FH com a ONU na cabeça







FH com a ONU na cabeça
Presidente quer lugar no conselho de segurança e sonha com secretariado-geral

O encontro de hoje entre Fernando Henrique Cardoso e o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, é o penúltimo capítulo de uma novela que em parte terminará no sábado, na ONU, quando o presidente brasileiro discursar na abertura da Assembléia-Geral da organização e deixar claro que o Brasil quer ter voz de líder em uma nova conjuntura internacional, pós-atentados terroristas. Na ONU, segundo fontes do Itamaraty, Fernando Henrique vai pedir um assento permanente no Conselho de Segurança para o Brasil, um lugar ao lado das potências do primeiro mundo. É a primeira vez que um presidente brasileiro usa este plenário desde 1991, quando quem discursou foi Fernando Collor.

Hoje, com Bush, o presidente não vai nem se aprofundar em assuntos como o protecionismo americano. Mas, no discurso de sábado, Fernando Henrique falará da necessidade de uma globalização mais humana, da democratização da ONU, sobre a criação do Estado palestino, da taxação do sistema financeiro internacional, contra o protecionismo, pelos direitos humanos.
''O presidente não terá muito tempo com Bush, que estará recebendo vários líderes internacionais no mesmo dia. Serão encontros curtos'', disse um diplomata, que preferiu não se identificar. ''Não houve nem, como é de praxe, uma discussão prévia entre as chancelarias sobre a agenda''.

Comércio - Como adiantou o Jornal do Brasil, no último domingo, Fernando Henrique falará de relações comerciais, mas não será muito enfático nas críticas ao protecionismo americano. O filé, o presidente vai deixar para o discurso da ONU. ''Ele tem aproveitado o momento para passar o recado que quer'', afirmou uma fonte no Itamaraty. O momento é realmente propício. ''Depois do dia 11 de setembro, o presidente acelerou a implementação de uma estratégia diplomática que já tinha em mente. O conteúdo estava pronto, mas ele aproveitou a situação e fez adaptações'', disse outro diplomata.
Fernando Henrique está se aproveitando também da crise na Argentina, em especial na questão relativa ao assento permanente no Conselho de Segurança. Os argentinos são antigo rival no pleito. ''Ele está querendo deixar claro que o Brasil não é a Argentina, não é o Chile, não é a África'', disse uma fonte do Itamaraty.

Mas afinal, o que quer o presidente? Em Brasília, não é segredo, fala-se muito do secretariado-geral da ONU. ''Ele está mirando a sucessão da ONU em 2003'', disse um diplomata. Fernando Henrique tem trânsito. É amigo do ex-presidente americano Bill Clinton, do primeiro-ministro britânico, Tony Blair, e é muito respeitado na França. É também próximo do ex-líder soviético Mikhail Gorbachev, comandante da Perestroika. ''Quem vai discordar de uma globalização mais humana? Do reforço da democracia, dos direitos humanos?'', pergunta a professora Letícia Pinheiro, especialista em política externa brasileira do Instituto de Relações Internacionais da PUC-Rio. ''O discurso agrada a todos''.

A sucessão também está na pauta. ''Fernando Henrique está usando seu último palanque, reforçando o papel do Estado, da democracia, colocando limitações às soluções de mercado'', disse a cientista política Maria Regina Soares de Lima, do Instituto Universitário de Pesquisa do Rio de Janeiro . ''Tudo que está na moda''.
Segundo Pinheiro, falando lá fora, FH consegue distância da oposição. ''Aí o PT tem que correr atrás'', afirmou. ''É uma tentativa de manter o PSDB por cima'', disse um diplomata.

A nova e recente estratégia diplomática de Fernando Henrique, no fim, abre duas possibilidades. Se for realmente concreta, reforça a posição do Brasil nas negociações internacionais. O país ganha apoio e pode defender com mais disposição os interesses lá fora. ''Se o presidente conseguir aumentar os recursos de negociação ótimo, o cidadão ganhará quando o país negociar a Alca, por exemplo, ou um contencioso na Organização Mundial do Comércio'', disse Pinheiro. A segunda possibilidade é mais crítica. ''O difícil é achar que esse projeto vai à frente''.

