.”
O ministro Paulo de Tarso Vanucchi lembrou o período em que esteve preso no Dops e prestou uma homenagem a todas as pessoas que lutaram para o retorno do país à democracia. Lembrou que a luta pelos direitos humanos passa também pelo respeito aos negros e homossexuais. “Na questão dos direitos humanos, não pode haver o egoísmo de lutas setoriais.”
Na exposição, registros históricos Para Claudinéli Moreira Ramos, coordenadora da Unidade de Preservação do Patrimônio Museológico (UPPM), ao trazer a exposição ao espaço onde antes funcionaram as celas do Dops, a Secretaria de Estado da Cultura reforça que as novas funções culturais do edifício, que atualmente abriga a Estação Pinacoteca, não representam o esquecimento ou um abrandamento da história da qual foi palco.
“A exposição marca uma atuação cada vez mais incisiva do Memorial da Resistência em dar visibilidade à memória da resistência e da repressão, apresentando ao público em geral e, em especial, às novas gerações, um lado da história recente do país que pouca gente conhece e que teve muita importância na luta pela reafirmação da democracia”, afirma a diretora.
O evento marca também o lançamento de uma programação de visitas guiadas, que serão realizadas uma vez por semana até o final do ano e monitoradas pessoalmente por ex-presos políticos. Fruto da parceria com o Fórum de Ex-Presos e Perseguidos Políticos do Estado de São Paulo, a programação incluirá palestras, debates e apresentações de vídeo uma vez por mês, aos sábados, no auditório da Estação Pinacoteca.
Paralelamente às atividades que estarão em andamento em 2008, uma equipe interdisciplinar, coordenada pela Secretaria de Estado da Cultura, desenvolverá o novo projeto museológico e museográfico do Memorial da Resistência, substituindo e aprimorando o atual, de 2002. A previsão é inaugurar a nova expografia do espaço até o final do ano.
O objetivo é inserir o Memorial da Resistência no contexto dos movimentos nacionais e internacionais dedicados a fortalecer as práticas democráticas e o compromisso cívico das novas gerações com os direitos humanos. “Por meio de estratégias museológicas e pedagógicas interativas, o novo projeto buscará o resgate da memória e da história política do país sem deixar que se percam a lembrança e a reflexão sobre os mortos e presos desaparecidos durante a ditadura militar”, diz Claudinéli.
A história por imagens A exposição Direito à Memória e à Verdade – a Ditadura no Brasil: 1964-1985 resume cronologicamente em painéis fotográficos com 70 m de extensão e 1,60 m de altura o período marcado pela deflagração do golpe militar, em 1964, e a retomada da democracia, passando pelas revoltas estudantis e pelas campanhas da anistia e das Diretas Já. As imagens, publicadas pela imprensa naquele período, muitas sem créditos de autoria, foram pesquisadas no Arquivo Nacional, no Rio de Janeiro.
Também são personagens dessa história, artistas que se engajaram na luta pelo restabelecimento do estado de Direito e participaram de shows, comícios e passeatas de protesto, como os cantores Chico Buarque e Edu Lobo, o cineasta Glauber Rocha, as atrizes Tônia Carrero, Eva Wilma, Odete Lara e Lucélia Santos, o cartunista Ziraldo, o então líder sindical Luiz Inácio Lula da Silva e os senadores Ulisses Guimarães e Teotônio Vilela, entre muitos outros.
O levantamento das informações e pesquisa fotográfica foi realizado por uma equipe da Comissão Especial Sobre Mortos e desaparecidos Políticos, da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República. Vera Rotta, coordenadora do Projeto Direito à Memória e à Verdade da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, ressalta o caráter didático do material apresentado ao público, principalmente estudantes. “Os jovens não sabem quase nada daquele período. Ao trazer esse tema à discussão, queremos valorizar o processo democrático, fundamental para o país”, afirma.A mostra será montada, até 2010, em Goiânia (GO), Salvador (BA), Campinas (SP), Campo Grande (MS), João Pessoa (PB), São Luís (MA) e Rio Branco (AC).
Direito à Memória e à Verdade – a Ditadura no Brasil: 1964-1985
Abertura: 1º de maio de 2008
Em exposição por tempo indeterminado
Memorial da Resistência – Estação Pinacoteca
Largo General Osório, 66 – Luz
Tel.: (11) 3337-0185
De terça a domingo, das 10h às 17h30
Entrada Gratuita
Da Secretaria da Cultura
(L.F.)
05/04/2008
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