ESPECIALISTA EM AIDS FAZ RELATO SOBRE O PRESÍDIO DO CARANDIRU



A substituição da cocaína injetável pelo crack como droga de largo uso é a provável causa da diminuição do número de casos de Aids entre os presos do complexo penitenciário do Carandiru, em São Paulo. A opinião é do coordenador do programa de combate à Aids aplicado naquela prisão pela Universidade Paulista (Unip), médico epidemiologista Dráuzio Varella. Ele fez um relato sobre o programa e a situação geral do presídio nesta segunda-feira (dia 16) na Comissão de Assuntos Sociais (CAS). A palestra contou com a presença do presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães.Em seu depoimento, considerado realista pelo presidente da comissão, senador Osmar Dias (PSDB-PR), Varella contou sobre o dia-a-dia de uma instituição que só está formalmente sob o controle do Estado. Superlotado e em más condições, o Carandiru é o retrato de um sistema que não consegue prevenir o surgimento de criminosos, punir os que enveredam pelo crime e recuperar os que são presos.- Muito poucos se recuperam, basicamente os que aderem a uma religião - disse o médico, que também contou casos engraçados ou curiosos que aliviam a atmosfera de violência do Carandiru.Varella relacionou à impunidade, principalmente, o aumento da criminalidade, mas disse que fatores sociais como o desemprego agravam o quadro. O médico, autor do livro Estação Carandiru, acredita que a diminuição do desemprego e o desenvolvimento de projetos com o envolvimento da comunidade possam ajudar a impedir que cidadãos se transformem em marginais. O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) chamou a atenção para a importância do relato de Varella e do seu trabalho no Carandiru, que já dura 17 anos. Nesse período o número de casos de Aids caiu de 17,3% para 8% entre os pesquisados. O médico conseguiu adesão ao programa ao ganhar a confiança dos detentos e usar linguagem acessível como a das histórias em quadrinhos.Além de Suplicy, saudaram o pronunciamento de Varella as senadoras Maria do Carmo Alves (PFL-SE) e Marina Silva (PT-AC). Maria do Carmo acredita que a realidade do Carandiru é generalizada no país. Marina Silva acha que a sociedade precisa de orientação do poder público para se tornar mais atuante. O senador Tião Viana (PT-AC) pediu esclarecimentos sobre o uso do coquetel contra a Aids pelos presos, enquanto Osmar Dias recebeu elogios de Varella ao seu projeto que prevê a distribuição gratuita de analgésicos a pacientes com câncer.

16/08/1999

Agência Senado


Artigos Relacionados


Aids: Arte nos muros do Carandiru marca Dia Mundial de Luta Contra a Aids

Aids: Arte nos muros do Carandiru marca Dia Mundial de Luta Contra Aids

Peça teatral em presídio ensina a prevenir DSTs e Aids

Programa Estadual DST/Aids-SP promove debate sobre temas da Conferência Mundial de Aids

Garibaldi faz relato sobre viagem à ONU

Alckmin fala sobre desativação da Casa de Detenção do Carandiru