Falta de informação e medo são obstáculos à adoção da bicicleta como meio de transporte



Além de cobrarem mais incentivos oficiais e a melhora da infraestrutura cicloviária, os defensores do uso da bicicleta como meio de transporte têm outra missão pela frente: convencer as pessoas dos benefícios e da segurança dessa opção, principalmente nas grandes cidades.

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Mesmo ciclistas experientes reconhecem que disputar espaço no trânsito com motos, carros e caminhões não é uma tarefa simples. A maioria, porém, acredita que a situação pode melhorar, por um lado com a criação de mais ciclovias e ciclofaixas, e por outro com campanhas de educação para todos os envolvidos no trânsito.

"Não vou dizer que é fácil", diz André Pasqualini, que chega a pedalar 100 quilômetros num único dia pelas ruas da cidade de São Paulo. Ele abandonou o carro há quatro anos e, atualmente, usa a bicicleta em praticamente todos seus deslocamentos, de compromissos de trabalho a compras no supermercado.

- O ideal seria a pessoa poder sair de bicicleta como sai de carro, com informação, se sentindo seguro. Mas acaba virando um ciclo vicioso: a pessoa não sai porque tem medo, e o governo não faz nada porque as pessoas não saem de bicicleta. Então é necessário que as pessoas vão para as ruas, para haver mudança - opina Pasqualini.

Segundo o cicloativista Renato Zerbinato, morador de Brasília, um problema é que as pessoas não conseguem enxergar a bicicleta como meio de transporte. "Morei em Palmas durante um ano e todo mundo usava a bicicleta. Mas mesmo assim eles achavam que estavam atrapalhando o trânsito", conta.

Ele acredita que é responsabilidade do poder público divulgar informações para garantir mais segurança não só aos potenciais ciclistas, como também àqueles que já utilizam essa opção para se locomover. Um caso preocupante, para Zerbinato, é o dos moradores de periferias de grandes cidades, que acabam transitando por vias mal sinalizadas e de alta velocidade, sem saber como se comportar para evitar acidentes. 

Cultura do carro

Outro obstáculo a ser vencido é a chamada "cultura do carro". Na justificação do PLS 166/2009, o senador Inácio Arruda (PCdoB/CE) aponta o monopólio do automóvel como um dos principais impedimentos à promoção da bicicleta como meio de transporte.

"Na verdade, a bicicleta deveria ser o meio de locomoção preferencial para distâncias curtas, de até dez quilômetros. Apenas a cultura de monopólio do automóvel, que lamentavelmente domina na população da maioria das cidades, impede que esse barato e salutar veículo seja usado com mais frequência", argumenta o senador.

A percepção equivocada de que os automóveis têm algum tipo de privilégio oficial no trânsito causa até situações de conflito. Renato Zerbinato conta que já foi xingado por motoristas que acreditam que "lugar de pedalar é no parque", embora o Código de Trânsito classifique a bicicleta como veículo, assim como os carros.

- É necessária uma campanha de esclarecimento sobre o uso da bicicleta como transporte alternativo e sustentável. Os motoristas precisam entender que, quando pedalo na rua, estou indo trabalhar da mesma forma que eles - diz.

Rodrigo Chia / Agência Senado



26/11/2010

Agência Senado


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