Festa marca início do Fórum









Festa marca início do Fórum
Abertura teve problemas técnicos e descortesia com convidados ilustres, impedidos de subir a palco de show

A abertura do 2º Fórum Social Mundial, ontem à tarde, atraiu milhares de pessoas ao Anfiteatro Pôr-do-Sol, em Porto Alegre. A organização substituiu a inauguração fechada da primeira edição, restritra a credenciados, por um espetáculo aberto e ao ar livre. A abertura ganhou em participação popular, com mais shows e menos discursos de autoridades.

O público foi formado aos poucos, no final da tarde, com a chegada dos participantes da Caminhada pela Paz, iniciada no Centro. Logo no início da solenidade de abertura, o público começou a deixar o anfiteatro, afugentado pela monotonia do espetáculo, que intercalava discursos e apresentações de grupos artísticos. A desorganização provocou crise entre o comitê nacional do Fórum e a Secretaria da Cultura.

Antes das apresentações de grupos musicais e de dança, três discursos, do prefeito Tarso Genro, de Cândido Grwybowski, diretor-geral do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) – em nome do comitê organizador – e do governador Olívio Dutra. Todos condenaram a globalização.

– Estamos construindo um mundo novo e justo que só se faz com a derrota do projeto neoliberal – observouTarso, defendendo “uma utopia que é possível”.

Olívio – mais ovacionado do que o prefeito – afirmou que o Fórum é “um desaguadouro de alternativas para os povos oprimidos e incorformados do mundo inteiro”. O governador, de chapéu, botas e bombacha, com um lenço branco no pescoço, condenou o terrorismo e a intervenção americana no Afeganistão.

– A humanidade não está à venda – disse o governador ao atacar “a lógica neoliberal que desumaniza a sociedade”.

Menos de uma hora depois de iniciado o espetáculo, boa parte do público começou a abandonar o local. Os intervalos entre uma apresentação e outra eram animados por cerca de 20 argentinos, no centro do parque. Faziam trenzinho, cantavam, agitando bandeiras do país.

– Somos mais de 200 no Fórum – comentou Ernesto Garcia, 24 anos.

Participaram das apresentações os grupos Malabares, Cia. Ética de Dança, Meninos e Meninas de Rua de Porto Alegre, As Marias da Graça e um conjunto de 120 vozes de vários corais da Capital.
A diversidade ficou evidente nos rostos, idiomas, nas roupas e bandeiras do público da abertura e da Caminhada pela Paz. A marcha, que abriu oficialmente o evento, durou quase três horas e, em um determinado momento, tomou conta da Avenida Borges de Medeiros, da esquina da Ipiranga até o Centro. A forte chuva do meio da tarde deu lugar a um pôr-do-sol que coroou a chegada da multidão ao anfiteatro de mesmo nome.

Bem na frente da marcha, as principais estrelas do Fórum carregavam uma grande faixa branca com a frase “contra a guerra e pela paz”, em português e inglês. Na comissão de frente estavam o ex-primeiro-ministro de Portugal, Mário Soares, de 77 anos, o presidente de honra do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, o governador Olívio Dutra, o prefeito Tarso Genro, as senadoras Benedita da Silva e Emília Fernandes, além de integrantes do Comitê Internacional do Fórum.

Vestindo uma camiseta da campanha global pela reforma agrária, o ativista francês José Bové acompanhou a marcha e, ao final, chegou timidamente até comissão de frente – no dia anterior ele foi impedido de se aproximar de Lula e de Olívio. Ao enxergá-lo, a senadora Emília Fernandes o puxou pela mão. Ele atendeu o chamado e segurou a ponta da faixa.

Os representantes argentinos no Fórum eram facilmente identificados pelas panelas que carregavam na mão. Também chamavam a atenção as bandeiras da Palestina e de Israel, inusitadamente juntas e acompanhadas por uma faixa com a frase “Pela proteção do povo palestino”.

– Estamos fazendo aqui o que o Bush e Sharon jamais fariam – provocava a paulistana de família israelita Marília Rondani.


Invasão aos olhos do mundo
O primeiro ato de protesto do 2º Fórum Social Mundial ocorreu na madrugada de ontem, dia de abertura do evento. Cerca de 150 pessoas invadiram o Edifício Sul América, na Avenida Borges de Medeiros, 417, no Centro.

No final da manhã, o número de ocupantes subiu para 350, entre adultos e crianças de 14 Estados, segundo o Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM), responsável pela ação.
Participantes estrangeiros do Fórum, inclusive o representante do Programa de Gestão Urbana da Organização das Nações Unidas (ONU) para América Latina e Caribe, Yves Cabannes, apoiaram a iniciativa. Anselmo Schwertner, da coordenação nacional do MNLM, disse não ter havido problemas com a polícia após terem sido estourados os três cadeados da porta do prédio.
– Perguntaram quem e quantos éramos, qual a nossa intenção e foram embora. Queremos negociar e obter a desapropriação imediata do imóvel – explicou Schwertner.

– Não temos como impedir certas ações feitas por um grande número de pessoas – disse o Comandante do Policiamento da Capital (CPC), coronel Ilson Pinto de Oliveira.

O oficial salientou não haver nenhuma queixa contra a invasão, o que determinaria impedimentos judiciais para uma ação da Brigada.

O Edifício Sul América, de 12 andares, foi construído na década de 30, quando começou a se formar o cinturão de arranha-céus que hoje compõe as proximidades da Esquina Democrática. Concebido como residencial, o prédio se transformou em espaços comerciais. Com o passar dos anos, os 13 proprietários e os moradores trocaram o local por bairros. Tentaram vendê-lo, sem sucesso. O imóvel foi incluído no Programa de Revitalização do Centro, da prefeitura municipal.

Às 14h10min, o secretário estadual da Habitação, Ary Vanazzi, e o diretor do Departamento Municipal de Habitação (Demhab), Carlos Pestana, se encontraram com a coordenação do MNLM. Nova reunião deve ocorrer hoje. Os invasores reivindicaram comida, fraldas e providências para a normalização do fornecimento de luz e medidas de saneamento no imóvel.

Famílias como a de Alice Dienir Barbosa Moreira, 48 anos, estão entre os invasores. Ela se deslocou de um assentamento de Uruguaiana para a Capital com outras 27 pessoas para a invasão. O ponto de encontro era a Praça da Alfândega, a poucas quadras dali.


Projeto emperrado
No ano passado, a prefeitura de Porto Alegre anunciou que o edifício Sul América abrigaria 78 famílias, por meio do Programa de Arrendamento Residencial, da Caixa Econômica Federal (CEF). Na época, chegou a ser divulgado que a CEF teria adquirido o edifício. Ontem, o diretor do Departamento Municipal de Habitação (Demhab), Carlos Pestana, não soube informar se a CEF havia comprado o imóvel. Mas o negócio não se concretizou.

Segundo a assessoria de imprensa da Caixa, o plano ainda está em fase de análise. O projeto previa que, em cada andar, os atuais dois conjuntos seriam transformados em seis unidades – cinco JKs e um apartamento de um quarto.


O dólar e o euro como símbolos
Desta vez, as cinzas resultantes do protesto do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre na abertura do Fórum Social Mundial não surgiram da queima da bandeira norte-americana, como ocorreu no ano passado.