''É um discurso de estadista para um país sem poder'', afirmou Soares de Lima. ''Mostrar que o Brasil está preocupado com a eqüidade é claro que é positivo, mas é essa a política no plano interno? Tem que haver vínculos entre a política interna e a política externa, se não o discurso fica vazio'', vira apenas um sonho de primeiro mundo.


Advogados criticam declaração de FH
Defensores dos quatro rapazes que mataram o índio Galdino condenam opinião do presidente favorável à prisão dos réus

BRASÍLIA - O presidente Fernando Henrique Cardoso foi alvo de ataques no segundo dia do julgamento de quatro dos cinco rapazes que mataram o índio Galdino Jesus dos Santos. Enquanto esperavam a leitura de mais de mil páginas do processo, os advogados de defesa criticaram as declarações do presidente sobre o caso. Fernando Henrique defendeu, em entrevista na terça-feira, a prisão de Max Rogério Alves, Antônio Novély Vilanova, Tomás Oliveira de Almeida e Eron Chaves de Oliveira. O quinto agressor, na época menor de idade, foi condenado a três anos de reclusão, mas cumpre a pena em liberdade.

Defensor de Novély, o advogado Heraldo Paupério disse que o presidente está mal informado. ''Eles já estão na cadeia'', ressaltou. ''Concordamos que o crime foi horrível e a conseqüência para todos foi terrível, mas eles já estão pagando.''

Pena - O advogado Raul Livino, contratado pelos primos Tomás e Eron, também reclamou. ''A defesa não pede a absolvição, mas que os meninos tenham a oportunidade de reconstruir suas vidas e ajudar a sociedade'', sustentou. E desafiou: ''Gostaria de saber o que pensa o presidente sobre a proporcionalidade da pena.''
Paupério informou que Fernando Henrique e o ministro da Justiça, José Gregori - também defensor de uma pena dura -, serão citados na sua sustentação oral durante o debate com a promotoria, sexta-feira. ''Vamos mostrar por que esse episódio causou tanta comoção na imprensa.''
As declarações do presidente não vão influenciar os sete jurados que decidirão o destino dos rapazes. Eles estão detidos no prédio do tribunal, sem comunicação e acesso a informações externas. Não podem conversar entre si sobre o processo e as impressões pessoais dos depoimentos. As 23 testemunhas - 19 de defesa e quatro de acusação - também permanecem no tribunal.

Leitura - Os depoimentos seriam iniciados ontem. Mas o segundo dia de julgamento foi exaustivo. A pedido das partes, a juíza Sandra de Santis leu quase metade das três mil páginas do processo, inclusive depoimentos dos réus e de testemunhas. Cada detalhe sobre o dia em que os meninos atearam fogo ao corpo do índio Galdino foi lido. A juíza também expôs o depoimento de conhecidos dos acusados. Eles elogiaram o comportamento dos réus antes do crime.
Embora os advogados não peçam a absolvição, os quatro rapazes podem ganhar liberdade se os jurados não encamparem a denúncia do Ministério Público. A promotoria os acusa de homicídio triplamente qualificado, crime hediondo, com pena de 12 a 30 anos de prisão. Para o promotor, os acusados cometeram crime torpe, intencional, sem direito à defesa e premeditado.
Os advogados de defesa sustentam que eles não tiveram intenção de matar. Cometeram um crime grave, mas decorrente de brincadeira mal-sucedida. Seria, então, lesão corporal seguida de morte. A pena é de quatro a 12 anos de cadeia. Como eles já têm cinco anos e meio de pena cumprida, poderão requerer liberdade condicional em seis meses ou liberdade provisória imediatamente.


Discussão sobre CLT termina em confusão
BRASÍLIA - A decisão do presidente da Comissão d e Trabalho da Câmara dos Deputados, Freire Júnior (PMDB), de proibir a entrada de manifestantes em uma sessão provocou uma confusão, envolvendo sindicalistas, parlamentares e seguranças da Casa. Impedidos de entrar, deputados, assessores parlamentares e representantes sindicais forçaram a entrada no plenário e quebraram a porta de vidro da sala. Onze pessoas ficaram levemente feridas com os estilhaços.

