EX-DONO DA ENCOL APONTA JUROS ALTOS E BANCO DO BRASIL COMO CULPADOS



Num depoimento de cinco horas à CPI do Sistema Financeiro, o ex-dono da Encol, Pedro Paulo de Souza, afirmou nesta quinta-feira (dia 24) que a construtora quebrou por causa dos juros altos e da atuação do Banco do Brasil assim que começaram as dificuldades. "Numa inflação de quase zero ao ano, a Encol tinha de pagar por empréstimos juros superiores a 100% aos bancos do próprio governo", afirmou.Pedro Paulo acusou o Banco do Brasil de ter "enrolado a Encol por quase dois anos, com promessas de solução que nunca se cumpriam, enquanto os juros iam aumentando as dívidas e os mutuários se tornavam inadimplentes". Ele disse que o Banco do Brasil interferiu num momento em que o Banco Pactual negociava as dívidas bancárias da empresa e que Edson Soares Ferreira, ex-diretor de Crédito e Seguridade do BB, manobrou para que Pedro Paulo de Souza entregasse a presidência da Encol a uma pessoa da confiança do diretor. Essa pessoa, no entanto, "só trabalhava para que o BB recuperasse seus empréstimos". O ex-diretor Edson Ferreira será ouvido pela CPI nesta sexta-feira (dia 25), às 10h, junto com o atual diretor de Finanças do Banco do Brasil, Carlos Gilberto Caetano.Os problemas da Encol, conforme seu ex-dono, começaram no final de 94 quando o então ministro da Fazenda, Ciro Gomes, "instituiu um compulsório sobre os empréstimos, elevando violentamente as taxas de juros". Assim que Fernando Henrique Cardoso assumiu a Presidência da República, Pedro Paulo conseguiu uma audiência com o presidente, quando expôs a situação da empresa. O ex-secretário-geral da Presidência Eduardo Jorge foi encarregado então por Fernando Henrique de encaminhar o empresário à Caixa Econômica Federal. - Eu me encontrei umas sete vezes com Eduardo Jorge, mas a Caixa só emprestou R$ 16,9 milhões, o que não resolvia nossos problemas. Hoje, por conta desse empréstimo concedido no segundo semestre de 95, a Caixa se habilitou junto à massa falida da Encol para receber exatamente R$ 535 milhões, um verdadeiro absurdo - acrescentou.Já o Banco do Brasil, com empréstimos de aproximadamente R$ 100 milhões, habilitou-se perante a massa falida para receber mais de R$ 300 milhões, sendo cerca de R$ 200 milhões só de juros. O Banespa, que havia emprestado à Encol R$ 48 milhões, quer agora receber R$ 1,05 bilhão, informou à CPI o ex-dono da Encol.Questionado pelo senador Carlos Bezerra (PMDB-MT), Pedro Paulo de Souza negou denúncias de que tenha remetido grandes somas de dinheiro para o exterior. O senador, tendo às mãos uma auditoria da empresa Delloite Touche Tohmatsu, questionou o ex-proprietário sobre movimentações feitas em caixa dois de R$ 300 milhões ao ano e sonegação de impostos. Pedro Paulo negou tudo e afirmou que o texto da auditoria que "menciona essas loucuras era apenas um rascunho".O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) quis saber das chances dos mutuários da Encol de receberem alguma coisa. Pedro Paulo informou que o juiz que acompanha a massa falida já autorizou o repasse a mutuários de 32 mil frações de edifícios. Nesse caso, os mutuários têm de pagar a construção, ou o término de obras. Revelou ainda que a empreiteira Camargo Corrêa, com financiamento do Bradesco, negocia a construção de 259 prédios.Compareceram também à CPI, nesta quinta-feira (dia 24), dois ex-diretores da empresa, Marcos Antônio Borela e Rodrigo Dimas de Souza, este, filho do empresário, que deram esclarecimentos complementares.

24/06/1999

Agência Senado


Artigos Relacionados


Lindbergh aponta redução dos juros e integração sul-americana como estratégias para o Brasil enfrentar crise econômica

CPI OUVIRÁ NA QUARTA EX-DONO DA CONSTRUTORA ENCOL

EDUARDO JORGE NEGA RELAÇÃO FUNCIONAL COM DONO DA ENCOL

Anefac aponta queda de juros em fevereiro, apesar de medidas do Banco Central

Juros do crédito para pessoa física crescem em outubro, aponta Banco Central

Maldaner critica política de juros altos