Especialistas criticam proibição de venda de inibidores de apetite



A proposta da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) de retirar do mercado brasileiro os medicamentos inibidores de apetite foi bastante combatida nesta terça-feira (7), em audiência pública realizada para discutir o assunto. A maioria dos convidados para o debate apontou como alternativa o maior controle sobre o uso da sibutramina e da anfetamina e seus derivados, remédios usados para emagrecer e controlar o peso.

VEJA MAIS

A audiência foi promovida em conjunto pelas comissões de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) e de Assuntos Sociais (CAS). Este é o segundo debate sobre o tema. O primeiro foi realizado em 2 de maio pela CDH.

Segurança

No debate desta terça-feira, o presidente da Anvisa, Dirceu Barbano, explicou que não se trata de ser a favor ou contra a retirada de inibidores de apetite do mercado, mas, sim, de garantir à sociedade segurança e eficácia no uso de medicamentos para combater a obesidade, "um dos maiores problemas da sociedade moderna".

Segundo explicou, a própria multinacional Abott, fabricante da sibutramina, retirou dos Estados Unidos o seu produto e aconselhou o Brasil a fazer o mesmo, depois da realização de pesquisas que comprovaram o perigo do medicamento.

No Brasil, de acordo com Barbano, nenhuma pesquisa conseguiu comprovar a eficiência dos inibidores de apetite para garantir a sua permanência no mercado.

- Ou vamos deixar esses produtos no mercado com a garantia de que são seguros e eficazes ou não podemos permitir que permaneçam - assinalou o presidente da Anvisa.

No mesmo sentido se posicionou o representante da Sociedade Brasileira de Cardiologia, Geniberto Paiva Campos, para quem a Anvisa tem o dever de analisar e determinar quais as drogas devem ou não ser usadas.

Ele sugeriu que a responsabilidade na decisão de se proibir ou não a utilização de inibidores de apetite no Brasil seja dividida entre todos os segmentos envolvidos, na direção de se formular políticas públicas claras que garantam a saúde pública.

Contrários

Contra a retirada dos inibidores de apetite do mercado falaram vários especialistas, que sugeriram um maior controle na prescrição desses medicamentos.

O diretor geral da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), Paulo Giorelli, afirmou que o impacto da obesidade na saúde pública é enorme, pois está entre as principais causas da diabetes, do câncer e da hipertensão arterial, entre outras enfermidades. Para ele, os inibidores de apetite têm sua importância, mas precisam ser usados com cautela.

- Os inibidores de apetite reduzem, em média, apenas 10% do peso corporal dos pacientes. Portanto, ninguém tem a inocência de pegar um obeso mórbido e tratar com medicamentos anorexígenos - afirmou Giorelli, para quem é preciso focar o tratamento na causa da doença e não simplesmente na obesidade.

O diretor da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, João Salles, defendeu a retirada dos derivados de anfetamina do mercado, pois não há, segundo explicou, pesquisas que comprovam sua eficiência. Mas quanto à sibutramina, garantiu que vários estudos asseguram os bons resultados do produto, "desde que a bula seja seguida".

Na opinião do presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica (SBCM), Carlos Lopes, o problema não está no medicamento, mas na má formação médica, ou seja, em sua avaliação, "na mão de indivíduos competentes, esses medicamentos não acarretam maiores problemas".

Outro representante da SBCM, o nutrólogo Durval Ribas Filho, destacou que o combate à obesidade se faz também com "prevenção, atividade física e mudança de hábitos alimentares".

A posição do Conselho Federal de Medicina (CFM), conforme o secretário da instituição, Desiré Carlos Callegari, é de, em primeiro lugar, garantir a autonomia do médico para decidir qual medicamento utilizar e, em seguida, assistir a população. Segundo ele, o próprio conselho já tem ajudado no controle dos inibidores de apetite, punindo os profissionais que os prescrevem exageradamente. Mas, em sua opinião, a proibição de uso desses medicamentos não deve ser feita.

- Não podemos deixar de ofertar a um obeso uma medicação bem prescrita e bem controlada - alertou Desiré.

Senadores

Autor dos requerimentos para a realização do debate, o senador Paulo Paim (PT-RS), que também presidiu a audiência, alertou para o grave problema da obesidade no mundo e, em especial, no Brasil, onde mais da metade da população adulta está acima do peso. No caso das crianças, disse ele, o problema já atinge uma em cada três, na faixa etária entre cinco a nove anos. Ainda segundo Paim, o Brasil é o terceiro maior consumidor mundial de inibidores de apetite à base de anfetamina, substância já proibida na Europa.

O senador Cyro Miranda (PSDB-GO) apontou a necessidade de estudos em bases científicas do problema.

- Precisamos eliminar a fase do poder econômico e ir para o estudo científico - afirmou, com relação à venda de inibidores de apetite.

Ataídes Oliveira (PSDB-TO) observou que a obesidade no Brasil é um caso grave de saúde pública. Mas disse que a retirada dos inibidores de apetite do mercado "será lamentável", pois muitos doentes dependem do medicamento para controlar o apetite e o peso.



07/06/2011

Agência Senado


Artigos Relacionados


Endocrinologista contesta proibição à venda de inibidores de apetite

Entidades médicas criticam proposta para banir venda de inibidores de apetite

Especialistas discutem uso de inibidores de apetite à base de Sibutramina

Publicado estudo sobre venda de inibidores de apetite

CAS discutirá decisão da Anvisa de proibir venda de inibidores de apetite

Consumo de inibidores de apetite em expansão no mundo