Ontem, os bancários preferiram incendiar uma faixa representando, em cada face, uma nota de 10 dólares e uma de 10 euros.

O grupo gastou dois litros de álcool para acender o fogo, no ato de protesto contra a Área de Livre Comércio das Américas (Alca), a guerra do Afeganistão, pela anistia da dívida externa dos países, pelo fim da especulação do capital financeiro e a favor da intifada palestina. Palavras de ordem também foram dirigidas contr a o Banco Santander. A manifestação ocorreu diante da sede da instituição, no Centro, entre 12h e 13h.

Além de bandeiras do PSTU e cartazes contra os banqueiros, 80 panelas foram distribuídas no ato. Os utensílios tiveram curta existência. Em cinco minutos, o panelaço contra a situação da Argentina deixou nas mãos dos manifestantes uma massa disforme de metal.

A Companhia de Operações Especiais do 9º Batalhão da Brigada Militar destacou três homens para acompanhar o protesto. Eles se limitaram a ficar postados na entrada do Santander.


Começa o Fórum Econômico
Tempo ruim desestimulou grandes protestos na abertura do encontro em Nova York

A chuva fina que caiu durante o dia inteiro e a brusca queda da temperatura, de quase 20ºC na quinta-feira, inéditos no inverno nova-iorquino, para 1ºC na manhã de ontem, desestimularam grandes manifestações de protesto durante a abertura do 32º Forum Econômico Mundial, no hotel Waldorf-Astoria, em Nova York.

No primeiro dia do encontro, enquanto os participantes debatiam temas como a recessão nos Estados Unidos e o combate ao terrorismo, os 4 mil policiais mobilizados pela prefeitura para o esquema de segurança tiveram pouco trabalho. Durante a manhã, a concentração de manifestantes nas imediações do hotel limitava-se a algumas centenas de membros da seita chinesa Falun Gong, que faziam exercícios sob a chuva, atrás de uma barricada policial a dois quarteirões de distância do Waldorf-Astoria. Uma faixa pedia o fim do “terrorismo estatal” na China.
À tarde, um grupo de ambientalistas, não mais que uma dúzia, monopolizou as atenções de cinegrafistas e repórteres, cantando slogans contra o Fórum. Longe do hotel, no sul de Manhattan, cinco mulheres foram presas depois de subirem no terraço de um edifício e desfraldarem uma faixa que acusava o presidente George W. Bush e as grandes corporações de indiferença diante da epidemia de Aids.

O superesquema de policiamento será posto à prova amanhã, dia escolhido por organizações não-governamentais para a realização de uma grande manifestação de protesto contra o Fórum. Embora os organizadores garantam que os protestos serão pacíficos, a polícia, por via das dúvidas, resolveu se preparar para o pior. Uma área de 10 quarteirões em torno do Waldorf-Astoria, que fica na Park Avenue, entre as ruas 49 e 50, está interditada ao tráfego de veículos, e até as bolsas dos pedestres que passam pela região são inspecionadas por policiais, que usam cães treinados para farejar explosivos e detectores de metais.

Grandes caminhões carregados de areia, estacionados nas transversais da Park Avenue, servem como barreira contra possíveis terroristas, e blocos de concreto e grades metálicas bloqueiam os acessos ao hotel. Para entrar nele, mesmo norte-americanos têm de mostrar o passaporte.

Dentro do Waldorf-Astoria, alheios à movimentação policial, os mais de 2,5 mil participantes, entre chefes de Estado, empresários, líderes políticos e religiosos, cientistas e intelectuais, passaram o dia em mesas-redondas e seminários, discutindo o tema escolhido para o encontro deste ano, Liderança em Tempos Frágeis: uma Visão para um Futuro Compartilhado. Num dos seminários, intitulado Um Mundo mais Seguro: como Consegui-lo, os participantes debateram as ligações entre pobreza e terrorismo. Alain Dieckhoff, diretor do Centro para Estudos Internacionais e Pesquisa, da França, disse que a melhor maneira de combater o terrorismo é incentivar a formação de uma classe média forte, “que estimulará a adoção de práticas democráticas”.

Mas o tema que dominou o primeiro dia e conseguiu dividir opiniões foi a recessão norte-americana. Economistas e empresários não conseguiram chegar a um consenso quanto à recuperação da economia dos EUA: alguns prevêem um ano “extremamente difícil”, outros acreditam numa retomada do crescimento ainda em 2002.


Um encontro em que ninguém aceita o papel de vilão
O primeiro ato de um grandioso espetáculo teatral teve início ontem em Nova York. Enquanto milhares de pessoas se reuniam no Waldorf-Astoria para um exclusivo evento chamado Fórum Econômico Mundial, outros se agrupavam do lado de fora para protestar. Os prognósticos são de um estimulante e talvez violento confronto entre o bem e o mal.

O problema é que ninguém aqui quer aceitar o papel de antagonista. Todos os atores dizem representar o bem, pois sabem que atuam em um palco mundial, com Nova York como pano de fundo, onde qualquer ato agressivo captado por uma câmera pode manchar sua reputação por muitos anos.

Há também a questão delicada de se respeitar uma platéia cansada e impaciente: os nova-iorquinos, para quem os acontecimentos de 11 de setembro ainda estão muito frescos na memória. Toda ação e reação, cada cartaz ou cassetete levantados, serão interpretados pelo prisma dos escombros do World Trade Center.

Os organizadores do Fórum dizem que trouxeram para Nova York as melhores mentes do mundo, para solucionar os piores problemas do mundo. Os ativistas respondem que desafiarão as propostas do Fórum com protestos pacíficos.

A semente da transferência do Fórum para Nova York foi plantada no dia 11 de setembro, quando o fundador do evento, o professor suíço Klaus Schwab, estava em Nova York. Perturbado, Schwab retornou para a Suíça e propôs a mudança de seu lugar tradicional, a pacata estação de esqui de Davos, na Suíça, para Manhattan, em uma demonstração de solidariedade com uma cidade ferida. Críticos da conferência garantem, no entanto, que o motivo real é o esgotamento da receptividade do Fórum em Davos.

Como resultado do acordo firmado entre os organizadores e o então prefeito Rudolph Giuliani, cerca de 3 mil líderes políticos, teóricos e representantes culturais desembarcaram na cidade para cinco dias de discussões sobre aquecimento global, recessão mundial e ameaça do terrorismo.
Mas o Fórum Econômico Mundial traz também milhares de manifestantes, como anarquistas, socialistas, ambientalistas e sindicalistas. Eles vêem o fórum como uma força sinistra, uma oportunidade para um pequeno grupo de capitalistas fatiar o mundo como se fosse uma pizza. Muitos deles já participaram de protestos pacíficos em conferências econômicas similares, geralmente lançando mão de atos de desobediência civil. Alguns poucos, porém, se envolveram em confrontos violentos com a polícia, como em 1999, em Seattle, e 2001, em Gênova.


Premier belga revela decepção
O primeiro-ministro da Bélgica, Guy Verhofstadt, está decepcionado com o veto a sua participação no 2º Fórum Social Mundial, aberto ontem em Porto Alegre.