Os deputados iriam discutir e votar o projeto de lei 5.483/01 que torna mais flexíveis as disposições da Consolidação das Leis de Trabalho (CLT). Depois de uma manhã de debates tensos, a sessão foi adiada por dez minutos. O presidente da comissão, deputado Freire Júnior (PMDB-TO), trocou a sala da sessão, recomeçou a discussão com apenas parlamentares do governo e impediu o acesso ao plenário.
Freire Júnior negou ter barrado a entrada de outros deputados. ''A ordem foi impedir apenas a presença de manifestantes'', justificou. ''Nem que eu quisesse poderia barrar deputados de circular na Casa.''
As justificativas não convenceram a oposição. Walter Pinheiro (BA), líder do PT na Câmara, prometeu entrar com representação na Presidência da Casa para apurar o episódio. Segundo o petista, a decisão de mudar de sala, sem aviso, e impedir o acesso de representantes das centrais sindicais e parlamentares oposicionistas foi uma manobra para votar às pressas o projeto.

''Tentaram votar na marra, sem fazer um debate amplo com a sociedade'', reclamou o presidente da Central Única de Trabalhadores (CUT), João Felício. ''A questão tem que ser mais bem discutida, e não votada na surdina.''
Ao fim da confusão, membros da comissão se reuniram e decidiram marcar para a próxima terça-feira um seminário para discutir e, logo depois, votar o projeto.


TRE do Piauí dará posse a Napoleão
Mão Santa tenta no Supremo último recurso para revogar cassação do mandato por abuso de poder político e econômico

BRASÍLIA - O senador Hugo Napoleão (PFL) prepara-se para assumir amanhã, às 9h, o governo do Piauí. Mas enfrentará resistência de Francisco Moraes de Souza, o Mão Santa, do PMDB. Com o mandato cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por abuso de poder político e econômico, ele tentará dois recursos contra a posse do adversário na eleição de 1998.
Enquanto o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Piauí convoca Napoleão para receber o diploma e o cargo, os advogados de Mão Santa já têm prontos dois recursos extraordinários. São dirigidos ao Supremo Tribunal Federal (STF), contra a decisão de anteontem à noite no TSE.

Filho - Um dos advogados é Eduardo Alckmin, filho de ministro que integrou a instância máxima da Justiça Eleitoral. Tão logo o Diário da Justiça publique a sentença, ele dará entrada nas ações. ''Vai ser o feitiço contra o feiticeiro'', vaticinou Mão Santa em Brasília. Hospedado em hotel de classificação média, se disse vítima de ''uma armação tramada pelo PFL''.
Na verdade, Mão Santa foi surpreendido pelo TSE. Estava em Brasília em lobby a favor da ressurreição da extinta Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), fechada depois de um escândalo de desvio de recursos. Anunciada a cassação, recebeu um bota-fora solidário de 20 aliados e assessores. Na homenagem, parecia conformado. ''Eu ia mesmo sair em abril do próximo ano para disputar uma vaga ao Senado'', disse.

Manifestação - Ontem à noite, na entrevista, falou com irritação. Garantiu que será alvo de grande manifestação hoje, na volta ao Piauí. Segundo Mão Santa, o cargo deverá ficar para o presidente da Assembléia Legislativa, deputado estadual Kleber Eulálio, do PMDB.
Hugo Napoleão ignorou as ameaças do adversário. Desde o começo da noite de ontem estava em contato com deputados federais e estaduais do PFL e do PPB, para compor o secretariado. Na dúvida, só renunciará ao mandato de senador depois que o STF se pronunciar sobre os recursos de Mão Santa. ''Vou mandar uma fax'', disse o pefelista.
No governo, anunciou, uma das primeiras medidas que pretende tomar é pedir audiência ao presidente do STF, ministro Marco Aurélio de Mello, para evitar intervenção federal no Estado por falta de pagamento de precatórios.

