Especialista do BNDES sugere programa federal para conter desemprego



José Carlos de Assis, assessor da presidência do Banco Econômico de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), apresentou proposta de criação do Programa de Emprego Garantido como forma de conter o aumento do desemprego no Brasil. O programa, a ser criado com recursos federais, pode gerar, segundo ele, entre 2,5 milhões e 4,5 milhões de empregos diretos, com a recuperação de favelas nas 14 principais regiões metropolitanas do país.

A sugestão foi dada em audiência pública da Subcomissão Permanente em Defesa do Emprego e da Previdência Social, ligada à Comissão de Assuntos Sociais (CAS), que debateu os impactos da crise financeira internacional sobre os empregos no Brasil. O especialista explicou que o programa poderá ser incluído entre as medidas de enfrentamento da crise, permitindo ao país equacionar os problemas com maior agilidade e ainda com ganhos sociais.

- Essa ideia é resgatadora de três problemas fundamentais das metrópoles brasileiras: resolve o desemprego, promove a reestruturação das favelas e encaminha a solução do problema da segurança. A medida cria estímulo para a economia de R$ 40,5 bilhões de reais em cinco anos, com custo de 1,5% do PIB ao ano - avaliou.

O presidente da subcomissão, senador Paulo Paim (PT-RS), autor do requerimento para realização da audiência, endossou a proposta e pretende transformá-la em projeto de lei.

Carlos Assis afirmou que a crise atual é gerada por queda na demanda e que, com a previsão de redução de 11% no comércio mundial em 2009, o governo terá como única opção o aumento do gasto público. Conforme observou, as primeiras medidas de estímulo fiscal adotadas pelos Estados Unidos, China e Japão - com corte de impostos e aumento da oferta de crédito - demoram a ter resultados práticos.

Estatização de bancos e cooperação entre países

Conforme avalia Assis, a crise é estrutural e só será debelada quando os países desenvolvidos encontrarem uma solução para a regulamentação do sistema financeiro. O economista do BNDES considerou falha a sugestão de criação de um grande banco internacional, porque resultaria em concorrência desigual com pequenos e médios bancos, e defendeu o aumento da participação estatal.

- A proposta de estatização não tem nada de ideológica, é funcional. Para que o sistema funcione, talvez tenha que se estatizar o sistema bancário - sugeriu, assinalando que Índia e China estão crescendo e ambas têm seus sistemas bancários estatizados.

O especialista disse ainda que a saída para a crise passa também pela cooperação entre os países, em especial nas áreas econômica, ambiental, geopolítica e genética. Essa articulação internacional, frisou, já foi sinalizada como solução pelo G-20 - grupo formado pelos países emergentes.

- A aparente estabilização das taxas de emprego nos últimos três meses no Brasil não deve nos enganar. Talvez aumente muito o desemprego, se novas medidas de estímulo não forem tomadas - concluiu.

Dependência do crédito externo

Márcio Pochman, presidente do Instituto Nacional de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), afirmou que o desempenho econômico do Brasil não foi "tão frustrante" como em outros países da America Latina, a exemplo do México, porque 50% de nossa economia hoje está concentrada no setor de serviços.

- Trata-se mais de uma recessão industrial do que de uma recessão nacional. Nesses seis meses, de outubro de 2008 a maio de 2009, tivemos ainda uma certa estagnação no setor agropecuário - analisou.

Quatro fatores, entretanto, explicam, segundo Pochman, porque o Brasil não atingiu patamares de desenvolvimento similares aos da China e Índia, apesar da "inflexão econômica" verificada no final dos anos 90. O primeiro foi o fato de um terço do crédito para investimento ser oriundo de bancos internacionais e a instalação de inúmeros bancos internacionais no Brasil, gerando dependência do crédito externo.

O segundo fator citado foi a concentração do comércio externo em países ricos, o que hoje representa 40% das exportações brasileiras. O terceiro fator são as decisões tomadas pelas empresas transnacionais instaladas no Brasil, que, com a crise, passaram a enviar capital para suas matrizes no exterior, sem qualquer controle do governo brasileiro.

- A solução passa pelo enfrentamento de três fatores: uma remodelagem bancária, com bancos menores e mais próximos da comunidade; o aprofundamento das relações comerciais Sul-Sul; e a modificação das relações com grandes corporações internacionais - sugeriu.

Redução da jornada de trabalho

Paulo Paim, autor de proposta sobre redução da jornada (PEC 231/95), indagou aos palestrantes se essa seria uma boa contribuição para o desemprego. Em resposta, Pochman disse que, no Ipea, a maioria dos especialistas é contrário à proposta, concordando com a visão dos empresários de que ela aumenta custos, pois onera a produção e requer mais contratações.

No entanto, o economista considerou que a redução de jornada poderia resultar em dinamização da economia e ampliação da concorrência entre as empresas.

Já José Carlos de Assis manifestou-se contrário à medida, por entender que, apesar de a tendência do desenvolvimento tecnológico levar à redução da jornada de trabalho, isso somente deverá ocorrer no Brasil quando o país estiver em processo mais acelerado de crescimento.



09/07/2009

Agência Senado


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