Disposto a cumprir uma intensa agenda de viagens, o primeiro-ministro foi surpreendido pela notícia de que a sua presença havia sido barrada pelos promotores do fórum, com a justificativa de que ele seria um governante de direita – portanto, deslocado no evento.

O comentário é de uma fonte do governo belga que preferiu não se identificar, mas explicou que a intenção do premier era participar, de uma maneira equilibrada, tanto do Fórum Social Mundial quanto do Fórum Econômico Mundial, em Nova York. Esse representante do governo da Bélgica afirma que o primeiro-ministro é um homem aberto ao diálogo e achou interessante estar em um evento como o de Porto Alegre.

Hoje, Verhofstadt participa como palestrante do encontro em Nova York. A sua idéia inicial era chegar amanhã a Brasília, para um encontro com o presidente Fernando Henrique Cardoso, e desembarcar em Porto Alegre no domingo. Ontem, porém, a informação era de que a viagem ao Brasil havia sido cancelada.

O líder belga tem um interesse especial pelo assunto “globalização”. No ano passado, publicou uma carta aberta expondo algumas idéias e sugestões, entre elas até mesmo a reformulação do G-7 (grupo dos sete países mais ricos do mundo). Esse integrante do governo afirma que o primeiro-ministro não se classifica como de direita, tanto que a idéia de participar do Fórum Social teria nascido de um convite de uma representante do grupo Attac, um dos organizadores do evento na Capital.

O premier da Bélgica achou chocante, ainda, ver-se lado a lado com organizações como a Pátria Basca e Liberdade (ETA) ou as Farc, também impedidas de participar do Fórum Social Mundial. Para essa fonte do governo belga, é como se fossem colocados em um mesmo saco um governo democraticamente eleito e movimentos radicais.


Comissária da ONU elogia política racial do Brasil
A caminho de Porto Alegre para participar do 2º Fórum Social Mundial, a alta comissária da Organização das Nações Unidas (ONU) para os Direitos Humanos, Mary Robinson, elogiou ontem em Brasília a ação do governo brasileiro em relação à população negra do país.

– Foi muito estimulante verificar que o Brasil está atendendo aos compromissos reafirmados durante a conferência de Durban sobre o racismo – afirmou .

A conferência, realizada em agosto e setembro do ano passado em Durban, África do Sul, aprovou uma declaração de princípios e um plano contra o racismo a ser adotado pelos 160 países participantes. Os Estados Unidos e Israel abandonaram o encontro em razão de desentendimentos com delegações árabes em relação ao Oriente Médio.

Em visita oficial ao Brasil, Mary almoçou ontem com o presidente Fernando Henrique Cardoso e fez palestra no Itamaraty.


RBS no Fórum Social Mundial
A RBS inaugurou ontem, no Centro de Eventos da PUC, uma estrutura própria para a realização da cobertura do 2º Fórum Social Mundial. O estande, localizado na parte externa do Centro de Eventos, conta com estúdios de rádio e televisão, cenários para entradas ao vivo nos telejornais da rede e recepção ao público.

Em funcionamento desde a noite de ontem, o espaço servirá de palco para a transmissão de programas da Rádio Gaúcha, RBS TV, TV COM e Canal Rural. A partir de hoje, além de transmitir flashes ao vivo do evento, os programas Gaúcha Entrevista, da Rádio Gaúcha, e Estúdio 36 Especial serão realizados diretamente do local.

Os veículos da RBS estão apoiando o trabalho de correspondentes estrangeiros enviados a Porto Alegre e repassando, via Agência RBS, textos e fotos para muitos jornais e sites de fora do Estado e do Exterior.


Magistrados discutem acesso à Justiça
Com palestra do presidente do Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), P. N. Bhagwati, foi aberto ontem o 1º Fórum Mundial de Juízes, no hotel Embaixador, na Capital.

Magistrados de vários países discutem até amanhã propostas de alteração do sistema judiciário para democratizar o acesso à Justiça.

Ex-presidente da Corte Suprema da Índia, Bhagwati disse que, apesar de teoricamente abertas, as portas dos tribunais estão fechadas aos pobres, que não tem outras opção a não ser “sofrer num silêncio angustiante” a violação de seus direitos.

– Direitos humanos devem ser efetivamente implementados e não se deve permitir que continuem sendo meras declarações. Temos de desenvolver novas ferramentas e inovar em estratégias com o objetivo de atualizar os direitos humanos e fazer com que eles tenham significado para as grandes massas – enfatizou.

Em seu discurso, o governador Olívio Dutra disse que “torna-se necessário recusar todas as tentativas de supressão das garantias constitucionais da magistratura, como a vitaliciedade, a inamovibilidade e a irredutibilidade de vencimentos”.


Mãe de manifestante morto é idolatrada
Entrevista: Haidi Gaggio Giuliani, professora aposentada italiana

Abrigado da chuva sob um toldo no Parque Maurício Sirotsky Sobrinho, o público disputou espaço para ver uma professora aposentada italiana de menos de 1m60cm e 58 anos que prefere ser chamada por Haidi, diminuitivo de Adelaide. A moradora de Gênova lembrou em discurso – registrado por duas câmeras da TV italiana Rai – o filho Carlo, morto por policiais em protesto contra a reunião dos países mais ricos do mundo realizada em julho passado.

Haidi Gaggio Giuliani reinaugurou no início da tarde de ontem a Cidade da Juventude, acampamento agora batizado com o nome do filho dela. Depois de ser idolatrada como a mãe de um mártir e de atender sem jeito a pedidos de autógrafos e de poses para fotos, Haidi foi ao Memorial do Rio Grande do Sul conferir a exposição sobre o confronto, a ser aberta às 13h de hoje. Tendo como intérprete José Luiz Del Roio, do Conselho Internacional do Fórum, Haidi concedeu esta entrevista a Zero Hora:

Zero Hora – A senhora estava em Gênova naquela ocasião?
Haidi Gaggio Giuliani – Sim. Estava plantando legumes em uma pequena horta que cultivo em casa. Ao fim do trabalho, entrei na sala onde meu marido assistia à TV e deparei com a imagem de meu filho morto. Surgiu uma defesa psicológica. Aquele não poderia ser o Carlo. Mas mais tarde chegou um carro da polícia. Não pude mais me enganar. Naquele dia, liguei para um irmão que mora em Milão e disse: “Parece que estamos vivendo uma guerra!” A coisa era dramática. Caiu um silêncio sobre a cidade. Só se ouviam os helicópteros. A cidade queimada, porque desde a manhã grupos de direita infiltrados pela polícia entre os manifestantes destruíam e incendiavam tudo.

ZH – Como a família atuava na política?
Haidi – Meu marido era dirigente da Confederação Geral dos Trabalhadores Italianos. Por longos anos, fui filiada ao Partido Comunista Italiano. Com o tempo me afastei.

ZH – Por quê?
Haidi – Assumi os afazeres da família. Para ter só carteira do partido, não vale a pena estar filiada. Minha participação no partido era pequena. Sou uma pessoa pequena.

ZH – Então como a senhora se sente ao ser idolatrada no Fórum?
Haidi – Depois da morte do Carlo, pensei que, se todas as pessoas pequenas como eu estivessem nas praças, talvez ele não tivesse morrido e outros não tivessem sido feridos.


