FH vai a programas de Serra
FH vai a programas de Serra
Nas ações de socorro ao candidato tucano, presidente só não participa de comícios
BRASÍLIA - A forma de participação do presidente Fernando Henrique Cardoso na campanha tucana foi acertada ontem. A partir de 20 de agosto, o presidente participará do palanque eletrônico, aparecendo ao lado do candidato José Serra nos programas de rádio e TV do horário gratuito. Mas fica fora de comícios. ''O presidente está disposto a fazer o que for necessário. Vai participar na medida da disponibilidade de tempo e da compatibilidade com o cargo que ocupa'', anunciou Serra.
A reunião teve a presença do candidato, da vice Rita Camata, dos presidentes e líderes dos três partidos que apóiam o candidato tucano e de três governadores: Marcone Perillo (GO-PSDB), Hugo Napoleão (PI-PFL) e Jaime Lerner (PR-PFL).
Em rápida entrevista ao final da reunião, Serra afirmou que a campanha não terá grandes mudanças. Mas admitiu que modificará o discurso. Sai a ênfase na economia e entram mais questões sociais. Admitiu que concordou, ainda, em ser mais ''sorridente'' e ''maleável'', atendendo à sugestão de Hugo Napoleão. ''Não estão vendo agora?'', brincou, dando uma sonora gargalhada.
Serra alterou a agenda e terá reuniões na semana que vem com governadores e prefeitos das 100 maiores cidades que o apóiam, adiando a visita à Região Norte.
Ele assegurou que não está preocupado com o crescimento de Ciro e fez um contraponto à proposta do candidato do PPS de governo de coalizão com Lula. ''Vamos fazer um governo de maioria, com a participação de todos os que queiram ajudar''.
Os governadores presentes evitaram comentar a ausência do colega tucano Tasso Jereissati (CE) e minimizaram a importância da reunião que ele terá com pefelistas que apóiam Ciro, como o ex-senador Antonio Carlos Magalhães e a ex-governadora Roseana Sarney. ''Não acredito que Tasso vá nos trair. Ele convencerá Antonio Carlos e Roseana a nos apoiar'', desconversou Perillo.
O vice-presidente Marco Maciel rechaçou a possibilidade de debandada no PFL devido à queda do candidato tucano nas pesquisas. ''O PFL não abandonará Serra'', garantiu.
O candidato assegurou que não foram feitas críticas ao comando da campanha na reunião. Mas o líder do PMDB na Câmara, Geddel Vieira Lima (BA), que anteontem tinha reclamado da excessiva centralização, disse: ''A campanha vai mudar. Ficará mais ativa e terá maior participação de todos''.
Os aliados só divergiram quando foi discutida a participação de FH em comícios. ''Não seria ético nem é da tradição republicana'', alertou Maciel. Geddel, por sua vez, defende que o presidente faça ''tudo o que a lei permitir''.
Ao sair, o presidente do PMDB, Michel Temer, defendeu que o presidente reveja os aumentos do gás e da gasolina. E considerou ainda ''muito positiva para a campanha'' a queda dos juros anunciada pelo Banco Central. Serra elogiou a decisão do BC, mas negou ter tido interferido nela.
Vox Populi confirma subida de Ciro
SÃO PAULO - A pesquisa do Vox Populi divulgada ontem à noite, confirmou os números de anteontem do Ibope e mostrou Ciro Gomes (PPS) isolado na segunda colocação. Encomendada pelo ''Correio Braziliense'', ela mostra Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com 34%; Ciro com 24%; José Serra (PSDB) com 16%; e Anthony Garotinho (PSB) com 11%.
Nas simulações de segundo turno, Ciro é quem se sai melhor contra Lula, perdendo por 43% a 41%, mas em situação de empate técnico. Lula supera vence Serra por 46% a 34% e Garotinho por 50% a 27%.
O crescimento de Ciro aparece também na pesquisa espontânea. Nela, Lula tem 26%; Ciro, 16%; Serra, 9%; e Garotinho, 6%. No quesito rejeição, quem aparece melhor é Ciro: só 12% não votariam nele em qualquer hipótese. Serra tem 24% de rejeição; Lula, 28% e Garotinho, 31%.
