Ex-chefe de Polícia não comparece à CPI
O depoimento pela manhã de Luis Flávio da Silva, resultou na acareação do mesmo, à tarde, com o capitão Airton de Oliveira Cardoso, que já prestara depoimento à CPI apontando o ex-sogro como bicheiro e pagador de propina a policiais. Luis Flávio da Silva, em seu depoimento, negou envolvimento com o jogo do bicho, do qual disse estar afastado há mais de três anos, ou com policiais. Mas avisou aos deputados que o capitão Oliveira continua casado com sua filha e que os dois há seis meses ainda moravam em sua residência.
O capitão Oliveira confirmou que viu a saída de pacotes de dinheiro da residência de Luis Flávio para delegados de polícia, que disse se tratar de uma mentira. Oliveira ratificou o que dissera e lembrou que empregados da casa têm conhecimento desse fato. Sobre os delegados, o capitão voltou a confirmar que Luis Flavio conhecia todos os citados e que o delegado Ferrão fazia ligações para a residência, sendo que algumas delas ele próprio atendeu.
Numa ocasião, Luis Flávio teria sido presenteado com um queijo pelo delegado Ferrão, o que foi novamente negado pelo bicheiro. Quanto ao comando da empresa Center Bingo, o capitão negou e afirmou que seu padrasto era o responsável, ele apenas auxiliava. Oliveira reafirmou que Luis Flávio continua agindo como banqueiro do jogo do bicho e que os extratos bancários do mesmo podem confirmar através de pequenos depósitos diários.
Atualmente, Luis Flávio trabalha com venda de óleo combustível em Canoas. Tem participação na casa de bingo de propriedade do filho, em São Leopoldo, onde operaram máquinas caça-níqueis que foram apreendidas. Silva negou qualquer relacionamento com os delegados Abílio Pereira, Alexandre Vieira e Ferrão - citados pelo capitão Oliveira como envolvidos com a contravenção. Confirmou apenas que se relaciona com o delegado Abud.
O Grupo da Sorte, explicou aos deputados, foi uma associação de bicheiros criada há três ou quatro anos para fortalecer a atividade, mas a união não gerou resultados financeiros e por isso Silva se afastou. Desse período, negou qualquer desfalque de R$ 600.000,00 dos banqueiros. Sobre a transferência de dinheiro do jogo do bicho para policiais, Luis Flávio negou e disse conhecer o delegado Abílio Pereira da intimação para depor no inquérito por ele presidido na 4a Delegacia de Polícia e que envolvia pessoas do jogo do bicho. O delegado Alexandre Vieira conheceu quando foi indiciado no inquérito que indiciou diversos bicheiros, em 1994, quando confirmou que atuava na contravenção. O delegado Ferrão ele conheceu em Rio Grande, mas negou qualquer visita do mesmo em sua casa ou que tenha custeado seus estudos. Confirmou conhecer o delegado Abud porque foi namorado de sua filha.
Delegados
Também os delegados Abílio Pereira e Alexandre Vieira foram ouvidos hoje pela manhã na CPI. O primeiro fez uma exposição aos deputados sobre inquérito que investigou o jogo do bicho, por ele presidido, quando chefiou a 4a Delegacia de Polícia. O inquérito foi aberto por denúncia de roubo, incêndio e extorsão contra Luis Flávio da Silva e Airton de Oliveira Cardoso, atualmente capitão da Brigada Militar que na CPI do Crime Organizado fez revelações sobre o envolvimento da polícia com o jogo do bicho. Na época, o delegado Abílio Pereira não ouviu o capitão Airton porque se encontrava em férias ou no exterior. O delegado também disse aos deputados não conhecer pessoalmente o capitão Oliveira. A CPI convocou o policial porque o capitão, em seu depoimento, disse que viu na casa do ex-sogro, Luis Flávio da Silva - também ouvido pelo delegado no referido inquérito -, diversos envelopes contendo dinheiro para pagamento de policiais.
Abílio negou e disse que o capitão é desequilibrado e que move ação contra ele por calúnia. Também descartou qualquer contato, em sua atividade profissional, com bicheiros ou recebimento de vantagem dessa contravenção ou dos caça-níqueis.
O delegado Alexandre Vieira, que em 1994 presidiu inquérito sobre jogo do bicho, inclusive com o estouro de diversas fortalezas e apreensão de provas, foi ouvido pelos deputados por ter sido apontado pelo capitão Oliveira como envolvido com a contravenção. Na época, havia preocupação nacional de envolvimento desse ilícito com narcotráfico e homicídios, o que motivou a ação policial nas bancas de jogo do bicho no Rio Grande do Sul.
Foram indiciadas 18 pessoas, entre as quais Luis Flávio da Silva, que era bicheiro e fazia parte da associação denominada Grupo da Sorte, com sede no bairro Menino Deus. Alexandre Vieira também disse desconhecer pessoalmente o policial militar. Durante seu depoimento, negou o envolvimento de policiais com a contravenção. O inquérito, depois de concluído, foi encaminhado ao Ministério Público que o arquivou por falta de provas que, conforme o delegado, ficaram retidas no IGP para perícia e não chegaram a tempo para análise da promotoria.
Relator
O relator da CPI, deputado Vieira da Cunha, ao final dos trabalhos comentou que vai examinar o conjunto probatório para decidir quem indiciará por falso testemunho. "Genro ou sogro mentiu à CPI e por isso deve ser responsabilizado", declarou. Quanto a ausência do ex-chefe de Polícia, delegado Tubino, Vieira afirmou que ele terá uma nova oportunidade para colaborar com a CPI comparecendo na próxima quinta-feira, às 14h, quando os deputados tentarão realizar a sessão de acareação entre ele e os delegados Farnei Goulart, Nelson Oliveira, Roberto Pimentel e Lauro Santos. O relator adiantou que se Tubino novamente não comparecer, requererá o exame das suas condições de saúde, já que os funcionários da CPI que o intimaram afirmaram que aparentemente ele estava em boas condições de saúde, inclusive dirigindo, desacompanhado, o seu próprio carro.
10/11/2001
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