Ex-presidente da Infraero diz que transferência de terminal de cargas para Ribeirão Preto atende a interesses individuais



Em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Apagão Aéreo, o ex-presidente da Empresa Brasileira de Infra-estrutura Aeroportuária (Infraero) tenente-brigadeiro-do-ar José Carlos Pereira afirmou que a possibilidade de transferência do terminal de cargas dos aeroportos de Guarulhos (São Paulo) e Viracopos (Campinas) para o aeroporto de Ribeirão Preto seria "lesiva aos interesses do Estado".O aeroporto Leite Lopes, de Ribeirão Preto (314 km de SP), é do estado de São Paulo e seu terminal de cargas foi privatizado e pertence à empresa Tead.

- Existiu a internacionalização e há interesse enorme em levar a carga para Ribeirão. E o interesse principal é do indivíduo que ganhou a licitação (para operar o terminal de cargas) - disse.

José Carlos Pereira afirmou que a diretora da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) Denise Abreu e o próprio presidente da agência, Milton Zuanazzi, defenderam publicamente a transferência das cargas para Ribeirão Preto. Na opinião do ex-presidente da Infraero, caso essa transferência ocorresse, a Infraero perderia uma receita anual expressiva. Segundo ele, esse setor rendeu à Infraero em Congonhas e Viracopos, até meados de 2007, mais de R$ 250 milhões.

O tenente-brigadeiro destacou que o aeroporto de Ribeirão Preto não tem condições de receber cargas e que, apesar de ter sido internacionalizado em 2003, nunca recebeu um vôo internacional. As pistas daquele aeroporto foram corrigidas, informou o ex-presidente da Infraero, mas há problemas ambientais que impedem o funcionamento de vôos internacionais no local. Ainda assim, destacou, "há um interesse enorme em colocar carga internacional em Ribeirão". Para José Carlos Pereira, não haveria problema, no entanto, na transferênciadessas cargas para outros aeroportos da Infraero, como o de Confins, em Minas Gerais.

Opinião pessoal

Perguntada pelo relator da CPI, Demóstenes Torres, se defende a transferência das cargas de Guarulhos e Viracopos para Ribeirão Preto, a diretora da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) Denise Abreu afirmou que "pessoalmente" é favorável à manutenção do recebimento de cargas internacionais em São Paulo, mas que há outras alternativas além de Ribeirão Preto e que a melhor solução seria a realização de obras em Viracopos.

- Ribeirão Preto receberia uma parcela ínfima da carga - disse.

A diretora da Anac afirmou que não há terminal de carga construído no Aeroporto de Ribeirão Preto - apesar de ter havido licitação nesse sentido - e que a construção de um terminal e o recebimento de vôos internacionais dependeriam de ampliação do aeroporto. Observou, entretanto, que há problemas ambientais que impedem a realização dessas obras.

- Hoje não há como levar sequer um vôo de carga para aquele aeroporto - disse Denise Abreu, afirmando que, na melhor das hipóteses, esse terminal poderia funcionar daqui a quatro anos.

A diretora da Anac garantiu que falou da transferência apenas como uma possibilidade futura, eventual, e disse que considerou as afirmações do tenente-brigadeiro "caluniosas". Disse ainda que conhece o proprietário da empresa Tead, Carlos Ernesto Campos, de nome, mas que não é amiga dele. E garantiu que o empresário nunca esteve na Anac para encontrar-se com ela.

Denise Abreu destacou ainda que a possibilidade de recepção de carga em Ribeirão Preto teria de estar prevista no plano diretor do aeroporto, que sequer foi aprovado pela Anac. A diretora chegou a dizer em entrevista - comprovada por fitas reproduzida na CPI - que o plano diretor já havia sido aprovado. Ela explicou que havia se enganado, ao dar a entrevista, e que apenas dois itens do plano foram aprovados pela Anac.

Discussão política

A senadora Ideli Salvatti (PT-SC) questionou os motivos pelos quais um aeroporto regional como o de Ribeirão Preto foi internacionalizado e disse que é uma situação única no país. A senadora sugeriu que isso seja investigado.

Ideli destacou que "se houve tentativa de ajudar um empresário, pode ter acontecido ou não", mas a internacionalização "esdrúxula" aconteceu e "tem que ter uma investigação efetiva".

Denise Abreu informou que a portaria da Aeronáutica que determinou a internacionalização foi assinada em 30 de dezembro de 2002, no governo de Fernando Henrique Cardoso, portanto. O senador Sérgio Guerra (PSDB-PE) disse que só porque não há outros aeroportos regionais internacionalizados no país isso não quer dizer que "está errado".



16/08/2007

Agência Senado


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