Foram ouvidas 2.807 pessoas entre 13 e 15 deste mês em 173 municípios de 24 Estados. A margem de erro é de 1,9%.
A partir de hoje, quando uma instituição financeira, um investidor ou um participante do mercado financeiro encomendar pesquisa eleitoral com intenção de divulgação, terá que comunicar à Comissão de Valores Imobiliários (CVM) num prazo de 24 horas.
Lula se diz mais velho e se compara ao maracujá
Em Recife, petista promete transposição do São Francisco
RECIFE - Luiz Inácio Lula da Silva, candidato do PT à Presidência, prometeu ontem, em Pernambuco, fazer a transposição do Rio São Francisco, de forma a aproveitar as sua águas para irrigar terras do Nordeste. O projeto, que é antigo, geralmente é apoiado pelos políticos dos Estados nordestinos, com a exceção dos da Bahia.
Lula disse que não está atacando os adversários porque este não é o seu ''estilo de fazer política'', e que sua atitude não é estratégia para buscar apoio dos que ficarem fora do segundo turno. ''Lembra que Collor usou a mãe da minha filha para me atacar em 1989? Não fui nem responder. O denuncismo de campanha é insanidade. Isso aparece e desaparece, ninguém apura. É irresponsabilidade''. E concluiu: ''Essas denúncias só têm uns 30% de credibilidade. Fale se tiver algo consistente. Se não tiver, fale bem de você, que ganha mais.''
Numa entrevista à Rádio Jornal, o petista comentou uma declaração de seu antigo aliado Miguel Arraes, presidente do PSB, partido do candidato Anthony Garotinho. Arraes teria dito que o ''Lula de hoje não é o mesmo de ontem''. O petista disse: ''O Lula de hoje é muito mais maduro. Comparo a vida a um maracujá. Verde, brilhante, não serve para comer. Amarelinho, enrugado, é bom''.
A comparação serviu a uma brincadeira dos repórteres, que perguntaram se Lula estava se referindo a Arraes, hoje com 85 anos, ao se lembrar do maracujá. ''Você está falando do Arraes?'', perguntaram''. ''Estou falando de mim, não do Arraes'', respondeu Lula, rindo.
Diante de críticas dos ouvintes da rádio a prefeitos do PT, Lula pediu paciência. ''Fico imaginando se a mulher cobrar as promessas do marido com um ano de casado. Haveria separação todos os dias''.
Disse que a prefeita Marta Suplicy, por exemplo, só agora está tendo dinheiro para recapear o asfalto das ruas de São Paulo, mas já beneficiou muitas crianças com a Bolsa-Escola. ''Eles pegaram cidades desorganizadas, leva tempo arrumar tudo''.
O petista disse também que pretende melhorar o poder de compra do salário-mínimo. ''Estou me propondo a dobrar o poder aquisitivo do salário-mínimo em quatro anos. Propus isso ao Tancredo Neves em 28 de fevereiro de 1985. É plenamente viável''.
Lula prometeu a reativação da Sudene (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste), que foi extinta pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, depois de denúncias de corrupção. ''A Sudene vai ter que voltar a fazer grandes projetos de desenvolvimento para o Nordeste. A idéia inicial com a Sudene era pôr fim ao desequilíbrio econômico no Brasil, mas a gente está ainda no sonho, porque a Sudene foi desvirtuada''.
O candidato participou, com militantes petistas, de um abraço no prédio em que funcionava a Sudene, extinta no governo Fernando Henrique. Depois, esteve numa caminhada pelo centro de Recife e num comício. Hoje Lula irá para Aracaju, onde encerra a viagem pelo Nordeste.
Garotinho fica só nos grandes centros
BELO HORIZONTE - O candidato do PSB à Presidência, Anthony Garotinho, afirmou ontem em Belo Horizonte, onde fez palestra para empresários, que Ciro Gomes (PPS) é o ''plano B do sistema financeiro''. A critica foi feita após Garotinho ser indagado se o rival do PPS poderia ser ''o plano B'' do presidente. Garotinho também não poupou Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e José Serra (PSDB): ''Lula, que a vida inteir a atacou os empresários, arrumou um para ser vice [o senador José Alencar (PL-MG)]. O candidato do governo [Serra]enfrenta uma crise porque tem vergonha de ser candidato do governo''.