Sem temor - Napoleão não teme o recurso contra a posse. ''Ganhei por unanimidade no Tribunal Superior Eleitoral, que é formado por três ministros do Supremo'', lembrou. ''O Mão Santa quer transformar em política uma decisão que foi jurídica''.
Na tarde de ontem, o presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), divulgou nota que se refere a Mão Santa como ''figura exponencial'' do partido. Acrescenta que ele exercia ''seu segundo mandato conferido pela vontade soberana do povo do Piauí''. A administração do governador cassado é descrita como ''trabalho do mais alto alcance sócio-econômico''.
Desde 1947 um governador não abandona o cargo por decisão da Justiça. O último caso foi em Pernambuco, onde Barbosa Lima Sobrinho, ex-presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), tomou posse no lugar de Nelo Campelo, destituído por fraude na contagem de votos.


Publicitário abre mão de Secretaria
BRASÍLIA - O presidente Fernando Henrique Cardoso terá de pensar em um novo nome para substituir o ministro Andrea Matarazzo na Secretaria de Comunicação da Presidência. O publicitário Luiz Macedo, fundador da agência MPM, desistiu de assumir o posto. Não foi surpresa para o presidente. No sábado, Macedo, de 70 anos, avisara FH, por telefone, sobre a possibilidade de abrir mão do cargo. Na terça-feira, levou ao Planalto os resultados de uma bateria de exames médicos. No Rio, onde mora, Macedo revela o diagnóstico. Tem arritmia cardíaca e ''umas outras suspeitas''. ''Nada de grave, mas o médico disse que correria riscos levando a vida estressante de ministro.''

O publicitário e o presidente haviam criado uma cumplicidade. No terceiro encontro, conversaram sobre a campanha de 2002. ''Presidente, até hoje não perguntei o nome de seu candidado'', introduziu Macedo. ''Quero dizer que o seu preferido não usará Luiz Macedo, nem a estrutura que eu montar. Mas vai se beneficiar do resultado do meu trabalho.'' Fernando Henrique adorou. ''Era isso que eu queria, por isso não convidei um político.''

O presidente vai escolher o substituto do publicitário quando voltar dos Estados Unidos. No dia 14 vai empossar os novos ministros Aloysio Nunes (Justiça), Ney Suassuna, (Integração Nacional) e Arthur Virgílio (Secretaria-Geral da Presidência).
Andrea Matarazzo, atual secretário de Comunicação, embala a mudança para Roma. Ontem, o Senado aprovou por 46 votos a favor, 18 contra e 4 abstenções, a nomeação dele para a embaixada brasileira na Itália.


Fernando Henrique na lista dos processados
Gregori enviará relação de 140 nomes para o Congresso

BRASÍLIA - Antes de deixar o cargo, o ministro da Justiça, José Gregori, vai passar por um constrangimento. Terá de enviar ao Congresso uma lista preparada pela Secretaria Nacional de Direitos Humanos com os nomes de 140 políticos, alvos de processos judiciais. O documento faz parte da Campanha Nacional contra a Impunidade e traz o nome de Fernando Henrique, chefe e amigo pessoal de Gregori. O presidente é acusado de crime eleitoral. A lista coloca lado a lado políticos acusados de homicídios com outros processados por discursos feitos na tribuna do Congresso.

A campanha contra a impunidade dos políticos começou a ser feita em novembro do ano passado, quando o Ministério da Justiça recebeu denúncia contra um deputado estadual da Paraíba, acusado de matar uma estudante. Desde então, a Secretaria vem recebendo levantamentos do Ministério Público e dos Tribunais de Justiça nos estados, com os nomes e as acusações nos cadastros jurídicos, que pesam contra cada político.
Ao lado de Fernando Henrique, figura na lista o ministro da Saúde, José Serra. Segundo o documento do ministério, ambos são acusados por infringir o artigo 377 do Código Eleitoral, que não permite a utilização de serviços e dependências de repartições públicas para beneficiar organizações ou partidos políticos.

