Entrevista coletiva do governador Mário Covas após inauguração do Hospital Geral de Guarulhos
Parte I
Pergunta: O que o senhor vai fazer no centro da cidade, que o senhor falou a respeito dos trens. É da CPTM? Covas: É. Pergunta: Qual a denúncia, o que o senhor vai fazer? Covas: Não sei qual a denúncia. Ainda não vi o filme. Só soube por terceiros. Pedi para tirarem o filme. Mas, é uma história conhecida que vocês já publicaram. Nós fomos obrigados a suspender o tráfego de trens, aqui na região, que vai de Itaquera-Guainazes, porque arrebentaram as janelas de dez vagões. O problema é que tiraram a frota inteira. Porque a empresa brasileira que faz vidros não consegue dar conta de repor os vidros com a velocidade necessária. Pergunta: As peças são essas, os vidros? Covas: Isso é um problema que já existe, e existe há tempos. Pergunta: Se existe há tempos, não tinha que ter um estoque de reposição grande? Covas: A menos que você monte uma fábrica de vidros, e faça mais depressa, temos que comprar desta. Não existe outra. Eu não tenho alternativa, tenho que comprar desta. A Santa Marina é a que entrega mais depressa, e ainda assim demora um tempão para entregar. Não vencem a entrega. Há um lugar aqui em São Paulo, já botei 76 policiais lá, um lugar entre Itaquera e Guaianazes, onde o pessoal fica escondido num lugar qualquer e joga pedra no vidro do vagão. Aquele vidro é um vidro especial, se quebra aquele vidro, para trocar é uma dificuldade. Eu ainda não vi nem a gravação, ainda não vi, e por isso quero ver visualmente, por isso que eu falei no assunto. Em segundo lugar, depois de ver eu posso fazer qualquer coisa. Mas, aliás o rapaz da manutenção respondeu. Nós fizemos uma compra muito boa, ótima. Eu considero ela ótima. Nós pagamos pelo trem o custo menor do que eles custariam para fazer a manutenção aqui no Brasil, e ganhamos o trem. Portanto, além de custar menos a manutenção, ainda ganhamos o trem. O trem entrou em funcionamento, em primeiro lugar, no local que eu mais queria. Na ligação entre a Praça Roosevelt e Mogi das Cruzes, e parou. Teve que parar. Chegou um instante que a frota ficou reduzida a um trem. Um trem são duas unidades, com seis vagões. O resto tivemos que tirar da linha, por causa de vidros quebrados. E, segundo me disseram, disseram que está tudo sucateado, o que não é verdadeiro até onde eu saiba. Por isso, como eu não gosto de falar sem ver, eu vou ver. Inaudível, os trens são espanhóis. Pergunta: Mas e os alemães? Covas: Não, os alemães são outros trens. São mais vinte e poucos trens da linha sul. Para a linha que vai até Capão Bonito. Pergunta: Governador, com relação ao salário mínimo, existe a possibilidade de se conceder um aumento acima de R$ 220,00 para o servidor público, e para a iniciativa privada? Covas: Eu não me arrisco a fixar um salário que seja base para todos os municípios. Eu não posso pedir para o município ir contra a Lei Camata, e ao mesmo tempo obrigá-lo a aumentar os salários, porque não dá. No caso do Estado, o salário já é bem maior do que o salário mínimo, bem maior. Nosso piso salarial é de R$ 240,00 e provavelmente esse piso também será aumentado. Mas, eu não acho que é razoável fazer com que o município seja obrigado a ter o mesmo piso salarial. Quanto a iniciativa privada, só depois que a lei vier é que eu vou pensar neste assunto. Pergunta: É possível que haja salários diferentes, dentro do próprio Estado de São Paulo, dependendo da região? Covas: A vida inteira a escala de salário mínimo encontrou duas razões, ou pelo menos se apresentaram duas razões, para que não houvesse aumento de salário mínimo. A primeira é a da vinculação com a Previdência, a segunda é a das prefeituras. Porque as prefeituras têm muita gente que ganha salário mínimo. Um dos problemas é fácil de resolver, é só desvincular o salário mínimo da Previdência, aí