Sobre seu fraco desempenho, disse que não é ''candidato a ganhar pesquisas, mas a eleição'', e admitiu que tira lições delas, sem revelá-las.
Garotinho confirmou enfrentar dificuldades financeiras, mas negou que renunciará. Vai concentrar a campanha nos grandes centros urbanos do país. Na sexta-feira, no Rio, ele disse que serão lançados os bônus de R$ 1 para arrecadar fundos.
Advogado processará antigo assessor
BRASÍLIA - O advogado Ronaldo Cunha Lima Filho disse ao Jornal do Brasil que ajuizará ''ações cíveis e criminais'' contra Hermano Tácito Maia de Vasconcelos, ex-assessor jurídico da Procuradoria-Geral da Prefeitura de João Pessoa. Ronaldinho disse que, ao contrário do que dissera Vasconcelos, ''jamais foi sócio'' de Carlos Pessoa de Aquino, ex-procurador-geral de João Pessoa.
Ao Ministério Público Federal, Vasconcelos afirmara existir um caixa dois na Procuradoria-Geral de João Pessoa que beneficiaria o PSDB. ''É suspeito o esforço do denunciante em vincular tais honorários de sucumbência ao PSDB, presidido na Paraíba pelo prefeito de João Pessoa (Cícero Lucena)'', disse Ronaldinho, lembrando que o denunciante também se referiu a fatos anteriores a fevereiro de 2001 - quando Cícero Lucena se filiou ao PSDB.
Segundo Ronaldinho, os honorários advocatícios depositados nas quatro contas da Procuradoria-Geral ''são considerados pela letra da lei e pela jurisprudência como verbas privadas, não públicas''.
Prefeito petista ganha prêmio de gestão fiscal
Administração de Neodi Sarreta, de Concórdia, foi elogiada
BRASÍLIA - Numa cerimônia no Itamaraty com a presença do presidente Fernando Henrique Cardoso e de ministros de Estado, realizada ontem pela manhã, quem brilhou foi o Partido dos Trabalhadores. O prefeito de Concórdia (SC), Neodi Sarreta, foi premiado pelo presidente por sua gestão à frente do município. Sua administração foi considerada a melhor do país. Um detalhe: Sarreta é do PT. Ele e outros 59 prefeitos receberam os certificados de Gestão Fiscal Responsável.
As administrações deles foram consideradas exemplares, já que perseguiram o equilíbrio entre receita e despesa nos orçamentos de seus municípios. Apesar disso, a festa foi ofuscada por um discurso contra o candidato petista à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva.
O prefeito petista ouviu calado as críticas do ministro de Planejamento, Guilherme Dias, que atacou Lula por defender a renegociação das dívidas dos municípios com a União. Lula fez a declaração em Vitória, semana passada, ao participar de um encontro com prefeitos. A proposta é defendida pela prefeita de São Paulo, Marta Suplicy (PT).
''Um dos pilares da Lei de Responsabilidade Fiscal é exatamente o não refinanciamento de dívidas'', criticou Dias. ''E justamente um candidato à Presidência que diz ser favorável à lei, passou a defender uma nova negociação. Isso seria premiar a imprudência e punir a austeridade''.
Sarreta não discursou. O cerimonial da Presidência da República escolheu um tucano, Primo Menegalli, prefeito de Araranguá (SC), para falar em nome dos presentes. A explicação foi a de que Menegalli era o prefeito mais premiado de todos os presentes, embora não tenha levado o prêmio principal.
Ao sair da solenidade, o petista comentou que Guilherme Dias havia ''queimado a língua'' ao criticar Lula. ''O PT ficou em primeiro lugar na luta pela gestão fiscal'', comemorou o prefeito premiado, que evitou posar ao lado do presidente da República após a solenidade, contrariando os pedidos de fotógrafos.