Crimes - Há acusados e indiciados por vários tipos de crimes, passando por difamação, calúnia, violação de domicílio, receptação, lesão corporal, falsificação de documentos, apropriação indébita, estelionato e homicídio. A lista inclui nomes famosos, como o do presidente do Vasco, Eurico Miranda, apontado como responsável pela queda de alambrado em São Januário.
No documento, figuram também muitos nomes da oposição. Entre eles o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, Nelson Pelegrino, membro do Conselho Nacional de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana do Ministério da Justiça. Pelegrino disse que foi acusado de crime de delito de opinião quando era deputado estadual, por denunciar um desembargador. ''Só pode ser isso'', diz. O deputado também foi processado por um delegado que ajudou a afastar do cargo na Bahia.
A lista só não ficou ainda maior porque a Secretaria Nacional de Direitos Humanos não recebeu os dados da Justiça de cinco estados: Ceará, Espírito Santo, Pernambuco, Piauí e Sergipe.


Garotinho quer ser Roseana Sarney
Governador consegue do PSB lugar de estrela nos programas de televisão que partido vai exibir a partir de dezembro

BRASÍLIA - O governador do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho, bateu o pé e ganhou o que queria: vai ser a estrela da propaganda do PSB na televisão. Ele pretende repetir o sucesso da governadora do Maranhão, Roseana Sarney. A filha do senador e ex-presidente José Sarney saltou cinco pontos percentuais nas intenções de voto para o Palácio do Planalto depois do programa do PFL exibido na semana passada.
Na reunião do partido, no Hotel Nacional, Garotinho defendeu a concentração das inserções de TV na figura do candidato à Presidência da República. No caso, ele mesmo. ''Se soubermos passar nossa mensagem iremos para outro patamar'', disse. A tese foi aprovada pelos integrantes do PSB. O primeiro programa estrelado por Garotinho vai ao ar em 13 de dezembro. Haverá também 40 inserções curtas durante a programação das emissoras.

Índices - O aumento dos índices de Roseana, segundo Garotinho, é fruto dos programas publicitários. ''Qualquer candidato que tiver essa exposição chegará ao mesmo resultado'', desdenhou. Na pesquisa CNT/Sensus, Roseana subiu de 14% para 19% e o governador do Rio de Janeiro caiu de 9% para 7,6%.
Garotinho disse nada ter contra o PT, mas não quer ouvir falar de união das esquerdas agora. ''Cada candidato deve se apresentar e ver quem vai para o segundo turno'', afirmou. E aproveitou para criticar a proposta de política energética apresentada por Lula, na terça-feira passada. ''Com todo o respeito, é muito fraca'', disse.

Candidatos - Na passagem por Brasília, o governador participou do pré-lançamento de candidatos do PSB ao Senado e governos estaduais. Os mais fortes são o senador Paulo Hartung, aspirante ao governo do Espírito Santo, e o governador Ronaldo Lessa, que disputará a reeleição em Alagoas.
Nos últimos 30 dias, Garotinho intensificou sua campanha. Esteve em São Paulo, Aurora (CE) e Belém. Na próxima semana participará de atos públicos em Florianópolis, Chapecó e Joinville, em Santa Catarina, Goiânia (GO), Ceilândia (DF) e Cataguases (MG).


Artigos

Tarifas e mentiras
Joaquim Francisco de Carvalho

A crise de abastecimento de eletricidade - cujas conseqüências serão devastadoras para o desenvolvimento econômico e social nos próximos anos - é uma prova do fracasso da política de desregulamentação e ''financeirização'' do setor elétrico. Indistintamente, atinge tanto as faixas menos favorecidas da população quanto os estabelecimentos industriais, que precisam de eletricidade garantida e barata, para continuar produzindo.