Chomsky prevê mais violência no mundo
Lingüista americano relativiza impacto de atentados nos EUA

Principal conferencista do 2º Fórum Social Mundial, o lingüista americano Noam Chomsky disse ontem ao desembarcar em Porto Alegre, que outros fatos atrozes ocorrerão à semelhança dos atentados de 2001 nos Estados Unidos.

Qualificando os atos terroristas como “atrozes”, Chomsky disse que o fato de as armas estarem sendo apontadas para outra direção (os EUA, e não os países pobres) torna os acontecimentos de 11 de setembro “menos atrozes”.

– A Europa não conquistou o mundo sendo boazinha – afirmou.

Crítico da política de seu país, Chomsky foi recebido pelo vice-governador Miguel Rossetto na manhã de ontem, no Aeroporto Internacional Salgado Filho. Hoje, às 18h, ele faz conferência no Centro de Eventos da PUCRS.

Reconhecido por suas críticas à política e à mídia americana, o professor do Massachusetts Institute of Technology (MIT) falará sobre o tema Um Mundo sem Guerras é Possível. Depois de almoçar com o governador Olívio Dutra – que fez sua apresentação – e convidados no Piratini, Chomsky concedeu entrevista coletiva no Salão Alberto Pasqualini do Palácio Piratini.

O professor do MIT também mencionou a “militarização da corrida espacial”, que estaria sendo retomada pelo governo americano. A medida, afirma, seria necessária para levar a uma nova fronteira pelos mesmos motivos que as forças armadas foram enviadas para proteção.
Empolgado com o Fórum Social Mundial, o lingüista americano acredita que o encontro possa apontar para um consenso para orientar todos os indivíduos:
– Do ponto de vista pessoal, não seria apropriado tentar adiantar propostas. Estas devem nascer dos movimentos.

Chomsky elogiou a política brasileira de quebras de patentes e de defesa dos medicamentos genéricos, comandada pelo ministro da Saúde, José Serra.

– Para citar apenas uma das propostas alternativas, vocês devem saber que esses acordos têm elementos altíssimos de protecionismo. Eles têm de garantir todas essas forças – ressaltou.
Chomsky está lançando no Brasil o livro 11 de Setembro, que reúne entrevistas concedidas a jornais de todo o mundo sobre os atentados terroristas nos Estados Unidos no período de um mês após os ataques. Muitas delas foram feitas por jornalistas estrangeiros.

O lingüista disse que o evento na Capital é o embrião de um movimento diferente.
– O movimento dos trabalhadores começou clamando por uma internacional – salientou.


Não vamos procurar culpados”
Entrevista: Oded Grajew, coordenador da Cives

O coordenador da Associação de Empresários pela Cidadania (Cives) Oded Grajew, um dos idealizadores do Fórum Social Mundial, foi o autor da proposta de promover um encontro de participantes do evento em Jerusalém no segundo semestre deste ano, aprovada pelo comitê internacional do Fórum. Nascido em 1944 em Tel-Aviv (na época, situada na Palestina sob protetorado inglês), numa família judia de origem russa, Grajew chegou ao Brasil em 1956. Diante da violência no Oriente Médio, e do que define como fracasso dos líderes da região em solucionar o conflito, ele diz que é hora de “conversar”.

Zero Hora – De que maneira o Fórum Social Mundial pretende contribuir para a paz no Oriente Médio?
Oded Grajew – A idéia é sair da lógica de violência e de guerra entre israelenses e palestinos. Vamos levar até lá o mundo representado em Porto Alegre e dizer: “a paz interessa a todos nós. Queremos que vocês negociem a paz”. A lógica de terrorismo, retaliação e ataques tem de ser rompida.

ZH – Essa idéia não é ingênua, uma vez que todos os envolvidos e algumas das grandes potências mundiais ainda não encontraram uma solução para o caso?
Grajew – Não há outro caminho. Não vamos procurar culpados nem inimigos. Os governos da região não estão conseguindo promover a paz. Não acreditamos na solução pela via das armas. Queremos que seja intolerável para a humanidade a permanência da guerra naquela região, assim como se tornou intolerável a escravidão.


Lula discute plano de segurança com juízes
Projeto exclui prisão perpétua ou pena capital

O candidato do PT à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, vai aproveitar a segunda edição do Fórum Social Mundial, na Capital, para anunciar um pacote com propostas de governo.

Na noite de ontem, em jantar de Lula com um seleto grupo de juízes no Hotel Sheraton, o deputado Antônio Carlos Biscaia (PT-RJ) apresentou as linhas gerais do projeto.

Do grupo, faziam parte o presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministro Paulo Costa Leite, o presidente da Associação dos Magistrados do Brasil (AMB), Cláudio Baldino Maciel, e o presidente da Associação dos Juízes Federais (AJF), Flávio Dino. O sociólogo português Boaventura Sousa Santos também participou do jantar, oferecido por Lula.

O projeto de segurança feito pelo Instituto Cidadania – entidade capitaneada por Lula – será lançado somente depois do Carnaval. Depois do assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel (PT), alguns tópicos já foram divulgados, como o que prevê a chamada tolerância zero para crimes e a unificação das polícias Civil e Militar. Embora alguns líderes do PT preguem o endurecimento do discurso, o partido não defenderá no programa a prisão perpétua nem a pena de morte.

Lula criticou o governo federal, que excluiu a segurança pública da lista de 13 propostas prioritárias para votação pelo Congresso Nacional.

– Quero enviar para o presidente Fernando Henrique Cardoso o nosso plano. Trata-se do primeiro projeto de segurança feito no Brasil e é bem detalhado: define o papel da União, dos Estados, dos municípios, das polícias e o que é preciso mudar na Constituição – enfatizou o candidato do PT.

Na tentativa de rebater acusações de que o PT é o partido do contra e não apresenta sugestões, foram organizados para o Fórum quatro seminários sobre temas que vão da segurança pública à habitação, passando pela criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) e o combate à fome.


Dimensões das cabines de votação serão ampliadas
Compartimentos mais altos deverão garantir maior privacidade na hora do voto

O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Nelson Jobim, decidiu aumentar o tamanho das cabines de votação, com o objetivo de preservar a privacidade dos eleitores.

Mais altos, os novos compartimentos deverão ocultar todo o corpo do votante.

– Alguns mesários e os próprios eleitores ficavam controlando o tempo que a pessoa demorava para votar, se estava copiando os números dos candidatos. E chegavam a tentar adivinhar quem ela tinha escolhido, pela movimento do braço do eleitor na hora de votar – justificou Jobim.

Com a ampliação da altura das cabines, o presidente do TSE acredita que os eleitores terão mais privacidade na hora de votar. A exemplo de pleitos anteriores, a Justiça Eleitoral continuará estimulando os eleitores a levar uma “cola” com o número dos escolhidos.

– Eu mesmo, na eleição passada, não levei um papel, escrevi os números na palma da mão – revelou Jobim.

Para o presidente do TSE, é praticamente impossível alguém decorar os números de todos os candidatos aos cinco cargos disputados neste ano.

Jobim mencionou um estudo feito com base na eleição realizada há quatro anos. Segundo o levantamento, muitas pessoas conseguiam votar nos primeiros cargos, mas acabavam anulavando ou votando em branco nos restantes.

