FHC chega a Buenos Aires
FHC chega a Buenos Aires
O Brasil fará todo o possível o esforço possível para que a reunião do Mercosul seja um êxito e possibilite avançar na integração do bloco econômico. Foi o que afirmou ontem o presidente Fernando Henrique Cardoso, ao desembarcar na capital Argentina. Ele disse que ‘‘todos os países da região precisam de uma Argentina forte’’. Fernando Henrique foi recebido pelo presidente argentino, Eduardo Duhalde, no Aeroparque de Buenos Aires. ‘‘Queremos agradecer ao presidente Cardoso, que nos momentos difíceis nos estendeu sua mão e a mão de seu povo’’, disse Duhalde, citando a remessa de medicamentos brasileiros ao país vizinho. Fernando Henrique lembrou que o Brasil também passou por momentos difíceis e, nessas ocasiões, sempre encontrou o necessário apoio da Argentina. Ele expressou confiança de que a Argentina encontrará o caminho. ‘‘A nós, do exterior, cumpre apoiar, independente de qualquer diferença política, porque é uma solidariedade de povo a povo’’, afirmou.
Falta de energia encerra festival
Uma queda de luz apressou o encerramento do Carnarock, realizado ontem no Brasília Camping Show. Por volta de 21h30, a banda Slug encerrava a apresentação quando toda a área do camping e do Albergue da Juventude ficou no escuro. A energia só voltou às 23h, quando boa parte do público já havia ido embora.
Assim que as luzes se apagaram, o público vaiou o governador Joaquim Roriz por acreditar que o corte na luz era um boicote ao evento. “O blecaute foi ridículo, bem no auge do show”, disse Leandro Costa, estudante de 18 anos.
Desde o início dos shows, integrantes das bandas que se apresentavam e o público já haviam se manifestado contra a falta de apoio do governo do Distrito Federal ao evento.
A falta de verba para o Carnarock, que é um dos três principais festivais de rock da cidade, fez com que não houvesse festival em 2000. Para este ano, já havia sido aprovada uma emenda de R$ 50 mil apresentada pelo deputado distrital Rodrigo Rollemberg (PSB) para cobrir despesas com aluguel de equipamentos de som e palco, contratação de seguranças, hospedagem e cachês dos artistas.
Depois da aprovação da emenda, a Secretaria de Cultura se comprometeu com os organizadores a liberar pelo menos R$ 34 mil. Até a sexta-feira, as empresas contratadas para o evento não haviam recebido o dinheiro prometido.
A organização do Carnarock precisou renegociar valores com os contratados e colocar à disposição os próprios bens para que o evento não fosse cancelado. ‘‘A divulgação já tinha sido feita, então não tinha como cancelar’’, diz Samara de Castro, organizadora. Segundo ela, foi a Secretaria de Finanças que não permitiu a liberação da verba. ‘‘Disseram que precisavam de uma autorização do governador’’. O Correio tentou localizar o secretário de Finanças, Valdivino de Oliveira, e a secretária de Cultura, Luíza Dornas, mas não obteve resposta.
Segundo a Companhia Energética de Brasília (CEB) a queda de luz aconteceu devido a um defeito na rede. Cinco postes em frente ao local do show, além da garagem da TCB, também ficaram sem luz.
Apenas seis recapturados
Até o começo da noite de ontem, a polícia havia recapturado apenas seis dos 34 detentos que fugiram depois de cortar as barras de ferro das quatro celas do 65º Departamento de Polícia da zona leste de São Paulo. Eles arrombaram uma porta localizada nos fundos do distrito e correram em direção à rua. A fuga ocorreu por volta das 3h15 de ontem. Todos estavam nas proximidades da delegacia — dois deles escondidos dentro de latas de lixo.
Os carcereiros só descobriram que os detentos estavam fugindo após ouvirem o barulho provocado pelo arrombamento da porta de ferro. Policiais ainda atiraram para o alto na tentativa de impedir a fuga. Os disparos, porém, não foram suficientes para intimidar os presos. Para o delegado plantonista, Milton Borges Feitosa, a superlotação das celas do distrito incentiva o planejamento de fugas. ‘‘Temos capacidade para comportar 30 presos, mas atualmente a delegacia abriga 115. É claro que quando o detento vive em uma situação de aperto e extremo desconforto ele vai pensar mais seriamente em fugir’’, declarou.
