Especialista sugere mudanças na legislação aeronáutica



Durante reunião da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Apagão Aéreo nesta terça-feira (21) o presidente da Comissão de Direito Aeronáutico, Marco Fábio Morsello, apresentou aos parlamentares sugestões de mudanças na legislação nacional sobre aviação comercial e pediu uma "reforma urgente e imediata do Código Brasileiro de Aeronáutica", de forma a garantir ao país uma legislação mais moderna e coerente com a Convenção de Montreal que regulamenta o transporte aéreo internacional.

Entre as mudanças, Morsello sugeriu a possibilidade de haver indenizações maiores para famílias de vítimas de acidentes aéreos. Para o especialista, que é juiz de Direito, a legislação atual garante indenizações "muito pequenas" e "limitadas", que não contemplam sequer os danos morais. Para Morsello, a situação atual é "anacrônica" com a configuração contemporânea da responsabilidade civil.

O especialista disse também que mesmo enquanto se está apurando causas de um acidente, a responsabilidade direta é do transportador, ou seja, da companhia aérea. Para Morsello, se houver culpa de outros envolvidos, como os responsáveis pela infra-estrutura, as companhias aéreas deveriam entrar na Justiça contra eles depois. Mas as indenizações devem ser pagas aos familiares das vítimas.

- A causa desconhecida (do acidente) não pode ser obstáculo para ressarcir as vítimas - afirmou.

Morsello também criticou o prazo de quatro horas para que seja considerado que o vôo está atrasado. Para o presidente da comissão, há atraso quando o horário de chegada não é o previsto e esses atrasos, mesmo aparentemente pequenos, podem causar transtorno aos passageiros. Para o especialista, não deveria haver esse patamar de quatro horas.

O especialista também afirmou temer que a prática de overbooking (venda de mais passagens do que os lugares existentes na aeronave) seja "institucionalizada legalmente". Afirmou ainda que, apesar de a distância entre as cadeiras dos passageiros nos aviões parecer um problema menor diante da crise aérea enfrentada pelo país, é preciso haver um padrão mínimo, a fim de evitar situações que firam a dignidade humana.

Na mesma reunião da CPI, o piloto de avião e professor da Universidade Veiga de Almeida no Rio de Janeiro, Joaquim Gonçalves de Farias Neto, apresentou sugestões para solucionar a crise aérea. Joaquim Farias Neto é autor do livro Choque de Gestão - Do Vôo 1907 ao Apagão Aéreo no Brasil.

- Se não forem tomadas medidas enérgicas, o sistema nacional de aviação civil nacional vai explodir nos próximos anos. Só um Plano Aeroviário Nacional poderá salvar nossa aviação - afirmou.

Joaquim Farias Neto apontou como causas da crise, entre outras, a autorização indiscriminada de novos vôos, aumento do número de passageiros e problemas com recursos humanos, como o dos controladores de vôo. Sugeriu uma reengenharia de gestão tanto da Infraero quanto da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a criação de cursos universitários para controladores de tráfego aéreo e a adoção do sistema de controle aéreo por satélite, no sistema CNS/ATM.

O professor também sugeriu que sejam usadas parcerias público-privadas (PPP) para garantir melhorias nos aeroportos. Também acha que deveriam ser cobradas taxas diferenciadas para uso dos aeroportos mais congestionados, de forma que a regulamentação do uso seria pelo custo.

Joaquim Farias Neto também lembrou o problema dos controladores de vôo. Apesar de ser "contra motins", lembrou que os controladores lidam com a vida humana, "como os cirurgiões", e que não podem ficar subjugados a situações de trabalho ruins. Para o especialista, é preciso negociar com os controladores. O professor sugeriu ainda que o capital da Infraero seja aberto, de forma a aumentar a fiscalização na empresa.

Joaquim Neto, que é piloto, lamentou a falência da empresa Varig, que viu como um "gatilho da crise", e afirmou que os pilotos mais experientes estão saindo do Brasil para trabalhar em países como a China. Segundo o professor, no Brasil pilotos com mais experiências estão sendo preteridos por pilotos novos, com pouco treinamento.

O senador Heráclito Fortes (DEM-PI) afirmou que a situação dos controladores de vôo é complicada, uma vez que não há como pagar salários diferenciados para sargentos controladores e sargentos em outras funções. O senador também lembrou que é preciso fiscalizar a situação dos pilotos, que são submetidos a cargas horárias cada vez mais pesadas.

21/08/2007

Agência Senado


Artigos Relacionados


Mercadante sugere mudanças na legislação para que votos no Congresso sejam abertos

Legislação ambiental brasileira é uma das mais modernas do mundo, diz especialista

Especialista sugere redução do poder de veto da Petrosal

Especialista do BNDES sugere programa federal para conter desemprego

Especialista em mudanças climáticas falará aos senadores da CRE

Especialista em mudanças climáticas defende atuação de emergentes na conservação ambiental