– No Distrito Federal (onde houve eleição eletrônica em 1998), a maioria dos votos brancos ou nulos ocorreu na periferia. Isso decorria da pressa, pois o eleitor era pressionado pela fila e pela mesa a votar rapidamente. Por isso, estamos estimulando o uso do papel – afirmou o presidente.


Serra critica “populismo esquerdista”
Candidato do PSDB ataca falta de iniciativa e de competência de alguns governos

O ministro da Saúde e candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra, criticou ontem num discurso em Sinop (MT) o “populismo esquerdista” e apontou o risco de o país ser “de novo dominado por forças do atraso”.

Ao ser questionado se as críticas eram dirigidas aos candidatos Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Roseana Sarney (PFL), Serra disse que se referiu a “forças sociais” e não a candidaturas específicas.

Sinop é um dos tradicionais redutos do PSDB em Mato Grosso, Estado governado por um tucano – o governador Dante de Oliveira – há quase oito anos. O comício foi realizado num clube da cidade.

– Temos de combater, portanto, em duas frentes: aqueles que são do contra e aqueles que não são contra nada, mas chegando ao governo não fazem nada a favor do povo de maneira sustentada, permanente, responsável – disse ele.

De pé sobre um banquinho, como nos tempos em que presidia a União Nacional dos Estudantes (UNE), no início dos anos 60, diante de cerca de 800 militantes do PSDB, o ministro evocou o desastre político-econômico da Argentina para mostrar que o conservadorismo também pode provocar crises.

– A ameaça ao Brasil, no nosso futuro, não é apenas o populismo esquerdista. Olhem para a Argentina: lá não tinha populismo esquerdista, era um governo conservador – disse.

Numa crítica indireta a Roseana ou ao governador do Rio, An thony Garotinho (PSB), Serra condenou os programas eleitorais na TV e disse que a “pasteurização” já está chegando às idéias.

– Ficou tudo parecido. Se o sujeito tem voz fanhosa, aparece com voz de barítono, se é baixinho, aparece como jogador de basquete. Daqui a pouco vai estar todo mundo dizendo a mesma coisa, porque tudo se terceiriza: contrata, pede um paper, um trabalho e aí vai repetindo.

O governador de Mato Grosso, Dante de Oliveira (PSDB) foi o último de uma lista de mais de cinco tucanos que discursaram antes de Serra. Ele também criticou o viés das campanhas na TV. Sem mencionar a pré-candidata Roseana, que estrelou peça publicitária em que aparece como a número 1, tal como uma conhecida marca de cerveja, Dante lamentou que candidatos estejam sendo equiparados a produtos como sabonetes ou bebidas.

O comício promovido pelo PSDB no Sesi-Clube terminou à 0h10min (horário de Brasília, 23h10min no horário local) e precisou ser interrompido por cerca de cinco minutos por causa da falta de energia elétrica, que interrompeu o som e deixou o local no escuro, no momento em que discursava o senador e pré-candidato a governador de Mato Grosso, Antero Paes de Barros. Serra permaneceu sentado à mesa e não comentou o problema.

O ministro conclamou os militantes tucanos a ingressarem na campanha com o “bico afiado”, para “bicar quem atrapalha, quem se opõe ao progresso”. Segundo Serra, no Brasil não faltam boas idéias, mas competência e vontade política de alguns governantes para executá-las.

– No Ministério da Saúde, nenhum dos nossos programas que mais deram certo a idéia foi nossa. Por trás da falta de vontade política, quase sempre está a falta de vontade de enfrentar interesses. E na vida pública a gente tem que também contrariar, quando a contrariedade é a favor do povo, é a favor da igualdade, é a favor do desenvolvimento.

O ministro visitará o Estado amanhã pela primeira vez desde que assumiu publicamente sua candidatura à sucessão de FH. Serra participará de um congresso estadual do PSDB em Imbé.


Polícia localiza possível cativeiro de Celso Daniel
Agentes dizem que documento em nome de prefeito foi encontrado em prédio abandonado em favela de São Paulo

A polícia encontrou o suposto local que teria servido para cativeiro do prefeito de Santo André (SP), Celso Daniel, assassinado no dia 20 de janeiro.

O local é um ponto comercial fechado há vários meses, na Rua Guaicuri, 80, na favela Pantanal, na região de Interlagos, em São Paulo.

O local foi descoberto na noite de quarta-feira e, entre vários papéis, os policiais do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) afirmam ter encontrado um papel de correspondência de um plano de saúde com o nome do prefeito assassinado. De acordo com o delegado Edson Santi, que comandou as operações, há outros indícios de que o local tenha servido como cativeiro para vítimas de seqüestros relâmpagos.

– Há pouco tempo, foi encontrada uma Blazer verde queimada perto daqui. Acreditamos que a quadrilha que utilizava o local é responsável por outros seqüestros ocorridos na capital – completou.

Os vizinhos mantêm a lei do silêncio sobre as pessoas que freqüentavam o local. Uma das vizinhas, que se identificou apenas como Maria, pois teme represálias, acusou a polícia de ter invadido sua casa e a de outros vizinhos, em busca de pistas sobre os supostos seqüestradores.

– Arrombaram a fechadura da porta da minha casa, colocaram arma na boca do meu filho e da minha filha, que ainda está de dieta (teve filho há três meses). Mas nós não sabemos de nada. Eu saio de manhã para trabalhar, volto à noite e procuro nem tomar conhecimento do que ocorre por aqui – disse ela.

Também ontem, em Altamira (distante 740 quilômetros de Belém), a Polícia Civil do Pará prendeu quatro homens suspeitos de envolvimento com o seqüestro e morte do prefeito de Santo André. Eles foram detidos em uma blitz na rodovia Transamazônica e negaram ligação com o caso.
Cícero Antônio de Lima, 27 anos, e Ricardo Mendes dos Santos, 28 anos, são de São Bernardo (SP), Eumar Alves Rodrigues, 32, é de São Mateus (ES) e Haronildo Nascimento de Souza, 23, de Pacajá (PA).

O sargento da reserva do Exército Luiz Amaro da Costa Silveira, 36 anos, porém, não reconheceu os quatro suspeitos. Silveira disse ter ouvido uma conversa no banheiro da Rodoviária de Goiânia, no dia 19, na qual quatro homens pareciam se referir ao seqüestro, em linguagem cifrada. O grupo permanecerá preso porque no automóvel Gol onde estava, com placa de São Paulo, havia documentos falsos e maconha.

A foto dos quatro também deve ser enviada para São Paulo para que o empresário Sérgio Gomes da Silva, que acompanhava o prefeito no momento do seqüestro, identifique ou não os quatro. Três deles têm passagem pela polícia. Lima foi indiciado por porte de drogas. Segundo o delegado de Altamira, Carlito Martinez, Cícero já esteve preso no Presídio de Santo André. Santos tem passagem pela polícia por assalto e esteve preso na Casa de Detenção de São Paulo. Souza também já foi presidiário no Pará.

Os detidos declararam em depoimento à polícia que viajavam de São Paulo para o município de Pacajá para participar de um casamento de um amigo na cidade. Os quatro estavam em um Gol branco. A polícia não encontrou armas nem dinheiro.