Humorista volta para casa
O humorista Renato Aragão, 63, o ‘‘Didi’’, teve alta ontem e deixou o hospital Barra D’Or, onde estava internado havia três dias. Ele saiu por volta de 11h30 e seguiu para casa, em companhia da família, no Rio de Janeiro. Aragão teve pneumonia aguda no pulmão esquerdo e ficou sob observação no hospital, na Barra da Tijuca. Durante o final de semana, o humorista passou o dia sem febre e, por isso, pôde deixar o hospital. Mesmo tendo alta, no entanto, Aragão não poderá voltar às atividades normais essa semana. O pneumologista João Pantoja o proibiu de voltar ao trabalho e ele terá de passar uma semana em repouso dentro de casa.
Combustível para a sucessão
Episódio envolvendo o ex-senador esquenta bate-boca na corrida presidencial. Duas candidaturas podem ser atingidas, a do tucano José Serra e da pefelista Roseana Sarney. No meio dessa briga, o PMDB fica mais enfraquecido
A prisão do ex-presidente do Congresso senador Jader Barbalho (PMDB-PA) está respingando na campanha presidencial de 2002 e trará conseqüências negativas para as candidaturas do candidato do PSDB, o ministro da Saúde, José Serra, e da candidata do PFL, a governadora Roseana Sarney (MA). As ligações entre Jader Barbalho e estes candidatos podem virar munição pesada nas mãos dos adversários políticos em pleno ano eleitoral.
O primeiro a ser duramente atacado foi Serra. No sábado, poucas horas depois de Jader ser detido, o ex-senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) apressou-se em declarar que uma composição do PSDB com o grupo de Jader dentro do PMDB prejudicará a campanha do candidato tucano. Outros ataques estão por vir, já que o ministro foi um dos principais articuladores da eleição de Jader para o mais alto cargo do Legislativo brasileiro. ‘‘Os senadores do Paraná votaram em Jader a pedido do ministro’’, relembra o senador Roberto Requião (PMDB-PR).
Ontem, Antonio Carlos Magalhães deu sinais de que não pretende esquecer tão cedo a vinculação entre o ex-senador e parte do PSDB. ‘‘A prisão de Jader Barbalho teve a virtude de colocar em evidência uma questão que andava meio morta’’, reiterou, enquanto caminhava no Dique do Tororó em Salvador.
O PMDB que defende a candidatura própria também pretende faturar com este episódio. Jader é ligado ao mesmo grupo do atual presidente do partido, deputado Michel Temer (SP) e do deputado Geddel Vieira Lima (BA), que estão articulando o apoio do PMDB à candidatura de Serra. ‘‘A prisão abala profundamente a pretensão de Serra em ter o apoio do PMDB. O grupo perdeu credibilidade’’, ressaltou Roberto Requião.
O presidente do PSDB, deputado José Aníbal (SP), se apressou em dizer que a prisão de Jader não vai inviabilizar as negociações políticas com o PMDB. As conversas entre os dois partidos estão avançadas. Serra inclusive já ofereceu a vaga de vice ao governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos (PMDB). O próximo passo é esvaziar as prévias do partido, marcadas para 17 de março.
O principal beneficiado com este enfraquecimento do grupo ligado a Jader, é o governador de Minas, Itamar Franco, que está inscrito nas prévias do PMDB junto com o senador Pedro Simon (RS) e o ministro do Desenvolvimento Agrário, Raul Jungmann. Ontem, Itamar lamentou a libertação de Jader usando uma expressão latina. ‘‘O tempora, o mores’’. A expressão, que pode ser traduzida, literalmente, como ‘‘Ó tempo, ó costumes’’, era usada para expressar lamento ou insatisfação nos momentos e m que algo não estava correndo de acordo com as normas estabelecidas.
Já os peemedebistas ligados a Jader desclassificaram a sua prisão. O líder do PMDB na Câmara, Geddel Vieira Lima, disse que a prisão foi arbitrária e chefiada por um delegado ligado ao senador Romeu Tuma (PFL-SP). Tuma era o corregedor do Senado durante o processo de cassação de Jader Barbalho.
Família Sarney
Mas o ex-presidente do Senado não tem ligações apenas com o PSDB de Serra. Ele foi ministro da Reforma Agrária e Previdência Social durante o governo de José Sarney (PMDB-AM), que é pai da candidata do PFL, Roseana Sarney. Durante a campanha eleitoral, os adversários de Roseana podem trazer à tona esta vinculação com a família Sarney e lembrar que Jader está envolvido em outro escândalo: a venda irregular de Títulos da Dívida Agrária (TDA) quando era ministro do governo Sarney.
Em julho do ano passado, a revista IstoÉ revelou uma escuta telefônica em que Jader seria o suposto beneficiário de um cheque de US$ 4 milhões, por autorizar o pagamento de desapropriação de terras inexistentes quando era ministro da Reforma Agrária. O ex-senador nega as acusações.
