Ex-diretora do Araucária diz que investigação tem que acontecer sobre os grandes bancos



A ex-diretora e ex-gerente de câmbio do extinto Banco Araucária Ruth Whately Bandeira de Almeida disse, durante a fase de perguntas dos parlamentares da CPI do Banestado, que o foco das investigações do Banco Central e do Ministério Público sempre esteve centrado no ponto errado, o pequeno Araucária.

- O foco tem sido o menor dos bancos que operaram contas CC-5 em Foz do Iguaçu, o Araucária, a fim de proteger os grandes bancos. O Araucária nem mesmo tem como se defender, porque não tem acesso aos próprios documentos, já que foi liquidado extra-judicialmente pelo Banco Central - disse Ruth Whately Bandeira de Almeida.

Ela disse, como exemplo, que a proporção na movimentação do Araucária e o Bemge, por exemplo, era de R$ 1 milhão para R$ 19 milhões ou R$ 20 milhões. A ex-diretora do Banco Araucária garantiu que se a CPI rastrear todas as contas CC-5 e as remessas de dinheiro para o exterior vai descobrir quem enviou dinheiro de forma irregular para o exterior, e quais as remessas feitas através de Foz do Iguaçu a partir de outros pontos do país, sem declaração ao Imposto de Renda ou da origem .

A relatora ad hoc, senadora Ideli Salvatti (PT-MT), apresentou trechos de conversas telefônicas gravadas da depoente em 1998, em que ela menciona expressões como -cítricos-, -laranjas-, números de contas bancárias e depósitos bancários. Em uma das conversas, ela diz que -não pode mais inventar histórias para o Banco Central e não pretende mais prestar depoimentos em delegacias-.

Ruth Almeida reconheceu a própria voz, mas disse que não se lembrava das conversas, dos interlocutores e nem o significado de -cítricos-. Sobre a frase, pronunciada por uma mulher que ela identifica como a própria irmã, -aí vem os laranjas-, ela explicou que ela própria e o pai de ambas iriam doar uma quantia em dinheiro para que a irmã fizesse uma cirurgia de retirada de tumores do rosto.

- Minha irmã brincou com a história de laranjas porque, na época, o Ministério Público lançava notícias na praça sobre irregularidades no Araucária. Era uma brincadeira com esse fato - disse.

Ruth Almeida garantiu também que o Araucária não poderia fazer nenhuma operação irregular, porque a fiscalização do Banco Central era rigorosa sobre o banco. Ela confirmou o depoimento feito na semana passada pelo ex-dono do banco, Alberto Dalcanale Neto, de que não havia qualquer -laranja- com conta no banco, e que a liquidação extra-judicial foi feita pelo BC porque o Ministério Público e a mídia lançaram boatos sobre insolvência, o que acabou provocando uma corrida de saques e a iliquidez do Araucária.

A relatora Ideli Salvatti e os deputados Eduardo Valverde (PT-RO), Edison Andrino (PMDB-SC) e Dimas Ramalho (PPS-SP) disseram que não acreditaram no depoimento da ex-diretora do Araucária, e a acusaram de usar uma -memória seletiva-, que -esquecia- o que não convinha lembrar.



19/08/2003

Agência Senado


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