Secretário explica ida a apartamento
O secretário de Serviços Municipais de Santo André (SP), Klinger Luiz de Oliveira Sousa, reafirmou ontem que esteve no apartamento do prefeito Celso Daniel (PT) no dia 19, depois do seqüestro, antes de o petista ter sido encontrado morto.

Ele disse que não acredita em crime político.

Sobre a ida ao apartamento, ele descreveu ter acompanhado a namorada de Daniel, Ivone de Santana, porque ela tinha detectado falha na secretária eletrônica do apartamento.

– A mensagem com a voz do prefeito estava apagada – observou.

Ele disse não ser um freqüentador do apartamento do prefeito e que, no dia em que chegou ao local com Ivone, foi ao quarto onde estava a secretária eletrônica. Ali, acionaram o equipamento, que não tinha nenhum recado, mas várias chamadas tinham sido desligadas assim que o sistema de gravação fora iniciado. Para Sousa, não houve nada de estranho ou suspeito no fato de os dois terem ido ao apartamento sem comunicar a polícia.

– Ela tinha a chave e considerava o apartamento parte de seu domicílio. Em nenhum momento, depois do seqüestro, os delegados da Delegacia Anti-Seqüestro (DAS) que acompanhavam o caso fizeram qualquer restrição ou deram qualquer indicação nesse sentido – justificou.

O secretário de Serviços Municipais da prefeitura de Santo André informou que, em princípio, ele acreditava ter sido o assassinato do prefeito apenas um crime de oportunidade, causado pelo fato de o prefeito ter passado no lugar e hora errados e ter sido seqüestrado por um grupo que ali estava para pegar qualquer um.

– Com o desenrolar das investigações, passei a acreditar em crime organizado, mas sem nenhuma conotação política – revelou.

Ele depôs na tarde de ontem na Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e relatou que foi perguntado sobre o perfil do prefeito, as possíveis inimizades políticas, amizades anteriores e atuais.

– Como eu era amigo do prefeito e um secretário muito próximo a ele, fui convidado para depor na condição de testemunha – disse.


Morre o prefeito de Jaguari
Almir Fiorin foi vítima de câncer

Foi sepultado no final da tarde de ontem, no Cemitério Municipal de Jaguari, o prefeito Almir Fiorin (PPB), 59 anos.

O político, que já havia sido prefeito entre 1983 a 1986, pelo antigo PDS, morreu vítima de câncer de pulmão, depois de lutar durante mais de dois anos contra a doença.

Fiorin estava internado havia mais de 20 dias no Hospital de Caridade de Jaguari, onde morreu na madrugada de ontem. Ele assumiu o cargo no início de janeiro, mas a doença impediu que retomasse as funções administrativas.

Natural de Jaguari, era um dos sete filhos do casal de agricultores Augusto e Maria Cassanta Fiorin. Casou-se com Aida Lena Fiorin, 57 anos, e teve os filhos Cesar, 30 anos, Gustavo, 28, e Patrícia, 24. Formado em Agronomia pela Universidade Federal de Santa Maria
(UFSM), dirigiu o Colégio Agrícola de Jaguari, onde lecionou durante anos.

A carreira política começou com o cargo de vice-prefeito, assumido em 1978. A liderança comunitária levou Fiorin a assumir a presidência do Lions Clube da cidade. Também foi presidente do Banco Sicredi e vice-presidente da Cooperativa do Vale do Jaguari. Para concorrer na última eleição, licenciou-se do cargo. Venceu a eleição com 4.333 votos, 52,1% do total.

O velório ocorreu ontem no Ginásio Municipal de Esportes. Deve assumir a prefeitura na manhã de hoje o pedetista Ivo José Patias.


Artigos

De que Fórum os gaúchos precisam?
Onyx Lorenzoni

A necessidade de se construir uma nova ordem mundial é tema corrente desde que o PT assumiu o governo do Rio Grande do Sul. Um discurso acadêmico bonito, mas vazio. Senão, vejamos. No ano passado, o 1º Fórum Social Mundial, teve como mote a inclusão. Passado um ano, alardeados os resultados exitosos do encontro, a organização do evento já comemora – antecipadamente – a expectativa de reunir mais de 50 mil participantes. Os excluídos de 2001, no entanto, continuam esperando a sua inclusão. Eles continuam amontoados nos barracos fincados ao longo da freeway, sobrevivendo em condições subumanas. Os mendigos e menores carentes continuam dormindo nas escadarias do Paço Municipal e esmolando nas sinaleiras da Capital. A única inclusão que houve foi a do FSM na mídia internacional em defesa de uma nova ordem mundial para a implantação do socialismo.

Este ano, afirma o governador Miguel Rossetto, o evento político irá discutir o crescimento da violência no mundo ao longo dos últimos 365 dias, “o terrorismo e a guerra como contrafaces da mesma moeda exigindo um programa e um compromisso que os governantes do mundo se mostram incapazes de responder”. Ao dirigir o foco das atenções para o cenário internacional, os atuais governantes teorizam sobre as dificuldades, adiam a solução dos problemas locais e demonstram preocupação com as crises mundiais. Mas e a violência enfrentada pelos gaúchos? Os seqüestros relâmpagos que incorporaram-se ao nosso dia-a-dia, os assaltos diários aos táxis-lotação, as invasões de residências seguidas de estupro de mãe e filhas, quando não de morte? Esta violência próxima da nossa realidade não merece um debate e uma atitude mais enérgica do Executivo rio-grandense?

São 912 mil gaúchos que não possuem qualquer rendimento e outros 179 mil que ganham até meio salário mínimo

Apropriando-me, ainda, dos exemplos usados no artigo de ZH de 15 de janeiro último, cabe destacar que a taxa de desemprego aberto em 2000 foi de 7,17% e, entre os jovens de 15 a 24 anos, atingiu 15,61%. Apesar da pseudopreocupação social dos governantes gaúchos com as mazelas internacionais relativas a pobreza absoluta, fome e desnutrição, trabalho infantil, eles parecem fazer pouco caso ou desconhecer a realidade em que vivem e à qual deveriam administrar. Vamos lá. São 912 mil gaúchos que não possuem qualquer rendimento e outros 179 mil que ganham até meio salário mínimo. Aqui, 229 mil crianças de quatro a 14 anos são forçadas a trabalhar precocemente e o índice de analfabetos completos ou funcionais representa 6,1% da população. Estas são barbáries do mundo real, cotidiano e próximo. Acreditamos que um outro mundo seja possível. Mas não um mundo de demagogia, onde os comerciais e as cidades vivas existam apenas na TV.

Não podemos esquecer que no século passado, com a desculpa de construir o paraíso comunista e implantar um mundo solidário e igualitário, o socialismo real condenou à morte 80 milhões de pessoas. Oportuno lembrar o poeta alemão Friedrich Hoederlin: “O que sempre fez do Estado um verdadeiro inferno na Terra foram precisamente as tentativas de transformá-lo em um paraíso”. Portanto, o caminho da prosperidade das nações passa pela conjugação da liberdade política com a liberdade econômica. Qualquer outra via, como diria Hayek, é o caminho para a servidão.