Artigos
A grande lição do grande irmão
Wagner Bezerra
Explode no mundo a violência: terror, seqüestro, assaltos, assassinatos, corrupção, tortura, humilhação, fome, dor, violência disseminada, compartilhada, globalizada. Enquanto isso, nas TVs de todo o mundo, busca-se emoldurar a realidade a partir de uma visão fortemente dominada pela ‘‘dança’’ dos índices de audiência. Pelo menos essa é a justificativa para a repetição incessante de fórmulas e clichês desgastados, que sempre voltam apresentados como novidade pelos programadores e concessionários das várias redes de TV.
A moldura preferida no momento é o reality show, formato que chegou a nossa casa após ganhar fama internacional. Batizado com nomes sugestivos, como Big Brother, Casa dos Artistas e No Limite, o reality show oferece como produto básico satisfazer o desejo dos telespectadores com cenas de exibicionismo e autoflagelo. Some-se a isso a capacidade do participante em eliminar seus adversários da competição e, conseqüentemente, ter sua grande chance de experimentar mais do que os 15 minutos de fama já conquistados.
Ora, que tipo de realidade é essa em que o excitante é ver o outro em situações muitas vezes constrangedoras, como ir ao banheiro diante de câmeras ou ‘‘pedir a cabeça’’ de uma pessoa por quem se criou afeição?
Por estranho que possa parecer, a lógica dessa (re)criação remete à das lutas entre os gladiadores na Roma antiga, uma espécie de gameshow onde os participantes eram guiados por duas necessidades básicas: eliminar o adversário e exibir-se para saciar uma platéia ávida por emoções baratas e bizarras..
Tanto na arena de ontem quanto na telinha de hoje o vencedor continua sendo aquele que consegue eliminar seus adversários mais rapidamente; e o público segue experimentando o prazer de ver o sofrimento alheio, seja com o sangue que outrora jorrava da espada, seja com a superexposição, a delação e outros ingredientes resultantes dos mais baixos sentimentos, nessa modalidade pós-moderna de combate entre iguais.
Se compararmos o que nos oferece a arena pós-moderna do big brother dos nossos dias — sexo, mentiras e traição — com a mensagem do grande irmão de George Orwell, em 1984?
Seríamos todos reféns de um voyeurismo do qual não conseguimos escapar, condenados a nos manter eternamente divididos entre atores e observadores da nossa própria indiferença ante a violência que acomete outros indivíduos, outras famílias, outros povos?
Parece que o grande irmão de Orwell, aquele que, na contramão dos atuais Big Brothers, suscitou tanta discussão sobre nossos medos em relação à invasão da privacidade, pode nos permitir compreender mais da realidade atual do que inspirar a luta pela audiência na TV.
Quem sabe, quando negamos informação e entretenimento de boa qualidade aos famintos consumidores daquilo que é servido pela mídia eletrônica durante anos a fio e deixamos de oferecer algo diferente do que é exibido atualmente pela maioria absoluta dos programas da TV aberta brasileira, não continuamos a nos envenenar infinitamente?
E o amontoado de cadáveres que cresce a cada dia nos grandes centros, em Campinas, Santo André, Kabul, Nova York, Jerusalém ou Favela da Maré? Talvez seja a sociedade transformando em excremento, após longa indigestão, aquilo com o qual nos alimentamos durante todos esses anos de uso desordenado de tão importante conquista, a liberdade de expressão jornalística, artística e cultural.
Afinal, enquanto seguimos negando às crianças e jovens conteúdo alternativo à sórdida e fétida fórmula baseada em sexo e violência na TV, estaremos condenados a produzir sujeitos hedonistas, reféns do consumismo e capazes de atitudes de total alheamento em relação ao outro.
Quando, no Brasil, negamos a Constituição e sepultamos em cova rasa o que determina o tão decantado artigo 221, onde está previsto que a TV terá como finalidade prioritária a educação, nos condicionamos a aceitar, sem parcimônia, os frutos daquilo que temos oferecido a nossos filhos, principalmente através de nosso maior e mais competente canal de informação e educação de todos os tempos: a televisão.
Quem sabe é chegado o momento de, humildemente, aceitarmos a vocação educativa da TV? Entendermos que tanto faz o formato do programa, a linguagem audiovisual adotada, seja jornalismo, novela, filme, ficção, show de auditório, minissérie, desenho ou programa infantil, pouco importam os meios, pois, no fim, todo conteúdo televisivo sempre será assimilado como educação. Ou seja, tudo que a mídia eletrônica emite é capaz de interferir, ensinar, modificar, inseminar, contaminar e encantar corações e mentes.
