Especialistas defendem apoio da sociedade às pessoas com distúrbios mentais



Na audiência pública -Saúde Mental: Desafios no Governo, no Congresso e na Sociedade-, realizada nesta quinta-feira (26) pela Comissão de Assuntos Sociais (CAS), especialistas defenderam o sistema comunitário de tratamento dos portadores de distúrbios mentais, ressaltando a importância de implementação mais rápida do modelo que prevê a inclusão do paciente na sociedade, humanizando o atendimento e eliminando os preconceitos.

O professor Ileno Izídio da Costa, secretário da Associação Brasileira para o Avanço Conjunto da Filosofia, da Psicopatologia e Psicoterapia, pediu a rápida regulamentação da Lei de Saúde Mental, para que a reforma psiquiátrica seja finalizada, com ações capazes de dar maior conforto para aqueles que padecem de males mentais.

- A regulamentação passa também pela sociedade e é preciso que ela seja interdisciplinar, composta por profissionais de diferentes áreas e segmentos, como psiquiatra, psicólogo, assistente social, terapeuta ocupacional e até vizinhos que possam pensar em conjunto a problemática do doente mental. Não pode haver o privilégio de um profissional sobre outro - disse o professor, que cobrou urgência nas ações do governo.

A especialista em educação especial Ângela Gomes enfatizou a necessidade de maior atenção para medidas preventivas, durante todas as fases da vida, que possam evitar o surgimento de doenças ou impedir que elas se tornem crônicas. Para isso, ela destacou que a detecção precoce das doenças é importante, inclusive as de causas orgânicas e as geradas pelo uso de drogas e alcoolismo.

No tratamento, Ângela Gomes defendeu que a sociedade não estigmatize o doente mental, para que ele possa naturalmente ocupar os mesmos espaços que os demais cidadãos. Ela também disse que a legislação brasileira é boa, mas precisa ser implementada.

O coordenador adjunto de saúde mental do Ministério da Saúde, dr. Alfredo Schechtman, relatou o processo de transição do modelo de internação hospitalar do doente para o modelo de atendimento comunitário, a partir do fim dos asilos, que prevaleceram por muito tempo no Brasil. Ele registrou que apenas 2,3% dos recursos do Sistema Único de Saúde (SUS) são usados na área, enquanto a Organização Mundial de Saúde (OMS) sugere um percentual de 5%.

Esse quadro se agrava, já que, segundo Schechtman, observa-se um crescimento do quadro de distúrbios psíquicos, especialmente aqueles ligados à violência urbana, ao desemprego e às drogas. Nesse cenário, ele destacou que não é possível oferecer assistência à população apenas com atendimento especializado e é preciso o suporte da comunidade, o que, na sua opinião, vai ser positivo inclusive para a sociedade.




26/06/2003

Agência Senado


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