Especialista condena repressão como meio de combate à violência nas escolas



Em sua exposição na audiência pública realizada pela Comissão de Educação (CE) nesta quarta-feira (28) para debater a violência nas escolas, o professor e doutor em Ciência da Educação e diretor do Observatório Europeu de Violência Escolar, Eric Debarbieux, disse que a violência nas escolas é um problema em toda a Europa e que há grande tentação de resolvê-lo de maneira puramente repressiva.

Para ele, no entanto, reprimir não é solução, uma vez que a repressão aumenta o ódio, o rancor e a própria violência, sem reduzir o número de vítimas, o que deve ser o principal objetivo de qualquer programa contra a violência escolar. Ainda de acordo com Debarbieux, a violência nas escolas geralmente está ligada à desigualdade social.

Há programas interessantes em todo o mundo de combate à violência nas escolas, alguns no Brasil, na opinião de Dubarbieux, que atribuiu o aumento de casos ao processo de globalização. Uma das recomendações do especialista foi a contratação de professores capacitados, que atuem em equipes estáveis.

Já para a professora da Universidade Católica de Brasília e vice-coordenadora do Observatório Sobre Violência nas Escolas do Brasil, Miriam Abramovay, é preciso pensar também na violência simbólica que caracteriza as relações de poder entre professores e alunos e entre alunos e alunos. Sobre a situação brasileira, Miriam Abramovay registrou que há muito tráfico de drogas dentro dos colégios, com escolas que são praticamente sitiadas, e muitos problemas decorrentes de porte de armas e de racismo. -Há muitas ameaças para professores e alunos, todos têm medo-, disse.

O senador Gerson Camata (PMDB-ES) assinalou que os casos de violência nas escolas podem também ser atribuídos à falta de ensino religioso, à desestruturação das famílias, à transmissão de programas muito violentos pelas TVs e à falta de urbanidade das pessoas. A professora lembrou que as escolas brasileiras são laicas, mas concordou que é importante incentivar valores como tolerância e respeito ao próximo, ao invés de valorizar apenas o acesso a bens materiais.

- A situação é mais grave no Brasil por causa das desigualdades sociais. Um tênis Nike pode causar uma morte - afirmou. Para ela, também de nada adianta famílias e escolas jogarem a culpa umas nas outras. -A família não pode ser responsabilizada por tudo-, disse.

Eric Debarbieux informou ainda que pesquisas indicam que programas violentos não são causa direta de violência entre jovens, mas admitiu que eles apontam modelos para pessoas que já têm tendência a comportamentos violentos.

A audiência pública foi realizada a requerimento do senador Osmar Dias (PDT-PR), presidente da Comissão de Educação.



28/05/2003

Agência Senado


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