Doravante, quando, na hora do almoço ou jantar, os jornais nacionais exibirem sem pudor nossos cadáveres, seria prudente pensarmos noutra lição deixada por Orwell: sim, é possível escapar das armadilhas do grande irmão. Caso contrário, corremos o risco de, no próximo capítulo do nosso reality show particular, sermos os protagonistas das cenas de violência que a TV expõe diariamente e que, por enquanto, tocam apenas momentaneamente nossos sentimentos, pois, afinal, dizem respeito somente aos outros.
Quanto ao possível engajamento da TV no tão falado esforço pela paz mundial, não bastam meia dúzia de filmetes de 15 segundos ou dúzia e meia de ‘‘artistas’’ com sorriso de creme dental pronunciando palavras insossas.
Talvez o que ninguém da TV ousa dizer é que esse movimento depende de outros fatores. Primeiro, do discernimento dos patrocinadores que, por hora, fomentam tudo que é produzido e cheire a pontos na audiência; segundo, dos criadores que têm buscado reinventar em muitos programas as relações humanas tendo como base a intriga, a trapaça, a traição, a superexposição da intimidade. E, finalmente, do público que, infelizmente, seja por falta de opção ou preferência, depois de secar as lágrimas sobre o sangue derramado do último seqüestrado, do último assassinado, do último Celso Daniel, da última vítima do terrorista-bomba, do último bebê morto por desnutrição, não cansa de aplaudir as novas arenas e nossos quase modernos gladiadores.
Editorial
O carniceiro dos Bálcãs
O homem que sonhou um dia fundar a Grande Sérvia, Slobodan Milosevic, senta-se agora perante o Tribunal Penal Internacional (TPI) na condição de réu. A corte foi criada em 1993 pela Organização das Nações Unidas (ONU) para a ex-Iugoslávia a fim de processar e julgar os crimes de guerra e genocídio cometidos ali. Ex-líder da então República Federativ a da Iugoslávia e ex-presidente da Sérvia, Milosevic responde pela autoria de atrocidades do gênero.
A promotora-chefe do TPI, Carla Del Ponte, acusa-o em 66 processos instruídos com provas de haver praticado verdadeira ‘‘selvageria medieval’’ contra os povos da Croácia, Bósnia e Kosovo, entre 1991 e 1999.
Na implementação do projeto delirante da Grande Sérvia, o acusado açulou e estimulou os sérvios a executar programa monstruoso de limpeza étnica contra croatas, muçulmanos bósnios e kosovares de origem albanesa.
Entre 200 e 250 mil pessoas foram trucidadas. Outras três milhões se converteram em refugiados, a maioria ainda hoje em busca de asilo na Europa e outros continentes. Um número incalculável de estupros, torturas e desaparecimentos permanece como registro trágico na vida das famílias que escaparam aos horrores comandados por Milosevic. ‘‘Carniceiro dos Balcãs’’, assim o qualificaram os milhares que testemunharam sua barbárie.
Mas o facínora que tingiu suas mãos de sangue em brutalidade só comparável à de Hitler ou aos expurgos ordenados por Stalin na antiga União Soviética não reconhece ao TPI autoridade para submetê-lo a julgamento. Sempre há questões legais precedentes quando se discute a legalidade de uma corte constituída acima das soberanias nacionais para julgar indiciados específicos por crimes contra a humanidade. A questão, contudo, perde substância ética e embasamento nos ideais de justiça quando se trata de punir um monstro para atender à consciência civilizada do mundo.
É passo decisivo para estimular o processo civilizatório o fato de ex-chefe de Estado ser levado às barras de um tribunal para prestar contas de delitos de guerra, práticas genocidas e violências bestiais contra autonomias étnicas. A paz mundial não se constrói apenas pela exaltação da consciência sobre perdas humanas e destruição de bens causados pela guerra. Vale, sobretudo, a noção de que o desrespeito às regras mínimas de proteção aos direitos humanos, nas hipóteses de conflitos armados, sujeitará os infratores à lei punitiva internacional.
O caso Milosevic exibe aspecto pedagógico para além de suas implicações específicas. Coloca em primeiro plano a questão atinente à estruturação do Tribunal Penal Internacional permanente criado pelo Tratado de Roma. A iniciativa se encontra sob bloqueio censurável dos Estados Unidos, que não cedem aos apelos da sociedade internacional em favor da instalação da corte. Agora, muito mais ainda, porque repelem a jurisdição de órgão judiciário com isenção internacional para julgar os suspeitos de terrorismo levados manu militari do Afeganistão para as enxovias de Guantánamo.
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02/16/2002
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