Especialistas pedem acompanhamento de custos e legado da Copa e Jogos Olímpicos



A realização de megaeventos como a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos pode trazer grandes benefícios ao Brasil, disseram nesta quarta-feira (28) os participantes da primeira audiência pública de avaliação da preparação do país para o ciclo de eventos esportivos que terá início em 2014. Mas será necessário, reforçaram, acompanhar de perto os gastos governamentais e o legado que ficará para a população do país.

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Em sua exposição inicial na Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE), o diretor do Grupo de Pesquisas em Estudos Olímpicos da Universidade Gama Filho, Lamartine Pereira da Costa, considerou o descontrole orçamentário uma "característica dos megaeventos". Mesmo na Inglaterra, que se prepara para os Jogos Olímpicos de 2012, já ocorreram, disse ele, quatro adaptações nos orçamentos, apesar de um controle diário dos gastos.

Para ilustrar os riscos de excesso de gastos nos períodos que antecedem os megaeventos, Costa citou o caso da Grécia, que hospedou os Jogos Olímpicos de 2004 e agora enfrenta uma grave crise financeira. Mesmo assim, ressaltou a importância da Copa e das Olimpíadas para o Brasil. Ele recordou que muitos países disputam esses eventos e que os chineses não hesitaram em promover grandes investimentos destinados à realização dos Jogos de Pequim, em 2008.

- Um país não pode hesitar na promoção de grandes eventos, que precisam ser controlados e gerenciados. Temos que pensar grande - afirmou Costa, em resposta ao senador Cristovam Buarque (PDT-DF), para quem investimentos em educação e saúde deveriam ter tanta atenção como os destinados aos dois eventos esportivos.

O professor defendeu ainda o chamado "legado reverso" dos dois megaeventos. Ele citou como exemplo a transformação de parte do espaço do Estádio Olímpico João Havelange (Engenhão), no Rio de Janeiro, em campus da sua universidade, destinado a atender cinco mil estudantes.

Autoestima

O professor alemão de Economia do Esporte Holger Preuss, da Universidade Johannes Gutenberg, admitiu que altos custos de construção de estádios fazem parte de possíveis legados negativos dos megaeventos. Mas ele ressaltou como parte dos legados positivos o aumento de turismo, a renovação urbana nas cidades onde ocorrem os eventos e, principalmente, o aumento da autoestima da população e o que chamou de "experiência de bem-estar".

- Os turistas que foram à Alemanha para a Copa do Mundo de 2006 aprenderam que os alemães também sabem celebrar e podem ser divertidos. A Copa da África do Sul ajudou a melhorar a imagem de todo o continente africano e a combater o pessimismo. E a China disse ao mundo, em 2008, que ela está de volta e não é um país de segunda classe - exemplificou.

O presidente da CE, senador Roberto Requião (PMDB-PR), disse que as audiências públicas sobre os preparativos do Brasil são importantes para se obter a informação necessária ao exercício da função fiscalizadora que o Senado deve exercer. O presidente da Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle (CMA), Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), pediu "mais ousadia" do governo na atração de turistas para o país na época dos dois megaeventos. E o presidente da Comissão de Desenvolvimento Regional e Turismo (CDR), senador Benedito de Lira (PP-AL), solicitou atenção para que o Brasil tenha benefícios de longo prazo com os eventos.

Fifa

A senadora Ana Amélia (PP-RS), autora do requerimento de realização do ciclo de audiências públicas sobre o tema, lembrou que a Federação Internacional de Futebol (Fifa) lançou recentemente dúvidas sobre a capacidade do Brasil de cumprir o calendário de obras para a Copa do Mundo.

Por sua vez, o senador Randolfe Rodrigues (PSol-AP) considerou um "acinte à segurança nacional" o projeto de lei de regulamentação da Copa de 2014, que estabelece punição até para torcedores que picharem muros e permissão para que apenas uma marca de cerveja possa vender seus produtos nos estádios. Ela anunciou que apresentará requerimento para que sejam ouvidos no Senado representantes da Fifa e o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira.

A senadora Lídice da Mata (PSB-BA) observou que o impacto da Copa do Mundo será diferente nas várias regiões do país, o que exigirá uma análise mais detalhada sobre o seu legado. E o senador Zezé Perrela (PDT-MG) opinou que a Copa, a curto prazo, só será bom negócio para a Fifa. Ainda assim, ressaltou, "eles ainda querem interferir na nossa soberania nacional".



28/09/2011

Agência Senado


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