desaparece o problema. A segunda, das prefeituras, não. Porque na maior parte das prefeituras, sobretudo nas pequenas, têm muita gente que ganha salário mínimo. Eu não posso nem pedir que as prefeituras paguem o piso que eu pago hoje, porque elas também são obrigadas a seguir outras leis. Inclusive a Lei Camata, não pode gastar mais de 60% da arrecadação com orçamento. E, agora a lei dá multa para o cara, para o prefeito. Antes era prisão, agora é multa. Pergunta: Governador, o que o senhor achou sobre o relatório da Comissão de Assuntos Econômicos do Senado que acatou o parecer do Banco Central aprovando a emissão dos precatórios aqui da cidade de São Paulo. Com isso, ele dá a entender que a emissão dos precatórios foi regular, e não irregular. Covas: Eu acho isso um paradoxo. Não é o que eu vi o resultado da CPI. Eu mesmo estive depondo na CPI, mas não é o que eu vi. Eu não sei no final como é que essa negociação com a prefeitura vai ser feita. Porque com o governo do Estado exigiram 20% a vista, foi por 30 anos. Com a prefeitura, mesmo que considerem isso, o que estava correndo é que iam fazer 10 anos, porque era emissão fraudada, e trinta anos porque era emissão não fraudada. E, ainda nos 30%, tinha que dar 20% de entrada. O Pitta tinha conseguido fazer que quem desse essa entrada fosse o futuro prefeito. Pergunta: Mas esse relatório da Comissão do Senado, ele não legitima exatamente a emissão irregular que o Ministério Público acabou de denunciar? Covas: Olha o que eu posso te dizer é que... Pergunta: O que está havendo, um desencontro entre Senado, Banco Central, Ministério Público, eles se entendem? Para uns é regular, para outros é irregular? Covas: É, para mim, me causou surpresa essa decisão. Se é que ela foi tomada assim, me causou surpresa. Pergunta: O senhor acha que foi irregular? Covas: A Emissão? É lógico que foi irregular. Como foi irregular em outros Estados, a gente está dizendo há muito tempo. Foi irregular no governo do Maluf, quando o Pitta era secretário das Finanças. O grande culpado é o Maluf, mas o Pitta era secretário. Pergunta: O que o prefeito Pitta alega, governador, é que o avalista dele era o Malan. Agora vai ser também o Senado o avalista da emissão irregular? Covas: Da emissão irregular? Pergunta: Porque na medida em que eles aprovam, eles estão avalizando. Covas: Você está se referindo à aprovação prévia? Ele quando fala isso fala com relação à aprovação lá atrás. Mas, aprovaram para uma porção de gente. Pergunta: Agora na frente também. Covas: Aqui em São Paulo, a fraude não foi deste jeito, foi diferente. Calcularam o valor de pagamento a mais e foram tirando dinheiro a mais. Quando chegava no fim do ano, eles diziam, nós pedimos no ano passado R$ 500 milhões, mas só gastamos R$ 100 milhões. Portanto, temos R$ 400 milhões de crédito, queremos R$ 800 milhões para esse ano. Então, vocês me dão R$ 400 milhões a mais. Portanto, durante três anos, o Banco Central, o Senado etc. sabiam disso. Sabiam que não estava sendo pago. Quando eu assumi, eles me pediram para provar que tinha sido pago. Mas, se há três anos que vocês estão autorizando aí, sabendo que não está sendo pago. Agora, eu estranhei isso, estranhei muito. Essa decisão é isso que você entendeu, e que aliás eu também entendi. Eles estão achando que todos os precatórios estão corretos e, pior, como é que a partir daí a discussão vai se dar? Eu acho interessante porque, para o governo do Estado de São Paulo, às vésperas da privatização do Banespa arrumaram uma multa de R$ 2,8 milhões, feita no período de intervenção, portanto no período em que o banco estava sendo gerenciado pelo Governo Federal. Agora para a Prefeitura de São Paulo estão achando, pelo que eu estou vendo, que as emissões são corretas. Não é a minha opinião, mas é a aut04/14/2000
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