Fapesp promove programa gigante de pesquisas sobre mudanças do clima
R$ 100 milhões estarão à disposição da comunidade acadêmica paulista
A comunidade acadêmica paulista está convidada a participar do programa de pesquisa em mudanças climáticas globais, lançado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), no final de agosto, na sede da instituição. O diretor científico da Fundação, Carlos Henrique de Brito Cruz, afirmou, durante a cerimônia, que espera receber muitos “projetos relevantes, originais, ousados, avançados e criativos”. Os interessados têm até dia o 1º de novembro para enviar suas propostas. Serão dez anos de trabalho, com R$ 100 milhões para intensificar as pesquisas sobre sinais, causas e impactos das mudanças climáticas a respeito da vida no planeta.
O resultado da seleção dos projetos será divulgado no dia 5 de abril de 2009. Inicialmente, serão investidos R$ 16 milhões nas duas chamadas públicas de propostas abertas. Metade desses recursos é da Fapesp e os outros R$ 8 milhões serão destinados pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A cada ano, haverá novas chamadas e investimento de R$ 10 a R$ 12 milhões. “Esse esforço servirá para colocar o Brasil no patamar que merece no estudo dessa questão”, afirmou o diretor do CNPq, José Osvaldo Siqueira.
Uma das chamadas é para a linha Pesquisas em mudanças climáticas globais, que financiará propostas relacionadas a sete linhas de abordagem, como o estudo de impacto das mudanças climáticas na biodiversidade, saúde pública, agricultura e pecuária e os efeitos causados no homem. “Pretende-se receber grande número de pesquisas para tratar das várias dimensões abrangidas pela temática (desde os aspectos físicos e químicos até as dimensões humanas) e envolver diferentes áreas do conhecimento”, salienta Brito.
Aquecimento global – A outra linha, de Desenvolvimento de modelo de sistema climático global, selecionará apenas um trabalho sobre a criação de um modelo climático global brasileiro. O diretor científico explica que envolverá atividade conjunta de 30 a 40 cientistas na busca de um modelo climático nacional, com o maior grau de sofisticação possível. “Queremos ser capazes de produzir nossos próprios modelos, com peculiaridades regionais, e não só utilizar modelos feitos lá fora”.
Além de financiamentos, os cientistas vinculados ao programa da Fapesp terão acesso ao supercomputador de simulação de mudanças climáticas que será instalado no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) em 2009. A máquina será adquirida em conjunto pelo Inpe e pela Fapesp e custará R$ 48 milhões. O presidente do Inpe, Gilberto Câmara, colocou o novo equipamento, pessoal qualificado e a infra-estrutura da instituição à disposição da comunidade científica para um “esforço integrado e multidisciplinar em todas as áreas do conhecimento abrangidas pelo programa, que será um marco nas pesquisas científicas brasileira”.
O climatologista do Inpe, Carlos Nobre, informou que os cientistas participantes dos estudos de clima terão à disposição 30% do tempo do supercomputador. Afirmou que o equipamento será um dos seis mais potentes utilizados na área de estudos climáticos e que as pesquisas são necessárias porque “o aquecimento global é inequívoco. Esse fenômeno não pode ser atribuído apenas às causas naturais. A melhor explicação é o aumento de emissão de gases que provocam o efeito estufa. Nosso estilo de vida é responsável por isso”.
Panorama – Nobre disse que o desafio é descobrir as causas das mudanças climáticas globais para evitar seus efeitos negativos, diminuir a vulnerabilidade frente às alterações e aumentar a capacidade de adaptação. Na abertura do evento, o sociólogo e ex-presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, elogiou a Fapesp por estar na liderança no apoio a pesquisas científicas e pelo lançamento do programa. Disse esperar que a nova base científica “ajude no enriquecimento da consciência da população sobre o tema e no processo de compreensão dos efeitos do aquecimento global para que se reduzam os riscos envolvidos na emissão de gases do efeito estufa”.
Brito Cruz traçou panorama dos principais trabalhos realizados para explicar as mudanças climáticas globais, e lembrou que os dados do IPCC, painel do clima das Nações Unidas, resultam de 200 anos de pesquisa. A história das descobertas das mudanças climáticas, segundo ele, começou com o matemático Jean Baptiste Fourier (1768-1830), que queria calcular a temperatura do globo terrestre. Depois, John Tyndall (1820-1893), que verificou que a retirada de vapor d’água da atmosfera destrói as plantas.
Lembrou que Svante Arrhenius (1859-1927) contribuiu com a descoberta de que o gás carbônico está na base das mudanças climáticas e pode deixar a Terra mais quente. Em seguida, o engenheiro Guy Callendar (1898-1964) fez medições sistemáticas de temperatura em várias partes do mundo e notou que estavam aumentando ao longo dos anos. Por último, lembrou Charles Keeling (1929-2005), que mediu a concentração de gás carbônico na atmosfera e elaborou a curva de mudança climática.
Falaram durante o evento, ainda, o professor do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Carlos Alfredo Joly; o físico Paulo Artaxo, do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP); Eduardo Delgado Assad, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa); o professor Daniel Joseph Hogan, do Núcleo de Estudos de População e de Estudos e Pesquisas Ambientais da Unicamp. Participaram do encontro o secretário do Meio Ambiente, Francisco Graziano Neto, e o diretor administrativo da Fapesp. Na platéia, centenas de cientistas ouviram as exposições.
As sete linhas do programa de pesquisa
1. Funcionamento de ecossistemas – biodiversidade e ciclos de carbono e nitrogênio
2. Balanço de radiação atmosférica – aerossóis, gases traço (monóxido de carbono, ozônio, óxidos de nitrogênio e compostos orgânicos voláteis, entre outros) e mudança no uso da terra
3. Mudanças climáticas, agricultura e pecuária
4. Energia e ciclo de gases de efeito estufa
5. Modelamento de clima em escala global
6. Impactos das mudanças climáticas na saúde
7. Ações humanas, impactos e respostas – dimensões humanas da mudança ambiental global
. Projetos para o desenvolvimento de tecnologias para mitigação de emissões de gases e para adaptação em todos os setores da sociedade às mudanças no clima também serão apoiados.
SERVIÇO
Mais informações no site www.fapesp.br/mcg
Claudeci Martins, da Agência Imprensa Oficial
(M.C.)
09/09/2008
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