Fernando Henrique foi mais diplomático ao se manifestar sobre a performance dos prefeitos que se saíram bem na busca pelo equilíbrio orçamentário. O presidente disse que não importava o partido de cada um, mas o esforço para menores gastos. Apesar do discurso, FH alfinetou o candidato presidencial do PT, indiretamente:
''Existem aqueles críticos que são sempre nostálgicos, que acreditam que existe uma contradição entre rigidez de gastos e mazelas sociais'', discursou FH. ''Mas, o Brasil não esqueceu da mazela que foi não ter poder de compra, que foi a inflação''.
Governo prepara transição política
BRASÍLIA - Ainda faltam pouco mais de três meses para a eleição presidencial em outubro, mas o governo federal deu ontem o primeiro passo para organizar a transição política e administrativa. O Gabinete Civil da Presidência da República publicou portaria, no Diário Oficial da União, dando prazos e definindo normas para garantir a continuidade dos projetos no próximo governo.
Os ministérios deverão encaminhar, até 30 de setembro, todos os assuntos e projetos que necessitam do conhecimento ou da autorização do próximo presidente da República nos primeiros cem dias de governo. Esses assuntos e projetos estarão disponíveis na Internet.
Até o dia 25 de julho, todos secretários-executivos de cada um dos ministérios deverão indicar à Casa Civil os nomes dos responsáveis pelas informações. A partir de agosto, serão indicados os dados de cada projeto, mostrando suas características e termos técnicos, além da indicação das siglas de programas, dos sistemas, das instituições nacionais e internacionais envolvidas. Todas essas informações irão compor um glossário para uso da equipe de transição de governo.
A chamada Agenda 100 (dos cem dias do próximo governo) estará disponível a todos os candidatos pela internet. De acordo com a portaria, a Casa Civil deve elaborar um relatório final de governo. As informações também deverão ser fornecidas pelos ministérios até o dia 30 de setembro.
Roseana abre sigilo
Ex-governadora critica ''armação política''
BRASÍLIA - A ex-governadora do Maranhão Roseana Sarney decidiu ontem abrir mão do seu sigilo bancário e fiscal para mostrar que continua sendo vítima de ''armação política'', por parte do Ministério Público e da Polícia Federal. Ex-candidata à Presidência pelo PFL, Roseana deve ser indiciada pelo MP esta semana, por suspeita de ter participado do desvio de R$44 milhões da extinta Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam). Ela quer processar os responsáveis pelas investigações, ''por abuso de poder''.
''Estou enviando ao ministro da Justiça, responsável pela Polícia Federal, procuração para, em meu nome, quebrar e divulgar meus sigilos telefônico, fiscal e bancário, e todas outras as informações que desejar'', diz Roseana. ''O que está acontecendo é mais um ato de terrorismo moral'', sustenta. ''A verdade é que nada se apurou contra mim''.
Em dezembro de 1999, Roseana presidiu reunião do Conselho da Sudam, que aprovou liberação de R$1,3 bilhão para a Usimar. O projeto da fábrica de autopeças no distrito industrial de São Luís, que não saiu do papel. A ex-governadora está irritada com a declaração do delegado Hélbio Dias Leite, responsável pelo inquérito. ''(Ele) é irresponsável e criminoso quando afirma que 'não precisa de provas' para me indiciar'', diz Roseana. ''Se for permitido acusar e indiciar alguém sem provas, então é melhor declarar logo que acabou a segurança jurídica neste país'', critica.
PPS se afasta de Collor em Alagoas
Partidos agora devem reeditar a Frente Trabalhista e apoiar candidato do PDT ao governo do Estado
BRASÍLIA - O candidato da Frente Trabalhista (PPS, PDT e PTB), Ciro Gomes, deu um passo importante ontem para se descolar da campanha do ex-presidente Fernando Collor, em Alagoas. Depois de uma reunião entre o vice-presidente do PPS e líder do partido na Câmara, deputado João Herrmann (SP) e do presidente nacional do PTB, deputado José Carlos Martinez (PR), foi acertada a anulação das convenções das duas legendas no Estado, abrindo caminho para que uma nova aliança seja celebrada com o PDT. No Estado, o PDT lançou o ex-deputado Geraldo Sampaio para governador, enquanto PPS e PTB formavam uma aliança com o PRTB do ex-presidente Fernando Collor.