Colunistas

ANA AMÉLIA LEMOS

A seca e os estoques
Ainda não foram feitas estimativas precisas sobre as perdas na safra agrícola, como conseqüência da prolongada estiagem em várias áreas do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. As perdas podem chegar a 2 milhões de toneladas. Empresas que precisam de milho para ração de aves e suínos admitem que atravessadores estão especulando e se aproveitando da situação. Enquanto não for feito um levantamento adequado sobre as perdas, essa situação pode comprometer também outras áreas. As perdas na agricultura não são maiores porque, nas últimas décadas, os produtores de arroz aumentaram os investimentos em barragens, garantindo a armazenagem da água usada na irrigação e para o consumo do gado.

Esses investimentos, com recursos próprios, estão ameaçados de tributação, se a regulamentação do uso da água for aprovada pelo Congresso. “Mais uma vez, o produtor que investiu para garantir a produção, apesar da estiagem, será penalizado quando deveria ser estimulado, com linhas especiais de crédito, a ampliar a armazenagem de água”, defendeu o presidente da Associação dos Arrozeiros de Uruguaiana, Walter Arns. O empresário lembra que a seca reforça a tese dos pecuaristas da Fronteira Oeste no sentido de mudar os índices de lotação dos campos, naquela região. “Se fossem considerados os índices atuais do Incra, estaríamos criando, agora, o maior cemitério de bovinos do planeta”, enfatizou Arns.

Quanto às denúncias de irregularidades nos estoques de arroz da Conab, no Rio Grande do Sul, apresentadas neste espaço, o superintendente da empresa no Estado, Guilherme Socias Villela, informou que a fiscalização está em curso, nos silos e armazéns contratados pela Conab, para a manutenção dos estoques oficiais. Admitiu que, no passado, houve desvios, mas neste final de entressafra e início da colheita, quando podem ocorrer desvios, a fiscalização foi reforçada com apoio do Ministério da Agricultura, que deslocou fiscais de outros Estados para esse trabalho.
O superintendente não deixa de registrar que “às vezes, os que insistentemente pedem maior fiscalização dos fiéis depositários dos estoques do governo são os mesmos que pedem que a Conab seja mais condescendente com alguns raros infratores”.


JOSÉ BARRIONUEVO

Um novo tempo no Judiciário
Pode ser anunciada como uma sessão histórica a posse hoje, às 14h, do presidente e dos demais integrantes da administração do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul para um mandato de dois anos. O desembargador José Eugênio Tedesco, 62 anos, natural de São Francisco de Paula, é o 41º presidente em 128 anos de história do Poder Judiciário no Estado, desde os tempos da Província de São Pedro.

Pela primeira vez, a eleição da nova direção foi realizada em sessão aberta (sempre ocorreu a portas fechadas, vale sublinhar) e por aclamação. Houve uma costura política na formação da nominata, numa corte hoje formada por 125 desembargadores com a anexação do Tribunal de Alçada e seus 71 juízes.

No comando do TJE, assumem hoje, os desembargadores Carlos Alberto Bencke (3º vice-presidente), Élvio Schuch Pinto (1º vice), Tedesco (preside nte), Marcelo Bandeira Pereira (corregedor-geral) e Osvaldo Stefanello (2º vice).

A equipe
• Élvio Schuch Pinto, 66 anos, 1º vice, é natural de Camaquã. Foi presidente do TRE e da Ajuris. Também presidiu o conselho de administração do TJE. Formado pela UFRGS em 1961, é casado, tem três filhos e oito netos.

• Osvaldo Stefanello, 63 anos, 2º vice, formado pela UFRGS em 1965, é natural de Júlio de Castilhos. Foi presidente do TRE e da Ajuris. É casado, tem quatro filhos e um neto.

• Carlos Alberto Bencke, 54 anos, 3º vice, é natural de Santo Ângelo. Formado em Direito pela PUC em 1973, representa a classe dos advogados, dentro do quinto constitucional. É casado, pai de dois filhos.

• Marcelo Bandeira Pereira, 46 anos, corregedor-geral, é natural de Porto Alegre. Formado em Direito pela PUC em 1976, foi diretor-geral do Tribunal de Alçada. Casado, pai de cinco filhos, é desembargador desde 1998.

Negociador habilidoso
Ex-presidente do TRE, Tedesco presidiu a Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul, foi secretário-geral da AMB e presidente da Associação Latino-Americana de Magistrados. Como presidente do Conselho Administrativo do TJE na gestão de José Barison, foi o responsável pela conquista da autonomia financeira do Judiciário. É casado, tem cinco filhos e quatro netos.
Tendo na sua equipe mais dois ex-presidentes do Tribunal Regional Eleitoral (Stefanello e Schuch Pinto, que também foram presidentes da Ajuris), reúne uma equipe experiente e sintonizada. Reconhecido como habilidoso negociador político, Tedesco gera uma expectativa positiva em relação à afirmação do Poder Judiciário.

Daer versus Segurança
As 10 entidades que integram o Conselho do Daer encaminham ao governador uma carta objetiva sobre as tropelias cometidas pelo comando da Secretaria da Segurança, que resolveu estabelecer um rodízio na Polícia Rodoviária Estadual. Uma verdadeira referência entre os gaúchos, a polícia rodoviária atua na área de transporte, trânsito e segurança, agora com responsabilidade junto a comunidades às margens das rodovias.

Por unanimidade, o conselho rejeita a mudança.
Nenhum dos seus membros, da OAB à Sociedade de Engenharia, consegue compreender o objetivo da troca, numa primeira leva, de cem profissionais formados para a atividade por recrutas inexperientes.

Salvação da lavoura
Com o regresso de Flávio Koutzii à Assembléia Legislativa, desponta uma esperança na bancada do PT, desamparada sob a verve de Dionilso Marcon. Na reabertura dos trabalhos legislativos, no dia 19 de fevereiro, Koutzii poderá ser visto novamente na tribuna, onde sempre se destacou como bom tribuno, ao lado de Ivar Pavan, uma das revelações da legislatura.

Frente a frente
O ex-governador Alceu Collares, deputado federal, e o ex-líder do PT na oposição, deputado Flávio Koutzii, hoje chefe da Casa Civil, estiveram frente a frente no programa Polêmica, da Rádio Gaúcha, debatendo o Fórum Social Mundial. Mesmo tenso, o debate transcorreu em bom nível, não transparecendo as fortes divergências que resultam da CPI da Propina montada por Koutzii contra o governo do pedetista.

Na pesquisa interativa, 63% dos ouvintes que telefonaram identificam o Fórum Mundial “apenas como instrumento de promoção ideológica partidária”. Foram 4.183 ligações.

RS decide exportar segurança
Será lançado hoje um livro que tem a pretensão de apontar caminhos para a segurança pública com base na experiência comandada por José Bisol – definida na apresentação da obra como “trabalho de segurança sistemático, interinstitucional e multidisciplinar”. A violência “incrustada em cada canto” é vista apenas como um “sintoma das desigualdades sociais”.

Polícia: Desafio da Democracia Brasileira foi organizado por Isabel Freitas e Benedito Domingos Mariano com textos de diversos autores. Entre eles, o procurador-geral de Justiça, Cláudio Barros Silva, o chefe da Polícia Civil, José Antônio Araújo, o secretário da Justiça e da Segurança, José Paulo Bisol, e o subcomandante da Brigada Militar, Luiz Antônio Brenner Guimarães. Isabel Freitas é chefe de gabinete do secretário da Segurança (aquela mesma que já atuou no MST, a todo-poderosa Rosa Luxemburgo).