É injustificável que o BNDES aplique vultosos recursos em programas destinados a ''remendar'' o modelo fracassado, numa tentativa de preservar a ''financeirização'' do setor, em beneficio dos ''comercializadores de eletricidade'' e outros agentes intermediários não produtivos, que estão nascendo e crescendo à sombra do chamado mercado spot de eletricidade. Tais agentes são na verdade atravessadores que - sem nada acrescentar à estrutura física do sistema, muito menos a sua eficiência operacional - apropriam-se de boa parte dos lucros resultantes da diferença entre os baixíssimos custos de produção das velhas hidrelétricas (cujos ativos contábeis estão quase integralmente depreciados) e os altíssimos custos das novas usinas, em especial das termelétricas a gás natural importado.

Ainda menos justificável é a intenção de abrir uma linha de crédito favorecido para ''repor'' supostas perdas que as distribuidoras de eletricidade alegam ter sofrido desde o início do programa de racionamento. E é no mínimo esquisito que as empresas beneficiadas com empréstimos dessa linha só precisem devolver o dinheiro ao BNDES quando receberem um reajuste de tarifas, que o próprio presidente do banco encarregou-se de oferecer. Os grupos estrangeiros que assumiram o controle de nossas antigas estatais devem estar encantados com tanta generosidade.

A Aneel (agência que deveria controlar o sistema elétrico) não tem a curiosidade de saber que perdas de lucros são essas. Vamos citar alguns números, na esperança de despertar-lhe a curiosidade, pelo menos em relação a uma das maiores distribuidoras do país, que detém o monopólio da eletricidade num mercado de 3,3 milhões de consumidores, para os quais distribui um total de 30 milhões de MWh por ano.
Os investimentos anuais da Light são amplamente cobertos pelo aumento real em suas tarifas, superior a 125% desde a implantação do Plano Real. No mesmo período, o IPCBr (índice de preços aos consumidores com renda até 33 mínimos, da FGV) teve um crescimento acumulado da ordem de 105%, enquanto a renda real média do trabalhador brasileiro caiu cerca de 7%.

Já descontados os impostos, a Light vende por uma tarifa média de R$ 140/MWh a eletricidade que compra de Furnas por R$ 40,00/MWh. Multiplicando a diferença (R$ 100/MWh) pela quantidade de energia distribuída (30 milhões de MWh por ano), vê-se que a geração bruta de caixa da empresa deve estar em torno de R$ 3 bilhões por ano.
O ''prejuízo'' da Light é facilmente explicável pela dívida em dólares que ela contraiu para adquirir a Eletropaulo, lançando como despesa operacional os encargos financeiros dos empréstimos. É verdade que outras empresas fazem até pior, contabilizando como empréstimos até investimentos rotineiros, com o objetivo de não pagar imposto de renda quando remetem os lucros para o exterior.

Na França, país da EDF, estatal que controla a Light, se alguma empresa ''perder lucros'' os acionistas exigem a substituição da diretoria, pois lá não existe BNDES para pagar a conta, com dinheiro público. E não passa pela cabeça de ninguém a idéia de aumentar tarifas para ''repor'' lucros de empresas de serviços público que porventura fiquem menos rentáveis por força de eventuais racionamentos.


Colunistas

COISAS DA POLÍTICA – DORA KRAMER

PMDB prepara ato anti-Itamar
Começa a ganhar corpo e adesões no PMDB o plano de, ainda este mês, os governadores, deputados, senadores e lideranças do partido lançarem manifesto contra a candidatura Itamar Franco. O objetivo é esvaziar as prévias marcadas para 20 de janeiro e oficializar uma dissidência que os partidários da idéia pretendem configure-se maior que o candidato, a respeito de quem já não têm dúvidas de que vencerá a disputa .
''Participar das prévias é convalidar a candidatura de Itamar Franco que, a meu ver, é um problema que transcende o PMDB, pois faz mal ao país'', justifica o governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos, que já obteve apoio de várias lideranças dentro do partido e pretendia falar do assunto com Fernando Henrique Cardoso, antes do embarque do presidente para os Estados Unidos, ontem.
Jarbas defende, de peito aberto, essa proposta - até mesmo sem medo de assumir claramente que não há como derrotar Itamar nas prévias -, mas ressalva que ainda vigora no partido a idéia de lançar Michel Temer para disputar com o governador de Minas. O governador de Pernambuco tem procurado os companheiros de partido tentando convencê-los de que a tese do embate é suicida.