''Foi uma decisão do PPS e do PTB para afastar de vez a figura de Collor. Foi um pedido do Ciro e não houve objeção'', afirmou Herrmann, logo após o encontro com Martinez. Os dois partidos já encaminharam à Justiça Eleitoral de Alagoas uma resolução, na qual comunicam a anulação da coligação com o PRTB. ''A idéia agora é reeditar a Frente Trabalhista em Alagoas'', completa Herrmann. A proposta, no entanto, chegou com um atraso de três minutos à sede do TRE alagoano, que agora irá analisar a sua validade.
A decisão, no entanto, foi criticada pelo próprio presidente do PPS em Alagoas, Anivaldo Miranda. ''Não aceitamos a decisão da intervenção no diretório de Alagoas'', disse. Sua preocupação é a reeleição do deputado federal Régis Cavalcante e de dois deputados estaduais. Para Anivaldo, ''o PPS não pode aceitar que um factóide criado nos porões da candidatura de José Serra seja tomado como verdade absoluta''.
Os socialistas acusam Serra de se aproveitar da situação em Alagoas para comparar Ciro a Collor, mas agora é o candidato do PSDB que pode sofrer com os acertos locais. Prefeitos tucanos de cinco cidades alagoanas _ incluindo Arapiraca e Penedo, segunda e terceira maiores do Estado - anunciaram ontem apoio ao ex-presidente. ''O apoio a Collor é uma questão pessoal, mas não vou oficializá-lo ainda porque tenho que o comunicar aos dirigentes do meu partido, o PSDB. Eu tenho certeza que Fernando Collor de Mello é o melhor para Arapiraca, para o agreste e para o Estado de Alagoas'', afirmou a prefeita Célia Rocha, mulher do ministro da Integração Nacional, Luciano Barbosa. ''Fiquei surpreso'', afirmou Barbosa, que ontem estava com dificuldades para confirmar as declarações da esposa. Após ter feito a declaração, a prefeita se recusou a comentá-la.
Artigos
Combater ou legalizar
Léo Schlafman
''O fumo faz mais a sua cabeça quando você está sem grana do que a grana quando você está sem fumo'', disse um personagem de quadrinhos da série Freak Brothers, de Gilbert Shelton. Eram os tempos heróicos, ainda não resolvidos, da campanha pela legalização das drogas (''Legalize it'') que a Suprema Corte dos Estados Unidos abortou de novo recentemente, quando manteve a proibição mesmo para uso medicinal.
Mas oito Estados americanos aceitam o uso medicinal. Trata-se, no entanto, de confronto light que ainda não teve qualquer baixa. A evolução dos costumes ameniza o rigor das leis. É o caso da maconha, a cannabis, de longe a substância ilícita mais vendida no mundo (144 milhões de consumidores, segundo a ONU) e também a menos perigosa.
Como a fronteira entre consumidores e traficantes é tênue, não se sabendo qual deles é mais dependente do outro, fica difícil progredir no âmbito dos costumes. O tráfico de drogas mobiliza 1 trilhão de dólares no mundo, dos quais 8 bilhões de dólares no Brasil. Com esse pano de fundo, é natural que inocentes e culpados se confundam. Ainda segundo a evolução dos costumes, o governo inglês - é na Inglaterra que estão os maiores consumidores europeus - anunciou que pretende suavizar as leis sobre uso de maconha. Outros países europeus já a tinham descriminalizado (ou, como dizem os franceses, despenalizado) para consumo individual - primeiro a Holanda e a Espanha, bem recentemente Portugal e a Bélgica. A Suíça cogita de liberalizar a produção e a comercialização.
O semanário inglês The Economist foi um dos primeiros a defender a tese de que não se combate a droga com marines ou enchendo prisões ou, ainda, reservando, como última ratio, a necessidade de carbonizar com napalm a Colômbia, a Bolívia e o Peru, e sim despenalizando-a e destinando à prevenção e à cura recursos de outra forma devorados pela política do big stick.
