Estudos da Unesp mostram que mais de 30% do mel é adulterado em São Paulo



Produtores ou indústrias costumam utilizar glicose de milho ou de cana-de-açúcar para obter maiores volumes

Dois estudos desenvolvidos no Centro de Isótopos Estáveis, unidade do Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista (Unesp), câmpus de Botucatu, mostram adulterações no mel produzido e comercializado no País. De acordo com as pesquisas, tais adulterações são feitas com glicose de milho ou de cana-de-açúcar e foram identificadas em lotes do produto recolhidos em apiários e em supermercados.

Em tese de doutorado defendida no programa de pós-graduação em zootecnia, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Unesp, também no câmpus de Botucatu, a agrônoma Elvira Maria Arauco avaliou o grau de pureza de 211 amostras de mel adquiridas junto a apicultores de 15 Estados. Do total, 8% apresentavam adulterações. “Além da mistura em si, durante o aquecimento para a adição de glicose, o mel também perde proteínas, minerais, vitaminas e enzimas importantes”, explica Elvira.

Também apresentaram adulterações as amostras de mel comercializadas em supermercados de sete Estados, apesar de certificados pelo Serviço de Inspeção Federal (SIF). De um total de 61 pequenas porções, 11 delas (18%) continham glicose de milho ou de cana-de-açúcar.

O resultado foi obtido pela então estudante Cibele Regina de Souza em pesquisa para sua monografia de conclusão do curso de Ciências Biológicas do Instituto de Biociências da Unesp. “No Estado de São Paulo o problema é ainda mais grave, já que das 19 amostras coletadas, seis (31%) estavam adulteradas”, aponta.

O mel é um alimento nutritivo e rico em 14 proteínas, glicídios, potássio, minerais, enzimas, além das vitaminas C, B1 e B2. É produzido com néctar das flores ou secreções de plantas que são recolhidas e transformadas por abelhas melíferas, a partir de combinações com substâncias específicas do próprio inseto.Sobre o método – De acordo com o orientador das pesquisas e supervisor do Centro de Isótopos Estáveis, Carlos Ducatti, os dois estudos foram realizados tendo como base a diferença do valor padrão dos átomos de carbono 13 e 12 do mel puro e dos produtos analisados. Nesse caso, é levado em conta que, para a produção do mel, as abelhas sugam o néctar de plantas frutíferas, cujo primeiro composto do ciclo de fotossíntese resulta em três átomos de carbono (C3). Já a cana-de-açúcar e o milho, de onde se extrai a glicose utilizada nas adulterações, têm como primeiro composto quatro átomos de carbono (C4). Essa diferença, a base das análises, equivale a dizer que o isótopo denominado carbono 13 do mel puro é mais leve do que o da glicose.

Seguindo essa técnica, nas análises, o valor do isótopo ou do átomo do produto avaliado tem de ser igual ao da proteína do mel puro, utilizado como referência por ser um modelo padrão encontrado na natureza. “Essa é uma metodologia quantitativa que oferece segurança à análise de falsificação de produtos, por se basear na constituição original do modelo”, acrescenta Ducatti.

Segundo o docente, o Centro utiliza o método oficial adotado na Europa e nos Estados Unidos. “Os tradicionais, utilizados pelos órgãos de fiscalização, muitas vezes não conseguem identificar com absoluta segurança as adulterações cada vez mais sofisticadas”, diz. Ele cita como exemplo a substância HFCS (High Fructose Corn Syrup), de baixo custo de produção, obtida a partir do milho, que é freqüentemente adicionada ao mel puro para aumentar o volume do produto.

 Da Unesp

(M.C.)



02/20/2008


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