Como, se os anti-itamaristas ganharam a convenção de setembro último?
''Os públicos são diferenciados. Numa convenção você trata com delegados que têm posições e compromissos políticos. Na prévia votam todos os filiados e, como falar mal do governo é uma tática eficiente em palanque, são enormes as chances de Itamar ganhar'', explica.
Pois então, os senhores comandantes do PMDB já deveriam estar cansados de saber disso antes da convenção e, ainda assim, aceitaram a tese da candidatura própria.
Pois é, e segundo alguns pemedebistas como Jarbas, Moreira Franco e Geddel Vieira Lima, se arrependimento matasse, estariam hoje todos eles mortinhos da silva. Menos, o comando também já detectou isso, o líder do PMDB no Senado que foi quem convenceu Itamar a ficar no partido dizendo-lhe coisas como ''agora é a sua vez''.

Enquanto ele fazia esse jogo por conta própria, os outros dirigentes aceitavam a candidatura própria apenas para não perder a convenção, mas certos de que, após a derrota, Itamar sairia do partido. ''Não adianta, agora, chorar sobre esse leite'', pondera Jarbas, que vê a clara intenção do líder do partido no Senado de manter Itamar para não desfazer a pressão sobre Fernando Henrique.
Moreira Franco concorda, mas acha que, nessa altura, o melhor mesmo é o comando assumir a responsabilidade pelo erro coletivamente. Seria bom aproveitar também para aprender definitivamente a lição de que há pessoas cuja natureza, por semelhante à do escorpião, torna-lhes a alma irremediavelmente traiçoeira.

O grave é um partido ter comando tão frágil que permita a um líder fazer sozinho movimentos em favor de seus interesses particulares e frontalmente contrários aos do partido.
Caso vença o plano do manifesto anti-Itamar, o que Jarbas Vasconcelos propõe é um texto sensato, no qual seja explicado muito claramente à sociedade porque os signatários não o querem como candidato do partido e qual é a proposta do grupo para a sucessão presidencial: a reedição da aliança com o PSDB, com ou sem o PFL. De preferência com.

Mas aí o partido faz o quê com aquele discurso da candidatura própria?
''Explicamos que não temos como nos transformar em oposição da noite para o dia, apenas por oportunismo, e enfrentamos o inconformismo e o desgaste na base'', conclui Jarbas, dando a impressão de que acha o preço até baixo, desde que seja para se livrar de Itamar Franco.

Respaldo político
Como se viu, os lances sucessórios não sofreram uma única alteração pelo fato de o presidente ter levado consigo à Europa os presidentes do PFL, PMDB e PSDB. É que os acertos políticos eram apenas pretexto. FH levou os representantes dos partidos que sustentam congressualmente seu governo, para apresentar-se lá fora como um governante que dispõe de respaldo político interno.
E essa é também a função dos políticos que o acompanham agora aos Estados Unidos.

Negócios à parte
O distanciamento político entre Leonel Brizola e Luiz Inácio Lula da Silva não impede que o petista faça uma defesa veemente do pedetista, no caso da reportagem da revista Veja, que insinua enriquecimento ilícito de Brizola.
Num encontro com o jornalistas, terça-feira à noite em Brasília, Lula fez questão de dizer o seguinte: ''Não acho que se possa levantar suspeitas a respeito de uma das poucas pessoas insuspeitas deste país.''
Aliás, o pemedebista Jarbas Vasconcelos comunga da tese e considerou a reportagem inútil por insuficiência de conteúdo. ''Brizola tem o que um homem na idade dele e com a trajetória dele teria sem a menor necessidade de recorrer a ilícitos.''
De fato, com 50 anos de vida política, não é qualquer um que pode apresentar a biografia de Leonel de Moura Brizola. Concorde-se ou discorde-se politicamente dele.