The Economist baseou sua tese de liberação nos efeitos da experiência proibicionista americana dos anos 20. O proibicionismo colocou o álcool fora da lei, mas não pôde reprimir a venda e o consumo, e foi o oxigênio da criminalidade especializada cujo ícone era Al Capone.
Com essa tese se alinhou o economista Milton Friedman, teórico da Reaganomics, professor da Universidade de Chicago, Prêmio Nobel, que, no livro A tirania do status quo, defendeu a legalização de todas as drogas, até mesmo heroína e crack, em benefício da arrecadação de impostos.
De fato, a resposta americana à delinqüência alcoólica foi a legalização, a taxação, o controle de qualidade das bebidas. Algo do gênero ocorreu na Inglaterra ao tempo da Revolução Industrial, quando o álcool embrutecia aquela que Oscar Wilde chamava de ''classe bebedora'', isto é, o proletariado, e se dizia: ''We are born in sin, we die in gin'' (nascemos no pecado e morremos no gim). Um professor americano da Universidade de Princeton, Ethan Nadelman, realçou o paradoxo de que num único ano, no fim da década de 80, o governo gastou 8 bilhões de dólares para combater o narcotráfico sem impedir que os traficantes ganhassem, no mesmo período, 20 bilhões de dólares, e que 30 milhões de americanos tivessem consumido alguma forma de droga ilegal.
Combater ou legalizar? Essa ainda é a questão.
Editorial
'TIMING' PERDIDO
A montanha finalmente se moveu. Num gesto que em tempos normais seria considerado ousado, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) decidiu reduzir as taxas básicas de juros em meio ponto percentual, de 18,5% para 18% ao ano. Vai longe a última vez em que se viu redução parecida. Mais precisamente, aconteceu em janeiro do ano passado, quando os juros baixaram 0,75 ponto. De lá para cá, dispararam para 19% ao ano e caíram em fevereiro e março, mas a conta-gotas. Só agora ocorre a queda mais aguda que era defendida por dez em cada dez empresários do país. Afinal, quem paga a conta dos juros é o setor produtivo. O que significa também dívida para as gerações futuras.
Tudo indica, porém, que a redução chegou tarde. O Banco Central pecou por excesso de preciosismo ao conferir prioridade absoluta à política de inflation target. Disposto a cumprir a qualquer custo a estreita meta inflacionária de 4%, firmou pé em relação às taxas de juros. Poderia tranqüilamente ter apressado a queda do custo de dinheiro no início do ano mas optou por modestíssimos soluços de 0,25 ponto percentual. Quando abriu os olhos para a perda de fôlego na atividade industrial e na oferta de empregos, a janela de oportunidades havia se fechado. A economia da Argentina entrou em convulsão e começaram a surgir os escândalos contábeis nos Estados Unidos.
O Copom perdeu o timing. A queda de 0,5 ponto não alivia a situação da economia como um todo. Para que houvesse efeitos positivos, os juros deveriam estar girando em torno de 13% e 14% desde o início do ano. Na verdade, a decisão de ontem soa estranha. A nota explicativa do Copom atribuiu a mudança aos baixos índices de inflação e às perspectivas para 2003. Não seria arriscado baixar os juros diante do nervosismo que vive o mercado financeiro internacional, abalado pela crise de credibilidade nos EUA?
Outro fator que lança dúvida sobre a decisão do Copom diz respeito ao estreitamento da liquidez. Desde que os bancos nacionais tiveram de se adaptar ao novo Sistema de Pagamentos Brasileiro (por conta do Acordo da Basiléia), o mercado passou a exigir garantias maiores. As instituições mais fortes deixaram de financiar posições em títulos que vão vencer depois do governo Fernando Henrique. As fontes de financiamento secaram.
O Copom demorou muito a corrigir o rumo. O que acabou gerando a desconfiança de que a redução dos juros foi conveniência política. Hipótese absurda e impensável em época de Pedro Malan e Armínio Fraga.
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07/18/2002
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