• Convocação – Integrantes do departamento de ensino da Brigada e de outras unidades, de folga hoje e amanhã, estão sendo convocados para participar, em traje civil, dos debates no Teatro da Ospa e da sessão de autógrafos do livro de Isabel. Uma circular foi distribuída às unidades, com ônibus à disposição. Também foram convocados os mais de 500 alunos do curso preparatório da Susepe.

Mirante
• O deputado Cézar Busatto e o presidente do PPS, Nelson Proença, distribuem hoje, ao meio-dia, em frente ao prédio 40 da PUC, manifesto propondo um avanço entre o Fórum Social e Davos. O documento ressalta que a efetiva paz só virá com diálogo e entendimento.

• Jantar na Sogipa hoje já não tem mais vagas. Servirá para marcar a posse dos dirigentes do TJE e da Ajuris, dentro de uma saudável sintonia entre o tribunal e a entidade de classe.

• O novo presidente da Ajuris, desembargador José Aquino Flôres de Camargo, 45 anos, toma posse às 18h. Natural de Porto Alegre, atua na 20ª Câmara Cível.

• Por sugestão de Nelson Marchezan, o PSDB faz um contraponto ao Fórum Mundial com mensagens do que faz o governo na prática no campo social, do combate à Aids à bolsa-escola. São 10 mensagens em outdoors. Na segunda, entra um recado para a prefeitura.

• O senador Suplicy optou por ficar em meio à platéia, na abertura do Fórum, longe do espaço VIP dos notáveis, onde se encontrava o rival Luis Favre. Distribuiu beijos e autógrafos, esbanjando simpatia.

• Na linha de frente, a senadora Emília Fernandes estendeu a mão ao agitador francês José Bové, que assim teve uma chance de desfilar segurando um cantinho da faixa carregada por Lula, Olívio e outros notáveis. Na chegada.

• Uma cerimônia discreta e para poucos convidados. Será assim o casamento do ministro da Educação, o gaúcho Paulo Renato, com a empresária Carla Grasso, amanhã, em SP. O ministro, que tem três filhos do primeiro casamento, optou por um evento simples, com jantar após a formalização da união por um juiz de paz.


ROSANE DE OLIVEIRA

Intolerância
Se a paz é o tema predominante no 2º Fórum Social Mundial, os organizadores deveriam ser os primeiros a cultivar a tolerância. Barrar a entrada do vice-presidente do Banco Mundial para Assuntos Externos, o norte-americano Mats Karlsson, e do primeiro-ministro belga, Guy Verhofstadt, é uma decisão autoritária, que macula o espírito de concórdia do Fórum. É diferente de vetar a presença de representantes da organização Pátria Basca e Liberdade (ETA), porque um fórum que elege a paz como tema não deve mesmo dar abrigo a terroristas.

O veto ao primeiro-ministro belga é constrangedor para o governo do Estado, que paga boa parte da conta da estrutura do Fórum. Foi o Palácio Piratini quem na semana passada anunciou a presença de Verhofstadt e informou que ele faria uma palestra sobre globalização no dia 3 de fevereiro.

Igualmente ridícula é a negativa em credenciar o vice-presidente do Banco Mundial. Os governos de esquerda se socorrem da instituição para seus projetos sociais – e o fazem porque os juros são menores –, mas a organização do Fórum diz que não teria como proteger um dos seus vice-presidentes da eventual ação de grupos de extrema-esquerda. Assustador.

Karlsson veio a Porto Alegre como convidado do Fórum de Autoridades Locais. O encontro deverá se consagrar pela pluralidade e pela conseqüência. Pela natureza dos cargos que ocupam, os prefeitos encerraram ontem seu encontro com propostas concretas para combater a exclusão social. A rede de cida des será um instrumento de troca de experiências e ajuda aos mais necessitados. Começou por Buenos Aires e Rosario. Os alcaldes das duas cidades argentinas levarão de Porto Alegre o compromisso dos colegas de arrecadar medicamentos e insumos básicos para garantir o funcionamento de hospitais e centros de saúde.


Editorial

A CONSTRUÇÃO DO FUTURO

O 2ºFórum Social Mundial, oficialmente inaugurado ontem com marcha, festas e um prounciamento contundente do governador Olívio Dutra, enfrenta a partir de hoje o desafio de propor caminhos para um século que se iniciou dividido e desigual e que, no ano passado, acrescentou a essa realidade um explosivo componente de intransigência e fanatismo. O encontro de Porto Alegre assumiu a responsabilidade de ser um contraponto para as políticas globais que geram exclusão e que perpetuam as desigualdades e as injustiças. O propósito não poderia ser mais generoso nem mais complexo.

Nos últimos anos, desde que as tentativas de liberalização do comércio se mostraram insuficientes, cresce à esquerda e à direita a preocupação de encontrar soluções eficientes, capazes de contribuir para a erradicação da miséria e para a promoção da educação, da saúde, da segurança e dos demais bens da vida civilizada. Trata-se pois de uma empreitada a ser assumida por toda a humanidade. Não é surpreendente, por isso, que como já ocorrera no ano passado os temários de fóruns tão diversos como o de Davos – neste ano realizado em Nova York – e o de Porto Alegre se repitam ou se complementem. Nas pautas de um e de outro estão temas coincidentes, a começar pela procura das causas gerais da intranqüilidade planetária e pela identificação de algumas delas. A mais evidente coincidência está numa visão crescentemente crítica, inclusive no fórum nova-iorquino, dos efeitos da globalização. O reconhecimento internacional do Fórum de Porto Alegre, a começar pela presença de um representante das Nações Unidas, confere-lhe não apenas um renovado status como tribuna contestadora, mas atribui-lhe especialmente a responsabilidade de produzir opções viáveis para os temas que levanta.

Há uma única ferramenta que é de fato indispensável: a capacidade de dialogar

Os recentes acontecimentos mundiais, que catapultaram a questão da paz à condição de tema dominante, são também os maiores incentivadores para que haja pontes entre o que se discute em Nova York e em Porto Alegre. A construção de um mundo de paz não pode dispensar a única ferramenta que é de fato indispensável: a capacidade de negociação.

O diálogo mundial, por isso, mais do que uma demonstração de tolerância, é uma necessidade e até mesmo uma condição para o sucesso das políticas a serem definidas. Neste sentido, não deixa de ser constrangedora até mesmo para os simpatizantes do Fórum Social a decisão de negar credenciamento ao chefe do governo da Bélgica e ao vice-presidente do Banco Mundial. Essa demonstração de sectarismo soa incoerente num evento idealizado para enaltecer a paz, como é a grande reunião de Porto Alegre. O fórum, que reúne autoridades e personalidades do nível dos que estão na cidade – Baltazar Garzón, Noam Chomsky e Adolfo Pérez Esquivel –, é muito maior do que tais pequenezas. São atitudes empobrecedoras como essas que poderão comprometer o futuro de uma iniciativa que pelo segundo ano consecutivo colocou a capital gaúcha no mapa político do mundo.


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02/01/2002


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