Editorial

Energia de Sobra

Foi inaugurada ontem a usina termelétrica Macaé Merchant, marco importantíssimo para o setor de energia não só no Estado do Rio, mas em todo o país. Para dar vida ao projeto, o grupo americano El Paso, líder mundial em comercialização de energia, investiu US$ 600 milhões e pôs a termelétrica em funcionamento em tempo recorde. A construção gerou 800 empregos diretos, cerca de 2,8 mil nos momentos de pico. Serão produzidos inicialmente 350 megawatts em oito turbinas movidas a gás natural. Mas, até o segundo trimestre de 2002, a usina vai atingir a plena potência de 870 MW, o que representa 18% da energia atualmente consumida no Estado.

Depois de fazer investimentos diretos de US$ 2 bilhões, a El Paso lançou no mercado americano US$ 1 bilhão em bônus de 30 anos, dando como garantia exatamente suas operações no Brasil. Colocou os títulos a juros de 7% ao ano, sem qualquer dificuldade: não poderia haver maior prova de confiança na empresa e no mercado de energia brasileiro, já que o lançamento foi realizado há duas semanas. Seria injusto, porém, não fazer referência à contribuição decisiva do governo estadual para o êxito do projeto da El Paso. Tanto o governador quanto o secretário de Energia, Wagner Victer, deram amplo apoio aos investimentos no Rio. O mérito é deles e do todo o secretariado. Aliás, como ressaltou o governador Anthony Garotinho, ''quando o poder público não atrapalha já é bom, mas quando ajuda tudo acontece''.

É verdade. Tome-se o exemplo dos fatos positivos que ocorreram na órbita da Agência Nacional do Petróleo (ANP) durante a gestão do engenheiro David Zylberstajn. Com o fim do monopólio da Petrobras e abertura da exploração e da produção de petróleo a grupos estrangeiros, o número de operadoras no setor pulou de 1 para 43. O regime de mercado passou a prevalecer dos transportes à revenda de combustíveis. Com a decisão de Zylberstajn de transferir-se para a iniciativa privada, havia que substituí-lo por nome de peso, que levasse adiante o regime de livre concorrência. O problema deixou de existir. O embaixador do Brasil na Argentina, Sebastião do Rêgo Barros, confirmou ontem que assumirá a direção da ANP, a convite do presidente da República.

Rêgo Barros é o homem certo no lugar certo. Além de diplomata de alto calibre, é preparado para missões estratégicas e tem profunda intimidade com as questões econômicas. Nos últimos anos, envolveu-se com as complexas negociações em torno do Mercosul, saindo sempre em defesa dos interesses brasileiros, mas sem ferir a sensibilidade dos argentinos. Também vem acompanhando com sintonia fina a crise econômica do país vizinho. Rêgo Barros tem energia de sobra e rapidamente se familiarizará com a agenda da ANP. Com pulso firme, mas diplomacia.

A ação da ANP se cruza com os investimentos da El Paso em geração termelétrica. O grupo americano é especializado na comercialização de energia, logo necessita de um ativo mercado secundário, para escoar o excedente de produção. Porém, o Mercado Atacadista de Energia (MAE), que acumula todos os vícios da burocracia estatal, não deslanchou. Seus primeiros executivos, por exemplo, preocuparam-se mais com o próprio bem-estar do que com o casamento de escassez e oferta. As te rmelétricas estão entrando em operação sem o ambiente ideal para os negócios com energia. O problema permanece.
Faz-se urgente corrigir os rumos do MAE ou abandoná-lo em nome de mecanismo mais eficiente, de preferência um pregão exclusivo para energia na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F). Eis um bom desafio inaugural para a reconhecida competência do embaixador Rêgo Barros.


Topo da página



11/08/2001


Artigos Relacionados


Dor de cabeça acomete 72,8% dos jovens

Aécio, o cabeça do Congresso

USP São Carlos recebe a exposição "Cabeça Dinossauro"

Evite que a viagem nas férias se torne uma dor de cabeça

Dor de cabeça é um dos males que mais afetam a população mundial

Exposição "Cabeça Dinossauro" começa amanhã na USP São Carlos